O Estado de S. Paulo
A situação política de
Bolsonaro não se altera fundamentalmente com o julgamento
O problema de Jair Bolsonaro
é ser mais forte do que admitem seus adversários, e mais fraco do que ele mesmo
julga ser. Como réu por tentativa de golpe de Estado essa situação não se
altera fundamentalmente. Ele tem no momento enorme peso eleitoral, mas não o
suficiente para definir sozinho a próxima votação.
O que mais ilustra esse fato é a postura dos possíveis candidatos dentro do espectro de centro-direita, que abrange confortável maioria no eleitorado. Eles dizem a boca pequena que Bolsonaro só pensa em si mesmo e em sua família, mais atrapalha do que ajuda, e está desacreditando vários setores. Mas nenhum o critica em público, temendo perder votos.
Aparentemente, seus
potenciais “herdeiros” esperam que o tempo corroa ainda mais o cacife político
de Bolsonaro. Ser julgado por um tribunal que é visto por largas parcelas da
população como parte do embate político entre correntes antagônicas fornece no
momento um discurso fácil, o da “perseguição política”. Mas a condição de
inelegível enfraquece qualquer candidatura.
Como já ocorreu em seu
mandato, a chave da sobrevivência política de Bolsonaro está no Centrão. Que
está muito longe de ter uma postura “unânime” sobre o capitão e sua provável
condenação no STF. Os donos das várias legendas oscilam entre considerar Bolsonaro
uma “boa” ou “má” companhia na luta eleitoral. A postura deles vai depender do
famoso “momento” político.
Ou seja, da capacidade de
Bolsonaro de arregimentar e mobilizar, sobretudo nas difíceis condições nas
quais vai se encontrar (lutar para não ir para a cadeia). A questão para ele é
ser visto não só como “vítima”, condição que consegue assumir com certa facilidade.
Mas, sim, como real alternativa a um governo em crise de popularidade e que
aposta todas as fichas na figura desgastada do atual presidente.
As pesquisas indicam que
Bolsonaro não expandiu consideravelmente seu eleitorado cativo. Numa possível
saída via Legislativo (leia-se enfrentamento do Judiciário) até aqui ele não
conseguiu colocar de pé uma coligação com o ímpeto necessário para responder ao
STF com uma ampla anistia, por exemplo. Os operadores do Centrão se esgueiram
entre não ser contra a anistia e não se mexer muito para aprová-la.
Cada uma à sua maneira, e
trilhando caminhos diversos, as figuras políticas de Lula e Bolsonaro chegaram
ao mesmo patamar. Não podem ser descontadas do cenário político-eleitoral, que
não são capazes de decidir sozinhas. São donos incontestes de fatia considerável
de votos, mas incapazes de decidir neste momento a quem poderiam eventualmente
transferi-los.
De fato, o Brasil está com
poucas escolhas.
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