Folha de S. Paulo
Governador de São Paulo diz que capitão das
trevas, seu líder, provará que é inocente
Jair
Bolsonaro e comparsas vão ser processados. Não deveria ser assim. Se o
capitão das trevas tivesse sido deposto da Presidência da República por meio de
um processo de impeachment, não teria sido capaz de tentar um golpe, pelo menos
não de dentro do Palácio do Planalto.
Entre outros crimes cometidos ou tentados até então, Bolsonaro anunciou em um comício, no 7 de Setembro de 2021, que não haveria eleição em 2022 a não ser nos termos dele e que não cumpriria decisões do STF.
A mera tentativa de crimes previstos pela lei
do impeachment é motivo para processo e deposição legal do presidente.
Obviamente, Bolsonaro não seria impedido.
Entregou boa parte do governo e de seus recursos aos sultões do centrão, em uma
espécie de semipresidencialismo de avacalhação. Assim, centrão e direitão
obtiveram ainda mais meios de aumentar bancadas no Congresso e seu domínio
sobre prefeituras e estados, o que viria a se confirmar em 2022 e em 2024.
De resto, a aprovação ao governo Bolsonaro se
manteve ao menos acima de 25%, outro empecilho ao processo. Um acordão, um
arranjo político, manteve Bolsonaro no poder e deu sobrevida a seu projeto de
tirania.
O governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos) afirmou de novo nesta quarta-feira que o réu
Bolsonaro, seu
líder, provará que é inocente.
Em público, ao menos, Tarcísio aprova o
projeto de golpe e seus desdobramentos práticos, inclusive o plano de agitação
nas ruas, "caos", de criação de uma célula terrorista militar e, de
quebra, a depredação da turba golpista do 8 de Janeiro.
É possível especular que se trate apenas de
conveniência. Cerca de um quarto do eleitorado, ao menos, pode ouvir indicações
de voto de Bolsonaro. Um candidato da direita a presidente da 2026 não pode
planejar sua campanha sem lidar com esse assunto essencial.
Tarcísio é por ora o preferido das elites
econômicas, para algumas delas por falta de opção (prefeririam alguém mais sem
gosto e sem cheiro, ao menos sem odor de bolsonarismo. Mas, se não tem tu, vai
tu mesmo).
Não há nem de longe arranjo político para
a definição
de candidato direitista —é improvável que apareça um só, entre os mais
relevantes. Para dificultar a vida da direita, Bolsonaro não vai jogar a toalha
—ao contrário, como o demonstrou no dia em que se tornou réu. Lançar-se
candidato, "traindo" o líder de Tarcísio e tanta gente, pode implicar
perda de votos.
Há discussão de como inventar esse candidato
"quase" único da direita. Tão cedo, no mínimo, não haverá arranjo
político algum. Mas a conveniência, associada a direitismos mais ou menos
antidemocráticos autênticos, faz com que o principal pré-candidato da direita,
Tarcísio, subscreva o golpismo (assim como como as barbaridades contra a saúde
pública e outras tantas de Bolsonaro); assim também o faz o azarão Romeu Zema,
no cargo de governador de Minas Gerais.
Se restar algum debate público, essas pessoas
terão de explicar que subscrevem a tentativa de golpe, a ficha corrida de
Bolsonaro, o fato de ele ter jogado milhões na pior miséria do século, em 2021,
a destruição ambiental da política de "porteira aberta" etc.
Pode até restar a dúvida que apoiem o arranjo
político que permitiu a trabalhar no golpe enquanto entregava a República ao
negocismo político mais baixo e a políticas públicas sem base no mínimo da
razão.
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