sexta-feira, 9 de março de 2012

Dilma pede ajuda a Temer para pacificar base aliada

Governo admite "momento tenso", e presidente fala em retomar diálogo após derrota política no Senado

Desafiada pela base aliada, a presidente Dilma Rousseff pediu socorro ao vice Michel Temer, sob o impacto da derrota política sofrida na véspera, quando o Senado rejeitou sua indicação para a Agência Nacional de Transportes Terrestres. Temer foi chamado logo cedo ao Planalto e ouviu da presidente um pedido de ajuda para retomar o diálogo com o Congresso e pacificar a base conflagrada. Dilma fez questão de registrar o compromisso com Temer na agenda presidencial para enviar aos aliados o recado público de que o objetivo do governo é conversar. No curto prazo, a rebelião terá pelo menos mais um efeito colateral: a votação do Código Florestal, que estava prevista para a semana que vem, está adiada e não acontecerá mais em março. O governo está convencido de que, se a votação fosse realizada na semana que vem, o texto apoiado pelo Planalto seria derrotado. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitiu que o governo vive um "momento tenso" na relação com a base aliada.

Dilma recorre a Temer para pacificar base e retomar diálogo com o PMDB

Christiane Samarco, Rafael Moraes Moura, Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Desafiada pela base aliada, a presidente Dilma Rousseff pediu socorro ao vice, Michel Temer (PMDB), sob o impacto da derrota política pessoal sofrida na véspera, quando o Senado rejeitou sua indicação para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Temer foi chamado logo cedo ao Palácio do Planalto e ouviu da presidente um pedido de ajuda para retomar o diálogo com o Congresso e pacificar a base conflagrada, especialmente o PMDB.

No curto prazo, a rebelião terá pelo menos mais um efeito colateral: a votação do Código Florestal, que estava prevista para ser realizada na semana que vem, está adiada, e não ocorrerá mais no mês de março. O governo está convencido de que, se a votação for realizada na semana que vem, o texto apoiado pelo Planalto será derrotado.

A gravidade da situação foi traduzida por um dos interlocutores mais próximos da presidente. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitiu que o Palácio do Planalto vive um "momento tenso" na relação com a base aliada. "Vamos dialogar, conversar, entender. Não é hora de nenhuma declaração precipitada. É hora de entender que a democracia implica vitória e derrota. E vamos avançando."

Decidida a distensionar o ambiente político, a presidente conduziu com tranquilidade a conversa com Temer e deu uma prova concreta de que deseja aprimorar a relação política com os aliados. "Respeito a decisão do Senado e é preciso retomar o diálogo com o Congresso", disse Dilma ao vice, informando que, mais adiante, vai encaminhar outro nome para a diretoria-geral da ANTT após a rejeição de Bernardo Figueiredo no Senado.

Fracasso. Sem alternativa diante do fracasso do esquema de articulação política do Planalto, a saída de recorrer ao vice da República e presidente licenciado do PMDB foi um reconhecimento de que sem o apoio do maior partido da base o governo não terá sossego no Congresso. Dilma fez questão de registrar o compromisso com Temer na agenda presidencial para enviar aos aliados o recado público de que o objetivo do governo é dialogar, e não retaliar.

"Não é hora de buscar culpados. Perdemos uma batalha, mas ela tem algo a nos ensinar para vencermos as próximas", disse o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), destacando que os 36 votos contrários ao governo foram a prova de que a divisão do PMDB se estendeu a outras bancadas. "Todos os integrantes da aliança precisam refletir melhor sobre a votação. Uma aliança tem que ser alicerçada a cada dia." Segundo Calheiros, a queixa mais generalizada é a falta de interlocução. "Não há uma reclamação concreta, de pedido de cargo por exemplo. É uma coisa mais genérica."

Aliados fiéis ao Planalto entendem que o governo errou ao insistir na votação do nome de Bernardo Figueiredo. Dizem que a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), vinha sendo alertada do risco de derrota, por conta da insatisfação da base, mas não soube avaliar corretamente o quadro. Um de seus interlocutores no Senado diz que ela foi vítima de um misto de "ingenuidade e soberba". Os líderes, seguidamente ignorados em seus alertas, deixaram as bancadas "soltas" na votação secreta para que o governo recebesse o recado duro dos aliados.

Equívocos. Para o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), o governo tem errado na política e na interlocução com o Congresso, mas o problema não é a ministra Ideli, no entender do parlamentar. A diferença é que o presidente Lula conversava com os políticos e governadores, e a presidente Dilma até então se recusava a assumir esse papel.

A presidente ouviu, mais uma vez, que precisa "mudar seu padrão de comportamento político" atendendo mais as bases, fazendo mais gestos políticos, com tratamento igualitário a todos os partidos e a todas as lideranças regionais.

Os peemedebistas se queixam que Dilma privilegia o PT. Lembram que nem só de verbas vivem os políticos, mas também de acenos. Citam como exemplos de gestos importantes uma simples informação da liberação de um projeto para a base eleitoral de um político, ou descer do avião junto com a presidente no respectivo Estado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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