A derrubada mais acentuada dos juros básicos (Selic) pode ter sido correta.
Mas não está claro qual é ou qual passou a ser o objetivo do Banco Central, presidido por Alexandre Tombini (foto). O discurso oficial é o de que persegue o centro da meta de inflação, de 4,5%. A decisão de quarta-feira, que derrubou os juros em 0,75 ponto porcentual, precisa de explicação - que a nota oficial, emitida após a reunião, deliberadamente escondeu.
Há quem diga que as coisas mudaram, que estamos no meio de uma grande crise global e que é preciso executar a partitura dos grandes bancos centrais. No entanto, para todos os efeitos, este ainda é o sistema de metas de inflação, que obriga o Banco Central a calibrar os juros ao nível necessário para empurrar a inflação para dentro da meta. Ou, se essa estratégia não é adequada para o momento, então é preciso avisar o que mudou e porque mudou - para que uns poucos não tirem proveito próprio do clima de incertezas.
Há ainda quatro argumentos que vêm servindo para justificar a política do Banco Central. O primeiro é o de que a atividade econômica está estrangulada e necessita de mais combustível para garantir a retomada. Não é verdade. O consumo cresce a 5% ao ano, como mostram estatísticas recentes. O que emperrou foi a produção industrial, por fatores que nada têm a ver com a política de juros. Mais frouxidão monetária não desemperrará a indústria. Num ambiente de aumento da massa salarial e queda histórica do desemprego, haverá mais demanda, acionará ainda mais as importações - se não gerar ainda mais inflação.
Também não é adequado combater o tsunami monetário (abundância de recursos) provocado pelos grandes bancos centrais com quedas mais aceleradas dos juros. Seria, se houvesse entrada especulativa de recursos. Mas tanto as autoridades do Banco Central como o ministro da Fazenda negam esse jogo.
A velha afirmação de que os juros devem cair por estarem altos demais também não faz sentido. A regra do jogo não é a de que o Banco Central deve operar com juros baixos, mas a de que precisa colocá-los no nível - alto ou baixo, não importa - necessário para controlar a inflação.
É claro que os juros continuam escorchantes no Brasil e são grave componente do elevado custo de produção. Portanto, precisam ser derrubados. Mas, para isso, é necessário antes domar a inflação com uma política fiscal mais firme, com as tais medidas macroprudenciais ou com outros mecanismos disponíveis.
Ainda sobra para o Banco Central a saída de dizer que passou a ver um panorama bem mais benéfico para a inflação e que, por isso, pode aliviar mais os juros. Mas não é o que pensam os agentes da economia, os mesmos que se encarregam de botar preços nas mercadorias e serviços. Essa gente vê riscos de que a inflação se encaminhe para além dos 6,0% ao ano. E, lá dentro do Copom, dois entre os sete diretores divergiram abertamente da decisão tomada na quarta-feira.
A Ata do Copom, a ser divulgada na próxima quinta-feira, tem muito o que explicar. Se não explicar, entenda-se que a relação entre Banco Central e o resto do Brasil - que, presume-se, deve ser transparente - terá se tornado brincadeira de esconde-esconde.
O gráfico mostra o comportamento das últimas 4 safras agrícolas no País e as projeções para a atual.
‘Inquestionável sucesso’. A presidente Dilma Rousseff, que vem denunciando como nocivo o tsunami monetário dos grandes bancos centrais, não pode ter concordado com o que declarou nesta quinta-feira o presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mario Draghi. Para ele, as duas operações que injetaram 1 trilhão de euros em financiamentos de três anos para as instituições financeiras tiveram “inquestionável sucesso” e contribuíram fortemente para a estabilização da economia.
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