sábado, 12 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É deplorável celebrar tarifas para ganho político

O Globo

Direita brasileira, que brande a bandeira do patriotismo, tem o dever de repudiar a chantagem de Trump

Em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou sensatez na reação à tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, às importações do Brasil, caso não seja suspenso o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em tom comedido, Lula afirmou que procurará negociar com os americanos, chamará para discussão empresários dos setores afetados, apelará à Organização Mundial do Comércio e, caso nada dê resultado, retaliará. “O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário”, afirmou. Uma eventual retaliação, que poderia deflagrar guerra tarifária, deve mesmo ser o último recurso.

Num país polarizado, a chantagem de Trump suscitou uma batalha política que em nada favorece o Brasil. É hora de o país se mostrar unido na defesa da democracia, do Judiciário independente e da soberania. Agiu bem o Congresso ao não hesitar sobre que lado escolher na contenda. Em meio à queda de braço com o Planalto em torno do aumento do IOF, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), se disseram “prontos para agir com equilíbrio e firmeza”.

Por que não direto ao ponto? - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Entra uma legislatura, sai outra, e o nível médio do Legislativo continua deixando a desejar

Sobre o recente aumento do número de deputados, direi apenas o que aprendi na juventude: entre as virtudes de um homem público, vergonha e caráter são tão importantes quanto a cultura.

Em 1985-86, quando fazia parte da Comissão Presidencial Pré-Constituinte (Comissão Afonso Arinos), coube-me elaborar a proposta inicial sobre a Câmara. Propus que se mantivesse simplesmente o número de deputados federais então existente – 420 –, que poderia ser aumentado ao longo do tempo, à medida que a proporcionalidade das bancadas estaduais em relação às relativas populações fosse também ajustada. Já não sendo ingênuo, não imaginei que tal proposta fosse aprovada em Brasília. E o que ocorreu, de fato, foi um incremento par a 513 representantes na Câmara. Quinhentos e treze, vejam só!

Estratégia perigosa - Pablo Ortellado

O Globo

Foi bastante arrojada a estratégia de Eduardo Bolsonaro de fazer gestões junto ao Partido Republicano e à Casa Branca para conseguir que os Estados Unidos interviessem na política brasileira e reequilibrassem o jogo de poder institucional, que hoje parece desfavorável aos bolsonaristas.

Quando os frutos desse trabalho se expressaram na forma não de sanções individuais contra ministros do Supremo, mas de duríssimas tarifas contra os produtos brasileiros, os bolsonaristas se viram com um problema: a reação americana não atingia apenas os atores que prejudicam a direita, mas um número grande de empresários e trabalhadores brasileiros.

As razões do tarifaço – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Trump mirou Lula por declarações mais duras nos encontros do Brics contra o império do dólar, dizem jornal e site

O presidente Donald Trump já manifestou seu desconforto com o Brics e, sobretudo, com a proposta do grupo de usar moedas locais — e não o dólar — em suas transações comerciais. Quando o Brics estava reunido no Rio de Janeiro, ameaçou aplicar tarifas de 10% sobre os países que de algum modo desafiassem a posição do “poderoso dólar”. Na última quarta-feira, a ameaça se concretizou, mas só contra o Brasil. Ele impôs uma tarifa absurda de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos, aplicada a partir de 1º de agosto.

Por que a sanção não foi imposta, pelo menos não ainda, a outros integrantes do Brics, como China e Índia, as duas maiores economias do grupo?

Metáforas, metáforas – Eduardo Affonso

O Globo

A nova panaceia para tentar remediar o irremediável é apelar para o sentido figurado

Acabamos de ter a prova cabal de quão desnecessária é a importação de um especialista chinês — pleiteada pelo presidente e pela primeira-dama — para pôr ordem no galinheiro das redes sociais no Brasil.

A foto de um casal e sua filha — 5 anos, roupa combinando com a dos pais, laçarote na cabeça e uma bolsa avaliada em R$ 14 mil — causou indignação e uma marola (não chegou a ser uma onda) de ódio entre a galera da empatia, do acolhimento, do atravessamento, da decolonialidade, da sororidade, do não binarismo e da defesa da democracia.

O ataque do Império - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Donald Trump jogou no lixo a tradição de bom entendimento entre Brasil e Estados Unidos. Sempre houve respeito às posições do outro, mesmo quando antagônicas. O Brasil, de um dia para outro, passou a ser o país mais atingido pelas tarifas impostas pelo bronzeado presidente dos Estados Unidos

A Segunda Guerra Mundial, quando o governo de Washington percebeu que os nazistas poderiam vencer o combate no norte da África e avançar para invadir o nordeste brasileiro, restaram três opções para proteger o Atlântico sul: mandar tropas para o nordeste do Brasil, fomentar uma revolução nacionalista como foi realizada no Panamá ou fazer um acordo com o governo Vargas. A solução do presidente Roosevelt foi fazer acordo com o governo brasileiro. A empresa Pan American foi encarregada de construir aeroportos no norte e nordeste brasileiro. A base aérea de Natal foi a maior das forças armadas norte-americanas fora de seu território antes da invasão da Europa.

Donald Trump jogou no lixo a tradição de bom entendimento entre Brasil e Estados Unidos. Sempre houve respeito às posições do outro, mesmo quando antagônicas. O Brasil, de um dia para outro, passou a ser o país mais atingido pelas tarifas impostas pelo bronzeado presidente dos Estados Unidos. E pior que em nome de um problema político: ele defende, com argumentos confusos, a permanência de Jair Bolsonaro na política brasileira, que estaria sendo injustamente punido numa suposta caça às bruxas.

Conjuração internacional bolsonarista - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

O objetivo do presidente americano é constranger o governo e intimidar o STF, que apenas cumpriu sua obrigação

Aplicar o direito não é uma tarefa fácil, especialmente quando o peso da lei recai sobre pessoas poderosas ou que têm amigos poderosos. Juízes já foram mortos por condenar mafiosos, em países como a Itália ou a Colômbia; colocados na prisão por não atenderem as determinações de ditadores, como na Turquia ou no Irã; ou apenas afastados de seus tribunais por simplesmente não se curvarem aos poderosos de plantão, em diversas partes do mundo.

O presidente americano vem promovendo há muitos anos um processo de intimidação e subordinação do Judiciário de seu país. A cada decisão contrária aos seus interesses, achincalha magistrados, acusando-os de "lunáticos esquerdistas". Seus apoiadores os ameaçam de impeachment. A juíza Ketanji Brown Jackson, da Suprema Corte, "teme pela democracia dos Estados Unidos".

Trump ajuda Lula a taxar milionários - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Pressão após sobretaxa de Trump ajuda a manter em pé promessa de campanha

Após o anúncio da sobretaxa de 50% dos EUA, o meme que ainda viraliza nas redes —com a frase "Lula quer taxar o rico e o Bolsonaro quer taxar o Brasil"— é prova de que ação de Donald Trump ajudou Lula. O governo ficou numa situação mais confortável na votação do projeto que cria o imposto dos milionários para financiar a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda —promessa de campanha do presidente para a classe média.

Relator do projeto, o deputado Arthur Lira dizia a interlocutores, há menos de dois meses, que não tinha nenhum compromisso com a compensação da isenção por meio de uma tributação das rendas mais altas, como foi proposto pela Fazenda.

Trump vai unir o Brasil? - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

É melhor país polarizado se juntar por interesse nacional do que por fantasia ideológica

Foi preciso um tarifaço disparado com sotaque novaiorquino e topete tingido para o Brasil cogitar, mesmo que por instantes, uma trégua ideológica. Donald Trump, ídolo de uma ala da direita brasileira que tem orgulho de mugir em inglês, pode acabar provocando a primeira reconciliação entre petistas, isentões e bolsonaristas desde que a polarização virou o esporte nacional, com torcida organizada, juiz comprado e zero fair play.

As tarifas e a Tarifa-Bolsonaro - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Ninguém está a salvo da espada erguida pela Casa Branca

Trump declarou, vezes sem conta, sua tórrida paixão por tarifas. Celebremente, selecionou "tarifas" como sua palavra predileta, para depois corrigir-se colocando-a atrás de "Deus" e "amor". Na visão dele, tarifas desempenham três funções distintas. A Tarifa-Bolsonaro, de 50%, anunciada contra o Brasil, enquadra-se na terceira família.

Nas suas versões de esquerda e direita, o populismo econômico destina-se a impulsionar o consumo, angariar popularidade e colher triunfos eleitorais. No fim, o resultado é sempre a explosão da dívida pública. Pela esquerda, caso do Brasil, sob o dístico "gasto é vida", os gastos públicos crescem além das possibilidades de aumento da arrecadação tributária. Pela direita, ao estilo de Trump, sob o lema de que "redução de impostos é vida", comprime-se a receita tributária a patamares inferiores às necessidades orçamentárias.

Motta e Alcolumbre em cima do muro - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Ideia fixa é utilizar as emendas impositivas para financiar campanhas eleitorais

O Legislativo está na berlinda. Nos trends, como se diz. Pesquisa Atlas/Intel mostrou que só 3% dos brasileiros dizem confiar "muito" no Congresso; 63% revelam não ter "nenhuma" confiança; 27% confiam "pouco".

De fazer corar de vergonha, a crise de representatividade não é levada a sério. "Se chegar às 10h, será promulgado às 10h01", disse o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sobre a possibilidade de Lula não sancionar o projeto de lei, criticado pela população, que aumenta o número de deputados. A frase saiu em tom ríspido e petulante, no mesmo dia em que a pesquisa foi divulgada.

Máfias & política - José Casado

Revista Veja

Fraudes em emendas parlamentares no Ceará são vinculadas ao crime organizado

Alguns dos mais votados deputados federais do estado do Ceará estão sob suspeita de participação no desvio de quase 500 milhões de reais em dinheiro público. São novos nomes na lista de meia centena de parlamentares submetidos a “apurações específicas”, como dizem juízes do Supremo Tribunal Federal, sobre a manipulação de emendas ao Orçamento da União e fraudes em licitações municipais. O caso do Ceará, porém, tem uma peculiaridade: a polícia vinculou os principais personagens da investigação, um deputado federal e um prefeito cassado, às máfias do crime organizado dominantes em parte do mapa estadual.

Os desafios do PT - Aldo Fornazieri

CartaCapital

Se o partido permitir o retorno da direita em 2026, a Era Lula terá uma despedida bastante melancólica

vitória de Edinho Silva por ampla maioria para a presidência do PT e a ampliação do domínio da chapa moderada não são suficientes para debelar a crise interna do partido. O resultado foi até surpreendente ante o descontentamento e a prostração dos filiados, tanto com a legenda quanto com o governo. As divergências explicitadas na disputa entre as chapas são agudas e vão desde a problemática aliança com o chamado Centrão até o papel da militância e a importância das lutas socias em relação ao grande predomínio que o partido deu à luta institucional no século XXI.

Jogo duro - André Barrocal

CartaCapital

O governo derrota o Congresso nas ruas e nas redes no caso do IOF. Agora, tenta vencer a batalha no Supremo

Na quinta-feira 10, houve uma manifestação popular em São Paulo em defesa da taxação dos super-ricos. Tinha sido convocada pela Frente Povo Sem Medo, cujo rosto mais conhecido é o deputado Guilherme ­Boulos, do PSOL. Na manhã daquele dia, a Frente Parlamentar de Combate às Desigualdades, criada por iniciativa de ­Boulos em 2023, reunira-se no Congresso. Um documento apresentado ali pela Oxfam Brasil, entidade integrante de uma rede mundial de justiça fiscal, trazia uma arqueologia da injustiça tributária brasileira e destacava uma vergonha. Enquanto os 10% mais pobres gastam 32% da renda com impostos, o 0,1% mais rico desembolsa 10%. Claro, o peso da taxação do consumo é maior do que na renda e no patrimônio, ao contrário do que se vê no mundo rico. Eis uma das razões da pornográfica concentração de renda no País.

Lula e a luta de classes - Cristina Serra

CartaCapital

O topo da cadeia alimentar foi surpreendido pela intensidade da comunicação da esquerda e pela escolha acertada da abordagem ricos contra pobres

O governo Lula, finalmente, conseguiu pautar a discussão que interessa a quem quer melhorar o País: a luta de classes. Dois projetos se prestaram a esse debate crucial. A isenção total de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais e a redução do imposto para quem recebe entre 5 mil e 7 mil reais (ainda não votado), e o aumento do IOF para os super-ricos (rejeitado pelo Congresso). Corrigir distorções do sistema tributário brasileiro é uma das formas de fazer justiça social e de expor o abismo que divide o País­ entre os que sobrevivem com migalhas e os que se esbaldam na opulência.

O arranjo do desarranjo - Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

As ameaças de Trump e as reações dos BRICS

O avesso, do avesso, do avesso. Há um clamor ou desejo nostálgico para um novo Bretton Woods, ainda mais nesses tempos turbulentos desatados sobre a moeda-reserva, o dólar. Na posteridade da Segunda Guerra Mundial, as mentes saudosistas clamavam por um retorno ao padrão-ouro.

Os desarranjos do sistema monetário internacional invocam a possibilidade de um novo Bretton Woods. Desta vez, acreditamos numa adaptação digital do Bancor.

A ideia de Keynes, vencida na reunião de Bretton Woods, pretendia criar uma moeda única para todos os países amparada em uma Câmara de Compensação única, a União Internacional de Compensação (UIC), cuja diretoria seria formada por representantes de todos os países.

Passou recibo - Maurício Thuswohl

CartaCapital

A retaliação tarifária de Trump mostra que o bloco ganhou força e representa uma ameaça concreta à hegemonia do dólar

Em meio ao avanço da extrema-direita e aos ataques do governo de Donald Trump ao multilateralismo, o mundo atual é bem diferente do que era há 19 anos, quando foi criado o BRIC, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Naquela ocasião, sobretudo após a adesão da África do Sul em 2011, que deu ao grupo o seu nome atual, a iniciativa foi apontada por economistas e políticos das mais diversas tendências e partes do globo como uma saudável tentativa de construção de parcerias multilaterais para o desenvolvimento dos paí­ses emergentes. Uma construção que não passasse pelos crivos e exigências das chamadas instituições de Bretton Woods, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Refundar a nação - Ivan Alves Filho*

Quanto mais eu acompanho o noticiário brasileiro, mais preocupado fico. A impressão que tenho é que o populismo (dito de "direita" ou de "esquerda") aposta deliberadamente em uma crise institucional, insuflando o confronto entre os poderes da República. 

Para alguns, o Executivo é melhor do que o Legislativo e este pior do Judiciário e por aí vamos. Um setor batendo cabeça com o outro, como se diz. Na base disso, dessa visão, temos os interesses eleitoreiros, imediatistas, uma vez que o Brasil não tem projeto de nação e sequer de governo. Nesse caso, tudo parece convergir para a manutenção do poder pessoal e das conveniências corporativas. Mergulhamos no império do "nós contra eles". Decididamente, a mediocridade pode ser muito significativa. No Brasil dessas primeiras décadas do século XXI tem sido assim.  

O futuro do sistema brasileiro de saúde - Marcus Pestana

Não há quem negue, independente de viés político-ideológico, às políticas públicas de saúde o status de prioridade absoluta nas ações governamentais, ao lado de educação, segurança e emprego.

O Brasil fez uma escolha ousada ao optar, na Constituição de 1988, pela construção do SUS, que assegura o acesso universal à integralidade das ações e serviços necessários para promover, restaurar e manter a saúde da população.

Não é segredo para ninguém que o país enfrenta, há muitos anos, graves restrições orçamentárias. Não é tarefa trivial assegurar, a um só tempo, sustentabilidade fiscal ao país e solidez ao sistema público de saúde.

O berço da desigualdade - Cristovam Buarque

Revista Veja

Melhorar a educação de base é caminho para o fim da pobreza

Avaliações recentes mantêm o Brasil entre os campeões mundiais em desigualdade social e concentração de renda — e um dos tristes indicadores é a discrepância no acesso à educação básica de qualidade. A inclusão no ensino representaria um avanço conceitual, porque na história brasileira a escola sempre foi tratada como direito para poucos. Quando, no final do século XX, houve a intenção de universalizar a matrícula, manteve-se a equivocada tradição de que a frequência, a assistência e a permanência até o final do ensino médio deveriam continuar apenas para alguns poucos. O problema: não basta considerar educação de qualidade como direito; ela é também vetor para o progresso. É caminho para aumento da renda e da justiça social. A assimetria educacional não é, enfim, termômetro da pobreza, mas uma de suas principais causas, como sugere o título de um livro de Sebastião Salgado: O Berço da Desigualdade.

A ignorada polarização secular - Cristovam Buarque*

 

Correio Braziliense

Quando se fala em polarização, o foco recai quase sempre sobre disputas ideológicas e não sobre a desigualdade social. A polarização social sempre foi negligenciada no Brasil, invisível aos olhos da política e dos analistas

A verdadeira polarização brasileira não é política. Ela se revela no contraste entre o salário mínimo recebido por um trabalhador sem acesso a serviços públicos de qualidade, quando não está desempregado, e os supersalários pagos a servidores do Estado, com estabilidade garantida até mesmo depois de aposentados por corrupção, custeados com recursos públicos que poderiam financiar os serviços dos quais esse trabalhador carece. Ainda assim, quando se fala em polarização, o foco recai quase sempre sobre disputas ideológicas, e não sobre a desigualdade social.

Entre 1822 e 1889, o Brasil atravessou períodos de polarização política, sem perceber a polarização social entre os brasileiros escravos e seus senhores. Depois da abolição e da República, tivemos momentos de polarização política, mas ignoramos a desigualdade social entre quem vive nas favelas e quem habita condomínios fechados; entre os que têm água tratada em suas piscinas e os que não têm água potável para beber.

O rio Capibaribe se uniu ao Beberibe e formou o oceano Atlântico - Cláudio Carraly*

(Pernambuco é Brasil)

Pernambuco emerge como um laboratório vivo da brasilidade, concentrando em seus limites geográficos as contradições, potencialidades e complexidades que definem o Brasil contemporâneo. Este estado do nordeste brasileiro transcende sua dimensão territorial para se estabelecer como um microcosmo do que acontece no todo, manifestando de forma condensada os principais desafios e oportunidades que caracterizam a nação.

A história pernambucana é um espelho amplificado dos eventos que moldaram o país, servindo como palco para as primeiras grandes expressões de autonomia e pluralidade. O Estado foi palco de eventos seminais da identidade brasileira. A Capitania de Pernambuco, estabelecida em 1534, tornou-se rapidamente o centro econômico mais próspero da América Portuguesa, fundamentado na produção açucareira. Esta prosperidade inicial criou as bases para uma sociedade complexa e estratificada que antecipava muitos dos dilemas sociais que posteriormente se estenderiam por todo o território nacional.

Poesia | Ariano Suassuna - Circuito da Poesia do Recife

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Música | Jorge Aragão - Ária Cantilena No. 1 das Bachianas Brasileiras No. 5 (com Quarteto de Cordas)