Folha de S. Paulo
Os tais 10% da faixa proposta aos super-ricos
brasileiros corresponde à faixa mais baixa dos contribuintes norte-americanos
Warren
Buffett é o quinto homem mais rico do mundo. Sua fortuna é estimada em
US$ 166 bilhões, quase R$ 1 trilhão. No dia 26 de novembro de 2006, o escritor
e comentarista político Ben Stein escreveu uma coluna para o The New York Times
sobre uma conversa que teve com Buffett sobre algo que preocupava o bilionário:
o sistema
tributário.
Nos Estados Unidos, há um sistema progressivo de taxação. As faixas variam de 10% a 37%. Em 2025, por exemplo, quem ganhar até pouco menos de US$ 12 mil anuais irá pagar 10%. Quem ganhar mais de US$ 626 mil anuais está na faixa mais alta de contribuição, 37%.
A despeito do sistema progressivo de taxação,
naquele ano, Buffet, com uma renda gigantesca proveniente de dividendos e
ganhos de capital, pagou muito menos imposto do que qualquer outra pessoa em
seu escritório. Buffett não fazia nenhum tipo de planejamento tributário,
simplesmente pagava o que o Código da Receita Federal exigia. "Como isso
pode ser justo?", perguntou Buffett.
Stein concordou, mas disse que sempre que
alguém tentava levantar a questão era acusado de fomentar uma luta de classes.
Buffett então respondeu: "Há uma luta de classes, sim. Mas é a minha
classe, a classe rica, que está fazendo a guerra, e estamos ganhando".
Há um mês, em uma entrevista ao jornalista
Reinaldo Azevedo, a deputada federal Tabata Amaral (PSB), afirmou que, a
despeito da coragem do governo em propor a taxação dos mais ricos, a proposta
ainda é injusta. Em sua visão, "o governo não foi tão ousado como
deveria".
E se perguntou: "Quem recebe R$ 1 milhão
por mês vai pagar 10% de imposto e quem recebe R$ 10 mil, R$ 20 mil, vai pagar
27,5% de imposto? O país mais capitalista do mundo cobra mais impostos dos
super-ricos do que a gente, Estados Unidos da América".
Curiosamente, os tais 10% da faixa proposta
aos super-ricos brasileiros corresponde justamente à faixa mais baixa dos
contribuintes norte-americanos. Ou seja, se nos Estados Unidos os ricos estão
ganhando a luta de classes, no Brasil há um verdadeiro massacre.
Em uma das melhores passagens do livro
"A Boba da Corte" (2025), Tati Bernardi revela a primeira vez que se
deu conta de quem são e como vivem os super-ricos brasileiros. Quando era
estagiária de uma das principais agências de propaganda do país, ela foi
"desconvidada" para o aniversário de um dos redatores, em um
restaurante caro.
Porém, quando perguntou porque todos os
estagiários, menos ela, foram convidados, o redator sorriu e disse: "Os
estagiários dessa agência são mais ricos que o presidente. Todos são filhos de
clientes. Nunca reparou naqueles carros pretos parados na garagem? São os
seguranças dos estagiários".
No fim do mês passado, o Cannes Lions,
festival de criatividade mais importante do mundo, cassou o grande prêmio
conquistado pela agência DM9 neste ano. O motivo da "despremiação"
foi o uso de inteligência artificial para apresentar informações imprecisas ao
júri.
Alguém poderia dar o tal prêmio para a
campanha "Hugo nem se importa". Pelo menos, ao contrário da DM9, a
inteligência artificial foi usada para apresentar informações precisas à
população brasileira.
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