terça-feira, 8 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reforma do IR aproxima Brasil de ‘justiça tributária’

O Globo

Mesmo que não seja ideal, mudança enviada ao Congresso traria avanço bem maior que aumento do IOF

O governo federal se diz empenhado por “justiça tributária”. Petistas têm promovido campanha pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), resgatando o discurso “ricos contra pobres”. Essa propaganda polarizadora nada traz de bom. Mas, se aumentar o IOF e rachar a sociedade é o modo errado de promover “justiça tributária”, isso não significa que os impostos brasileiros sejam justos. Não são. E o próprio governo, como O GLOBO afirmou em editorial de março, já encaminhou ao Congresso projeto que, apesar das limitações, avança ao corrigir injustiças — a reforma do Imposto de Renda (IR).

Melhora na popularidade vai manter aliados com Lula, diz o novo presidente do PT, Edinho Silva

Andrea Jubé e Isadora Peron / Valor Econômico

Alinhado ao ministro Sidônio Palmeira, da Secretaria de Comunicação, Edinho reconhece a crise de popularidade do governo, mas diz estar “confiante” de que a aprovação do presidente vai crescer no 2º semestre

Eleito com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o novo presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Edinho Silva, disse ao Valor, na primeira entrevista exclusiva após a divulgação do resultado da eleição petista, que, antes de tomar posse, vai procurar dirigentes e líderes partidários da base para deflagrar as conversas sobre os palanques para 2026 e tentar reeditar a frente ampla de 2022. “Temos que consolidar rapidamente um diagnóstico, Estado por Estado.”

Ele vai ser o responsável por coordenar a campanha de Lula à reeleição. Alinhado ao ministro Sidônio Palmeira, da Secretaria de Comunicação da Presidência, Edinho reconhece a crise de popularidade do governo, mas diz estar “confiante” de que a aprovação do presidente vai crescer já no segundo semestre. A se confirmar esse quadro, diz que a “perspectiva de vitória” vai conter a eventual debandada de aliados.

Conhecido pelo estilo conciliador, ele chega ao posto num clima de tensão política, em pleno confronto do governo com o Congresso, após a derrota imposta a Lula no episódio do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Ele rebateu críticas de que o PT estaria estimulando a divisão da sociedade.

“Achar que impõem uma derrota ao Lula e que isso não teria reação é muita ingenuidade, mas não significa que ele tenha aberto mão do diálogo.”

Próximo do ministro da FazendaFernando Haddad, ele disse que o PT não terá uma postura passiva sobre a economia, mas “não vai trabalhar contra o governo”. Igualmente ligado ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, Edinho criticou os juros altos, mas defendeu o “voto de confiança” no chefe da política monetária.

Quatro vezes prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) de Dilma Rousseff, Edinho assume o PT após o mandato de oito anos de Gleisi Hoffmann, hoje ministra da articulação política, e de cinco meses do senador Humberto Costa (PE), que comandará a transição no cargo. A posse dele ocorrerá no início de agosto.

Representante da tendência hegemônica Construindo um Novo Brasil (CNB), Edinho também terá de pacificar o PT, que saiu rachado da eleição nacional. O principal embate interno ainda mira o controle da Secretaria de Finanças, hoje com Gleide Andrade, aliada de Gleisi.

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Ajuste fiscal não precisa ser cruel nem abrupto - Pedro Cafardo

Valor Econômico

O congelamento do mínimo e o corte de gastos com o Bolsa Família e outros programas sociais dariam alívio imediato aos cofres da Previdência e às contas públicas, mas é cruel querer resolver o problema fiscal empurrando a conta do ajuste para idosos, deficientes e pobres

A batalha do IOF fez brotar nas redes sociais o que o presidente da Câmara, Hugo Motta, chamou de polarização social. Na definição governista, “ricos x pobres”.

Ao impor seguidas derrotas ao governo, entre elas a do IOF, a oposição, inclusive a interna, adotou a óbvia estratégia pré-eleitoral da extrema direita: ir sangrando Lula para que continue perdendo popularidade até o pleito de 2026.

Ao revidar com o “ricos x pobres”, duas palavras que políticos e analistas evitam usar, o governo escancarou sua contraestratégia: colocar a extrema direita na situação desconfortável de quem pretende tirar renda dos pobres e impedir a taxação das classes mais favorecidas da sociedade.

Na reunião do Brics, Lula reage à interferência indevida de Trump - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Somos um país do Ocidente, porém, com a globalização, nossa vocação natural de produtor de commodities de minérios e alimentos fez da China nosso principal parceiro comercial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu, ontem, a declaração feita pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em prol do ex-presidente Jair Bolsonaro. O petista disse que “a defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o Estado de Direito”.

Trump havia publicado um texto em defesa de Bolsonaro no final da manhã. Segundo ele, o ex-presidente brasileiro e seus parentes sofrem uma “caça às bruxas”. Para o norte-americano, ele “não é culpado de nada”. Disse: “O único julgamento que deveria estar acontecendo é o julgamento pelos eleitores do Brasil – chama-se eleição. Deixem o Bolsonaro em paz!”. De pronto, o ex-chefe do Executivo agradeceu o apoio.

Brics escancara ambiguidades globais - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Declaração final não esconde divergências no bloco, que é mais autoritário do que antiocidental

O mundo é um lugar ambíguo e uma boa prova disso vem de organizações multilaterais como o Brics, que não escondem os interesses conflitantes daqueles que pretendem formar um grupo coeso.

O Brics surgiu em 2001 como acrônimo dos países emergentes em que investidores deveriam ficar de olho; Brasil, Rússia, Índia e China (a África do Sul, o S, entrou depois). Mas os países mencionados gostaram da ideia de formar um bloco que se orientaria por interesses econômicos comuns e o formalizaram.

As divergências logo surgiram e se agravaram. A China se tornou superpotência em atrito com os EUA. É a Guerra Fria 2.0. Por seu peso gravitacional, Pequim é quem mais influencia o clube.

Tarcísio vai se Lula estiver mal – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Decisão do governador de disputar o Planalto depende de como o presidente chegará a 2026

Tarcísio de Freitas (Republicanos) não desmente nem confirma candidatura à Presidência da República quando a conversa entre aliados envereda por aí. Deixa a hipótese no ar. Não estimula nem desestimula, enquanto em público nacionaliza o discurso.

Deu um tempo nas cortesias administrativas, passou a criticar o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) e incorporou o desafio ao Sul Global em suas falas.

O governador ultrapassa as fronteiras de São Paulo quando fala de segurança pública referindo-se à necessidade de reestruturação das Forças Armadas, na economia diz que conhece a solução para o equilíbrio fiscal do país e na política anuncia frente de direita para 2026.

PSDB perdeu a direita e cavou a própria cova com rachas e traições - Marcio Aith*

Folha de S. Paulo

[RESUMO] Partido do Real e da modernização do Estado brasileiro, o PSDB por duas décadas protagonizou com o PT os rumos da política nacional, vangloriando-se de possuir os mais bem preparados quadros políticos e técnicos do país. Com o mesmo esmero, suas lideranças dedicavam-se nos bastidores a sucessivas traições e sabotagens. Denúncias de corrupção e o surgimento de Bolsonaro acentuaram a crise e rasgaram a superfície de polida competência do partido, que hoje depende de fusão ou federação com outras siglas para sobreviver.

Era uma manhã de março de 2016 quando o destino tocou a campainha do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Aécio Neves, então senador, recém-desembarcado em Congonhas, atravessava a cidade com uma comitiva de repórteres. Não vinha para conversar. Queria arrastar o governador Geraldo Alckmin até a avenida Paulista, onde fervilhava a maior manifestação pró-impeachment de Dilma Rousseff.

"Isso é uma armadilha", murmurou o governador, seco, a dois assessores. Sabia que, se não fosse, os jornais do dia seguinte o carimbariam como o responsável pelo racha tucano. Suspirou, entrou na van e partiu. No trajeto, os dois homens, que um dia representaram o futuro do país, viajaram lado a lado, calados, como estranhos no mesmo velório.

Na Paulista, antes do cheiro de fritura dos ambulantes, vieram as vaias. Cartazes pediam cadeia. Um manifestante gritou "corrupto" diretamente a Aécio. Para quem conhecia o ninho tucano por dentro, era o início do fim de um projeto que prometera civilizar a política nacional —e acabava linchado no meio da rua.

Alckmin via nas pedaladas fiscais atribuídas ao governo Dilma não um crime, mas uma farsa. Dizia aos próximos que, sob aquele microscópio ideológico, nenhum prefeito passaria sem arranhões. Para ele, o impeachment era juridicamente frágil e politicamente perigoso, um precedente que poderia ser usado contra qualquer governante.

A irritação do governador não era só jurídica. O PSDB começava a flertar com um terreno que jamais fora o seu: polarização sem freios, rua ensandecida, populismo do ódio. "Já não era um movimento que nos cabia bem", admite hoje Aécio Neves, em entrevista à Folha. "Era uma coisa esquisita, radicalizada."

Qual o problema do 'nós contra eles'? - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Gestão federal toma medidas que, se viessem da oposição, tacharia de elitistas

O "nós contra eles" é indissociável da política, que é feita, afinal, de grupos em luta pelo poder. E, quando um grupo consegue associar a si mesmo com "o povo" e pintar o adversário como "as elites", o discurso vira uma arma poderosa. Não foi invenção de Marx, não. Desde a mais remota antiguidade o conflito entre grupos —especialmente pobres e ricos— sempre deu a tônica da política. Das campanhas pela reforma agrária dos irmãos Graco na Roma republicana à Revolução Francesa, essa polarização sempre esteve presente. Às vezes, ela aflora. A vantagem da democracia é dar vazão a essas polaridades sem necessidade de guerra civil.

Brasileiro (não) paga muito imposto? - Michael França

Folha de S. Paulo

Afirmação não é totalmente incorreta, mas é manipuladora

Dizer que o brasileiro paga muito imposto não é necessariamente uma mentira, mas trata-se de uma meia-verdade usada de forma seletiva. O Brasil apresenta uma carga tributária, ou seja, a proporção entre o total de impostos arrecadados e o Produto Interno Bruto (PIB), considerada de nível médio a alto.

No entanto, ao observarmos comparações internacionais, especialmente com países desenvolvidos, percebemos que ela está longe de ser uma das mais elevadas do mundo.

Aqui, ela gira em torno de 32% do PIB. Isso é mais ou menos o mesmo nível de países da OCDE com Estado de bem-estar social moderado, como Portugal ou Espanha, e bem inferior ao de países como França, Dinamarca ou Suécia, onde a carga supera 40%.

De bruxas e bruxarias - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

E se, em nome da soberania, Milei cobrasse Lula pelo ‘Cristina libre’ em plena Argentina?

Quem atira a primeira pedra? Se Donald Trump, presidente dos EUA, está errado – e está – ao chamar os processos contra Jair Bolsonaro no Supremo de “perseguição” e “caça às bruxas”, o que dizer de Lula, presidente do Brasil, que visitou Cristina Kirchner e tirou foto com o cartaz “Cristina libre” em plena Buenos Aires?

Trump, que se sente imperador dos EUA e age como dono do mundo, ficou mal-humorado com o Brics no Rio e ameaça impor tarifas adicionais a países que se alinharem com o bloco, que tem China, Rússia e agora Irã. De quebra, se meteu também com a Justiça brasileira, ao defender e dizer que Bolsonaro só queria o bem do povo brasileiro (?). Julgou, absolveu e anunciou sua sentença ao mundo.

O Brasil no Brics - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

O Brics é visto, em Brasília, como instrumento-chave para reequilibrar a ordem mundial, contrapondo o domínio do G-7

No contexto atual de incertezas e insegurança global, o governo brasileiro organizou ontem, no Rio de Janeiro, o encontro de cúpula do Brics, sem a presença dos líderes da Rússia, China, Egito, Turquia, Irã e México.

O Brics, hoje, ampliado, é integrado pelos cinco países originais (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) e agora pelos novos membros, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes. Foi igualmente criada uma categoria de Países Associados, tendo sido convidados Cuba, Bolívia, Turquia, Nigéria, Indonésia, Argélia, Bielorrússia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã e Uganda. A expansão do Brics permitirá um maior conhecimento e novas oportunidades de ampliação do intercâmbio comercial entre os países-membros. Existem cerca de 200 mecanismos de interação entre os países-membros, com reuniões entre ministérios e instituições oficiais e privadas que vão nessa direção. No tocante ao funcionamento do bloco, o Brasil apoiou a expansão do grupo (2023-2024) e defende termos de referência para a entrada de novos membros para preservar a coerência e eficácia do bloco. Há cerca de 35 países que manifestaram interesse em se juntar ao Brics.

Os hackers do Pix - Pedro Doria

O Globo

Ninguém precisou forçar o acesso a nenhum sistema, senha alguma teve de ser adivinhada. As falhas de segurança, que certamente existiram, até aqui não parecem ter sido do Banco Central

Quando alguém fala de qualquer crime envolvendo hackers, é inevitável que nos venha a imagem: um rapaz branquelo, espinhas no rosto, moletom de capuz e longas horas diante do computador. Pizzas, refrigerantes, energéticos. O desvio de dinheiro pelo sistema Pix ocorrido na semana passada, com perdas de R$ 400 milhões ou mais, não envolveu o estereótipo. A ação foi profissional, feita por quem sabia exatamente o que fazia e, principalmente, limpa. Ninguém precisou forçar o acesso a nenhum sistema, senha alguma teve de ser adivinhada. As falhas de segurança, que certamente existiram, até aqui não parecem ter sido do Banco Central.

Para que o Pix funcione e possamos fazer transferências imediatas, saindo da minha conta e entrando na sua, é preciso que três componentes distintos funcionem. Primeiro, as Contas de Pagamentos Instantâneos, ou Contas PI. Depois, o SPI, Sistema de Pagamentos Instantâneos. Por fim, o DICT, Diretório de Identificadores de Contas Transacionais.

Brics encara incoerências - Merval Pereira

O Globo

Eventuais acertos do grupo, como a ideia de negociar com suas moedas, perdem-se diante do acúmulo de incoerências e da defesa de ditaduras e invasões.

Inicialmente Bric, grupo que reunia Brasil, Rússia, Índia, China e ganhou o plural para receber a África do Sul (South Africa em inglês) nasceu da inventividade de Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs que criou o acrônimo para identificar os países que mais cresceriam economicamente no futuro e entrariam no grupo dos mais desenvolvidos. Seriam “os tijolos” dessa nova configuração. Isso foi há 25 anos. Não aconteceu exatamente assim, mas não há dúvida de que três dos países originários (China, Brasil e Índia) estão entre as maiores economias do mundo e de que a Rússia continua como um dos mais influentes.

As contradições internas do Brics - Míriam Leitão

O Globo

A ampliação do Brics elevou a contradição interna. O resultado foi um comunicado fraco, apesar de algumas boas falas de Lula

O presidente Lula falou em fim do uso de combustíveis fósseis, mesmo num grupo, o Brics, que tem produtores de petróleo e grandes emissores. Falou em igualdade de gênero e direitos reprodutivos da mulher, num bloco com integrantes que oficialmente discriminam mulheres, como os países árabes e o Irã. Apesar disto, essa cúpula ampliada mostrou que as contradições internas tornaram o comunicado mais fraco em diversos pontos fundamentais, como na reivindicação brasileira de ter um assento no Conselho de Segurança da ONU.

Poesia | Procura da poesia, de Carlos Drummond de Andrade

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Música | Maria Bethânia -"A Casa é sua"