terça-feira, 9 de maio de 2017

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

A reforma política, para meu gosto, poderia ser mais rápida. A questão é outra. O Temer entendeu que o papel dele ou é histórico ou é nenhum. A sua força está no Congresso, que está numa circunstância muito difícil devido à questão da Lava Jato. Todos, a oposição, o PT, o meu partido, foram atingidos. Mas o balanço é positivo. Veja, o governo vive uma crise herdada, assumindo uma massa falida. Às vezes, ele não tem tempo de se beneficiar dos avanços. Às vezes, tem. Vamos ver.

Infelizmente, os partidos são muito descolados dos interesses da sociedade brasileira. As pessoas vão votar, no fim, em figuras que encarnem seus interesses. A sociedade contemporânea é muito fragmentada.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, ex-presidente da República, em entrevista à Folha de S. Paulo, 8/5/2017

Lula agora tenta adiar depoimento

Defesa quer três meses para analisar documentos incorporados ao processo; delator diz que não tratou de propina com petista

A dois dias da data marcada, o ex-presidente Lula recorreu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região para tentar adiar seu depoimento ao juiz Sergio Moro, em Curitiba. Os advogados do petista pediram pelo menos três meses para analisar documentos da Petrobras incorporados ao processo no fim de abril. Enquanto isso, querem que os prazos do processo sobre o tríplex do Guarujá sejam suspensos. Moro, que já havia negado o adiamento, ontem também rejeitou o pedido da defesa para que o depoimento seja gravado por câmera móvel. Para ele, os advogados de Lula tentam transformar a audiência em “evento político-partidário”. O empresário Ricardo Pessoa, da UTC, disse que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari cobrava propina “de obra a obra”. Pessoa disse, porém, que nunca tratou do assunto diretamente com Lula.

O tempo de Lula

Defesa do ex-presidente tenta adiar depoimento e pede três meses para analisar papéis

Cleide Carvalho e Tiago Dantas | O Globo

-SÃO PAULO- Às vésperas do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro na Lava-Jato, os advogados do petista tentam adiar a data do interrogatório, marcado para amanhã. A defesa de Lula afirma que precisa de no mínimo três meses para analisar documentos da Petrobras, que somariam cerca de 100 mil páginas e foram incorporados ao processo no fim de abril. Por isso, pediu ontem a suspensão dos prazos do processo em um habeas corpus ajuizado no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que não havia decidido até a noite.

Também ontem, ao negar pedido dos advogados para que o depoimento de Lula fosse gravado por uma câmera móvel, Moro afirmou que a defesa do ex-presidente tenta transformar a audiência em um “evento político-partidário”. À noite, durante evento do Observatório Social do Brasil, em Curitiba, o juiz declarou que “nada é resolvido na audiência” e que não vê motivo para tanta expectativa:

Moro vê ‘propósitos político-partidários’ e proíbe Lula de gravar interrogatório

Juiz da Lava Jato indefere pedido dos advogados do ex-presidente que queriam fazer filmagem autônoma da audiência marcada para quarta-feira, 10, em Curitiba; magistrado argumentou que acusado e defesa teriam objetivos 'absolutamente estranhos à finalidade do processo'

Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo | O Estado de S. Paulo

O juiz federal Sérgio Moro proibiu a defesa de Lula de gravar em áudio e vídeo o interrogatório do ex-presidente, marcado para esta quarta-feira, 10, na sede da Justiça Federal em Curitiba. Pela primeira vez Moro e Lula vão ficar frente a frente. O ex-presidente é réu na ação penal do caso triplex – imóvel situado no Guarujá, litoral de São Paulo, cuja propriedade a Lava Jato atribui ao petista, o que ele nega.

Todas as audiências da Lava Jato, desde o seu início, são gravadas em áudio e vídeo, por ordem de Moro. O juiz defende rigorosamente a publicidade de tudo o que consta dos autos, como prevê a Constituição.

Defesa de Lula pede que Sergio Moro adie seu depoimento

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Nesta segunda-feira (8), a defesa de Lula pediu na segunda instância a suspensão do processo –e do depoimento– do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro, marcado para quarta-feira (10), em Curitiba.

A defesa diz não ter tempo suficiente para analisar documentos da Petrobras relativos ao caso que deveriam ser juntados à ação penal.

Os advogados afirmam que haviam pedido documentos da Petrobras relativos à acusação e que o material só foi levado ao processo a partir de 28 de abril. Diz que são 5.000 documentos, com "estimadas cerca de 100 mil páginas", ou 5,42 gigabytes, que estão "sem índice" e foram encaminhados de "forma desorganizada".

A acusação do Ministério Público Federal sustenta nesse processo que Lula recebeu propina da empreiteira OAS em troca de benefícios à empresa na Petrobras nos governos petistas.

Moro proibiu, na manhã desta segunda, que a defesa grave o depoimento.

'Não é um confronto', diz juiz Sergio Moro sobre depoimento de Lula

José Marques | Folha de S. Paulo

CURITIBA - O juiz Sergio Moro afirmou na noite desta segunda (8), dois dias antes do interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a audiência "não é um confronto" e que ele se preocupa com o clima de disputa que se formou em torno da data.

"O processo não é uma guerra. O processo não é uma batalha, o processo não é uma arena. Em realidade as partes do processo são a acusação e a defesa. Não o juiz. O juiz não é parte no processo", afirmou, em evento sobre eficiência na gestão pública, em Curitiba.

"Me preocupa um pouco esse clima de confronto, essa elevada expectativa em relação a algo que pode ser extremamente banal. E diga-se: nada de conclusivo vai sair nessa data", acrescentou.

Moro abriu a sua palestra com o recado sobre o depoimento. "Não sei se estão a par, mas na quarta-feira (10) vai haver esse interrogatório", disse, sob risos da plateia. Sem citar o nome de Lula –o chamou apenas de "o acusado"–, afirmou que, apesar das expectativas, o depoimento é "normal dentro do processo".

Defesa de Lula pede que depoimento seja adiado

Valor Econômico

SÃO PAULO - A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer o adiamento do depoimento do petista ao juiz Sergio Moro, marcado para amanhã. Os advogados de Lula pediram liminar para suspender a tramitação da ação penal por um prazo "razoável" não inferior a 90 dias a contar da disponibilização de todos os documentos pela estatal, além de habeas corpus para evitar o "constrangimento ilegal" que representaria o interrogatório do ex-presidente nesta semana. Os pedidos foram feitos ao Tribunal Regional Federal (TRF-4) e preveem tempo para analisar documentos apresentados pela Petrobras à Justiça na última semana.

O advogado Cristiano Zanin Martins afirma ter solicitado documentos à Petrobras em outubro do ano passado. Com tamanho estimado pela defesa de Lula em 100 mil páginas, os documentos foram juntados ao processo entre 28 de abril e 2 de maio. A defesa já tinha solicitado mais prazo para o juiz Moro, que negou o pedido. Nesta segunda-feira, os advogados resolveram recorrer ao TRF-4.

Vaccari recebia propina ‘obra a obra’, diz delator

Ricardo Pessoa disse, no entanto, que não discutiu pagamentos ilegais com Lula

Dimitrius Dantas, Cleide Carvalho | O Globo

-SÃO PAULO- O empresário Ricardo Pessoa disse ontem ao juiz Sergio Moro que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari cobrava propina “de obra a obra”. Ele confirmou o pagamento de vantagem indevida que saía da diretoria de Serviços da Petrobras a Vaccari, a pedido de Renato Duque, então diretor da área. Segundo Pessoa, a discussão dos percentuais e da divisão de pagamentos ocorria depois que as empreiteiras e os consórcios assinavam contrato com a estatal.

— Eu me reunia sistematicamente com o Vaccari no meu escritório da UTC em São Paulo e fazia praticamente uma planilha (de propina), um controle obra a obra — disse.

O ex-executivo da UTC fechou acordo de delação premiada com os procuradores em maio de 2015 e foi convocado ao processo como testemunha de acusação.

— Éramos instados a colaborar. O porquê se pagava isso é porque nós éramos cobrados — afirmou Pessoa ao Ministério Público Federal (MPF).

Pessoa contou que se encontrava periodicamente com o então tesoureiro do PT para tratar da cobrança de valores indevidos. Ele, no entanto, negou ter tratado sobre propinas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou com o ex-ministro Antonio Palocci. O empresário disse que o pagamento da propina era feito na forma de doação eleitoral para o Diretório Nacional do partido.

No TSE, defesa de Temer alega que perda do mandato traria consequências ‘imprevisíveis’

Advogados do presidente pedem que tribunal considere na decisão atual situação do país

André de Souza | O Globo

-BRASÍLIA- Nas alegações finais entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a defesa do presidente Michel Temer pediu que a Corte leve em consideração a situação política e econômica do Brasil na hora de julgar a ação que pode levar à cassação de seu mandato. Na avaliação de seus advogados, uma decisão desfavorável pode resultar em consequências graves à estabilidade do país.

“Deve ter-se especialmente em conta (assunto sobre o qual cabe também ao Tribunal meditar), a atual situação do país, que em nada recomenda medida dessa extensão, em virtude das consequências imediatas que seriam por ela acarretadas, tanto na estabilidade política como no imprevisível comportamento da economia”, diz trecho do documento, assinado pelos advogados Gustavo Bonini Guedes, Marcus Vinicius Furtado Coêlho e Paulo Henrique dos Santos Lucon.

Governo corre para votar Previdência ainda em maio

Planalto quer levar texto ao plenário da Câmara nos dias 24 ou 31

Ordem a deputados aliados é derrubar todas as dez emendas ao relatório final e concluir votação ainda hoje na comissão especial. Reforma trabalhista pode ser apreciada em regime de urgência no Senado

Em reunião ontem no Palácio do Planalto, o governo cobrou de líderes aliados que todas as dez emendas restantes ao relatório da reforma da Previdência sejam derrubadas, encerrando ainda hoje a votação do texto na comissão especial da Câmara. Isso permitirá que a proposta siga para o plenário, onde o governo pretende acelerar as negociações e votá-la no dia 24 ou em 31 de maio. Na reforma trabalhista, que estimula a negociação entre funcionários e empresas, a base planeja pedir regime de urgência para a tramitação.

Governo traça estratégia para votar Previdência até dia 31

Planalto cobra de aliados derrubada de destaques na comissão especial

Geralda Doca | O Globo

-BRASÍLIA- A comissão especial da reforma da Previdência começa a votar, hoje, os dez destaques apresentados na semana passada. O governo elevou o tom ontem, em reunião no Palácio do Planalto, e cobrou dos líderes da base o compromisso de derrubar todos os destaques e aprovar o parecer do relator, deputado Arthur Maia (PPS-BA). O objetivo é que o texto esteja amanhã na mesa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de modo que a votação em plenário ocorra ou no dia 24 ou no dia 31 deste mês. A derrubada dos destaques também teria o objetivo de mostrar que a proposta não está sendo desfigurada.

Negociação em primeiro lugar

Reforma trabalhista prevê acerto entre funcionário e empresa em jornada, hora extra e férias

Cássia Almeida | O Globo

A valorização da negociação é um dos principais objetivos da reforma trabalhista nas palavras do relator da proposta enviada pelo governo, Rogério Marinho (PSDB-RN). O projeto, que já foi aprovado na Câmara dos Deputados e tramita no Senado, estabelece uma série de situações em que a negociação prevalece em relação ao que determina a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Além de privilegiar a negociação coletiva, a reforma dá mais poder ao acordo coletivo (aquele firmado entre empresa e sindicato) do que à convenção (entre sindicatos patronais e de empregados). Permite também que várias questões sejam resolvidas diretamente entre funcionário e empresa, sem necessidade de intermediação sindical, como jornada, banco de horas, trabalho intermitente e férias.

Especialistas se dividem sobre esse poder da negociação previsto na reforma. Hélio Zilberstajn, professor da USP, acha a reforma um marco, uma mudança profunda, na qual os sindicatos tendem a ganhar força. A desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ) e professora de Direito da UFRJ Sayonara Grillo chama a atenção para o poder dado à negociação individual, o que vai de encontro ao que propõe a reforma, que pretende dar mais espaço para as negociações coletivas.

Base governista cogita pedido de urgência para levar proposta direto a plenário

Outra opção para acelerar tramitação no Senado seria audiência conjunta das 3 comissões

Geralda Doca | O Globo

BRASÍLIA- O governo articula nos bastidores correr com a reforma trabalhista, que acabou de chegar ao Senado. Segundo um líder do governo, a ideia é fechar um acordo com os senadores para que a proposta seja discutida em um único espaço — que pode ser audiência conjunta das três comissões, de Constituição e Justiça (CCJ), de Assuntos Econômicos (CAE) e Assuntos Sociais (CAS) — ou vá direto para o plenário. Neste caso, é preciso contar com 54 votos favoráveis para aprovar a urgência.

Governo aposta na rejeição de todos os destaques da reforma na comissão

Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Após um final turbulento na semana passada, a comissão da reforma da Previdência na Câmara vota hoje, a partir das 9h30, os dez destaques que faltam para concluir a análise do parecer do deputado Arthur Maia (PPS-BA) sobre o projeto e permitir que o texto possa ser levado ao plenário. Embora o governo confie que conseguirá manter o relatório praticamente inalterado pela comissão, os pontos principais do debate já se farão presentes.

Há emendas, inclusive de partidos da base, para mudar a regra de transição dos funcionários públicos, de forma que aqueles que ingressaram por concurso público antes de 2003 não precisem chegar à idade limite do projeto - de 65 anos para homens e 62 para mulheres - se quiserem aposentadoria igual ao salário (paridade) e os mesmos reajustes da ativa (integralidade).

Vendas crescem no varejo após dois anos de retração

Por Adriana Mattos, Cibelle Bouças e Thais Carrança | Valor Econômico

SÃO PAULO - Após dois anos de retração, o grande varejo viveu um primeiro trimestre de crescimento de vendas e rentabilidade, tendência que se acentuou em março e continuou em abril e maio. O Valor Data analisou os balanços de nove grandes companhias de capital aberto do setor e apurou que a receita líquida conjunta aumentou 14,8% de janeiro a março quando comparada com a do mesmo período do ano passado.

Esse grupo de nove companhias - Pão de Açúcar, Via Varejo, Raia Drogasil, Magazine Luiza, Lojas Renner, Profarma, Hering, Restoque e Multiplan - registrou faturamento conjunto de R$ 25,76 bilhões no trimestre. O lucro líquido subiu de R$ 78,8 milhões no primeiro trimestre do ano passado para R$ 595 milhões no início deste ano.

"Os números de 2017 não refletem mais aquela catástrofe de 2016" diz Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Ele destaca reações em setores como vestuário, material de construção e eletroeletrônicos.

Um teórico da política e da democracia | *José Antonio Segatto

- O Estado de S. Paulo

Admiravelmente atual, obra de Gramsci excede o momento histórico em que foi produzida

Há oito décadas, depois de quase 11 anos nas prisões fascistas, em 27 de abril de 1937, faleceu Antonio Gramsci, vitimado por um derrame cerebral em consequência da debilitação do organismo nas difíceis condições do cárcere. O carro fúnebre que transportou seu corpo até o cemitério seguiu quase solitário.

Originário da Sardenha, nasceu em 1891 e mudou-se para Turim em 1911, onde iniciou a militância política no Partido Socialista. Em 1917, logo após a revolução na Rússia, publicou o lúcido artigo A Revolução contra o Capital. Dois anos depois criou o jornal L’Ordine Nuovo e em 1921, com outros dissidentes socialistas, fundou o Partido Comunista Italiano, do qual se tornou dirigente e um dos principais formuladores teórico-políticos. Em 1924, eleito deputado, desempenhou importante papel nos combates ao regime fascista – em represália, foi preso em 1926 e, no processo, o promotor bradou ao júri, pedindo sua condenação: “Temos de impedir que esse cérebro funcione durante 20 anos”. Iniciava-se aí um período extremamente árduo na vida de Gramsci, libertado somente poucos dias antes de falecer, numa clara manobra de Mussolini para evitar que morresse nos cárceres fascistas.

Além da letra da lei | Merval Pereira

- O Globo

A defesa do ex-presidente Lula continua utilizando todos os meios a seu alcance para polemizar com o juiz Sergio Moro, que vem tendo atitudes que abrem caminho para eventual derrota em recurso judiciais.

Ao utilizar o Facebook para um chamamento aos “apoiadores da Operação Lava-Jato” para que não façam manifestações em Curitiba amanhã, dia em que Lula será interrogado, Moro deu margem a que os advogados do ex-presidente o acusassem de ter um lado no processo que julgará.

Com relação à negativa da gravação da audiência por parte da defesa, Moro se utiliza do artigo 251 do Código de Processo Penal, que diz que “ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública”.

Não, não e não | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

A expectativa quanto ao cara a cara Lula-Moro virou uma sucessão de nãos, e pode frustrar

A palavrinha mais dita e mais escrita sobre o depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro, amanhã, em Curitiba, é curta e cortante: “não”. Não se pode fazer nada, Lula pode não falar nada de relevante e pode não acontecer nada.

Moro negou o pedido curioso da defesa de Lula para gravar tudo ao seu jeito, transformando a sala de audiências da 13.ª Vara Criminal de Curitiba num estúdio de TV. O juiz justificou que será um “ato normal do processo”, não um “evento político-partidário”, e aproveitou para dizer não à entrada de celulares. Também gravou vídeo pedindo aos defensores da Lava Jato que não façam manifestações, por temer que tudo descambe para uma espécie de guerra campal.

Encontro marcado | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Nunca na história deste país houve tanta expectativa por um depoimento à Justiça. O primeiro encontro do ex-presidente Lula com o juiz Sergio Moro promete ser um divisor de águas na Lava Jato. O jogo que será jogado em Curitiba ajudará a determinar o futuro da operação, do petismo e das eleições de 2018.

A tensão já começou antes da audiência. A pedido da Polícia Federal, que alegou razões de segurança, Moro adiou a sessão em uma semana. Foi um péssimo negócio para Lula. Em sete dias, o juiz ouviu mais três delatores que apontaram o dedo para o ex-presidente.

Adeus, Lula | Marco Antonio Villa

- O Globo

Na Presidência, ele adotou como lema ter como princípio não ter princípio, repetindo o método de dirigente sindical

Luiz Inácio Lula da Silva é um fenômeno político. Disso ninguém pode duvidar. Afinal, venceu as quatro últimas eleições presidenciais. Hoje, é de conhecimento público que, especialmente, nas eleições de 2006, 2010 e 2014, movimentou verdadeiras fortunas comprando aliados antes e durante o período eleitoral, além de ter efetuado as campanhas publicitárias mais caras da história eleitoral brasileira. Mas só isso — que já é muito — não justificaria as quatro vitórias e alguns momentos, como no segundo governo, quando obteve índices recordes de popularidade.

O governo não quer briga, quer voto | Raymundo Costa

- Valor de S. Paulo

Aliados raspam o tacho antes de votar a Previdência

Quem sabe do riscado diz que o governo já está pronto para votar a reforma da Previdência no plenário da Câmara. Quem não quer votar agora são os deputados. Eles decretaram uma greve branca de três semanas, período durante o qual vão intensificar o achaque. O sucesso ou fracasso do governo Temer depende da aprovação da reforma previdenciária, e o pressuposto é que o presidente está disposto a pagar qualquer que seja o preço. Antigos hábitos não mudam do dia para a noite.

Na prática, os governos não esperam o chamado melhor momento da base para votar. O normal é marcar a data e administrar as crises do dia a dia até a sessão de votação. O Palácio do Planalto precisaria estar muito longe dos 308 votos de que precisa para aprovar a proposta, o que não parece ser o caso. Mas desta vez, quem pausou a votação da reforma da Previdência foram os líderes dos partidos aliados. Pura fisiologia, dizem os entendidos; há quem aposte no agravamento da insegurança eleitoral, diante da dificuldade do Planalto de convencer os eleitores dos benefícios da reforma. Numa caso ou outro, o que parece é faltar juízo à base parlamentar de apoio ao governo na Câmara.

Saudades do Barão | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Curitiba ontem lembrava Itararé às vésperas da famosa “batalha”. Milhares de petistas rumavam para a cidade com o intuito de protestar contra a Operação Lava-Jato e prestar solidariedade a Lula

Itararé é uma pequena cidade paulista na fronteira com o Paraná, a 237 quilômetros de distância de Curitiba. Entrou para a história na Revolução de 1930, porque seria palco daquela que estava sendo apontada pelos jornais da época como a maior batalha já ocorrida numa guerra civil latino-americana. Em outubro daquele ano, as forças governistas, que apoiavam o presidente Washington Luiz, acamparam na cidade para esperar a chegada das tropas rebeldes, que eram lideradas por Getúlio Vargas. O combate foi evitado pela decisão do coronel Paes de Andrade, que resolveu parlamentar com o general Miguel Costa, comandante revolucionário. Getúlio, que partira de Porto Alegre disposto a lutar até morrer, tomou o poder sem dar um tiro.

Fim de ciclo | José Casado

- O Globo

Em maio de 1982, PT fez comício de Lula em Curitiba. Ele continua candidato, 35 anos depois. Antes novidade política, agora é autodefesa em praça pública de um réu por corrupção

Abanda passou devagar na Rua das Flores, calçadão central de Curitiba, abrindo caminho para um grupo com faixas e cartazes improvisados de um partido desconhecido (contava dois meses de registro). Surgiu, então, a comitiva com um barbudo sorridente no meio. Seguiram para o comício na Boca Maldita, onde a tradição curitibana recomenda que se fale mal de tudo e de todos, num exercício de liberdade. Na estridência daquele ajuntamento havia novidade, o prelúdio do ocaso da ditadura.

A encruzilhada | José Márcio Camargo*

- O Estado de S.Paulo

Após nadar arduamente contra a maré, sem aprovar as reformas acabaríamos ‘morrendo na praia

Os últimos dois anos foram particularmente importantes para o Brasil. A Operação Lava Jato escancarou a corrupção endêmica na política do País. Uma parte importante das principais lideranças políticas está sob investigação pelo Ministério Público e um número expressivo de ex-ministros, ex-deputados e lideranças partidárias foi condenado ou está preso preventivamente.

Pela primeira vez na história um presidente foi afastado pelo Congresso Nacional por ter desrespeitado a Lei Fiscal. O vice-presidente assumiu a Presidência da República sem questionamento quanto à sua legitimidade e governa com o apoio do Congresso.

Reforma moderada | Míriam Leitão

- O Globo

País levará 20 anos para aplicar a idade mínima. Há destaques, na reforma da Previdência, que valem como uma antirreforma. Mesmo assim, na base do governo não existe muita preocupação em relação à votação de hoje. Mas como política é nuvem, é melhor ficar atento à sessão na comissão especial que está encerrando seus trabalhos. O ponto mais importante da reforma é a idade mínima, mas os 65/62 anos só valerão em 2038.

Um dos destaques suspende a exigência de tempo de contribuição para se aposentar. Deixa apenas a idade mínima. Outro derruba tudo o que há no projeto sobre pensão, como o ponto que limita a acumulação da pensão com aposentadoria apenas quando a soma não ultrapassar dois salários mínimo. Outro destaque muda a regra de paridade e integralidade para funcionário público, retirando as restrições que existem no projeto. O do deputado Arnaldo Faria de Sá trata de um fórum judicial federal para acidente de trabalho. Esse deve ser aprovado. A maioria dos destaques é da oposição, que foi derrotada na votação do projeto principal, mesmo assim tudo se definirá hoje.

Da recuperação cíclica ao crescimento | Yoshiaki Nakano

- Valor Econômico

Fixado o teto, é preciso ter regras claras que definam as prioridades e a composição dos gastos públicos

No mês passado defendi nesta coluna que, para sair da crise com crescimento, uma pequena desvalorização cambial e sua estabilização poderiam ter um papel estratégico na atual conjuntura. Todos concordam que iniciamos uma recuperação cíclica, mas lenta e gradual. Raros são aqueles, mesmo os mais otimistas, que acreditam que em seguida vamos voltar a crescer 4% ao ano, de forma sustentada. Por que este pessimismo geral em um quadro de recuperação cíclica?

De fato, faltam algumas condições básicas para a retomada do crescimento. As taxas de juros são anormalmente elevadas no Brasil, mesmo com a previsão de forte queda até o final deste ano, para uma economia globalizada em que vivemos. As taxas de poupança e investimento são excessivamente baixas no Brasil. Os consumidores e as empresas estão endividados. A produtividade tem crescido muito lentamente. Os gargalos são imensos não só na infraestrutura física, mas também devido às restrições impostas pelo "Custo Brasil".

O enigma de Macron | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Como previsto, Emmanuel Macron venceu com facilidade o segundo turno da eleição francesa. É necessário aguardar o pleito legislativo de junho para ter uma ideia mais precisa de como será a sua administração, pois ainda não está claro se ele terá maioria para governar sozinho, se precisará formar uma coalizão, que poderia ser tanto com a centro-esquerda como com a centro-direita, ou mesmo se terá de engolir logo de cara uma coabitação, isto é, um primeiro-ministro que lhe faça oposição.

Já dá, porém, para refletir sobre a posição de Macron no espectro político. Por falta de termo melhor, a imprensa mundial o vem chamando de centrista. Ele próprio gosta de afirmar que não é de esquerda nem de direita, mas acho que dá para dizer sem medo de errar que o próximo presidente da França pode ser descrito como de direita no campo econômico e de esquerda na pauta social.

O combate de Macron pela França | José Aníbal

- O Globo

Ele não nega as falhas do mercado capitalista, mas tampouco deixa de apontar que um Estado pesado como o francês, que consome 57% do PIB!, precisa de ajustes

A audaciosa marcha de Emmanuel Macron começa agora. Governar a França é tarefa dura e imensa, como definiu o próprio presidente eleito, ao discursar à multidão reunida no Louvre. Ele e o mundo sabem que seu sucesso será uma forte barreira — assim como um eventual fracasso servirá de combustível — aos ímpetos populistas do extremismo mundo afora, à direita ou à esquerda.

Macron dispõe de um instrumento poderoso: falar a verdade. O mais jovem presidente francês não se rende ao proselitismo, diz às claras o que pode e vai fazer para recuperar empregos, combater o terrorismo e reforçar uma Europa unida, democrática e soberana. Daí vem sua força e jovialidade, mais do que de seus 39 anos.

Lula arma o circo – Editorial | O Estado de S.Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva pode não ser culpado de tudo de que é acusado em matéria de corrupção, mas é um atentado ao bom senso imaginar que ele nada tem a ver com o mar de lama que sob seu nariz atingiu profundidade inédita em 13 anos de PT no poder. Por outro lado, é igualmente insustentável o argumento de que a Operação Lava Jato é instrumento de uma conspiração armada para criminalizar o ex-presidente e seu partido, uma vez que praticamente todas as lideranças políticas de alguma expressão, todos os grandes partidos, e não apenas Lula e o PT, estão implicados nas investigações de corrupção. É a inconfessada consciência dessa realidade que, em desespero de causa, está levando o lulopetismo, com a esquerda a reboque, a apostar no caos, apelando para recursos espertos e condenáveis como transformar uma vara judicial em palanque político e Curitiba em praça de guerra. É o que Lula pretende fazer na capital paranaense, quando depuser perante o juiz Sergio Moro em um dos cinco processos em que é réu por corrupção.

A manipulação em torno do depoimento de Lula – Editorial | O Globo

Tenta-se criar polarização entre o ex-presidente e Moro, quando, na verdade, se trata de uma sessão de testemunho em um dos cinco processos a que ele responde

É conhecida a capacidade do lulopetismo de criar “narrativas” e repeti-las à exaustão até ganharem ares de verdade para os desavisados. A primeira demonstração desta faceta ocorreu em 2005, na denúncia do escândalo do mensalão, em que ficou explícito o uso de caixa 2, explicado por Lula como algo que “todos (os partidos) fazem”. Mesmo que tenha pedido desculpas em público, recuou mais à frente e passou a responsabilizar a “elite” e a “mídia” pela invenção do escândalo.

Doze anos depois, Lula e PT tentam converter o depoimento do ex-presidente marcado para amanhã em Curitiba, perante o juiz Sergio Moro, da Lava-Jato, em um evento político. Mesmo que a sessão seja adiada, em aceitação de pedido da defesa de Lula, alegadamente para tomar conhecimento de novos documentos juntados ao processo, a intenção do lulopetismo é no mínimo uma impropriedade. Pois nem sequer será um ato decisivo neste processo.

Em busca da liderança perdida – Editorial | O Estado de S. Paulo

A dimensão da crise por que passa o País torna inadiável o debate acerca das reformas do Estado, como as propostas para o sistema político e as leis trabalhista e previdenciária – já em tramitação no Congresso Nacional – e mesmo a revisão do pacto federativo e a necessidade de convocar uma Assembleia Constituinte capaz de dar ao Brasil uma nova Carta Política, mais equilibrada e funcional, apta a prover soluções para os desafios atuais.

Não menos importante é a discussão sobre o anêmico quadro de genuínas lideranças políticas, cuja falta não só torna o processo de transposição da crise mais penoso, como também abre um perigoso espaço para o imponderável, enublando a visão de futuro dos brasileiros.

Sob o pretexto de uma suposta falência da “política tradicional”, começa a ganhar espaço cada vez maior o discurso em favor de nomes alheios ao mundo político – os chamados outsiders –, como se este distanciamento da política por si só representasse um atestado de bons antecedentes ou de vocação para a administração pública. Isso mostra quão perfunctória é a abordagem da questão das lideranças públicas nos dias de hoje.

O desafio de Macron – Editorial | Folha de S. Paulo

O voto britânico contra a União Europeia e a vitória de Donald Trump nos EUA suscitaram o temor de que se formava, nos países ricos, uma onda populista conservadora. Desde então, a ultradireita perdeu eleições na Áustria, na Holanda e, agora, na França.

A vitória de candidatos próximos ao centro, no entanto, ainda não permite concluir que arrefeceu o apelo de programas nacionalistas e xenófobos. Radicais de direita e esquerda receberam o apoio de 42% do eleitorado no primeiro turno da eleição francesa; no segundo, Marine Le Pen teve um terço dos votos; desde os anos 1980, a Frente Nacional cresce.

Não é possível dizer se o apelo do radicalismo chegou a um limite ou se ainda tende a crescer. A resposta dependerá, em parte, do desempenho de Emmanuel Macron.

O presidente eleito da França é um centrista à frente de um partido-movimento lançado faz um ano. Tomará posse no domingo, quando anunciará seu primeiro-ministro. Mas somente na eleição parlamentar de junho os franceses devem revelar qual formato e plano de governo preferem.

França de Macron reforça integração europeia – Editorial | O Globo

Eleição de candidato independente é derrota importante para o projeto nacional-populista, embora ainda restem desafios importantes para a França e a UE

A vitória do candidato independente Emmanuel Macron sobre Marine Le Pen nas eleições francesas é um marco histórico. Ela indica a busca do eleitor por uma alternativa aos partidos convencionais, mas que também não deseja entrar em aventuras que ponham em risco os ganhos de décadas de integração europeia em apoio a ideias extremistas sobre as quais pesam o estigma de racismo, antissemitismo e neofascismo.

Embora tenha obtido uma votação expressiva — quase 34% dos votos —, Le Pen teve um desempenho abaixo das previsões das pesquisas eleitorais, apesar do apoio que recebeu dos presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, e do ataque de hackers às vésperas da eleição contra seu rival. Mesmo assim, não é desprezível o percentual de eleitores que se identificaram com seu discurso contra a economia, o terrorismo e a imigração.

Eleito, Macron volta-se para a vital disputa legislativa – Editorial | Valor Econômico

Com sua folgada vitória sobre a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, Emmanuel Macron, líder do movimento independente Em Marcha, conquistou o poder na França sobre os escombros dos partidos tradicionais. Com isso, afastou provisoriamente os riscos de ruptura da União Europeia e arrefeceu o ímpeto dos partidos antiglobalização, estimulados pela vitória de Donald Trump, nos EUA, e do Brexit.

Macron terá agora de transformar sua corrente em partido político e colocá-lo à prova nas urnas em 11 de junho, início das eleições para 577 cadeiras da Assembleia Nacional. Se os ventos de renovação de sua "terceira via" não soprarem no parlamento e lhe assegurarem algo bem próximo das 290 cadeiras, Macron terá de enredar-se nas armadilhas e complicações dos acordos políticos. Esse caminho poderá minar o apoio, desfazer o arrebatamento que a rápida arrancada rumo ao Palácio do Eliseu propiciou e impedir a execução de seu programa.

Poema dedicado a Maria Luíza | Joaquim Cardozo

Eu te quero a ti e somente,
Eu que compreendia a beleza das prostitutas e dos portos,
Que sofri a violência da solidão no meio das multidões das grandes ruas,
Que vi paisagens do céu erguidas sobre a noite do mais alto e puro mar,
Que errei por muito tempo nos jardins deliciosos dos amores incertos e obscuros.

Eu te quero a ti sempre e somente.
Eu te quero a ti pura e tranqüila
Preciosa entre todas as mulheres
Que como rosas, como lírios, sobre mim se debruçaram,
Entre aquelas que de mim se aperceberam
Ao doce esmaecer das tardes luminosas.
Eu te quero a ti pura e tranqüila.
Nos espelhos da memória refletida
Pelas horas do meu tempo transpareces
E o Sol do meu deserto te ilumina
E a noite do meu sono te adormece.
Eu te pressinto no silêncio das verdades que ignoro,
No silêncio e no delírio dos desejos impossíveis:
através de um céu sem nuvens, do céu que é um prisma azul
Eu te revelarei a cor da tempestade
E a refração serena do meu mais íntimo segredo...

Em horizontes de ouro e de basalto
Indicarei o teu caminho
Entre flores de luar...
Farei uma lenda sobre teus cabelos...
Soneto Somente
Nasci na várzea do Capibaribe
De terra escura, de macio turvo,
De luz dourada no horizonte curvo
E onde a água doce, o massapê proíbe.

Sua presença para mim se exibe
No seu ar sereno que inda hoje absorvo,
E nas noites, com negridão de corvo.
Antes que ao porto do seu céu arribe

A lua. Assim só tenho essa planície...
Pois tudo quanto fiz foi superfície
De inúteis coisas vãs, humanamente.

De glórias e de alturas e universos
Não tenho o que dizer nestes meus versos:
– Nessa várzea nasci, nasci somente.

Casuarina - Jornal da Morte + Senhora Liberdade + Súplica Cearense