Eleição de candidato independente é derrota importante para o projeto nacional-populista, embora ainda restem desafios importantes para a França e a UE
A vitória do candidato independente Emmanuel Macron sobre Marine Le Pen nas eleições francesas é um marco histórico. Ela indica a busca do eleitor por uma alternativa aos partidos convencionais, mas que também não deseja entrar em aventuras que ponham em risco os ganhos de décadas de integração europeia em apoio a ideias extremistas sobre as quais pesam o estigma de racismo, antissemitismo e neofascismo.
Embora tenha obtido uma votação expressiva — quase 34% dos votos —, Le Pen teve um desempenho abaixo das previsões das pesquisas eleitorais, apesar do apoio que recebeu dos presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, e do ataque de hackers às vésperas da eleição contra seu rival. Mesmo assim, não é desprezível o percentual de eleitores que se identificaram com seu discurso contra a economia, o terrorismo e a imigração.
Macron recebeu 66% dos votos, reiterando o enfraquecimento da onda nacional-populista na Europa, já sinalizado nas derrotas de Norbert Hofer, na Áustria, e Geert Wilders, na Holanda, além de vitórias do partido da chanceler alemã, Angela Merkel em eleições estaduais recentes.
Como segunda economia da UE, a França é um país crucial para a coesão do bloco. Por isso, chama a atenção o fato de Macron ter chegado ao Palácio do Eliseu mediante uma campanha em que defendeu abertamente, sem eufemismos e camuflagens retóricas, a integração europeia e a necessidade de realizar reformas estruturais para estimular um crescimento robusto e sustentável. Será um desafio e tanto num país conhecido pela relutância em mexer em sua estrutura socioeconômica. Para isso, terá que construir uma base parlamentar nas eleições legislativas de junho.
Foi, portanto, um bom sinal o discurso de vitória de Macron, apelando pela união dos franceses diante dos graves problemas a enfrentar. Ânimo não deverá faltar. Aos 39 anos, ele é o mais jovem presidente eleito da França, superando Napoleão III (que chegou à presidência aos 40 anos). Mais do que isso, sua expressiva votação e a clareza com que defende seu projeto político lhe conferem autoridade para propor iniciativas transformadoras coerentes com sua plataforma eleitoral, classificada como centrismo radical e defendida abertamente na campanha.
Com Macron, a França se afasta um pouco mais de propostas nacionalistas camufladas em discursos modernizantes, como se vê, por exemplo, na fala da premier britânica, Theresa May, e nas ideias do candidato republicano francês, François Fillon. As urnas parecem ter calado as fantasias nacionalistas, e a execução de “Ode à alegria”, de Beethoven, em vez da Marseillaise, quando Macron fez seu discurso da vitória, foi um gesto pleno de simbolismos: o de louvor a uma Europa coesa, que vem sendo construída desde o pós-Guerra.
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