segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques*

Felizmente, nunca fomos tão longe como na Venezuela. Nosso universo mental, inclusive o de boa parte da esquerda, não está congelado em oposições irredutíveis nem gira em falso entre “império ou revolução”, “pátria ou morte”. E a burguesia nacional, como dizia um bom frasista, não cabe em Miami. Longe do delírio revolucionarista, temos pela frente a imensa tarefa de reformar um Estado disfuncional e uma sociedade injusta. Não aprendemos exatamente como fazê-lo, mas o método só pode ser o democrático.

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* Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci. “A Venezuela não é aqui”, O Estado de S. Paulo, 20/8/2017

Liberdade, liberdade, abre suas asas sobre a Venezuela | Marcus Pestana

- O Tempo

“Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda”. (Cecília Meireles)

A democracia é um valor universal. A liberdade é uma conquista contemporânea. Não pode ser relativizada. Não é meio, é fim em si mesmo. É inegociável. É patrimônio coletivo e princípio básico.

Impossível ficar insensível, impassível, diante das cenas dramáticas que diariamente recebemos pelas redes sociais e que brotam dos celulares da juventude venezuelana. Cenas às vezes inacreditáveis, que parecem vir das telas de cinema, dos filmes de ação mais violentos. Jovens que levantam alto, com coragem e amor ao país, a bandeira da liberdade, assassinados, fria e cruelmente, nas ruas e praças das principais cidades. Pessoas indefesas sendo fuziladas a céu aberto pelas forças da repressão e pelas milícias bolivarianas. Já são mais de cem mortos e milhares de feridos frutos da violência criminosa contra as manifestações populares.

A democracia totalitária bolivariana | Denis Lerrer Rosenfield

- O Globo

Nada do que está hoje acontecendo na Venezuela deveria surpreender. Presenciamos o desenvolvimento lógico-político de instauração do socialismo naquele país, tendo começado com Chávez e encontrado o seu desfecho na abolição da democracia e no assassinato de mais de uma centena de pessoas nas ruas em poucas semanas.

Espanta, contudo, o cinismo de alguns políticos que teimam em dissociar a “democracia” de Chávez da “ditadura” de Maduro, como se fosse possível separar as premissas da conclusão. Neste sentido, o elogio do indefectível Lula a Chávez — quando considerou que aquele país tinha “excesso de democracia” e não falta, acompanhado de apoio financeiro do contribuinte brasileiro através do BNDES — mostrou coerência com sua sustentação do ditador Maduro. O apoio atual do PT a este, com manifestações de sua presidente no Foro de São Paulo, segue uma mesma lógica, cuja única virtude consiste em expor a faceta totalitária do partido.

Qual democracia está em questão: a democracia representativa, com todas suas limitações e contrapesos, ou a democracia totalitária, com sua ilimitação e projeto de destruição do próprio sistema representativo?

O combate ao poder invisível | Gaudêncio Torquato

Blog do Noblat

Parcela considerável do contencioso que cerca a crise que afunda o país gira em torno das relações promíscuas entre a gestão pública, os políticos e os círculos de negócios.

Esse é o triângulo que sustenta os bolsões de corrupção que têm se alastrado nos subterrâneos do Estado, aqui e alhures, bastando ver o que também ocorre em outros países de feição democrática. É o que também descreve Roger-Gerard Schwartzenberg no clássico Sociologia Política, no capítulo em que trata da tecnodemocracia.

Ao se considerar que a respublica sempre despertará a atenção dos agentes negociais, ante a inexorável tendência de conjunção de interesses dos universos público e privado, resta imaginar uma forma capaz de dar plena transparência às relações entre o Estado e seus prestadores de serviços.

Nessa complexa teia de relacionamentos, emerge o fenômeno do lobby.

Há um projeto em tramitação no Congresso que trata dessa matéria tão estigmatizada. Pois o lobby carrega forte conotação negativa no ambiente político, sendo associado à corrupção, tráfico de influência, manipulação das estruturas governativas, enfim, apropriação de fatias do Estado pelas forças que usam as armas do patrimonialismo, mazela de nossa administração pública. (A Operação Lava Jato está eivada de exemplos com essa conotação). Daí a necessidade de abrir a redoma em que se esconde o lobby.

Democracia participativa
Pincemos a lição de Bobbio: a democracia é o governo do poder público em público, jogo de palavras que aponta para a ideia de “manifestação, evidência, visibilidade”, em contraposição à coisa “confinada, escondida, secreta”.

Na onda com Bolsonaro | José Roberto de Toledo

- O Estado de S.Paulo

Presidenciável preenche um vazio eleitoral para quem é a favor da redução da maioridade penal e da pena de morte, e é contra a legalização do aborto e do casamento de pessoas do mesmo sexo

A campanha presidencial de 2018 só não começou aos olhos da burocrática Justiça eleitoral brasileira. Os principais candidatos estão na estrada faz tempo, percorrendo o país em caravanas, usando verba de gabinete para cabalar voto, aproveitando horário de trabalho para receber homenagens nos Estados onde aparecem pior nas pesquisas. E publicando milhares de vídeos e mensagens em mídias sociais. Quem está ganhando?

Depende desde onde se observa a corrida. Na internet, Bolsonaro (PSC, por enquanto) está na frente por quase qualquer critério que se meça. É quem tem mais seguidores no Facebook (4,5 milhões, fora meio milhão no Twitter), mas não só isso. Provoca mais comentários, reações e compartilhamentos do que todos os rivais diretos: quase 100 milhões em três anos e meio. Como diria aquele político paulista, "falem mal mas falem de mim".

A reforma de R$ 3,6 bilhões | Ricardo Noblat

- O Globo

“Este país tem jeito. Não nasceu para ser a merda que ele é. Este país é grande demais.” Lula, em viagem pelo Nordeste

Ausência de políticos decentes impede reforma decente. Quem disse: “A reforma política só está sendo feita por causa do financiamento. Foi por isso que nós começamos a discutir sistema eleitoral, voto em lista, distritão. Agora tudo é para aprovar o fundo, porque sem ele não tem dinheiro.”? E quem disse: “Aprovar uma reforma política para o ano seguinte é impossível porque o povo aqui (no Congresso) faz de tudo, menos passar a faca no próprio pescoço.”?

FOI O DEPUTADO LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA), presidente da comissão que discute o tema na Câmara, quem disse que a reforma política, na verdade, só está sendo feita para resolver o problema de dinheiro dos candidatos às próximas eleições. E foi o deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da reforma, quem disse que seus colegas fazem de tudo, menos contrariar os próprios interesses.

Os nossos supremacistas | Ranier Bragon

- Folha de S. Paulo

É feio, é ridículo, é patético o que se vê hoje sendo debatido no Congresso sob o imerecido rótulo de "reforma política".

Tal qual um bando tresloucado que acaba de fugir da Torre de Babel, políticos falam de parlamentarismo, semiparlamentarismo, distritão, semidistritão e outros modelos eleitorais e de governo com tamanha carência de propósito e conteúdo que não será surpresa se, lá na frente, chegarmos à conclusão de que o melhor mesmo é ficar tudo como está.

Para quem já queimou os fusíveis para tentar entender o vaivém desse debate, é preciso dizer que o sistema dos sonhos para a maior parte dessa gente é aquele que lhes dê a melhor chance de se manter no poder.

Só que o que é bom para um pode não ser para outro. Daí essa confusão dos diabos.

E com um show de horrores desses, abre-se a Caixa de Pandora.

Humanos contra estátuas | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Sociedades habitualmente reescrevem o passado conforme as vicissitudes do presente. Na Revolução Francesa, até o calendário foi subvertido na tentativa de apagar vestígios clericais e aristocráticos. A coisa não pegou e sucumbiu ao rumo ordenado quase 2.000 anos antes –e depois ajustado no papado de Gregório 13– por outro rompedor, Júlio César.

No centro de São Paulo, a República rebatizou de 15 de Novembro a rua que antes era Da Imperatriz. Mais de um século depois, o elevado Costa e Silva passou a ser João Goulart.

Grupelhos na capital paulista alvejam monumentos, como o Às Bandeiras, no Ibirapuera, e a avolumada estátua de Borba Gato, na zona sul. Imitam, sem impacto comparável, a marcha de movimentos iconoclastas de inclinação identitária nos EUA.

O futuro sempre interessa | Luiz Roberto Nascimento Silva

- O Globo

O século XXI é mais Schumpeter do que Keynes. A indústria da informática é a melhor tradução do seu conceito de destruição criadora

Kenneth Galbraith dizia que empresários e homens de negócios no seu pragmatismo costumavam repetir como se fossem seus pensamentos de economistas já falecidos. Assim parece importante buscar a fonte original, primária, dessa produção intelectual, pois ela nos ajudará a entender melhor o mundo. Certamente os dois grandes pilares do século XX foram Keynes e Schumpeter.

O inglês Keynes é o pensador mais completo. O único a ter uma obra com consistência teórica e abrangência como a que Marx produziu no século XIX. Devemos a ele a crítica ao dogma do equilíbrio fiscal como fundamento básico das contas públicas. Keynes sustentou e insistiu que nos momentos de depressão era conveniente que o Estado produzisse déficits intencionais com finalidades públicas para romper o ciclo do desemprego. Era necessário gastar o que havia sido poupado pelo setor privado e assim retirar os países da letargia da crise. Keynes rompe com o modelo clássico expurgando do capitalismo a depressão e o desemprego que o condenariam a extinção na profecia marxista. O New Deal implantado por Roosevelt, somado aos efeitos econômicos da Segunda Guerra, coroou no plano da realidade o que ele havia sustentado em nível teórico.

Fora do eixo | Cida Damasco *

- O Estado de S.Paulo

Ataque ao gasto com servidores depende do Congresso. Perigo à vista

Mal saiu do forno o pacote fiscal de Temer, com foco em novas regras para o funcionalismo público, e já surgiu um personagem exemplar para comprovar os desmandos na área: o juiz de Mato Grosso que recebeu R$ 500 mil em apenas um mês, entre salários e penduricalhos, e reagiu à disparada de críticas com um diretíssimo “Não estou nem aí”.

Apesar da anestesia da sociedade, a repercussão foi tanta, que a presidente do STF, Cármen Lúcia, deu prazo de dez dias para que os Tribunais de Justiça dos Estados revelem os salários pagos de fato aos magistrados – escancarando a falta de transparência justamente entre os que deveriam zelar por ela.

Por aí, fica claro que alguma coisa está fora do eixo na administração pública. E, portanto, o pacote do governo federal de ataque a privilégios entre os servidores teria vindo em boa hora – melhor dizendo, teria até passado da hora. A questão, porém, é mais ampla, pois envolve não só alcance das medidas, como também as condições para sua aplicação.

Hoje - Debate: "Um pouco de Gramsci nessa crise não faz mal a ninguém"


Os compadres | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Nenhuma alternativa considerada é melhor que o status quo

Na última quarta feita, quando tudo parecia encaminhado para o início da votação da Reforma Política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, achou mais ajuizado suspender a sessão. Alegou que quórum estava baixo. No dia seguinte, o noticiário foi lacônico. Não se sabe ao certo onde e porquê a reforma travou. As negociações seguem a portas fechadas. Desacorçoado, Vicente Cândido (PT-SP), relator da matéria, afirmou que o plenário fora tomado por "uma chuva de ideias". Em outras palavras, o Congresso entrou no modo improvisação.

Cândido não foi capaz de pôr o projeto em pé. A cada relatório, promoveu alterações significativas em seus eixos centrais. Constante apenas a suposição de que o sistema estaria falido e de que, portanto, mudanças radicais seriam necessárias. Mas não houve acordo sobre o que deve substituir a lista aberta, nem quanto aos critérios de divisão do Fundo de Desenvolvimento da Democracia. A hesitação é enorme.

Com a rapidez com que deixa trajes formais para trás, o presidente da Câmara deu declarações desencontradas. Em seminário na FGV, na sexta feira dia 11, Rodrigo Maia, defensor ardoroso do 'distritão' em 2015, desancou sua nova aparição: "O 'distritão', como está, é ruim. Não existe em quase nenhum país. Se não tiver fidelidade alta, acabaremos tendo 513 partidos." Passado o fim de semana, mudou o tom e declarou que o sistema "não é tão ruim assim".

Economia e política têm agendas concorrentes | Angela Bittencourt

Valor Econômico

MCM atualiza índice proprietário e reação prossegue

Tem início nesta segunda-feira um período de três semanas de singular importância na formação de expectativas para a economia e a política. Não à toa, a reforma política abre a agenda do plenário da Câmara na terça-feira. Daqui a dez dias, Michel Temer completa o primeiro ano efetivo na Presidência da República, termina o prazo para a equipe econômica encaminhar a proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018 ao Congresso e, completa a tarefa, torcer pelo desempenho positivo do PIB no 2º trimestre deste ano. Da interação dessa agenda sairá o suporte à definição de mais uma Selic - em 6 de setembro - pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

A agenda inclui um esperado acerto de contas entre os deputados que apoiaram o presidente Temer e votaram contra o parecer que recomendava a abertura, no Supremo Tribunal Federal (STF), de investigação contra ele por crime de corrupção passiva. O 'Centrão' vai cobrar a cabeça de um ministro do PSDB, ao menos. E o presidente deverá ser preciso ao estimar quanto deve, porque, também nas próximas três semanas, dependerá de coesão em sua base parlamentar para ter aprovada a nova meta fiscal de R$ 159 bilhões para 2018 e a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), a sucessora da Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) nos contratos do BNDES.

A natureza dos ciclos de curto prazo | Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

A atividade e o mercado de trabalho começaram a se estabilizar, abrindo ciclo de expansão ainda lento, mas sustentável

Prometo ao leitor do Valor não o cansar com uma apresentação sobre a teoria dos ciclos de curto prazo nas economias de mercado. Longe de mim o objetivo de uma reflexão teórica, mas sim o de aproveitar este momento em que a imprensa especula diariamente sobre a natureza da recuperação cíclica que hoje está ocorrendo.

Os ciclos de curto prazo são inerentes às economias de mercado por uma razão muito clara. Ao longo do tempo, as economias reagem naturalmente ao choque entre o comportamento dos agentes econômicos e as condições reais dos vários mercados, que formam o tecido econômico de um país. Keynes chamou a atenção, durante seus longos anos de polêmica com os chamados economistas clássicos, para a natureza humana - com todas as suas qualidades e defeitos - dos agentes econômicos principais, sejam eles consumidores, investidores e empresas.

A lei e o arbítrio – Editorial | O Estado de S. Paulo

Dentro de suas atribuições constitucionais, a Câmara dos Deputados negou autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para dar prosseguimento à denúncia contra o presidente Michel Temer apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Diante dessa negativa, o ministro Edson Fachin determinou, no dia 10 de agosto, a suspensão do inquérito até o término do mandato de Michel Temer, também como determina a Constituição. No entanto, há quem difunda a ideia de que esse desfecho da denúncia contra o presidente prejudica o andamento da Operação Lava Jato.

O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos coordenadores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, criticou, em entrevista ao jornal Valor, a decisão da Câmara dos Deputados de negar prosseguimento à denúncia. “Toda vez que uma investigação não atinge os seus objetivos, uma acusação não é processada, boa parte da população se sente desanimada”, disse Carlos Fernando. “O certo mesmo de qualquer acusação é que seja recebida e o Judiciário enfrente o mérito”, sentenciou o procurador.

A árdua missão do próximo presidente da República – Editorial | Valor Econômico

O governo promoveu um verdadeiro choque de realidade ao anunciar, na semana passada, a mudança nas metas fiscais deste e dos próximos três anos. Da noite para o dia, todos ficaram sabendo que o déficit primário nas contas da União terá um acréscimo de R$ 199 bilhões no período de 2017 a 2020, em relação ao que estava anteriormente previsto - esse valor equivale a 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Quando se achava que o setor público brasileiro estava no fundo do poço, o governo revelou que o buraco era mais fundo. A situação é ainda mais dramática do que as se acreditava.

Um déficit primário maior significa que o governo terá que recorrer, com maior intensidade, à poupança privada para pagar suas despesas correntes, ou seja, os gastos com o custeio da máquina administrativa, com pessoal, com saúde, com educação e com os parcos investimentos que ainda realiza. Não se trata de pegar dinheiro no mercado para pagar juros da dívida. Isso também continua. O que aumentou foi a necessidade de o governo tomar dinheiro dos poupadores privados para pagar suas despesas do dia a dia.

Respiro econômico – Editorial | Folha de S. Paulo

Conhecida a maior parte dos indicadores do segundo trimestre, o desempenho da economia brasileira foi melhor do que se imaginava –ou se temia– há pouco tempo.

Não houve, está claro, uma recaída na recessão, possibilidade aventada depois que as delações da JBS, em maio, desencadearam mais uma grave crise política.

O índice de atividade calculado pelo Banco Central, que procura antecipar as tendências do Produto Interno Bruto, mostrou avanço de 0,25% entre abril e junho, na comparação com os três primeiros meses do ano. Trata-se do segundo trimestre consecutivo de expansão, o que indica maior solidez na recuperação do país.

O risco de piora pareceu elevado nos dias seguintes à revelação da fatídica conversa entre o presidente Michel Temer (PMDB) e o empresário Joesley Batista. Não era possível descartar, naquele momento, hipóteses como o descontrole da gestão econômica ou a derrocada geral da confiança dos mercados.

Rumo ao precipício – Editorial | O Globo

Dilma usa Fies como peça de propaganda eleitoral e acrescenta bilhões ao rombo fiscal

Na crônica da virtual quebra financeira da União — isso só não se concretizou porque ela continua a aumentar o endividamento —, a começar na gestão de Dilma Rousseff, há momentos emblemáticos do descaso com a responsabilidade fiscal. Houve, por exemplo, a transferência do Tesouro para o BNDES de meio trilhão de reais, pedido emprestado no mercado pagando os juros básicos do Banco Central, a fim de o que banco emprestasse cobrando das empresas a metade. Um suculento subsídio a ser pago pelo contribuinte, sem qualquer transparência, e durante muitos anos. Há aumentos generosos na folha de salários do funcionalismo, e assim por diante.

Uma outra passagem desta crônica do desprezo pelas regras da prudência é a forma como o PT e Dilma administraram o Programa de Financiamento Estudantil, o Fies, criado em 2001 com o relevante propósito de conceder crédito a alunos universitários matriculados em faculdades particulares.

Senado acelera tramitação de PEC de doação empresarial

Senadores favoráveis à medida devem nomear relator para discutir tema; STF já vetou que partidos recebam recursos de grupos privados

Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo.

Senadores favoráveis ao retorno do financiamento empresarial de campanhas eleitorais se articulam nesta semana para acelerar a apreciação do tema na Casa. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Edison Lobão (PMDBMA), deve nomear nos próximos dias um relator para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 113C/2015, uma das alternativas para ressuscitar a possibilidade de empresas doarem dinheiro para partidos políticos.

Segundo a assessoria de Lobão, o senador pretende levar a PEC à votação na CCJ tão logo o relatório fique pronto. Da comissão, ela segue para o plenário. A PEC 113C/2015 traz entre seus tópicos a autorização para que partidos políticos recebam dinheiro de pessoas jurídicas. O texto foi aprovado pela Câmara no ano de sua proposição e, se passar por duas votações no plenário do Senado sem alterações, poderá ser promulgado.

Justiça Eleitoral admite limite para controlar gastos

Presidente do TSE afirma que, com mais dinheiro, prestações de contas serão ‘problema’; relator de reforma vê fiscalização ‘impossível’

Elisa Clavery, Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, admitiu que a Justiça Eleitoral terá dificuldade para fiscalizar o volume de recursos públicos previsto na reforma política para financiar as campanhas eleitorais.

Ele não fez, porém, críticas diretas ao tamanho do fundo eleitoral previsto pelos deputados federais, de R$ 3,6 bilhões. “Estamos tentando cumprir o nosso papel, mas realmente com mais dinheiro (público) haverá maiores dificuldades”, disse o ministro ao Estado.

Gilmar apontou uma questão como a mais complexa: “Vamos ter repasse para os partidos que vão repassar para os candidatos, e aí vem o problema das prestações de contas.”

O ministro destacou o curto prazo para que a reforma política seja aprovada já para o próximo ano, mas disse que isso não atrapalha o diálogo entre a corte eleitoral e o Congresso Nacional. Após a votação na Câmara dos Deputados, prevista para amanhã, o texto seguirá para o Senado.

Gilmar descartou aumentar o número de servidores para fiscalizar as contas por causa do limite dos recursos públicos após a aprovação da PEC do Teto de Gastos. Como solução paliativa, o ministro citou um convênio firmado neste mês entre a Justiça Eleitoral e os tribunais de contas estaduais (TCEs), que cederam servidores para ajudar na fiscalização de contas.

O presidente do TSE defendeu o barateamento das campanhas, mas ponderou que há “custos incomprimíveis”, como as viagens de um candidato. “O fundo (público eleitoral) é menor do que eles declararam em 2014”, disse, lembrando o valor de R$ 5,1 bilhões. “O problema hoje é criar um fundo que será insuficiente. Então vão entrar recursos de outras fontes. Os critérios serão mais ou menos aleatórios. Cada partido vai adotar um critério de distribuição.”

Fundo de R$ 3,6 bi deve sobrecarregar fiscalização eleitoral

Estrutura é considerada insuficiente para analisar a destinação dos recursos

Elisa Clavery, Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo.

Enquanto a discussão do fundo público de R$ 3,6 bilhões para financiamento de campanha avança na Câmara, a fiscalização da aplicação dos recursos deve desafiar a estrutura da Justiça Eleitoral. O presidente do TSE, Gilmar Mendes, admite que será difícil analisar a destinação da verba. Há, atualmente, 148 servidores escalados para avaliar as contas anuais dos partidos. Se o fundo público for aprovado, cada um ficaria responsável por fiscalizar a destinação de R$ 24 milhões. Relator da reforma política, o deputado Vicente Cândido (PT-SP) reconhece que a tarefa será “impossível”. A reforma deve ser votada em plenário nesta semana.

O fundo eleitoral aprovado na comissão da reforma política da Câmara dos Deputados vai despejar bilhões de reais em campanhas políticas no próximo pleito sem a garantia de fiscalização do uso dos recursos públicos destinados aos partidos. Pela proposta que deve ser analisada nesta semana no plenário da Casa, até R$ 3,6 bilhões serão reservados para custear gastos com propaganda política, mas a atual estrutura da Justiça Eleitoral enfrenta desafios para averiguar a aplicação do montante, considerado alto por especialistas.

Semidistritão ganha força antes do plenário

Planalto acredita que modelo eleitoral pode ser aprovado na Câmara, em votação prevista para amanhã

Vinicius Sassine, Geralda Doca | O Globo

BRASÍLIA- O semidistritão ganhou corpo na véspera da votação da reforma política na Câmara, na avaliação de parlamentares que estão na linha de frente das discussões sobre as mudanças que valeriam já para as eleições de 2018. No Palácio do Planalto, o entendimento é que a proposta pode passar, “se bem trabalhada”, segundo um assessor do presidente Michel Temer.

A ideia surgiu na semana passada, numa tentativa de amenizar a rejeição ao distritão. Por este último modelo, são eleitos os deputados e vereadores que recebem a maior quantidade de votos, sem levar em conta os partidos e as coligações formadas, o que favorece a reeleição de parlamentares e a escolha de quem tem mais visibilidade e dinheiro. O semidistritão manteria a eleição dos mais votados, mas abriria a possibilidade do voto na legenda, com uma posterior distribuição dos votos entre os candidatos do partido.

Contestado, Tasso convoca convenção

Por Raymundo Costa e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

BRASÍLIA - Em meio a forte crise, o PSDB publicou neste fim de semana resolução convocando as convenções para a eleição de nova direção e a escolha dos candidatos do partido às eleições de 2018. A indicação do nome para a Presidência da República será em 9 de dezembro. Se houver mais de um candidato - o partido hoje está entre Geraldo Alckmin e João Doria, governador e prefeito de São Paulo, respectivamente - serão realizadas prévias em fevereiro de 2018.

Dificilmente o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente licenciado do partido, e Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino, devem continuar à frente do PSDB. Não há registro na história dos tucanos de presidentes "contestados" no cargo. O próprio Tasso pode não ficar até dezembro, pois uma ala influente do partido considera que ele está "provocando" as alas da legenda que não pensam como ele.

A convenção de dezembro é uma vitória de Alckmin, que espera eleger um presidente aliado na convenção. Os tucanos deram a largada à sucessão presidencial num momento crítico, quando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) articula a sua volta à presidência do partido, aproveitando-se de um momento de fragilidade de Tasso Jereissati (PSDB-CE). Tasso é o responsável pelo programa partidário, criticado pela maioria, no qual o PSDB reconhece ter cometido erros e condena o presidencialismo de "cooptação".

Temer discute parlamentarismo com Gilmar e Maia

Por Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer acelerou as dicussões para colocar em pauta o restabelecimento do sistema parlamentarista de governo, abolido em 1963. Temer e se reunirá com os presidentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) para discutir os projetos sobre o tema. O presidente quer implantar o sistema ainda em seu mandato, mas seus interlocutores mencionam com mais ênfase a possibilidade de implantar a mudança em 2022.

Ontem, Temer se reuniu no Palácio do Jaburu com Maia e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e da Secretaria do Governo, Antônio Imbassahy. O líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), também participou do encontro. No sábado, o presidente foi à residência oficial da Presidência da Câmara, onde conversou com Maia e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes.

"Esta semana vamos voltar a falar sobre parlamentarismo. Esse tema, porém, não tem a mesma prioridade da questão das regras eleitorais, que precisa ser aprovada até o início de outubro", disse Mendes, em entrevista ao Valor.

Para 'ocupar lacuna' do PSDB, DEM quer filiar aliados de Aécio

José Marques | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Com o PSDB em crise, membros do partido ligados ao senador Aécio Neves (MG) passaram a ser sondados pelo DEM, principal aliado no plano nacional, que tem tentado se expandir com insatisfeitos de outras legendas.

A iniciativa do Democratas é estratégica e visa preencher o espaço eleitoral dos tucanos, atualmente divididos, entre outras questões, sobre a permanência no governo Temer.

"Estamos tentando ocupar a lacuna deixada pelo PSDB, que está mais preocupado com questões internas", diz o líder da bancada do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).

Uma dessas lacunas é Minas Gerais, reduto de Aécio. Com a segunda maior população do país, o Estado é considerado por dirigentes do DEM como um dos locais onde o partido estava "morto", devido à forte influência do senador sobre os partidos aliados.

A legenda se move em duas frentes sobre os mineiros. De um lado, a executiva nacional corteja deputados próximos ao senador e críticos ao atual presidente interino do partido, Tasso Jereissati (CE), como Paulo Abi-Ackel e Marcus Pestana.

As Quatro Canções | Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

As quatro canções que seguem
Separam-se de tudo o que eu penso,
Mentem a tudo o que eu sinto,
São do contrário do que eu sou ...

Escrevi-as estando doente
E por isso elas são naturais
E concordam com aquilo que sinto,
Concordam com aquilo com que não concordam ...
Estando doente devo pensar o contrário
Do que penso quando estou são.
(Senão não estaria doente),
Devo sentir o contrário do que sinto
Quando sou eu na saúde,
Devo mentir à minha natureza
De criatura que sente de certa maneira ...
Devo ser todo doente — idéias e tudo.
Quando estou doente, não estou doente para outra cousa.

Por isso essas canções que me renegam
Não são capazes de me renegar
E são a paisagem da minha alma de noite,
A mesma ao contrário ...

Noel Rosa - Quem dá mais?