O Estado de S. Paulo
Houve um tempo em que o presidente Lula
anunciava que governava para o interesse de todos os brasileiros, inclusive dos
que votaram contra ele.
Hoje, vai sendo imposto o mantra do “nós
contra eles”, sem que fique claro quem sejam esses “nós” e quem sejam esses
“eles”. Nós, os pobres? Nós, os proletários? Nós, os do Partido? Nós, os
democratas? Contra quem? Contra a direita? Contra a Faria Lima? Contra os
mandachuva de sempre? Seja o que – e quem – for, é o discurso da polarização,
que pretende antecipar o debate eleitoral.
No momento, serve para defender o renitente aumento de impostos, em detrimento de um mínimo de objetividade: como é que o aumento do IOF, que deveria servir apenas para fins regulatórios – e não arrecadatórios –, beneficiaria o “andar de baixo” e não os lobbies favorecidos pelo Congresso, se atinge em cheio as pequenas e médias empresas, os microempreendedores individuais (MEIs) e o comércio que pratica o crédito denominado “risco sacado”?
Na falta de um inimigo claro, as velhas
esquerdas que se agrupam ao lado do governo Lula ainda tentam se apegar à
estratégia da diversidade, de parca densidade sociológica e ideológica, da
defesa dos direitos das minorias (negros, mulheres, população LGBT+), ainda que
resvalem para discursos extremistas, que pregam mais o ódio ao outro do que o
combate às discriminações vigentes. Poderiam refugiar-se na defesa dos valores
da social-democracia. Mas têm, em relação a ela, um entendimento confuso e
inconsequente, quando se aliam a governos autoritários, como os da Venezuela,
de Cuba, da Rússia e do Irã.
Como a questão central desse discurso não é
de lógica aristotélica, cabe perguntar se, ainda assim, consegue colar na
sociedade e no jogo político.
Quando perde votos e capacidade de
mobilização, o governo apega-se a dois falsos diagnósticos: o de que é preciso
melhorar a sua comunicação, e aí nomeia outro marqueteiro; e o de que é o de
que falta diálogo com as bases – e se põe a fazer sermões, sem dar ouvidos ao
outro lado.
Apesar das fartas políticas populistas e
distributivas, a popularidade do governo Lula desliza ladeira abaixo. A
percepção geral é de que a política econômica se aprofunda para o campo
disfuncional. Novos rombos somam-se aos anteriores. A dívida pública vai
crescendo, se aproxima dos 80% do PIB. Para pagar os lesados pelas fraudes do
INSS, que até agora não haviam sido coibidas, o governo decidiu que vai
aumentar a dívida e, assim, descarregar a conta sobre o contribuinte.
Muito antes da Inconfidência Mineira e da
Derrama, sabese no Brasil, que há um limite para a extorsão tributária. Chega o
momento em que o contribuinte não aguenta mais, mesmo quando as autoridades se
esforçam para difundir a versão de que são os mais ricos que rejeitam a carga
tributária e a empurram sobre os mais pobres. E quando a sociedade não aguenta
mais, as consequências políticas ficam inevitáveis. •
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