segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Opinião do dia: Gilvan Cavalcanti*

Na minha opinião a questão mais importante na conjuntura mundial e no Brasil é o fenômeno do pensamento político populista e antiliberal. Atinge, simultaneamente, os Estados Unidos, Europa Ocidental, o Brasil, Turquia, Hungria e outros países. É um fenômeno único. É um movimento do antiglobalismo e do nacionalismo. De repúdio sistemático às instituições criadas a partir dos princípios liberais, divisão dos poderes, liberdades individuais, direitos sociais e políticos, tais como desenvolvidas nos últimos tempos. Hoje, se proliferam movimentos populistas que defendem interesses nacionais imediatistas, que solapam as liberdades, e solapam a atual ordem global.

Esse fenômeno é cada vez mais visível após a vitória eleitoral de Trump s sua principal bandeira: América primeiro, a campanha do Brexit, o grito da direita francesa a França para os franceses, os apelos dos atuais governantes italianos a Itália primeiro, a Hungria de Orbán sem esquecer o presidente Bolsonaro com seu ‘Brasil acima de tudo’

É um movimento regressivo, não produz futuro e se protege através de uma fantasia, foge do real e objetiva uma volta ao passado, o que é impossível. Tentam instalar o medo. E isso agrava a crise em vez de resolvê-la. Os exemplos são muitos.

A principal responsabilidade dos democratas, progressistas, é enfrentar esse tema e encontrar os caminhos para derrotar essa movimentação velha querendo se apresentar com o “novo”.

*Gilvan Cavalcanti, editor do blog Democracia Política e novo Reformismo. ‘Um olhar no pensar e no agir’. Revista Política Democrática, Ano XIX, nº 53, p.142

Entrevista / Luiz Werneck Vianna*

Bolsonaro e a proposta radical de criar uma sociedade compatível com o capitalismo neoliberal. Um modelo que “não tem futuro aqui”. 

Entrevista especial com Luiz Werneck Vianna - Instituto Humanitas Unisinos - IHU

Os pronunciamentos polêmicos do presidente Jair Bolsonaro e suas propostas para desenvolver o país fazem parte de uma “política de estado-maior”, de uma “guerra contra o tipo de capitalismo que se implantou aqui e que não conheceu a modalidade do liberalismo radical”, diz o sociólogo Luiz Werneck Vianna à IHU On-Line. Segundo ele, o projeto do governo é “criar uma sociedade compatível com um tipo de capitalismo neoliberal que se quer implantar. Isso aparece em tudo: na desvalorização do trabalho e do trabalhador, no expurgo das agências reguladoras para deixar o terreno livre para o capital e sua movimentação e, especialmente, para o grande capital”, assegura.

Para reordenar o capitalismo brasileiro, afirma, “a estratégia do governo é criar uma neblina em torno das suas intenções efetivas, fazendo com que a sociedade preste atenção em questões triviais, como a cadeirinha de criança no automóvel. Enquanto se opera isso, se assume o projeto do Guedes, um projeto radical neoliberal, que não tem mais lugar no mundo de hoje”.

Crítico da modernização autoritária baseada num capitalismo de Estado, o sociólogo também discorda do modelo neoliberal que está sendo implementado pelo governo. “A ideia de criar um país homólogo às forças do mercado não tem futuro aqui. Vargas não governou assim. O capitalismo brasileiro não foi constituído a partir dessa lógica, mas da lógica da política, com Vargas, do social, da Consolidação das Leis do Trabalho. Enfim, somos de outra tradição e é com esta tradição que se quer cortar. Daí a relação com Trump, com a coisa americana, como se recriar a América aqui fosse possível”.

Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Werneck Vianna também comenta a relação do presidente Bolsonaro com o Congresso e o STF. Para o governo, “a Constituição é um estorvo e tem que ser eliminada, e isso está em plena campanha. Por isso, os intérpretes da Constituição, os ministros do STF, são alvos preferenciais. Se quer substituir ao longo do tempo os seus nomes mais representativos, que representam a tradição da cultura brasileira, por nomes inteiramente orientados pelos valores de mercado. Esse é o projeto para os ministros do novo STF”, adverte.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – A sua tese é a de que o governo quer operar uma política de estado-maior, intervindo no DNA da nossa sociedade. Pode explicar em que consiste esse objetivo e como isso está sendo feito a partir do método de governo do presidente Bolsonaro?

Luiz Werneck Vianna – Este governo vem com uma proposta muito radical, qual seja, desviar o país da sua trajetória tradicional não só na política interna, mas na política externa, no tema da cultura, dos valores, em tudo. Isso não é uma tarefa fácil. Então a dificuldade da tarefa está implicando em manobras diversionistas: fazer a gente olhar para um lugar, enquanto na verdade está se operando com força em outro lugar.

A meu ver, o projeto neoliberal que o ministro Paulo Guedes encarna é o cerne, o coração da proposta de governo do Bolsonaro. Mas como isso tem dificuldades porque importa mexer na questão ambiental, abrir o ambiente para a mineração, para o agronegócio - e também em todas as questões em que ele quer intervir os obstáculos não são pequenos -, ele já está desde logo visualizando a reeleição como forma de realizar essas mudanças drásticas, radicais, que quer introduzir na cena política brasileira. Mudar a história e criar uma outra história é uma operação muito difícil, mas esse objetivo vem sendo cultivado há tempos pelas grandes elites econômicas do país. Na verdade, a sustentação maior do Bolsonaro está nas grandes elites econômicas do país, das finanças, do agronegócio.

IHU On-Line – Há uma continuidade das relações entre o Estado e as elites econômicas, como havia nos governos do PT, ou agora há uma relação diferente?

Luiz Werneck Vianna – É uma relação diferente: o governo quer criar uma sociedade compatível com um tipo de capitalismo neoliberal que se quer implantar. Isso aparece em tudo: na desvalorização do trabalho e do trabalhador, no expurgo das agências reguladoras para deixar o terreno livre para o capital e sua movimentação e, especialmente, para o grande capital.

O que ocorre no meio ambiente, neste sentido, é trágico, porque são intervenções que não têm volta, como o desmatamento em escala industrial. Transformar o Brasil numa imensa Cancún para a diversão do turismo internacional também está encontrando resistências, mas o presidente está tentando e não para de tentar. O que ele não conseguir agora, vai tentar no segundo mandato. Ele está envolvido numa guerra de posição.

IHU On-Line – Em que consiste essa guerra? É uma guerra contra o que especificamente?

Luiz Werneck Vianna – Essa guerra é contra a nossa história, contra o tipo de capitalismo que se implantou aqui e que não conheceu a modalidade do liberalismo radical. A nossa modernização capitalista se deu sob o balizamento da ideologia corporativa. Claro que isso importava a tutela do movimento dos trabalhadores, mas importava também políticas sociais, tal como ocorreu na Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943, a qual ainda está aí, toda remendada, mas está vigendo.

Marcus André Melo*: A corrupção é profecia autorrealizável

- Folha de S. Paulo

Mudança institucional com corrupção sistêmica é possível?

A Lava Jato produz dois efeitos contraditórios. De uma parte, a percepção de que a impunidade sofreu duro e inédito golpe. De outra, que a corrupção é ubíqua.

A forma como a sociedade se vê afeta a probabilidade de que possa superar seus desafios. Se a corrupção é percebida como muito elevada, haverá incentivos para ilícitos. A corrupção corrompe.

Se todos acham que a corrupção é a regra do jogo, estamos em uma armadilha. Caso acreditem que transações honestas prevalecem, obedecer à lei passa a ser a estratégia dominante.

Quando práticas ilícitas são a regra, o ator que joga limpo será um perdedor e não sobreviverá. O incentivo nessa situação é jogar sujo, esperando que os demais também o façam. Se alguém paga uma propina a um agente público esperando que ele aceite a oferta, a situação persiste em equilíbrio.

São dois estados do mundo que representam equilíbrios estáveis: um equilíbrio inferior, quando há uma crença compartilhada de que a corrupção prevalece, e um superior, de que é a exceção. Há, portanto, uma “complementariedade estratégica”: o incentivo individual à corrupção é função da proporção percebida de agentes corruptos no resto da sociedade.

Celso Rocha de Barros*: Os golpistas de 2019

- Folha de S. Paulo

Não há mais como discordar que a democracia brasileira está em crise há vários anos

A revista Veja desta semana publicou uma entrevista com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Na introdução à entrevista, Veja fez uma série de revelações importantes: entre abril e maio deste ano, tivemos militares e civis falando em impeachment, empresários tentando achar uma brecha para convocar novas eleições e, o que é incomparavelmente mais grave, “oficiais de baixa patente” falando em uma “sublevação contra as instituições corruptas”.

Enfim, o risco de golpe militar voltou a existir no Brasil, ao menos por alguns meses. É possível que já tenha passado, é provável que o golpe em questão fracassasse. Mas golpes fracassados também são perigosos. Talvez os oficiais de baixa patente tenham planejado um negócio sem chance de dar certo por serem idiotas. Mas também é possível que o tenham feito por terem percebido que, na atual administração, sinalizar golpismo pode ajudar nas promoções futuras.

Por outro lado, já deve estar claro para os oficiais de alta patente que esse golpe seria contra eles. Não é a única iniciativa nesse sentido. Quem paga o curso de doutrinação que Olavo de Carvalho está oferecendo gratuitamente a policiais militares? Tem gente no bolsonarismo procurando uma turma armada para fazer bagunça. O medo de golpe militar já vem do ano passado e atravessou toda a campanha eleitoral.

No recém-lançado livraço “Os Onze – o STF, seus bastidores e suas crises”, os jornalistas Felipe Recondo e Luiz Weber contam uma história aterradora: quando a Folha revelou a fraude bolsonarista do WhatsApp, um general da reserva publicou ofensas à ministra Rosa Weber, porque ela recebeu parlamentares de esquerda que pediam investigação do esquema.

Vinicius Mota: Debate argentino revive clichês dos 80

- Folha de S. Paulo

Estagnada há um século, nação discute inflação de 50%, congelamentos e FMI

Para um emigrante europeu no final do século 19, a escolha entre Estados Unidos e Argentina como destino não era óbvia. Ambas as nações estrelavam o período conhecido como primeira grande globalização.

Compartilhavam abundância de planícies férteis, custo cadente de transporte, escassez de mão de obra e vigorosa escolarização. A renda por habitante convergia e despontava entre as mais altas do mundo.

A estupenda eficiência na produção e na exportação de bens primários não havia, em nenhum dos casos, atrapalhado a manufatura. A Argentina, pouco antes da Primeira Guerra, destacava-se também na industrialização.

O conflito internacional marca o fim dessa história. Depois dele, enquanto os EUA consolidaram sua trajetória, o país sul-americano atolou no brejo da estagnação, relativa até 1975 e absoluta a partir dali.

Desde 1950, os argentinos viveram em média um ano de recessão a cada três. Só a estropiada República Democrática do Congo supera a marca.

No quadriênio do presidente Mauricio Macri, terá havido apenas um ano de atividade no azul contra três, incluindo este de 2019, no vermelho. O debate eleitoral argentino, que neste domingo (11) avançou com a realização de prévias, é uma espécie de “Stranger Things” da política.

Leandro Colon: Paciente do SUS não pode ser tratado como mané

- Folha de S. Paulo

Episódio envolvendo avó de primeira-dama deveria servir para cair a ficha de Bolsonaro

Dados compilados pela Folha e divulgados neste domingo (11) mostram uma piora nos indicadores de saúde nos primeiros seis meses do governo de Jair Bolsonaro.

As informações integram um robusto levantamento sobre outras áreas. No caso específico da saúde no país, identifica-se um agravamento, por exemplo, na oferta de assistência básica, porta de entrada do SUS.

Na avaliação de especialistas, um dos fatores que levam a esse cenário tem vínculo com o desmonte do programa Mais Médicos. Houve ainda uma redução no número de agentes comunitários que fazem o atendimento casa a casa do cidadão.

Seria injusto e equivocado debitar da conta de Bolsonaro os problemas enfrentados pelo SUS. Nenhum governo até hoje conseguiu diminuir a sobrecarga do sistema público nem encontrar caminhos para que o atendimento às pessoas seja justo, rápido e de qualidade.

A 37 km do Palácio do Alvorada, o Hospital Regional de Ceilândia já virou um modelo de caos, falta de estrutura e descaso com os pacientes. Em maio, o Ministério Público do DF fez uma visita e identificou superlotação, cadeiras usadas como leito, pacientes espalhados pelos corredores e ausência de equipamentos.

Eugênio Bucci* /Taís Gasparian*: Sobre hackers e jornalistas

- Folha de S. Paulo

Informação de interesse público deve ser publicada

Recentemente, o presidente da República declarou que o jornalista Glenn Greenwald, do site Intercept, “talvez pegue uma cana aqui no Brasil”. Isso porque a origem das informações divulgadas pelo site decorreria da ação de um hacker.

Mas a origem da informação não tira dos veículos de imprensa e dos jornalistas o direito de publicá-la. Mais do que isso, de posse de uma informação de interesse público, relevante e íntegra, o veículo ou o jornalista tem o dever ético de divulgá-la. É disso que trata a atividade da imprensa, goste-se ou não.

Sempre foi assim, e a única novidade desse caso é a suspeita —ainda por se comprovar— de que uma das fontes pode ter sido um hacker, essa pessoa que teria capturado diálogos entre as autoridades em um aplicativo de celular.

No Brasil já foram divulgadas pela imprensa uma diversidade enorme de informações que tiveram sua origem em procedimentos ilícitos. Em 1998 foram divulgadas por esta Folha conversas do então do presidente Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Carlos Mendonça de Barros, dentre outros, por ocasião das privatizações do Sistema Telebras.

Um sem número de outros grampos foram divulgados por diferentes veículos e sites. Uma quantidade enorme de informações contidas em processos sigilosos já foi vazada para a imprensa. Sigilos bancários já foram violados e divulgados os dados daí decorrentes. Não há surpresa alguma, então, no fato de informações, apesar da origem ilícita, serem divulgadas licitamente.

Fernando Gabeira: O clima da resistência

- O Globo

Noruega e Alemanha se interessam pela Amazônia porque estão investindo ali e precisam dar satisfação a seus contribuintes

Às vezes, tenho uma fantasia de deixar tudo por um tempo: escrever um livro numa pequena cidade costeira de Portugal ou me internar na Mata Atlântica, para fotografar bichos e plantas nas horas vagas. Apenas uma fantasia, fruto dos ásperos tempos em que vivemos. Não consigo deixar o Brasil, seguir as tramas, ainda que nem sempre on-line.

Entre outros, o tema que me preocupa é a política ambiental. Não especialmente as frases provocativas de Bolsonaro. Sei distinguir a retórica da realidade.

Nas últimas semanas, sinto crescer no governo, inclusive entre generais, uma forma de tratar a Amazônia com um tom nacionalista e até mesmo agressivo que, certamente, terá consequências.

A Noruega, no discurso desses setores militares, é a vilã do momento. O discurso do governo é de que a Noruega não pode criticar o Brasil, porque extrai petróleo no Ártico, mata baleias e uma empresa norueguesa provocou um desastre ambiental em Barcarena, no Pará.

Tudo isso é reação à tentativa da Noruega e da Alemanha de manterem o espírito do Fundo Amazônia, que financia projetos sustentáveis na região. Creio que está se perdendo o sentido do problema ambiental em escala planetária, que demanda muito mais a cooperação entre os países do que a troca de farpas.

A Noruega e a Alemanha se interessam pela Amazônia porque estão investindo ali e precisam dar satisfação aos seus contribuintes.

Cacá Diegues: Ódio e poder

- O Globo

O mundo de hoje, 50 anos depois de Woodstock, talvez se ria dessa ideia tola de paz e amor

The Woodstock Music & Art Fair não foi bem uma feira, nem se realizou na cidade de Woodstock, no norte do estado de Nova York. Na história da cultura popular do século XX, o evento ficou conhecido apenas como Woodstock.

Embora seu pôster oficial fosse mesmo pretensioso, anunciando “an Aquarian exposition”, em “três dias de paz & música”, sua repercussão junto à juventude americana foi maior do que isso e se tornou incontrolável.

Os festivais de música já proliferavam na América e no Hemisfério Norte do Ocidente, mas Woodstock acabou sendo o maior e o mais importante deles.

Realizado na pequena cidade de Bethel, numa fazenda de gado, Woodstock reuniu meio milhão de pessoas, sem nenhuma condição para isso, entre 15 e 18 de agosto de 1969. Esta semana, portanto, celebramos seu cinquentenário, 50 anos de lembranças que, pouco a pouco, vão se apagando da memória do mundo.

Foi o que pensou um dos organizadores do festival, o empresário Michael Lang, hoje com 74 anos de idade, que tentou montar um novo Woodstock, uma comemoração no mesmo espaço em que ocorreu o original. Algumas das estrelas desse novo espetáculo, já contratadas e pagas, seriam Jay-Z e o Dead & Co, banda herdeira do histórico Grateful Dead. Além de Carlos Santana, uma das poucas 32 atrações de 1969 que topou voltar a Bethel. Mas as bodas de ouro de Woodstock fracassaram, e Lang anunciou, na semana passada, seu cancelamento.

No final agitado da década de 1960, Woodstock foi uma síntese da contracultura em ebulição. Único e lendário, o evento acabou sendo um dos maiores momentos na história da música popular universal. Depois do susto inicial com a multidão aglomerada diante do palco, o público jovem cantou junto com artistas consagrados e conheceu os ícones da música popular de ruptura radical da década seguinte, como Jimi Hendrix e Janis Joplin.

Demétrio Magnoli: Lição de casa

- O Globo

Os profetas convencionai serraram na previsão de que aguerra comercial entre EUA e China se dissolveria numa paz administrada por sucessivos acordos parciais. A China dobrou a aposta, permitindo a flutuação do renminbi, uma paliçada destinada a proteger sua economia num confronto de longa duração.

Frustrado, Donald Trump rumina a ideia explosiva de intervir nos mercados de moedas, deflagrando um aguerra cambial. Nesse cenário, Jair Bolso naropreci sari afazer a lição decas a ,revisitando apolítica externa conduzida por Getúlio Vargas na década de 1930.

Naquele intervalo dramático, entre o crash de 1929 e a Segunda Guerra Mundial, EUA e Alemanha protagonizaram uma disputa global por esferas de influência econômica. Vargas definiu como sua prioridade o programa de arrancada industrial e apolítica externa apropriada: uma estratégia de equidistância ativa e pragmática. O Brasil navegaria atormenta incrementando o intercâmbio comas duas grandes potências.

Assinamos Acordos de Compensação coma Alemanha, em 1934 e 1936, que facilitavam o comércio direto, se mu sode divisas internacionais. As importações de bens alemães saltaram de 9% do total, em 1932, para 25%, em 1938.

Paralelamente, em 1935, o Brasil firmou um Tratado de Comércio com os EUA, o que suavizou a redução no fluxo de intercâmbios bilaterais. Os produtos americanos, que representavam 30% das nossas importações em 1932, ainda contribuíam com 24% do total em 1938.

O jogo pendular propiciou contratos de modernização militar coma Kruppe outras empresas alemãs, num aponta, e concessões americanas no pagamento da dívida brasileira, além de ajuda técnica para a criação da Sumoc, berço de nosso Banco Central, na outra. A equidistância perdurou até o início da guerra, quando Vargas inclinou-se aos poucos para o campo dos Aliados. O lance final foi a barganha da declaração de guerra ao Eixo em troca do financiamento americano para a implantação da Companhia Siderúrgica Nacional.

A Grande Depressão devastou o sistema de comércio internacional e destruiu o padrão ouro, delineando a paisagem tumultuosa na qual desenrolou-se a disputa geopolítica entre EUA e Alemanha. Hoje, nove décadas depois, a rivalidade entre EUA, a potência estabelecida, e China, a potência ascendente, ameaça romper o intrincado tecido da economia globalizada.

Carlos Pereira: Quando devemos nos preocupar?

- O Estado de S.Paulo

Instituições de freios e contrapesos têm limitado os excessos do presidente

Até que ponto a retórica belicosa de um presidente coloca em risco a democracia de um país? Não são poucos os exemplos de declarações agressivas do presidente Bolsonaro. Desde o início de seu governo, a lista parece não ter fim. Dentre os variados alvos há opositores, ambientalistas, cientistas, jornalistas, órgãos de imprensa, índios e filho de desaparecido político.

Alguns analistas até identificam uma suposta escalada autoritária do presidente nas últimas semanas. Argumentam que essa postura destemperada emite, no mínimo, sinais de um baixo apreço do chefe do Executivo aos direitos individuais. Isso geraria insegurança para a sociedade civil e agentes políticos e econômicos, desestabilizando e colocando em xeque o funcionamento da própria democracia.

Esse comportamento beligerante não surpreende. A ausência de suporte partidário decorrente da escolha do presidente de governar sem o apoio de uma coalizão majoritária e estável tende a torná-lo cada vez mais dependente de contatos diretos com os eleitores (going public).

Governar de forma truculenta, portanto, tem se transformado na estratégia dominante do presidente para se manter conectado, principalmente com o núcleo de eleitores conservadores que lhe dá sustentação. Essa estratégia tem funcionado como uma ferramenta de construção de maiorias episódicas no Congresso, constrangendo legisladores a apoiar a agenda do presidente.

Qual a métrica mais adequada para identificar sofrimento democrático? Discursos inapropriados que privilegiam o conflito e a polarização ameaçam, por si só, as instituições democráticas? Ou devemos levar também em consideração a reação da sociedade a destemperos retóricos e a presença de limites impostos pelas instituições às iniciativas inconstitucionais do presidente?

Cida Damasco: O vespeiro dos impostos

- O Estado de S.Paulo

Governo promete algum alívio no IR, mas fantasma da CPMF assusta

Por tudo que se disse nos últimos dias, a proposta da reforma tributária do governo Bolsonaro, que será oficialmente apresentada nesta semana pelo ministro Paulo Guedes, parte da meta de simplificação, mas põe na mesa outras mudanças importantes.

Especialmente no Imposto de Renda (IR), cujas distorções estão na cabeça não só de especialistas e políticos, mas de contribuintes em geral. Quem entende do assunto já está prevendo uma disputa mais acirrada em torno da reforma tributária do que a que cercou a reforma da Previdência. E com gás para se estender por um largo período.

As primeiras definições já foram antecipadas, não só pelo ministro como pelo próprio Bolsonaro. De acordo com a proposta do governo, haverá fusão de tributos, o que é essencial para a simplificação, mas ela se limita à área federal, com um IVA substituindo IPI, PIS, Cofins e parte do IOF. Não haverá redução da carga tributária, hoje na casa dos 34% do PIB, porque não dá para abrir mão de arrecadação – estacionada nas proximidades de R$ 1,5 trilhão ao ano, a receita do chamado Governo Central, que inclui Tesouro, Banco Central e Previdência, mal cobre os gastos obrigatórios.

Dentro dessa moldura, será reformulado o IR, que corresponde a mais de um quarto da receita. Para os 29 milhões de contribuintes pessoas físicas, a ideia é corrigir a tabela pela inflação e, como contrapartida, acabar com as deduções de gastos com educação e saúde. Para pessoas jurídicas, um alívio na cobrança do imposto será compensado com a volta da tributação de dividendos, que recai sobre os lucros dos acionistas e não propriamente das empresas. Além disso, não haverá exatamente uma nova CPMF, mas uma “espécie” de CPMF, ou seja, uma contribuição cobrada sobre movimentações financeiras, a CP, com alíquota de 0,2%, no lugar da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento das empresas.

Bruno Carazza*: Viciado em likes

- Valor Econômico

Bolsonaro radicaliza de olho nas redes sociais

Smartfones e redes sociais mudaram tanto a nossa vida, e devotamos tanto tempo nos relacionando virtualmente, que hoje se fala em "economia da atenção": o desenvolvimento de novas estratégias tecnológicas, comerciais e políticas para fisgar nosso interesse enquanto deslizamos nossos dedos pelas telas de nossos celulares.

Bolsonaro entrou na disputa eleitoral do ano passado muito bem posicionado nas redes sociais. Em janeiro de 2018 ele possuía 5 milhões de seguidores no Facebook, 800 mil no Instagram e 850 mil no Twitter, além de 400 mil inscritos em seu canal no Youtube em cada plataforma, ele possuía mais audiência do que a soma dos seus principais oponentes (Marina, Alckmin, Haddad e Ciro).

Apesar de ter partido de um patamar superior, o uso massivo das redes sociais pelo então candidato do PSL só se intensificou com a largada oficial para a propaganda eleitoral, há exatamente um ano. Até aquela data, o perfil de Bolsonaro no Twitter fazia em média 3 publicações por dia, alcançado em torno de 20 mil interações (curtidas, respostas e retweets). Daí até o segundo turno, em 27/10, o ritmo de postagens subiu para 8,3 diárias (com um pico de 22 em 18/10) e a repercussão ultrapassa 200 mil por dia (tendo superado 530 mil likes, retweets e replies no dia da vitória).

Existem vários fatores que explicam esse crescimento avassalador de Bolsonaro nas mídias digitais, a começar pela exposição alcançada ao assumir a liderança nas pesquisas. Não podemos também descartar o impacto do atentado sofrido em Juiz de Fora - no dia da facada seu perfil bateu o recorde de interações até então, inaugurando uma sequência de maior impacto nas redes. Por fim, não sabemos o quanto desse sucesso se deve ao impulsionamento patrocinado de conteúdos ou ao uso de robôs e perfis falsos.

Às vésperas da posse, os perfis de Bolsonaro nas redes sociais haviam multiplicado seu tamanho: quase 10 milhões de seguidores no Facebook, 8,5 milhões no Instagram, em torno de 3 milhões de tuiteiros e mais de 2 milhões de inscritos no seu canal de vídeos no Youtube.

Alex Ribeiro: Caixa já tinha planos para seu lucro recorde

- Valor Econômico

Governo exige mais dividendos, banco queria cortar juros

A Caixa Econômica Federal e o Tesouro Nacional estão numa disputa sobre a destinação dos lucros recordes do banco federal. O Tesouro quer que uma parcela maior do resultado seja distribuída como dividendos para ajudar a fechar as contas públicas. A Caixa pretende usar os lucros como colchão para lastrear cortes de juros nos empréstimos, sobretudo à baixa renda, e o aumento do volume de crédito.

Nesta semana, a Caixa deverá divulgar o seu balanço do segundo trimestre. O resultado será robusto, graças aos ajustes na operação do banco feitos desde administrações passadas e às receitas extraordinárias.

Não fosse por provisões de última hora, em 2018 o lucro da Caixa já teria chegado a cerca de R$ 16 bilhões, aproximando-se da faixa entre R$ 21 bilhões e R$ 26 bilhões dos dois maiores bancos privados nacionais, Bradesco e Itaú Unibanco. O resultado deste ano deverá ser fortalecido com receitas extraordinárias e novos ajustes de despesas. O fato de as provisões terem sido mais rigorosas em 2018 poderá levar a uma transferência de resultado a exercícios seguintes.

Só a venda de ações da Petrobras, feita em junho, movimentou R$ 7 bilhões. A Caixa indicou que poderá fazer 15 operações desse tipo, embora uma parte desses ativos não vá impactar o resultado do banco, pois pertence ao fundo de investimento em infraestrutura do FGTS. No longo prazo, algumas operações devem até reduzir receitas da Caixa, a exemplo do que ocorreu com o Banco do Brasil na abertura de capital da empresa de seguridade. Mas no curto prazo é uma receita extra. A Caixa abriu, ainda, um programa de renegociação de dívidas que poderá render R$ 1 bilhão.

O banco também está dando sequência ao corte de despesas, como publicidade, propaganda e promoções. Esse gasto caiu 25% entre 2014 e 2018, chegando a R$ 662 milhões. No primeiro trimestre, a rubrica ficou em R$ 14 milhões, ante R$ 48 milhões em igual período de 2018. Uma medida de redução de custos que já estava engatilhada - um novo Programa de Desligamento Voluntário (PDV) para 3.500 funcionários - foi adiada para garantir o atendimento à demanda de liberação de recursos das contas do FGTS.

Edson Fachin*: Tempos de Weimar

- Valor Econômico

À primavera constitucional de 1919 se contrapôs, não muitos anos depois, a tragédia e o horror

O transcurso do centenário da Constituição alemã de Weimar, em 11 de agosto corrente, pode trazer a outros países análise útil ao momento presente. O constitucionalismo contemporâneo tem berço mexicano, no entanto a ordem econômica republicana e os direitos fundamentais ganharam notoriedade na terra de Goethe.

O tecido constitucional na Alemanha daquela época pode não ter sido, por si só, suficiente para obstar o rompimento do laço social, o fracasso daquela arquitetura democrática e o que de monstruoso se seguiu. À promessa de um pluralismo institucional opôs-se a centralização do executivo; à afirmação dos direitos fundamentais, a sua negação em sentido mais profundo.

Cem anos depois, Weimar ecoa feito lição, vocação e legado. Esse passado projeta não apenas luzes, mas também suas sombras nos dias de hoje. Há um atento sentido de preocupação em diversas regiões contemporâneas. Aspira-se à paz e à serenidade enquanto é imperativo fazer sobreviver as instituições. Vive-se um estado de necessidade institucional que desafia respeito, pacificação e ponderação à luz dos caminhos que o Estado, a sociedade e a ordem jurídica tem assumido.

A disputa de narrativas faz parte da democracia e da história e sempre estarão sujeitas a alterações. O que não pode ocorrer é um maniqueísmo sobre a essencialidade da justiça que se constituiu pela norma fundamental, como se fosse possível ser contra ou a favor dela. Esse binarismo é típico das disputas políticas e não devem contaminar a justiça. O exemplo de uma Constituição deve ser diferenciado dos papéis isolados de pessoas ou sujeitos históricos para ser apropriado pela ética da responsabilidade no âmbito da própria sociedade.

Em janeiro de 1919, quando a revolução alemã estava em curso pleno, Max Weber proferiu a célebre palestra para a associação de estudantes da Bavária, na qual afirmou que apenas quem tem a vocação política não se desesperará quando o mundo, a partir de seu ponto de vista, for tolo ou mesquinho para aceitar o que ele tem a oferecer. E ainda: apenas quem é capaz de dizer, frente a tudo isso, "apesar de tudo" tem a vocação para a política. É na centralidade da democracia representativa que estão os guardiões de promessas da Constituição nascida do constituinte, "apesar de tudo" não podem nem devem abdicar do chamamento. Não é para a Política a vocação da Justiça, mas a Justiça contribui decisivamente para lhe dar estabilidade.

Ricardo Noblat: Dallagnol, pela boa sete

- Blog do Noblat / Veja

Ele e Moro, sob o risco de serem encaçapados

Quando os hackers de Araraquara foram presos, os mais apressados profetizaram que o ministro Sérgio Moro, finalmente, saíra das cordas. Ele amargava há mais de 30 dias a revelação à conta gotas de conversas daninhas e comprometedoras entre procuradores da Lava Jato em Curitiba e fora dali. Sua cabeça parecia estar a prêmio.

Nem se passaram ainda 20 dias desde a operação de captura bem-sucedida da Polícia Federal, e o célebre ex-juiz está de volta às cordas – desta vez porque entrou na mira certeira do presidente Jair Bolsonaro, o torturador de almas e de reputações mais cruel que já sentou praça na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Poderá cair ou permanecer no governo como um fantasma ou quase isso. Perdeu o controle sobre seu destino. Para não perder o emprego, agarra-se à popularidade em queda lenta e gradual, mas ainda expressiva, e ao apoio de generais de pijama, a maioria deles insatisfeita porque imaginara tutelar Bolsonaro.

Talvez não baste. Uma vez que renunciou à toga de olho numa vaga no Supremo Tribunal Federal que não terá, Moro escapou de ser punido por ter se comportado como juiz e assistente da acusação no processo que condenou Lula. Em compensação, virou refém de Bolsonaro e de suas idiossincrasias. Não fez um bom negócio.

O capitão está convencido de que Moro foi desleal com ele ao conspirar para que o Supremo anule a decisão do ministro Dias Toffoli que beneficiou o senador Flávio Bolsonaro. Toffoli, o mais novo queridinho de Bolsonaro, trancou os processos abertos com base em informações fiscais obtidas sem prévia autorização judicial.

O procurador Deltan Dellagnol, o principal parceiro de Moro na empreitada de tirar Lula do páreo presidencial para facilitar a eleição de um candidato do centro ou da extrema direita, está por um fio. Na melhor das hipóteses será censurado por ter feito o que não devia. Na pior, afastado ou suspenso da função.

Contra ele, antes tido como candidato de Moro à Procuradoria Geral da República, voltou-se Bolsonaro que o considera agora um perigoso esquerdista, gente da laia do PSOL, o partido ao qual era filiado Adélio Bispo, o autor da mais famosa facada da história do Brasil. Bolsonaro deu seu aval à punição de Dallagnol.

A pergunta que insiste em não calar: Dallagnol sairá calado ou atirando? Se resolver atirar, poupará Moro do risco de ser atingido por estilhaços? Concentrará os tiros apenas em ministros do Supremo que aponta em conversas como inimigos da Lava Jato? Dallagnol ainda tem poder de provocar estragos a torto e a direito.

A principal linha de defesa de Dallagnol e de Moro foi rompida há algum tempo desde que se tornou insustentável a desculpa de que as conversas a eles atribuídas poderiam ser falsas ou terem sido editadas. Ainda resiste a outra linha – a de que os dois são vítimas dos que sempre se opuseram à Lava Jato e ao combate à corrupção.

Argumento falso e vagabundo, mas ao gosto da massa que “é extraordinariamente influenciável, crédula, acrítica”, e para quem “o improvável não existe” porque ela “não conhece dúvida, nem incerteza”, segundo um médico das antigas de sobrenome Freud. Um judeu, e certamente comunista.

As dores de cabeça do capitão

O que pensa a mídia: Editoriais

Rede de mentiras: Editorial / O Estado de S. Paulo
O presidente Jair Bolsonaro se valeu das redes sociais para compensar a baixa exposição de sua candidatura à Presidência da República no ano passado por meios ditos tradicionais, como as propagandas no rádio e na TV.

Desde o início da década de 2010, notadamente a partir da onda de protestos de junho de 2013, o papel das redes sociais na vida política do País foi amplificado. Bolsonaro soube identificar e aproveitar como poucos essa transformação no relacionamento entre os políticos e uma significativa parcela do eleitorado. Não só foi eleito presidente, como consolidou uma base de apoio fiel, acrítica e bastante ruidosa no Twitter e no Facebook, plataforma em que semanalmente faz suas já conhecidas lives, transmissões diretas e informais por meio das quais trata do que lhe vier à cabeça no dia.

Essa aguerrida base de apoiadores virtuais, cujo tamanho varia a depender de quem realiza a contagem, serve ao presidente como uma caixa de ressonância para os seus interesses imediatos, que tanto podem ser a defesa de algum projeto do governo como o ataque a seus críticos. Particularmente em relação a esta segunda “atribuição”, por assim dizer, a rede virtual de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro é implacável. Qualquer instituição, órgão, homem ou mulher que emitam algum tipo de crítica ao “mito”, façam-lhe reparos ou apontem suas incoerências serão alvo de uma campanha de desqualificação que ultrapassa, e muito, o limite do que seria um debate democrático entre grupos sociais antagônicos.

O bando de radicais que se põem a serviço do governo, ou melhor, da pessoa do presidente da República, não hesita em caluniar, injuriar e difamar quem quer que seja quando Jair Bolsonaro está sob crítica por seus atos e palavras. Aqui parece haver uma fina sintonia entre o presidente e sua rede de apoio digital, o que sugere algum grau de coordenação.

O Estadão Verifica, núcleo de checagem de fatos do Estado, constatou a falsidade total ou parcial das informações que circularam amplamente por meio de redes sociais sobre pessoas que foram alvos de Jair Bolsonaro em sua recente erupção verborrágica.

Quando o presidente Jair Bolsonaro desqualificou publicamente o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e seu então presidente, Ricardo Galvão, classificando como “mentirosos” os dados colhidos pelo instituto a respeito do desmatamento da Amazônia, a rede bolsonarista na internet logo fez circular o “depoimento” de um suposto médico do Amazonas que contestava aqueles dados científicos. As informações contidas na fala do tal médico, evidentemente, eram falsas, apurou o Estadão Verifica.

Em uma mesma ocasião, um café da manhã com a imprensa estrangeira, no dia 19 de julho, o presidente mentiu sobre o passado da jornalista Miriam Leitão, dizendo que teria sido presa a caminho da guerrilha do Araguaia, e disse que “daqueles governadores ‘de paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem de dar nada para esse cara”. Ato contínuo, a milícia digital a serviço de Bolsonaro nas redes sociais fez circular a hashtag #MiriamLeitãoTerroristaSim e divulgou a informação de que o governador Flávio Dino (PCdoB) trocou a bandeira do Brasil de seu gabinete pela bandeira do partido comunista. Mais uma vez, as alegações foram desmentidas pelo Estadão Verifica.

Há vários outros casos que seguem o mesmo padrão. Eles revelam, antes de tudo, que o presidente da República e seus apoiadores mais radicais não sabem debater no mundo dos fatos, optando pela ilusão de que a permanente construção da fantasia lhes bastará para impor sem contradita a versão oficial do que quer que seja.

Há o desgaste desse próprio modo de atuação, que recorre à mentira com contumácia e, pouco a pouco, ficará cada vez mais restrito às bolhas fanatizadas que orbitam em torno do governo. Há o amadurecimento da sociedade, que haverá de superar o impacto da transformação trazida pelas redes sociais e saberá distinguir o falso do verdadeiro. E haverá sempre a tradicional imprensa profissional a desmentir mentiras e a publicar aquilo que se quer manter escondido.

Vinicius de Moraes: Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Música / Teresa Cristina - A vida me fez assim