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Ele e Moro, sob o risco de serem encaçapados
Quando os hackers de Araraquara foram presos, os mais apressados profetizaram que o ministro Sérgio Moro, finalmente, saíra das cordas. Ele amargava há mais de 30 dias a revelação à conta gotas de conversas daninhas e comprometedoras entre procuradores da Lava Jato em Curitiba e fora dali. Sua cabeça parecia estar a prêmio.
Nem se passaram ainda 20 dias desde a operação de captura bem-sucedida da Polícia Federal, e o célebre ex-juiz está de volta às cordas – desta vez porque entrou na mira certeira do presidente Jair Bolsonaro, o torturador de almas e de reputações mais cruel que já sentou praça na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Poderá cair ou permanecer no governo como um fantasma ou quase isso. Perdeu o controle sobre seu destino. Para não perder o emprego, agarra-se à popularidade em queda lenta e gradual, mas ainda expressiva, e ao apoio de generais de pijama, a maioria deles insatisfeita porque imaginara tutelar Bolsonaro.
Talvez não baste. Uma vez que renunciou à toga de olho numa vaga no Supremo Tribunal Federal que não terá, Moro escapou de ser punido por ter se comportado como juiz e assistente da acusação no processo que condenou Lula. Em compensação, virou refém de Bolsonaro e de suas idiossincrasias. Não fez um bom negócio.
O capitão está convencido de que Moro foi desleal com ele ao conspirar para que o Supremo anule a decisão do ministro Dias Toffoli que beneficiou o senador Flávio Bolsonaro. Toffoli, o mais novo queridinho de Bolsonaro, trancou os processos abertos com base em informações fiscais obtidas sem prévia autorização judicial.
O procurador Deltan Dellagnol, o principal parceiro de Moro na empreitada de tirar Lula do páreo presidencial para facilitar a eleição de um candidato do centro ou da extrema direita, está por um fio. Na melhor das hipóteses será censurado por ter feito o que não devia. Na pior, afastado ou suspenso da função.
Contra ele, antes tido como candidato de Moro à Procuradoria Geral da República, voltou-se Bolsonaro que o considera agora um perigoso esquerdista, gente da laia do PSOL, o partido ao qual era filiado Adélio Bispo, o autor da mais famosa facada da história do Brasil. Bolsonaro deu seu aval à punição de Dallagnol.
A pergunta que insiste em não calar: Dallagnol sairá calado ou atirando? Se resolver atirar, poupará Moro do risco de ser atingido por estilhaços? Concentrará os tiros apenas em ministros do Supremo que aponta em conversas como inimigos da Lava Jato? Dallagnol ainda tem poder de provocar estragos a torto e a direito.
A principal linha de defesa de Dallagnol e de Moro foi rompida há algum tempo desde que se tornou insustentável a desculpa de que as conversas a eles atribuídas poderiam ser falsas ou terem sido editadas. Ainda resiste a outra linha – a de que os dois são vítimas dos que sempre se opuseram à Lava Jato e ao combate à corrupção.
Argumento falso e vagabundo, mas ao gosto da massa que “é extraordinariamente influenciável, crédula, acrítica”, e para quem “o improvável não existe” porque ela “não conhece dúvida, nem incerteza”, segundo um médico das antigas de sobrenome Freud. Um judeu, e certamente comunista.
As dores de cabeça do capitão
Só más notícias
Tem Nicolas Maduro que não dá o menor sinal de que arredará pé tão cedo da presidência da Venezuela. Resistiu às fortes pressões americanas e brasileiras que não deram em nada até aqui. Seu principal oponente, Juan Guaidó, apagou-se.
Tem Mario Abdo Benítez, o presidente do Paraguai chamado por Bolsonaro de Marito, que ontem depôs ao Ministério Público durante sete horas sob a acusação de que traiu os interesses do seu país ao renegociar com o Brasil a compra de energia de Itaipu.
Tem Ângela Merkel, a primeira-ministra alemã, que autorizou o congelamento de R$ 155 milhões que seu país mandaria para o Fundo da Amazônia para financiar projetos de proteção da floresta. Bolsonaro respondeu que não precisa do dinheiro.
Tem o primeiro ministro israelense Binyamin Netanyahu, aliado de primeira hora de Bolsonaro, cujo futuro político depende de novas eleições parlamentares em 17 de setembro. Nos próximos meses, ele poderá ser indiciado em três casos de corrupção.
Mas, de longe, a maior dor de cabeça do capitão atende pelo nome de Alberto Fernández, que visitou Lula em Curitiba há poucos dias, e que ontem derrotou Maurício Macri nas eleições primárias para a escolha em 27 de outubro do novo presidente da Argentina.
Fernándes tem como candidata a vice em sua chapa a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner – sim, amiga e aliada de Lula, e detestada por Bolsonaro. Em recente viagem a Buenos Aires, Bolsonaro recomendou o voto em Macri. Não foi ouvido.
O capitão sempre poderá distrair-se pilotando uma moto pelas avenidas de Brasília ou um jet ski no lago Paranoá como fez ontem – e como no passado fez o então presidente Fernando Collor. Nem por isso as suas dores de cabeça passarão. Poderão até se agravar.
Lula respira
Sem perder a esperança
Quem tem conversado com a cúpula das Forças Armadas detectou uma mudança de humor: vem caindo a resistência dos militares à ideia de ver Lula fora da cadeia, informam na edição mais recente do TAG Reporter as jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros.
Há duas portas por onde ele poderá sair. A primeira, por ter cumprido em regime fechado parte da pena à qual foi condenado. A segunda, caso o Supremo Tribunal Federal conclua que o ex-juiz Sérgio Moro foi parcial ao julgá-lo.
A primeira seria a mais provável. Nesse caso ele iria para casa com tornozeleira eletrônica, podendo trabalhar durante o dia. Até aqui, Lula recusa-se a sair por essa porta.
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