Valor Econômico
Banco Central sempre evitou apertos
monetários durante a campanha
O comunicado divulgado na semana passada
pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central foi tão aberto que
não exclui a possibilidade de o ciclo de alta de juros se prolongar durante a
campanha eleitoral deste ano.
Depois de subir os juros em 0,5 ponto
percentual, de 12,75% ao ano para 13,25% ao ano, o colegiado disse que antevê
para a sua próxima reunião, em agosto, um movimento de alta “de igual ou menor
magnitude”. O Banco Central não disse explicitamente que a alta de agosto será
a última.
Se a escolha for uma alta de menor magnitude, de 0,25 ponto percentual, provavelmente o ciclo de aperto monetário vai terminar já em agosto. É pouco provável que o Copom vá seguir fazendo o ajuste fino da política monetária com altas de apenas 0,25 ponto percentual, depois de promover uma aumento acumulado de 11,25 pontos percentuais na taxa Selic desde o começo do ano passado.
Se a escolha for uma alta de 0,5 ponto
percentual em agosto, nada garante de antemão que será o fim de ciclo de aperto
monetário. Poderia ser um sinal de que o Copom vai continuar avaliando, nas
reuniões seguintes, o prolongamento do aperto. Possivelmente, estaria em jogo
uma alta de juros no encontro marcado para 21 de setembro.
Essa hipótese, caso se confirme,
significaria que o ciclo de aperto monetário avançaria na campanha eleitoral,
algo que o Copom historicamente sempre evitou, para não virar assunto de
palanque. Em fins de agosto, começa a propaganda eleitoral gratuita na
televisão.
Nas duas últimas vezes em que subiu os
juros em anos de eleições presidenciais, o Copom tomou o cuidado de fazer
pausas. Em 2010, sob o comando de Henrique Meirelles, a alta de juros foi até
julho. Depois, o BC teve que retomar o aperto, com a adoção de medidas
macroprudenciais em dezembro. Em 2011, o Banco Central se rendeu à realidade e
retomou o aperto na taxa básica de juros.
Em 2014, quando o Banco Central era
presidido por Alexandre Tombini, as altas de juros foram interrompidas em
abril. Foram retomadas alguns dias após o segundo turno das eleições, e se
prolongaram até meados de 2015. Somente no fim de 2016, na gestão de Ilan
Goldfajn, que o surto inflacionário foi debelado.
Hoje, o Banco Central é independente e, em
tese, está mais protegido contra pressões políticas. Mas mesmo bancos centrais
independentes evitam subir os juros durante ciclos eleitorais. O Federal
Reserve (Fed), por exemplo, só subiu os juros uma vez, em 2004, nos dois meses
que antecedem as eleições americanas.
O que poderia fazer o Banco Central seguir
subindo a taxa básica de juros? Provavelmente, se a inflação corrente seguir
surpreendendo para cima, como ocorreu recentemente.
Em tese, o Copom deveria se mover de acordo
com as suas projeções de inflação - e os riscos de elas não se confirmarem - no
horizonte relevante de política monetária. Se a inflação projetada estiver
acima da meta, demandaria mais juro. A dose, em tese, deveria ser ainda maior
se há um risco mais alto de a inflação terminar acima do que abaixo do
percentual projetado.
Na reunião da semana passada, o Copom
projetou uma inflação de 4% para 2023, considerando que o ciclo de alta leve a
Selic a 13,25% ao ano. Nessas contas, não está incluído o pacote do governo
para baixar o preço dos combustíveis durante a eleição, que o Banco Central
reconhece que reduz a inflação neste ano, mas afeta a inflação de 2023.
Como a meta de inflação de 2023 é de 3,25%,
em tese o BC deveria indicar que subirá os juros bem mais do que 13,25% ao ano.
Os modelos de projeção de inflação do BC dizem que, para baixar o índice de
preço em 0,26 ponto percentual, é necessária uma alta de 1 ponto percentual na
Selic.
As projeções de inflação do Banco Central,
portanto, exigiriam que a taxa Selic seguisse subindo muito, para níveis que
não alcançou na última década e meia. Isso sem levar em consideração que o mercado
projeta um IPCA de 4,7% em 2022, bem acima da estimativa do Copom.
Desde março, no entanto, o Copom vem se
afastando desse padrão de ação, sinalizando altas de juros menores do que a
necessárias para colocar as suas projeções de inflação na meta. A estratégia
tem sido indicar, de forma sutil, um alongamento do período de cumprimento da
meta, para 2024. Isso seria feito por meio do atraso nos cortes de juros
previstos para 2023.
É uma forma de escapar de altas ainda mais
draconianas de juros e, assim, evitar um impacto ainda mais forte na atividade
econômica. A contrapartida é que a desinflação será feita de forma mais
gradual, com riscos de desancoragem nas expectativas de inflação de longo
prazo.
Na semana passada, o Copom fez mais uma
indicação, sutil, de que considera alongar a convergência da inflação para a
meta. O comitê publicou antecipadamente a sua projeção de inflação para 2024,
que se encontra em 2,7%, abaixo da meta do ano, de 3%. Normalmente, essa
projeção seria publicada apenas no Relatório de Inflação.
Em maio, o diretor de política monetária do
BC, Bruno Serra Fernandes, já havia dito que a autoridade monetária tem uma
preocupação de suavizar o ciclo de alta de juros. Na prática, a suavização
significa subir menos os juros agora e deixá-los alto por mais tempo em 2023.
Depois, Serra voltou atrás, mas o recado foi dado.
Ao mesmo tempo que está preocupado em
suavizar o impacto do aperto monetário na atividade econômica, porém, o Banco
Central não tem se negado a seguir subindo os juros - embora com doses menores
do que as necessárias para colocar a inflação na meta em 2023, que hoje é o
horizonte relevante de política monetária. O que guia essas altas de juros?
Uma boa parte dos analistas econômicos do
mercado financeiro acha que o Copom está apenas reagindo à inflação corrente,
combatendo cada surpresa negativa com uma dose adicional na taxa Selic. Se isso
for verdade, o prolongamento das altas de juros até as eleições dependerá, em
boa medida, dos índices de inflação corrente. Se as surpresas negativas
acabarem, em tese o Banco Central pode encerrar o ciclo em agosto.
Alex Ribeiro
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