segunda-feira, 7 de julho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

"Alguns acham que podem confundir Copa do Mundo com eleição. O brasileiro está suficientemente maduro e consciente para perceber que são coisas absolutamente diferentes. Falo isso porque vejo que há uma certa tentativa de apropriação desses eventos para o campo político."

Aécio Neves, senador (MG), presidente nacional do PSDB e candidato a presidência da República, O Estado de S. Paulo, 7 de julho de 2014.

Para vice de Aécio, desejo hoje é de mudança

Aloysio: "O que era desejo de continuidade hoje se transformou em desejo de mudança. Isso se reflete na desagregação política do bloco de sustentação do governo"

• "[Dilma] Tinha tudo para enfrentar os gargalos das reformas, mas ela não conseguiu fazer isso"

• "[Aécio] Está aglutinando forças que querem mudança, gente que não quer mais saber do PT"

Raquel Ulhôa - Valor Econômico

BRASÍLIA -Se for eleito vice-presidente da República na chapa de Aécio Neves, correligionário e colega do Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) está preparado para exercer qualquer função no governo. "Sou clínico geral", diz, lembrando ter exercido diferentes cargos no Executivo, apesar da vocação parlamentar. Mas seu centro de interesse são as questões institucionais. Como deputado estadual, deputado federal e senador, sempre atuou nas comissões de Constituição e Justiça das respectivas Casas Legislativas.

Em entrevista ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, o senador afirma que, uma vez eleito, Aécio deve apresentar uma agenda legislativa robusta ao Congresso, incluindo todas as reformas que a presidente Dilma Rousseff "tinha tudo para enfrentar e não o fez" - como a tributária, a política, a (complementação da) previdenciária - e, entre outras medidas, um plano nacional de segurança pública.

Aloysio Nunes diz ter "couro duro", mas tem mesmo é fama de estopim curto. Em um episódio, teve bate-boca com a petista Gleisi Hoffmann no Senado. Começou quando o tucano disse que o governo Dilma Rousseff havia destroçado o setor elétrico. Gleisi classificou o comentário como leviano e cobrou respeito. Dedo em riste, Aloysio Nunes reagiu dizendo que a ex-ministra da Casa Civil não era superior a nenhum outro senador e não estava no Senado para "policiar ou ditar normas".

Em um vídeo divulgado na internet, ele insulta um blogueiro ligado ao PT, que o abordou no Congresso e perguntou sobre suposto envolvimento em esquema de cartel de empresas de transporte em São Paulo. Sobre isso, o senador diz ter sido provocado e admite ter exagerado na reação.

"Eu deveria ter adotado uma atitude zen. Infelizmente não existe ainda transplante de almas. Se pudesse, eu transplantaria a alma do Dalai Lama na minha", afirmou, em entrevista concedida ao ser anunciado como vice de Aécio.

Aos 69 anos, é formado em direito pela Universidade de São Paulo e bacharelou-se em economia na França, onde esteve exilado por 11 anos. Procurador do Estado de São Paulo, aposentado, foi deputado estadual e federal, vice-governador de São Paulo na gestão de Luiz Fleury Filho, chefe da Casa Civil do então governador José Serra e ministro da Justiça e secretário-geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso. Em 2010 foi eleito senador com 11,2 milhões de votos.

Tem um passado político comum ao de Dilma, de militância em organizações clandestinas, inclusive armadas - da qual tem, hoje, visão crítica.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Quando vice-governador de São Paulo (1991 a 1994), o senhor acumulou essa função com a de secretário estadual de negócios metropolitanos. Se eleito vice-presidente, pretende cuidar de alguma área específica?

Aloysio Nunes Ferreira: O vice tem que estar disponível para colaborar com o presidente onde for mais útil. O vice-presidente do Luiz Inácio Lula da Silva, José Alencar, foi ministro da Defesa. Fernando Henrique até pensou em convidar Marco Maciel para ser ministro da Defesa. Maciel tinha uma função muito importante na articulação política. Michel Temer é um chefe de partido. Está [no governo] mais como representante de um partido importantíssimo para a sustentação do governo. Colaborador discreto, como é o jeito dele, mas basicamente é o ponto de equilíbrio do PMDB. Eu sou um homem vivido, já ocupei muitos cargos na minha vida, não tenho nenhuma ambição política pessoal. Quero ajudar o Aécio a ser um bom presidente.

Valor: A escolha do seu nome busca, entre outras coisas, reforçar a campanha tucana em São Paulo. Sua missão principal é a articulação política?

Aloysio: Tenho vocação parlamentar. Sou um parlamentar por vocação, por gosto, por prazer. Gosto da atividade política. Meu centro de interesse maior na vida parlamentar sempre foram as questões institucionais. Sempre integrei a Comissão de Constituição e Justiça, tanto na Assembleia Legislativa [de São Paulo], como na Câmara dos Deputados e agora, no Senado. A saúde das instituições é vital para que a gente tenha um país ordenado, desenvolvido, com um grau maior de civilização, tolerância, progresso material e cultural. Algo, aliás, que me preocupa no governo do PT. Sinto que há uma degradação da atividade política. O Congresso é mero apêndice do Executivo. Aqui só se tocam para a frente medidas provisórias. Os velhos vícios do patrimonialismo, da fisiologia - dos quais a presidente Dilma tinha tudo para se libertar -, acabaram enredando a presidente, principalmente agora, raspando o tacho do governo para conter aliados. Meu centro de interesse é esse. Mas já ocupei cargos executivos. Eu sou clínico geral.

Valor: Como um futuro governo do PSDB poderia estabelecer uma relação diferente com o Congresso?

Aloysio: Primeiro, tem que ter uma agenda legislativa robusta, consistente, relevante, para enfrentamento dos problemas nacionais. O governo tem um arsenal de instrumentos - desde a medida provisória até a iniciativa exclusiva em um sem número de matérias relevantes - e tem como constituir uma maioria sem precisar se rebaixar, se apequenar como o atual governo. O governo que não tem maioria [parlamentar] tem a opinião pública. O Fernando Henrique, eleito presidente, antes de tomar posse já tinha alinhavado as principais medidas legislativas, as reformas constitucionais que iria submeter ao Congresso. Reuniu os partidos e apresentou tudo. Ele se dirigiu à opinião pública mostrando a importância dessas medidas, que integravam o conjunto de ações que complementaram o Plano Real. O governo do PT não tem isso.

Valor: O ex-presidente Lula realizou algumas reformas.

Aloysio: O presidente Lula ainda começou o seu governo retomando algumas reformas que começamos no governo Fernando Henrique, como a da Previdência. Eu me lembro como se fosse hoje. O presidente pediu ao então presidente da Câmara que reunisse na sua residência oficial a bancada do PSDB e pediu nosso apoio. E nós o apoiamos.

Valor: Por que essa relação se deteriorou tanto no governo Dilma?

Aloysio: Porque não tem substância na ação do governo. A presidente Dilma tinha a faca e o queijo na mão. Se a gente não tiver a pretensão de imaginar que a história do Brasil começa a cada governo e olhar um pouquinho para trás, a gente vê que nós temos uma excelente plataforma institucional. Um marco de convivência política e de estímulo ao desenvolvimento social, que é a Constituição de 88. Fernando Henrique, com o Plano Real, além de derrotar a hiperinflação, solidificou a democracia. Resolveu problemas graves, mexeu em feridas abertas, como a questão dos desaparecidos, da anistia. Mas, fundamentalmente, [seu legado] foi a estabilização da economia e a consolidação da democracia, que, aliás, ficou exemplificada por uma transição exemplar, entre Fernando Henrique e Lula. O Lula teve o mérito, com seu extraordinário carisma político, de trazer para o centro da agenda política brasileira o combate à pobreza, a inclusão social. E a presidente Dilma, qual é o seu legado? Ela tinha tudo para enfrentar gargalos da reforma tributária, completar os temas pendentes da reforma da Previdência Social, liderar um processo de combate à violência, integrar os Estados num grande programa nacional de promoção da segurança pública. Tinha tudo para enfrentar o problema da infraestrutura, trazendo a iniciativa privada para participar, sob forma de concessões. Ela não fez nada disso. Não enfrentou o tema da reforma política, que ela se comprometeu a liderar no discurso que fez perante o Congresso no dia de sua posse.

Valor: Se vencer as eleições, como o governo do PSDB conseguirá tomar essas iniciativas, enfrentando a oposição do PT?

Aloysio: O ministro Gilberto Carvalho já disse: "Vamos fazer o diabo" [na oposição]. Logo ele... Mas eu acho que a experiência do governo, assim como a experiência da oposição, vai ajudando a limar determinados calombos da alma. Mas nós vamos respeitar a oposição. Não vamos fazer como o governo atual, que demoniza a oposição, tenta fazer psicanálise da oposição - nos chamando de pessimistas - e desencadeia ataques especulativos contra partidos de oposição para roubar seus parlamentares, como fizeram com o DEM e PPS.

Valor: Todos falam de reforma política, mas não existe consenso.

Aloysio: Quando falo de reforma política, para mim reforma política se chama voto distrital. Aumenta a relação do eleitor com o representante e a responsabilidade. É mais fácil cobrar. E leva ao enraizamento dos partidos políticos, dá consistência real aos partidos políticos.

Valor: E reeleição?

Aloysio: Sou favorável à reeleição. Eu manteria. O sistema é tanto mais democrático quanto maiores as opções oferecidas ao eleitor. E uma opção é reconduzir a pessoa que governou bem. Mas essa não é hoje a posição majoritária no Congresso. O próprio presidente Aécio Neves tem uma visão diferente. Mas vamos demonstrar agora, nas eleições, que mesmo com o uso da máquina pelo governo nós vamos ganhar.

Valor: Como o senhor vai atuar na campanha em São Paulo?

Aloysio: Eu vou fazer aquilo que for necessário, mas é natural que eu me movimente com mais desenvoltura no meu habitat, que é São Paulo. Mas é claro que vamos andar o Brasil inteiro. Uma projeção que hoje ainda é uma mera indicação, muito imprecisa, feita pelo Datafolha, daria ao Aécio, em São Paulo, uma diferença de 10 pontos em cima da presidente Dilma num eventual segundo turno. Mas ainda estamos muito longe. Isso apenas é uma tradução da rejeição da presidente Dilma pelo eleitorado de São Paulo. Agora, em relação a 2010, a diferença é da água para o vinho, porque as condições objetivas mudaram muito. O que era desejo de continuidade hoje se transformou em desejo de mudança na mesma proporção, mais de 70%. Isso se reflete na desagregação política do bloco de sustentação do governo. O primeiro sintoma mais evidente foi a candidatura do Eduardo Campos, do PSB. E, agora, o fato de que pedaços de partidos que apoiam o governo estão se desprendendo e se encaminhando em direção a forças oposicionistas no plano local.

Valor: Aécio soube aproveitar a desarticulação do governo?

Aloysio: Nós temos a habilidade do Aécio Neves, a parceria constante e estreita com Agripino [senador José Agripino, presidente do DEM e agora coordenador nacional da campanha]. Conseguiram, junto com o Solidariedade e agora com o PTB, traçar uma rede de apoios políticos nos Estados como nunca se viu. Uma situação subjetiva, de descontentamento, que levou à desagregação e foi aproveitada com muita competência pelo Aécio. E Aécio conseguiu a unificação do PSDB. O partido hoje está unido, numa aliança muito sólida com o DEM, que vem da convivência desses anos aqui na oposição.

Valor: Mas existe ainda certa desconfiança com relação ao engajamento do governador Geraldo Alckmin na campanha de Aécio, em reação à suposta falta de empenho do mineiro nas candidaturas a presidente dele e de Serra.

Aloysio: De jeito nenhum. Alckmin é um cara firme, nunca teve dois lados, desde os tempos de vereador, do MDB. É um cara muito correto. Não tenho dúvida do engajamento dele não.

Valor: A participação de Serra na disputa ao Senado sela o engajamento do PSDB paulista na campanha nacional do partido?

Aloysio: É natural que um homem do prestígio e da força política do Serra, não sendo candidato a presidente nem a governador, dispute o Senado. E não tenho dúvida nenhuma do empenho dele [para a eleição de Aécio]. Isso [suposta dúvida de tucanos quanto ao empenho de Serra na campanha de Aécio] não existe mais.

Valor: O fato de o candidato a vice-governador ser do PSB, o deputado Márcio França, que tem candidato a presidente, não afeta?

Aloysio: O vice terá pouca margem de manobra para fazer campanha. Claro que o PSB vai fazer campanha para Eduardo Campos. O PSB tem prefeitos de cidades importantes, como São José do Rio Preto, minha cidade natal, e Campinas, onde as eleições foram ganhas em aliança com o PSDB. Seria de estranhar se o PSB não acompanhasse o Alckmin. Mas o eleitor sabe. Nossas pontes com o PSB são boas, positivas. O voto que vai para o Eduardo Campos iria de qualquer maneira, tendo ou não o vice.

Valor: Esse sentimento de mudança que, segundo pesquisas, existe em relação à gestão federal do PT não existe em São Paulo, em relação ao governo tucano?

Aloysio: Não, porque, enquanto a presidente Dilma cai nas intenções de voto, Alckmin sobe. Além de fazer um governo bom, é incansável na atividade política, na comunicação. Na sexta-feira à noite, quando muito político está em restaurante, ele está inaugurando uma estrada no interior de São Paulo, comendo uma pizza numa vila na periferia. Hoje, as pesquisas mostram que ele tem uma capacidade muito grande de agregação, voto, apoio.

Valor: Qual a estratégia para a disputa contra Paulo Skaf, candidato do PMDB, que está se tornando o grande opositor de Alckmin?

Aloysio: Não há muita estratégia para um candidato à reeleição. É defender o seu governo dos ataques que virão e apresentar uma agenda para o futuro. Vai acontecer o seguinte: a oposição petista está minguando, pelo esvaziamento da candidatura Padilha [petista Alexandre Padilha, candidato a governador] e talvez a polarização se transfira para o Skaf. Não sei se haverá um ganho líquido do lado da oposição. Skaf conseguiu uma sustentação política forte e tempo de televisão. E tem recall. Mas a dificuldade do oponente do candidato à reeleição é a avaliação do governo. E a avaliação do Alckmin está muito boa.

Valor: Sua presença na chapa presidencial pode alimentar o uso do caso Alstom na campanha?

Aloysio: Eu não sou acusado de nada. Houve uma menção leviana a mim. Disseram que eu era amigo de um dos investigados, [o diretor da Procit, Arthur Teixeira]. Ora, conheci Arthur Teixeira quando era secretário de transporte metropolitano e tratava com ele, como tratava com todas as empresas do setor. Só isso. Não tem nenhuma acusação de suborno, nenhuma sequência disso, nenhum inquérito policial. O Rodrigo Janot [procurador-geral da República], quando o caso chegou a Brasília, não pediu que houvesse qualquer tipo de investigação contra mim. O ministro Marco Aurélio [Mello, do Supremo Tribunal Federal] mandou arquivar qualquer tipo de coisa em relação a mim, por não ter nada, apenas uma menção leviana. Se quiserem fazer CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] para investigar o assunto, que façam. Para mim é indiferente.

Valor: Assim como a presidente Dilma, o senhor teve uma militância em organizações clandestinas contra o regime militar. Hoje, o senhor tem uma visão crítica dessa atuação?

Aloysio: O meu inconformismo com a ditadura é um ponto fundamental na minha história pessoal, política. Isso marcou muito a minha vida. Me levou a uma condenação com base na Lei de Segurança Nacional e a viver como refugiado, fora do Brasil, durante 11 anos. Eu tive uma militância em organizações clandestinas, a maior parte no Partido Comunista Brasileiro. Minha cultura política evoluiu do leninismo para a concepção democrática do exercício do poder, da necessidade de amplas convergências. Eu entrei no PCB em 1964 e fiquei até acabar. E minha visão também se modificou. Agora, eu tive uma passagem pela ultra esquerda, de luta armada. Foi um momento na minha vida, a partir de 67 até 70. Hoje tenho uma visão profundamente crítica, porque, além de ser algo absolutamente inadequado para a realidade do país para a época, a concepção que sustentava esse tipo de construção era extremamente militarista. Não era democrática no exercício do poder e muito menos na estrutura da própria organização, que era vertical, autoritária. Uma tática absolutamente inadequada para as condições do Brasil. Imaginar que íamos trazer para o Brasil uma tática que deu certo na revolução cubana é algo irrealista. Mas na época eu acreditava. Costumo fazer as coisas conforme acredito.

Valor: O senhor foi preso, mas não sofreu tortura.

Aloysio: Fui preso várias vezes, mas no tempo de estudante. Nunca fui torturado. As minhas prisões ocorreram antes do AI-5. Naquela época havia habeas corpus e atividade da imprensa que podia denunciar prisões. A única coisa um pouco mais forte foi uma vez em que fui preso em frente à Faculdade de Direito, no Largo de São Francisco. Apanhei e me jogaram no camburão. Foi só isso. Mas nunca passei por uma experiência terrível como essa que a presidente Dilma passou. Mas acho que fiz coisas mais pesadas que ela. Mas, enfim, o fato é que não passei por esse suplício que ela passou.

Valor: É possível evitar a pecha de chapa de direita, já que Aécio está aglutinando as forças mais conservadoras?

Aloysio: [Aécio] Está aglutinando forças que querem mudança, gente que não quer mais saber do PT, que acha que a presidente Dilma não entregou o que prometeu. Uma presidente frustrante, que está nos condenando à mediocridade e por isso mesmo tem que sair. O PT é de esquerda? Me poupe.

Aécio Neves critica político que confunde Copa com eleição

• Candidato tucano à Presidência disse que vê 'uma certa tentativa de apropriação' de eventos como o Mundial para o campo político

Karin Sato - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse neste domingo, 6, durante o Festival do Japão, em São Paulo, que há uma tentativa de apropriação da Copa do Mundo para o campo político. "Alguns acham que podem confundir Copa do Mundo com eleição", afirmou. "O brasileiro está suficientemente maduro e consciente para perceber que são coisas absolutamente diferentes. Falo isso porque vejo que há uma certa tentativa de apropriação desses eventos para o campo político."

No primeiro ato oficial de sua campanha, o tucano apareceu ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do candidato a senador, José Serra, e do vice de sua chapa, o senador Aloysio Nunes.

Aécio também disse que está se organizando para ver o jogo da seleção brasileira na terça-feira, 8, em Belo Horizonte. "Agora é raça, é o coração na chuteira", disse, ao lembrar que o País tem uma "pedreira" pela frente - a Alemanha. O candidato também lamentou a perda do jogador Neymar, que se machucou no último jogo contra a Colômbia, e a não punição do atleta colombiano que fez aquela "entrada quase criminosa". "Acho que o Brasil vai vencer a Copa do Mundo e vai vencer em 5 de outubro, iniciando um novo ciclo de desenvolvimento na vida do povo brasileiro", disse..

Campos e Marina fazem 1º ato de campanha em cidade-satélite do DF

• Acompanhados do senador Rodrigo Rollemberg, dupla ouviu reclamações da comunidade do Sol Nascente, em Ceilândia

Bernardo Caram - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Comunidade do Sol Nascente, em Ceilândia, cidade-satélite no entorno de Brasília, foi escolhida pelo candidato do PSB à presidência Eduardo Campos e sua vice Marina Silva para dar início à campanha presidencial na manhã deste domingo, 6. No local, sob a gestão do petista Agnelo Queiroz, o presidenciável fez críticas às gestões federal e local do Partido dos Trabalhadores.
"Não se pode admitir que a 35 quilômetros do Palácio do Planalto, num Estado governado pelo mesmo partido (da presidente Dilma), você ande nas ruas de uma comunidade e sequer o lixo é retirado das ruas" afirmou.

A Sol Nascente é considerada a maior comunidade carente do Distrito Federal, com população estimada em 100 mil pessoas. Nas ruas onde passou o grupo com militantes e assessores, montes de lixo se acumulam e o esgoto escorre pela via. De acordo com Marina Silva, a escolha do local considerou o conjunto de problemas presentes na área, que estão entre as temáticas do programa de governo do partido. "A escolha não foi em relação a reduto eleitoral de ninguém, porque as pessoas são livres. A escolha foi exatamente em função dos temas que nós estamos priorizando", disse.

Em 2010, a então candidata Marina Silva ficou em primeiro lugar no Distrito Federal, com 42% dos votos válidos. No região, entretanto, muitos moradores não os conheciam. O atendente de farmácia Joelson de Oliveira nunca ouviu falar em Eduardo Campos ou Marina Silva e se diz incomodado com a presença de políticos na região em período eleitoral. "Agora vai vir muita gente aqui. Depois da eleição, eles somem", disse.

A opinião é compartilhada por Ana Maria Reis, que vende verduras em uma barraca. "Nessa época, eles aparecem. Fazem promessas e promessas", afirmou. Na rua, um senhor que passou ao lado dos candidatos reclamava: "Agora, todo mundo vem apertar a nossa mão".

Em discurso para os moradores, Marina Silva disse que, se Eduardo for eleito, eles voltarão ao local para fazer um plano de trabalho. "Não estamos fazendo promessa, estamos aqui para assumir um compromisso", disse.

Em pouco mais de uma hora de caminhada pela região, Campos e Marina cumprimentaram alguns moradores que observavam a movimentação nas portas de suas casas e ouviram reclamações sobre as condições do local. "Eu fui andando, perguntando a cada um qual era o principal problema e todas as vezes as respostas vinham ao encontro do nosso programa", disse Campos.

O ex-governador de Pernambuco, que fez todo o percurso com um microfone de lapela preso à camisa, sempre acompanhado por uma equipe de vídeo, falou dos problemas de educação, saúde e segurança pública na área. "Essa comunidade do Sol Nascente representa todas as prioridades que nós chamamos atenção nas nossas diretrizes. (...) O que foi feito aqui, foi feito pela força do povo. O que não foi feito aqui, era exatamente a parte que caberia aos governos fazer", afirmou.

Na caminhada, a dupla estava acompanhada do senador Rodrigo Rollemberg, candidato do PSB ao governo do Distrito Federal, e do deputado federal Reguffe (PDT), candidato da coligação ao Senado.

Em favela de Brasília, Campos diz que PT não deveria nem disputar a eleição

Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A menos de 40 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, esgoto a céu a aberto. Foi lá, em Sol Nascente, comunidade que disputa com a Rocinha o título de maior favela da América Latina, que o presidenciável Eduardo Campos (PSB) iniciou sua campanha eleitoral.

Também neste domingo, o tucano Aécio Nevesvisitou uma exposição em São Paulo e disse que governo faz uso político da Copa. A presidente Dilma não saiu às ruas, mas inaugurou o site de sua campanha.

Ao lado da vice, Marina Silva, Campos concedeu uma entrevista a jornalistas sobre um amontoado de lixo na via central do bairro.

"Este buraco está tão grande que tem de perguntar onde está a pista", indagou Campos à Folha, desviando da vasta poça de lama no meio da rua.

Em seguida, alfinetou o PT, seu novo adversário.

"Não se pode admitir que, a 35 quilômetros do Palácio do Planalto, no Distrito Federal –governado pelo mesmo partido [que o governo federal]–, você ande em uma comunidade que sequer tem o lixo retirado das ruas. Não deveriam nem disputar a eleição, deveriam ter a humildade de dizer que fracassaram", disse Campos, referindo-se ao PT.

Na lista de queixas dos moradores, uma repetição quase unânime: violência, falta de saneamento básico e alimento caro.

"Ela comprava sacos de batata a R$ 50. Agora, diz que custam R$ 70", comentou Campos com Marina, referindo-se a Maria do Carmo Pereira Pinto, 44, dona de uma barraquinha de verduras.

À Folha, Maria do Carmo disse ter sido eleitora de Marina Silva em 2010, mas, até poucos minutos antes de falar com Eduardo Campos, não fazia ideia de quem era o presidenciável.

A ambulante sintetiza o alto desconhecimento do pernambucano junto ao eleitorado nacional, daí o esforço de usar a popularidade de sua parceira de chapa como passaporte eleitoral. Há quatro anos, Marina Silva alcançou 20 milhões de votos.

Sol Nascente é uma espécie de "lado B" da capital federal. Quem não conhece, vai logo rememorando trechos da música "Faroeste Caboclo", da banda Legião Urbana. Uma inevitável associação quando se depara com as ruas, casas e comércio local com a cor vermelha de terra.

"A matança de gente aqui é grande", disse Isabel Pereira, 63, que vende roupas novas e usadas sobre um carro de tração. Dona Isabel logo pergunta à reportagem se "o pessoal que vem aí é o que vai acabar com o Bolsa Família". Depois, mostra-se insatisfeita com a presidente Dilma Rousseff, mas sem saber explicar direito a razão.

"Lula deixou umas coisas assinadas que ela não fez."

A seu lado, a também ambulante Taís Estéfani, 20, votará pela primeira vez para presidente em outubro.

"Se Marina fosse candidata, votava nela. Agora ela é vice, não é a mesma coisa."

A vendedora de cremes e perfumes elogiou o ex-presidente Lula, mas disse não ter prestado muita atenção nele porque não votou nas eleições passadas e por, segundo ela, ser muito jovem.

"Parece que ele foi bom, mas é meio antigo, né?", indagou.

Próximos ao local que Campos e Marina visitaram neste domingo, o grande número de igrejas evangélicas rivalizava com os diversos salões de beleza.

Na frente de uma casa simples com a placa "Igreja Evangélica Abençoando as Nações", o evangelizador Antônio Amilton, 42, contou que irá aguardar a orientação do bispo para decidir como votar. "Falei com meus irmãos aqui agora: vocês têm que votar em pessoas que tenham, no mínimo, temor a Deus."

Quase na metade da visita, um assessor chamou Campos para entrar em um mercadinho. A sugestão foi prontamente recusada.

"Não, supermercado não dá certo, não. O dono fica logo apavorado com esse tanto de gente tentando entrar", explicou.

Candidatos no Rio dão prioridade à Baixada Fluminense

Antonio Pita e Idiana Tomazelli - Agência Estado

RIO - largada da campanha ao governo do Rio, os principais candidatos priorizaram o eleitorado da Baixada Fluminense, na região metropolitana da capital. O atual governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), o petista Lindbergh Farias e o ex-ministro Marcelo Crivella (PRB) realizaram caminhadas em Nova Iguaçu prometendo ampliar o sistema de abastecimento de água, maior demanda da região.

Já Anthony Garotinho (PR) preferiu iniciar a campanha em sua base política, na região de Campos.

Nova Iguaçu é o maior município da região, com cerca de 500 mil eleitores. O prefeito do PMDB, Nelson Bornier, recebeu o candidato Pezão no final da tarde, após extensa agenda política na capital.

O governador prometeu ampliar o programa de melhorias urbanas na região. "Quem fez o asfalto, vai fazer a água", disse. Pela manhã, o atual governador visitou a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na Vila Kennedy, zona oeste do Rio, demarcando sua prioridade à segurança pública.

O candidato prometeu levar o modelo de UPP para as cidades da Baixada, ampliando o efetivo em 12 mil policiais e levando destacamentos do Batalhão de Operações Especiais (Bope) à região. "Nós vamos levar as UPPs para todo o território do Estado, uma política que muitos criticavam porque achavam que era só para grandes eventos. A segurança continua sendo prioridade", afirmou.

Pezão estava acompanhado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB) e por Francisco Dornelles (PP), que assumiu a candidatura de vice-governador no lugar de Felipe Peixoto, deputado estadual do PDT. Após a reviravolta, anunciada poucas horas antes do registro da candidatura, Pezão nomeou o deputado coordenador da campanha e destacou a contribuição do "extraordinário companheiro". Os afagos são uma tentativa de evitar a debandada do partido para a candidatura petista.

À tarde, Lindbergh Farias afirmou que já conversou com mais de 40 candidatos a deputado estadual pelo PDT em busca de apoio. O partido decidiu manter candidatura isolada ao senado, com Carlos Lupi, para reagir ao movimento pró-Aécio dentro da campanha de Pezão.

Lindbergh começou o dia na Feira de São Cristóvão, no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, acompanhado pelo deputado federal Romário (PSB), candidato ao senado. O ex-jogador foi muito assediado por eleitores e fãs, enquanto Lindbergh foi presenteado com uma estátua de Padre Cícero e chamado de "nosso querido paraibano" - o político é natural de João Pessoa. Diante dos eleitores, o candidato bateu na tecla da mudança. "Há um cansaço da velha política", disse, prometendo maior qualidade nos serviços públicos.

O candidato petista já foi prefeito de Nova Iguaçu e deixou o mandato para concorrer ao senado, em 2010. À tarde, ele voltou à base, onde garantiu ampliar o sistema de distribuição de água na cidade. A promessa também foi repetida pelo ex-senador Marcelo Crivella, em campanha pelo PRB. "É um absurdo, a Baixada não tem rede de distribuição, mas tem água. E a água está dentro do caminhão-pipa explorando nosso povo", disse Crivella.

Reforçando sua presença na sua principal base política, Anthony Garotinho (PR) optou por iniciar a campanha com uma caminhada em Campos dos Goytacazes, "onde tudo começou". Ele estava ao lado da mulher e prefeita da cidade, Rosinha Garotinho, e da filha, Clarissa Garotinho, que concorre à uma vaga na Câmara Federal. "Cada uma das pessoas que vejo aqui tem uma história de luta, de trabalho. História que está apenas começando", afirmou.

O candidato do PSOL, Tarcísio Motta, participou pela manhã de caminhada ao lado da candidata à Presidência da República, Luciana Genro, pela orla de Copacabana, na zona sul.

Início morno de uma maratona de 112 dias

• Principais candidatos à Presidência da República dão largada à campanha ainda em ritmo lento. Aécio Neves e Eduardo Campos têm agendas rápidas em São Paulo e no Distrito Federal, enquanto Dilma Roussef inaugura site oficial à reeleição

Paulo de Tarso Lyra, Naira Trindade – Correio Braziliense

Atrás nas pesquisas eleitorais e com menos tempo de televisão que a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, os dois principais candidatos de oposição aproveitaram o primeiro dia de campanha oficial para sair à rua. Enquanto Eduardo Campos (PSB) esteve em Brasília, Aécio Neves (PSDB) escolheu São Paulo. Dilma decidiu permanecer no Palácio da Alvorada, mas o PT lançou o site oficial de campanha (leia matéria na página ao lado). Aécio e Eduardo atacaram o governo federal em suas agendas, mas com discursos diferentes. O tucano optou por questionar o discurso político atrelado à Copa do Mundo, acrescentando que a população está madura para saber a diferença entre o evento e as eleições. 

Já Campos mirou na inflação e nas falhas do governo federal na área de educação. A escolha dos palcos para o início da campanha também foi estratégica. São Paulo, além de maior colégio eleitoral, é uma cidadela dos tucanos há duas décadas e também rende vitórias ao PSDB no plano nacional. Já o Distrito Federal foi o único local em que Marina Silva — vice de Eduardo Campos — venceu nas eleições presidenciais de 2010. Os socialistas acreditam que, atrelando a imagem de ambos, conseguirão subir nas pesquisas de intenção de voto.

Sobre Copa e política
Em seu primeiro ato depois do início oficial da campanha, o candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), afirmou ontem, em São Paulo, que pretende assistir ao jogo de amanhã em Belo Horizonte, mas critica quem tenta associar Copa do Mundo e política. "Alguns acham que podem confundir Copa do Mundo com eleição. O brasileiro está suficientemente maduro e consciente para perceber que são coisas absolutamente diferentes", criticou o tucano.

Aécio busca um antídoto ao discurso oficial da campanha de Dilma Rousseff (PT), que usa o êxito da Copa do Mundo para responder àqueles que, antes do Mundial, afirmavam que os jogos provocariam um caos aéreo, na mobilidade urbana e uma explosão de violência por conta das manifestações de rua. "Vejo uma tentativa de uma certa apropriação desses eventos para o campo político. Vamos debater em qualquer campo todas as nossas propostas. A campanha eleitoral para mim não é uma guerra, é uma oportunidade de nós apresentarmos as nossas propostas. Vamos fazer isso com transparência", prometeu o senador mineiro.

A escolha de Aécio por São Paulo para iniciar a campanha presidencial não é fruto do acaso. Principal colégio eleitoral do país, o estado tem dado sucessivas vitórias aos tucanos sobre os petistas durante as últimas corridas presidenciais. Em 2010, como mostrou o Correio na edição do último sábado, o êxito foi apertado — apenas três pontos percentuais separaram José Serra (PSDB) e Dilma.

Este ano, o staff de campanha tucana espera um resultado mais folgado. Para isso, Aécio convidou o senador Aloysio Nunes Ferreira para ser o vice e articulou para que o ex-governador José Serra concorresse ao Senado na chapa do governador paulista Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. 

"Começamos aqui com o pé direito, ao lado do grande governador Geraldo Alckmin, que vai governar São Paulo por mais quatro anos. Ao lado do companheiro José Serra, ao lado do companheiro Aloysio Nunes, o meu companheiro de chapa", enumerou Aécio.

O presidenciável visitou ontem, com seus aliados, o 17º Festival do Japão e aproveitou para pintar um olho do bonequinho da sorte, espécie de talismã da cultura japonesa. "Espero, daqui a três meses, estar pintando outro olho [referindo-se ao boneco da sorte]." Aécio defendeu um debate de alto nível durante a campanha.

"Vamos fazer uma campanha decente, propositiva e de alto nível, acreditando na capacidade das pessoas de discernirem aquilo que é correto e aquilo que não é. A nossa melhor companhia durante esta campanha é a verdade", disse ele. Não faltaram também afagos aos japoneses, já que São Paulo é a maior comunidade nipônica fora do Japão. "A cultura japonesa está enraizada na nossa. São seis gerações de japoneses e descendentes, que vêm ajudando o Brasil a ser o que é hoje, seja no agronegócio, na indústria e nos seus valores", elogiou. (PTL)

"O brasileiro está suficientemente maduro e consciente para perceber que são coisas absolutamente diferentes (Copa e eleição)"
Aécio Neves (PSDB), candidato à Presidência

Propostas contra o descaso
A comunidade Sol Nascente, em Ceilândia, serviu de ponto de partida para o presidenciável Eduardo Campos (PSB), ao lado da vice, Marina Silva, iniciar ontem a disputa eleitoral. Atacando o descontrole da inflação e a ausência de políticas públicas para regiões carentes, o pernambucano disse que o PT deveria ter "humildade de admitir que fracassou" e "nem disputar as eleições", após o corpo a corpo com moradores e comerciantes na caminhada pela terra vermelha de Ceilândia.

Para Campos, a situação do Sol Nascente reforça as diretrizes do programa de governo do PSB. "Aqui, fica muito claro que a prioridade anunciada por nós, quando botamos o foco na educação integral, é, sem sombra de dúvida, a prioridade de toda a sociedade", frisou. "O Brasil tem jeito. O povo brasileiro vai entrar em campo, tirar essas velhas raposas da política e fazer com que o Brasil oficial venha para junto do Brasil real", disse Eduardo ao comentar sua expectativa e a de Marina com a disputa eleitoral. Marina reforçou o discurso de seu parceiro de chapa. "Brasília é o ponto de partida de nossa caminhada e haverá de ser o ponto de chegada".

Eduardo retomou uma figura que foi adotada por Lula em 2002. "Queremos basear a nossa campanha numa carta dos brasileiros. Aqui, temos um retrato dos brasileiros. A ausência de urbanização numa cidade a poucos metros de Brasília, que precisa de ajuda do poder público para poder viver melhor", completou a vice. No primeiro ato oficial, Marina Silva contou com o reconhecimento de pessoas na rua — em 2010, a então candidata verde venceu no DF, com 41,96% dos votos.

Em meio a pouco mais de 100 pessoas, Campos e Marina ouviram cobranças e reclamações. "O pessoal foi unânime ao dizer que estava indo à feira buscar os mesmos produtos e sentiu que o dinheiro que levava não dava para comprar a mesma quantidade", relatou. "Tudo que nós não precisamos no Brasil é descuidar da inflação, e esse governo descuidou da inflação. Temos que conter a inflação, que corrói o recurso e a renda, sobretudo, dos mais pobres", criticou.

De acordo com Marina, o contato com os moradores evidenciou que "a comunidade tem a necessidade de mostrar que ela sobrevive a partir de seus próprios esforços e que, se tiver a ajuda do poder público, a sua vida pode melhorar. O programa de governo que Eduardo Campos e eu defendemos é resultado da escuta dedicada à sociedade brasileira, para tratar de forma integrada os problemas que afligem as pessoas — educação, saúde e segurança". "Nosso programa será uma carta dos brasileiros, não uma carta para os brasileiros", completou. No início da noite, Campos lançou o site oficial de campanha, com a publicação de um discurso dividido com Marina Silva. (NT)

"(O PT) não deveria nem disputar a eleição. Deveria ter a humildade de dizer: "olha, eu fracassei""
Eduardo Campos (PSB), candidato à Presidência

Candidatos registram programas de governo

Vandson Lima e Raquel Ulhôa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Reforma tributária no primeiro ano de governo. Vaga garantida em escolas de tempo integral a todas as crianças e jovens do país em quatro anos. Essas duas ambiciosas promessas, feitas pelo candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, provocaram os mais entusiasmados aplausos da militância da sigla quando da convenção partidária que confirmou sua candidatura, no dia 28.

Quem ouviu, deve guardá-las com zelo, pois tais propostas não foram incluídas nas diretrizes gerais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela chapa cinco dias depois, na quinta-feira. Não é uma situação incomum: a entrega de documentos apinhados de generalidades e que destoam daquilo que os candidatos dizem no dia a dia de campanha é uma constante no momento do registro de candidatura.

Fortalecimento, reestruturação, estímulo. Os termos permeiam todos os documentos registrados, com raros compromissos marcados com datas ou metas. É tudo tão parecido que provavelmente ninguém, nem os próprios formuladores das diretrizes, notariam qualquer diferença se fossem embaralhados trechos dos documentos relativos a Direitos Humanos ou desenvolvimento regional, por exemplo. "Estímulo à implantação de Agricultura de Baixo Carbono", soa como algo do programa de Eduardo de Marina. Mas está no de Aécio Neves (PSDB), que também falou em apresentar um modelo de reforma tributária no primeiro semestre de governo, o que não aparece no documento. "Rigor da gestão fiscal, (...) incentivo ao investimento privado e fortalecimento das parcerias entre Estado e iniciativa privada'' parece conversa de tucano, mas está no programa da presidente Dilma Rousseff.

Ao lado do coordenador-geral do seu programa de governo, Antonio Anastasia, Aécio anunciou que as diretrizes registradas no TSE representariam apenas o início de um "debate enorme" com a sociedade sobre o programa de governo que pretende adotar, caso seja eleito. Ou seja, o documento registrado deve ser visto apenas como uma espécie de carta de intenções.

Nela, Aécio prega autonomia operacional do Banco Central, "que irá levar a taxa de inflação à meta de 4,5% ao ano''. Quando? Não diz. Promete transformar o Bolsa Família em política de Estado, incorporando-o à Lei Orgânica de Assistência Social; investimento massivo no acesso e qualidade dos serviços de saúde, saneamento básico, educação; manutenção e ampliação de programa habitacional nos moldes do Minha Casa Minha Vida e redução da carga tributária sobre exportações também constam nas diretrizes, mas a propalada reforma não ocupa meia página das 76 do documento.

No caso de Dilma, as diretrizes assumem caráter retrospectivo e comparativo ao cenário de 2002, anterior ao governo petista. O documento, mais enxuto (25 páginas), dedica-se em sua maior parte (15 páginas) a rememorar todas as ações dos governos Dilma e Lula, para então postular: "Estamos lançando um novo ciclo histórico de prosperidade, oportunidades e de mudanças'' a ser realizado em uma nova gestão. "Para nós é urgente e necessária uma ampla e profunda reforma política cujo objetivo é resolver as distorções do nosso sistema representativo. Para assegurá-la será imprescindível a participação popular, por meio de um plebiscito que defina a posição majoritária sobre os principais temas''. E para por aí. Nenhum planejamento nesse sentido é exposto.

A diretriz da candidatura petista diz ainda que "para mudar ainda mais o Brasil, propomos enfrentar o desafio da realização de uma reforma federativa que defina melhor as atribuições dos entes federados - União, Estados e Municípios'', compromisso também presente nos documentos dos outros dois candidatos.

No caso do PSB, o documento de 60 páginas varia entre passagens bem-intencionadas, mas pouco conclusivas, (como "as políticas sociais devem contribuir de modo decisivo para o combate das desigualdades, para a melhoria da distribuição de renda e riqueza, para a ampliação da felicidade") a outras francamente incompreensíveis: "modernizar estruturas organizacionais departamentalizadas, transformando-as em matriciais e orgânicas", em trecho relativo à reforma da administração pública.

A ausência de previsão legal sobre punição ao não cumprimento das metas contribui para a situação. Por um dispositivo incluído em 2009 na Lei Eleitoral (Lei nº 9.504, de 1997), quem concorre a prefeito, governador e presidente da República é obrigado a apresentar suas propostas ao registrar as candidaturas (prazo encerrado no dia 5).

Um amigo de Dirceu na linha de frente da campanha tucana

• Vice de Aécio defende temas polêmicos e discorre sem receio sobre a ligação com petista

Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

Escolhido como candidato a vice na chapa presidencial de Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira, 69 anos, costuma contrariar o estilo pelo qual os políticos do PSDB ficaram conhecidos. Não lança mão de eufemismos nem fica em cima do muro sobre assuntos polêmicos. É autor de projeto que reduz, em determinados casos, a maioridade penal . Defende a descriminação do aborto. E discorre sem receio sobre a antiga amizade com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que comandou a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, acabou abatido pelo escândalo mensalão e se transformou no principal alvo dos tucanos quando querem atacar a corrupção na gestão dos adversários petistas.

Eleito em 2010 ao Senado por São Paulo – registrou a maior votação da história, com 11 milhões de votos –, Aloysio carrega no currículo a advocacia, o movimento estudantil, o enfrentamento ao regime militar como guerrilheiro, 11 anos no exílio e uma forte influência no PMDB até chegar ao ninho tucano.

Ele recebeu o Estado na sexta-feira, 4, em seu escritório político, conjunto de salas no primeiro andar de um prédio da Avenida Pedroso de Morais, no bairro de Pinheiros, zona oeste paulistana. Tratou, sem melindres, de sua antiga relação com Dirceu. “Somos amigos desde os tempos da faculdade. Eu não renego um amigo. Sou amigo até hoje do Dirceu”, disse o tucano, para quem “divergência política é uma coisa” e amizade, outra.

Na quinta-feira, o ex-ministro do governo Lula havia recebido autorização para trabalhar em um escritório de advocacia de Brasília.

A imagem do amigo envelhecido e abatido em seu primeiro dia de trabalho fora da Papuda o impressionou. “Cadeia é uma merda, é um horror, aquele cheiro de creolina”, observou.
Aloysio não acredita que tenha havido abuso no julgamento do Supremo Tribunal Federal. “O Zé é um cara disciplinado, inteligente, uma pessoa calorosa. Lamento muito sua situação. A prisão é sofrida. À maneira dele está fazendo o que acha que é certo para o Brasil. Eu discordo. Ele teve toda oportunidade de se defender.”

Trajetória. No escritório onde amarra alianças políticas e anota solicitações em geral, despojado em uma calça de brim, camisa de manga, tênis e meias brancas, o senador expôs durante quase duas horas detalhes de sua longa trajetória, desde quando, ainda menino, aos 12, partiu de São José do Rio Preto, interior paulista, com os cinco irmãos e os pais para morar na casa da Rua Gabriel dos Santos, em Santa Cecília, no centro da capital. Era 1957.

O pai, seu exemplo, foi um advogado destacado. A mãe, professora. Em 1963, com 18 anos, Aloysio passou no vestibular da Faculdade de Direito da USP. “A advocacia me fascinava.”

Logo conquistou as Arcadas do Largo São Francisco, no centro. Foi eleito presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto. Dali a dois anos viria a se tornar um dos fundadores do MDB, o movimento de oposição à Arena, partido aliado dos militares que tomaram o poder no golpe de março de 1964.

Eram tempos difíceis, mas os estudantes foram às ruas contestar. Foi quando acabou conhecendo o rapaz de cabelos compridos que viria a se tornar o chefe da Casa Civil de Lula. Dirceu fazia Direito na PUC e frequentava os Nunes Ferreira. A casa da Rua Gabriel dos Santos era uma construção simples, mas aconchegante.

Aloysio se deu conta de que o País estava mergulhando na exceção quando descia de carro pela Avenida Angélica e testemunhou “uns garotões” destruindo e saqueando a sede da Superintendência da Reforma Agrária (Supra), na ocasião dirigida por Mário Donato, autor de “Presença de Anita” – “que a gente lia escondido porque tinha umas histórias de sacanagem”. “Certamente eram os precursores do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), uns tipos fortões, eles atiravam mobílias e arquivos da superintendência pela janela. Puseram fogo em muita coisa”, recorda o tucano.

Entre os papéis confiscados pela repressão havia anotações do XI de Agosto, que dava apoio jurídico ao órgão da reforma agrária. Na tarde de 19 de abril de 1964 alguém tocou a campainha e avisou o jovem estudante que os homens do Dops, a temível polícia política, estavam chegando. Viriam busca-lo “para esclarecimentos”.

“Arrumei uma malinha com umas mudas de roupa”, conta Aloysio. “Naquele tempo os tiras eram os mesmos que serviram o Estado Novo. A caminho do Dops me deixaram passar no salão de cabelo onde mamãe estava. Fui avisá-la.” Após ser ouvido, foi liberado.

Aloysio e Dirceu trocavam ideias sobre os rumos do movimento estudantil. Dirceu ambicionava conquistar sua primeira eleição, então para presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE). Com apoio de Aloysio, Dirceu chegou lá, no ano de 1967.

O hoje candidato a vice de Aécio, por sua vez, foi para a Ação Libertadora Nacional (ALN), movimento guerrilheiro criado em 1966, quando Carlos Marighella, que viria a ser morto pelas forças de repressão três anos depois, deixou o Partido Comunista Brasileiro. Chegou a ser motorista de Marighella em ações da luta armada. Era conhecido pelo pseudônimo Mateus.

Exílio. Já advogado formado, foi alertado que a auditoria militar estava na iminência de decretar sua prisão, por violação à Lei de Segurança Nacional. No dia seguinte foram cumprir o mandado de prisão. O alvo já estava a caminho de Paris, para a jornada do exílio. Era outubro de 1968, às vésperas do AI-5.

No início, Aloysio se manteve com uma bolsa de estudos do governo francês. Depois, arrumou emprego. Foi professor e diretor de um centro de pesquisa do país europeu.

Três passagens, em especial, marcaram Aloysio longe do Brasil. Em 1969, o nascimento das filhas gêmeas. Em 1974, certa noite, tomava chope quando um amigo passou de carro, buzinou e gritou. “O Quércia ganhou em São Paulo.” Orestes Quércia, do MDB, havia derrotado Carvalho Pinto, da Arena, na corrida por uma cadeira no Senado. Em 1979, aprovada a Lei da Anistia, Aloysio foi ao consulado brasileiro e pegou seu passaporte para o retorno.

À porta da democracia. Foi residir na Rua Cardoso de Almeida, em Perdizes. Continuou sendo bisbilhotado. Em seu escritório político, guarda até hoje cópias de “informes” produzidos pela arapongagem. Relatórios datilografados que falam sobre o “nominado” em agendas públicas de deputado estadual, cargo para o qual foi eleito. Nessa época reencontrou Dirceu, também com cadeira na Assembleia Legislativa.

Após o mandato de deputado estadual, Aloysio, ainda no PMDB, foi vice-governador na gestão Fleury Filho no início dos anos 1990. Depois, se integrou aos tucanos e passou pelo Ministério da Justiça do governo Fernando Henrique. Foi eleito três vezes para a Câmara dos Deputados. Passou ainda pela Casa Civil do governo José Serra, na Prefeitura e no Estado, até chegar ao Senado. Hoje, ao comentar a luta armada, admite ter errado ao combater o regime por via não democrática.

No auge do mensalão, em 2005, Dirceu foi à casa de Aloysio. “Não falamos sobre mensalão porque o principal responsável por tudo aquilo é o Lula. O Dirceu não fez nada que Lula não soubesse. Ele me procurou, dias antes da sessão na Câmara que decretou sua cassação. Não me pediu nada. Mas defendeu a lisura de seus atos e do governo, nunca admitiu ilegalidades, nunca admitiu mensalão”, diz.

“Não votei (no processo de cassação) porque eu estava licenciado, era secretário chefe da Casa Civil do governo José Serra. Mas se fosse votar eu votava pela cassação”, afirma. “Fui testemunha do Dirceu (nos autos do julgamento). Na verdade, quem me indicou para depor como testemunha de defesa acho que foi o Roberto Jefferson (delator do mensalão). Falei na Justiça sobre os projetos políticos, como é a tramitação.”

Sem ataques. Sobre a disputa com a presidente Dilma Rousseff, que como ele participou da luta armada na ditadura, Aloysio afirma que os tucanos não podem se apegar apenas aos ataques. “O ataque é contraproducente, acaba ricocheteando. Não precisa atacar o governo do PT. Os pontos frágeis do governo Dilma são muito visíveis, muito sentidos pela população, os preços, o endividamento das famílias, a baixa qualidade de emprego, a diminuição do ritmo de criação de empregos, o mau serviço público, a incerteza do amanhã.” Para Aloysio, não há mais grandes embates ideológicos. “O que existe são propostas para melhorar o Brasil. O Aécio tem credibilidade de sobra para propor isso.”

Ricardo Noblat: Deixem só a Copa passar...

- O Globo

“Vou fazer do meu jeito. Gostou, gostou. Não gostou, vai pro inferno.” Felipão, técnico da seleção brasileira de futebol

Aconselha-se aos eleitores mais exigentes, aqueles que cobram dos políticos coerência, fidelidade partidária e respeito a princípios elevados, que abdiquem temporariamente dos seus desejos para não cair na tentação de anular o voto. Nada a ver com a eleição de outubro próximo. Mas sabe como é... Curto e grosso: avança a degradação do exercício da política entre nós. E a vontade que dá... Esqueçam

ATÉ OUTRO DIA, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, queria José Serra de vice de Aécio Neves, candidato do PSDB a presidente da República, e Gilberto Kassab (PSD), ex-prefeito de São Paulo, como candidato ao Senado em sua chapa. Aécio preferia Serra como candidato ao Senado — afinal, dividir o poder com ele, caso se eleja, jamais —; e Kassab como candidato a vice de Alckmin. Era o que Kassab também queria.

CANDIDATA À REELEIÇÃO, Dilma não queria que Kassab apoiasse Alckmin. Se não pudesse apoiar Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo, que apoiasse então Paulo Skaf, também candidato ao governo de São Paulo, pelo PMDB. Logo quem... Skaf, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que se nega a apoiar Dilma abertamente, mas que à sombra... Pois é.

ESTE ANO, Padilha é o poste preferencial de Lula, que vem de recentes sucessos ao eleger dois outros postes: Dilma em 2010 para sucedê-lo, e Haddad em 2012 para prefeito de São Paulo. Dilma depende de Lula para ganhar um segundo mandato. Sozinha, não ganharia. Haddad vai mal. Sua aprovação é baixa. Quanto a Padilha, está quase só. Foi abandonado por Maluf. Poucos acreditam que Lula possa iluminá-lo.

SIM, FALTOU DIZER o que aconteceu com Kassab. Depois de ouvir Serra lhe garantir que não disputaria o Senado, anunciou sua candidatura a senador — mas não na chapa de Alckmin como queria Alckmin. Na verdade, na chapa de Skaf. Por último, Serra arrependeu- se do que dissera a Kassab e se lançou candidato ao Senado. Constrangido, Kassab enfrentará Serra, de quem já foi vice como prefeito de São Paulo.

ESPERA AÍ: sobrou a vaga de vice de Alckmin? Sobrou não. Foi preenchida por um deputado do PSB, partido de Eduardo Campos, candidato a presidente da República. Embora apoie Aécio, Alckmin dará uma força a Campos em troca da força que o PSB lhe dá. Talvez arranje empresários que ajudem Campos a pagar despesas de campanha. E poderá recepcionálo em seu palanque. Para desgosto de Aécio, é claro.

PARA DESGOSTO DE DILMA, que sem um candidato forte ao governo de São Paulo se enfraquece no maior colégio eleitoral do país, o PT do Rio fechou um acordo com Campos. O ex-jogador e deputado federal Romário, do PSB, é candidato ao Senado na chapa de Lindinho. Quero dizer: do senador Lindbergh Farias, candidato do PT ao governo. Lindbergh apoia Dilma. Mas Campos estará no palanque dele.

TEM NADA NÃO. Há uma inflação de palanques para Dilma no Rio. Fora o de Lindbergh, ela dividirá com Aécio o palanque de Pezão, atual governador do estado pelo PMDB, adepto da política “muito dinâmica”. Tanto que no último fim de semana ele substituiu seu vice do PDT por um vice do PP. Pezão compreende que Dilma frequente mais dois palanques de adversários seus: Marcelo Crivella (PRB) e Anthony Garotinho (PR).

A SEIS DIAS DO FINAL da Copa das copas só nos resta torcer pelo hexa. Fica o convite para, em seguida, acertarmos as contas com os que degeneram a política. Porque fora dela, de fato, não há salvação.

José Roberto de Toledo: O PT, os partidos e a ladeira

- O Estado de S. Paulo

O Datafolha da semana passada foi bom para Dilma Rousseff. A maioria das análises enxergou crescimento da petista (na verdade, ela mantém cerca de 38% das intenções de voto desde abril). O sucesso da Copa melhorou o humor dos brasileiros. E o noticiário positivo resultante ajuda o governo. Mas no meio das tabelas do Datafolha há um número que deveria preocupar o PT. E há outro que deveria preocupar todos os partidos.

Apenas 15% dos eleitores declararam-se petistas ou simpatizantes. É a menor taxa de apoio ao partido dos últimos 15 anos. Não se trata de um ponto fora da curva. É uma tendência: as pesquisas de junho e abril do Datafolha já detectavam 17% de preferência pelo PT, a menor desde 2006. Agora, com a pesquisa de julho, a taxa regrediu a 1999.

Os petistas poderiam argumentar que os 15% do seu partido ainda são três vezes mais do que a preferência pelo rival PSDB. Mas isso só os impediria de enxergar o problema. Pouco mais de um ano atrás, o petismo era nove vezes maior do que o tucanismo: 36% a 4%, segundo pesquisa Ibope de abril de 2013. A distância só fez encolher desde então. Não porque o PSDB tenha crescido no coração do eleitorado. O PT foi que diminuiu.

Desde o processo eleitoral de 2002 que o levou ao poder federal, o PT sempre oscilou entre um quarto e um terço de simpatia do eleitorado. Mesmo nos momentos de crise, como nos escândalos do mensalão e no dos aloprados, em 2005/2006, nunca o PT caiu abaixo de 20% da preferência partidária. A derrocada atual começou com os protestos de junho de 2013. O petismo minguou a um quinto do eleitorado. Caiu agora a um sexto.

O petista remanescente envelheceu como o resto do eleitorado. Tem, em média, 41 anos. Também melhorou sua escolaridade: a maior parte cursou o ensino médio, mas só 13% fez faculdade. Na maioria, é assalariado registrado, aposentado ou vive de bicos, e sua família ganha, junta, menos de R$ 3.620 por mês. Tem mais chance de viver nas capitais e nas grandes cidades. Nos anos recentes, concentrou-se no Nordeste - porque o partido perdeu simpatizantes, principalmente no Sul.

Regressão. Essa regressão da penetração petista a patamares anteriores aos da era Lula é um problema menos grave para Dilma do que para os outros candidatos do PT. A campanha eleitoral da presidente terá recursos financeiros e logísticos que nenhum outro petista sonha ter. Por isso, Dilma depende menos da militância do partido - além de ter Lula como cabo eleitoral.

Já os candidatos do PT a governador, senador e, especialmente, a deputado terão um desafio muito maior do que nas eleições anteriores. O voto na legenda - quando o eleitor digitava, no caso, 13 nas eleições proporcionais - sempre ajudou a eleger muitos candidatos petistas. Até os partidos coligados, como PC do B, pegavam carona no seu voto de legenda. Ele continuará forte ou encolherá junto como a simpatia pelo partido?

Pode-se arriscar que onde o PT não tiver nome forte para o governo estadual, a perda do voto de legenda será maior. Por dois motivos: 1) candidatos majoritários favoritos arrecadam mais e distribuem dinheiro às campanhas dos correligionários; 2) o erro na sequência de votação - não é desprezível a quantidade de eleitores que vota para deputado estadual e federal achando que votou para presidente e governador.

O PT arrisca-se em outubro a interromper um crescimento contínuo de 30 anos. O risco só não é maior porque nenhuma outra legenda conseguiu catalisar os descontentes. Na série do Datafolha, não há, desde 1989, taxa tão alta de eleitores que não têm preferência por nenhum partido: 68%. A falta de interesse partidário chega a 74% entre mulheres e a 77% no Sul - um feito dos políticos de todos os partidos, sem exceção.

Parabéns aos envolvidos.

Valdo Cruz: Neymar, o craque!

- Folha de S. Paulo

Chegamos na reta final da Copa sem a magia de Neymar, mas aprendendo com nossos erros. Se perdemos em emoção e talento, ganhamos em razão e organização. Dá para ganhar da Alemanha e sermos campeões no domingo.

Sem nosso craque será um sofrimento, mas Felipão melhorou o meio de campo, reforçou as laterais e fez a seleção voltar a marcar sob pressão. Pena que nem todos saibamos evitar os erros de sempre, deixando a emoção sufocar a razão.

A reação de alguns locutores e comentaristas sobre a joelhada que roubou o sonho de nosso craque foi um péssimo exemplo. Trataram o autor da falta como um criminoso, um inimigo da nação brasileira.

Sei que não tiveram tal intenção, mas, guiados pelo coração, usaram um tom agressivo, exagerado, quase uma senha para despertar nos outros um desejo de justiçamento.

Linchamentos, infelizmente, começam assim. Com a mente nublada pela emoção, alguém com grande poder de influência assume uma bandeira e gera uma onda sobre a qual perde totalmente o controle.

O lateral colombiano Zuñiga foi imprudente, estabanado e violento, mas não vi na jogada desejo deliberado de quebrar Neymar. Se fosse mais enérgico tanto com colombianos como brasileiros, o juiz da partida poderia ter evitado o pior.

Agora, ameaçar e xingar a filha de Zuñiga nas redes sociais revela o pior de todos nós. Pior este que deu as caras, nesta Copa, logo no início do torneio, quando a presidente Dilma foi alvo de xingamentos. Manifestou-se de novo quando a torcida brasileira vaiou o hino chileno.

Ainda bem que tais episódios são apenas incidentes de percurso, que não mancham a imagem do torneio, um espetáculo de alegria e magia.

Enfim, prefiro ficar com a atitude de Neymar. Triste por ter seu sonho interrompido, amigos dizem que ele não guarda rancor do colombiano. Exemplo de que é especial, um craque dentro e fora do campo.

Renato Janine Ribeiro: Partidos para mudar ou para governar

• A política precisa de quem acene com o novo

- Valor Econômico

Estas eleições estão montadas numa contradição. Uma pesquisa, meses atrás, mostrou que dois terços do eleitorado querem "mudanças", mas metade dos votantes queria sufragar a presidenta Dilma Rousseff, que representaria a continuidade - e não é óbvio que Aécio Neves ou Eduardo Campos seriam a "mudança". É preciso começar a discutir a fundo o que significa esta contradição entre desejo e voto, e o que ela anuncia para a nossa política.

Há partidos que nascem para governar. Foi o caso do PSDB, fundado em 1988 como uma dissidência do PMDB. Reunia políticos tarimbados e intelectuais competentes, cujo acesso ao poder tinha sido bloqueado por duas décadas de ditadura e que se sentiram sem muito lugar nos primeiros anos da democracia, quando o PMDB fisiológico prevaleceu sobre o ideológico. "Muito cacique e pouco índio", dizia-se dos tucanos, que realmente tinham mais líderes que militantes. Em apenas seis anos, chegavam à presidência da República: não por acaso, FHC era um intelectual convertido em político, não um político de origem. Os tucanos eram os mais "insiders" dos "outsiders", os mais qualificados para governar.

Partidos que nascem para governar sabem exatamente o que fazer. São ou se consideram "the best and the brightest". Têm o diagnóstico exato dos problemas e das soluções. Constituem-se como uma força de intervenção rápida; se o Brasil estava na UTI, que partido poderíamos esperar de melhor? Olhando retroativamente, Collor foi a caricatura, prévia, do futuro governo PSDB: o golpe certeiro de judô que abateria a inflação, o voluntarismo do presidente jovem, tudo isso virou piada perto da sofisticação do Plano Real. Collor revelou seu plano na surpresa; já o Real foi sendo exposto, votado, digerido ao longo de mais de seis meses. Collor marqueteou a juventude, FHC o saber e sabedoria. Mas o PSDB não foi muito além disso; passados 20 anos, ainda se apresenta como o partido do Plano Real e das privatizações - isso num país que não mais teme a hiperinflação e no qual seria anátema privatizar Petrobras, Correios, Caixa e Banco do Brasil. Os tucanos mudaram o país porque queriam governar. Hoje, não está claro que mudança propõem, além da economia, que para a maioria é uma ciência incompreendida.

O PT foi nosso grande partido para mudar. A prova dos nove para os que querem mesmo mudar é: entre chegar ao poder abrindo mão de princípios essenciais e preferir a derrota, o que você faz? A segunda opção é árdua, mas o PT a tomou várias vezes. Reunia grupos os mais variados, descontentes com o statu quo, que tinham em comum uma preocupação ética e política com a injustiça social (O PSDB também lutou contra as injustiças, mas tinha soluções prontas para elas; o PT explorava alternativas, não fechava rápido as decisões). Para chegar ao poder, fez mil ensaios e erros de suas propostas, em campanhas e eleições. (O PSDB, querendo o eficaz, querendo-o logo, não ia tão longe na discussão do que é justo). Daí, claro, o maior radicalismo, a maior ambição do PT.

Quem, hoje, é partido para governar, quem para mudar? Para mudar, hoje temos meio partido, que poderá tornar-se inteiro nos próximos anos: a Rede Sustentabilidade. Repete características do PT. Tem forte ingrediente ético. Parece ter militantes ou ativistas não pagos, o que foi um distintivo petista. E, claro, tem diferenças internas. Contudo, se a preocupação social não está fora de seu horizonte, ela não é sua prioridade. A Rede nasce da defesa do meio-ambiente. Seus líderes não têm, ou não têm mais, o foco na injustiça social. Sua plataforma não é de classe, mas da vida - enquanto "zoe", a vida animal, mais do que "bios", a vida humana. E da defesa da natureza a Rede foi caminhando para um foco mais largo, e também mais vago: o sustentável. Esse adjetivo tem vários sentidos, inclusive o da sustentabilidade dos negócios (É este salto da vida natural para o econômico que a faz perder um tanto de vista o social). Mas, em que pese esse salto, hoje é o partido mais disposto a abrir agendas de discussão novas e a introduzir algum idealismo na política. Digo "algum" porque nunca fica claro o bastante qual o seu vínculo com o mundo empresarial. De todo modo, é o elemento inovador em nosso quadro político.

Mas resulta difícil, tantos meses depois de sua ligação ao PSB, entender como a união dos dois faz sentido, para além da eleição de outubro. Nenhum dos traços que acima expus se aplica aos pessebistas. Aliás, nem mesmo dá para chamar de "socialistas" os membros do PSB, exceto Roberto Amaral e poucos outros. Em resumo, a Rede parece um PT ainda fraco, como era nos anos 80, mas com uma pressa tucana de chegar ao poder e implantar o que possa de sua agenda. Há algo surpreendente na Rede: Marina teve uma votação enorme em 2010, como Lula em 1989, o partido é idealista, como era o PT - mas ela e o partido se aliaram a um candidato e um partido bem menos inovadores. A Rede é o braço que quer mudar, o PSB o braço que quer a presidência (mas sem ter a enorme aptidão dos quadros tucanos de 1994). Será frutífera esta união? Dará para somar, assim, o idealismo da Rede e o utilitarismo do PSB? Se funcionar, muito bem. 

Pessoalmente, penso que, para mudar, é melhor aguentar uma longa travessia do deserto. Ela aprofunda e amadurece. Mas nosso propósito é apenas analisar, não é ditar soluções. O Brasil precisa de partidos para governá-lo, mas também para mudá-lo - e este segundo lugar está mais ou menos vago, desde que o PT, no governo, teve de fazer, também ele, Realpolitik.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

José de Souza Martins: Plano empurrador

• Deslocar pobres para o meio de ricos ou vice-versa apenas desdobra a ideologia oficial do progresso social aparente

- Aliás / O Estado de S. Paulo

Só daqui a dez anos saberemos em que o Plano Diretor agora aprovado beneficia ou não a cidade de São Paulo. Será quando um novo Plano Diretor estiver sendo votado. Não houve interesse na avaliação dos resultados da execução do plano anterior, tanto nos efeitos positivos quanto nos negativos e no descumprido. Isso permitiria identificar os pontos de fragilidade na ação administrativa do município na questão fundiária urbana.

O estado de felicidade de muitos manifestantes, com a aprovação do plano pela Câmara Municipal, parece irrealista em face do tormentoso percurso que vai do grito pela casa própria até o finalmente de estar morando na própria casa. Há anos de distância entre um momento e outro. A começar de que casa própria para os que dela carecem não é a única nem a principal meta do plano. Um dos vários tormentos para chegar às metas dos grupos populares de pressão é o do conflito de interesses sociais que há no plano. Sua aprovação não abrandará reivindicações que colidem com o que foi aprovado nem resolverá conflitos no interior do que é a própria concepção de interesse social nas demandas e carências em confronto. De certo modo, o grito dos pobres é uma anomalia na definição de um plano cuja função é, basicamente, ordenar e regulamentar o uso do solo urbano. Várias das propostas encaminhadas aos vereadores por diferentes grupos que, supostamente, falam em nome da sociedade civil são mais discursos abstratos sobre valores sociais do que propriamente expressões de uma consciência dos caminhos da revolução urbana necessária e possível.

Uma indicação do conflito entre os projetos históricos opostos para São Paulo contidos no plano foi o discurso do prefeito à multidão do MTST sobre a redução da área de um parque cuja criação ele próprio decretara. Aquele que seria construído onde se instalaram as 8 mil famílias da ocupação Nova Palestina, na zona sul. É um indicativo de que o interesse social representado pela proteção às áreas de proteção ambiental se torna vulnerável e secundário em face de pressões organizadas, de maior poder eleitoral, que, mesmo sendo feitas em nome do direito dos pobres à moradia, são interesses de uma variante problemática da propriedade privada. Social apenas no ajuntamento da mobilização, diferente do social permanente e de todos, também dos pobres, envolvido na questão ambiental. Não se trata de escolher, mas esse Plano Diretor mais glamoriza do que resolve a questão da pobreza. Ele a adia mais uma vez, ao mesmo tempo que complica a questão ambiental.

Basicamente, um plano diretor visa a assegurar medidas de governo e restrições de uso da terra para dar cara de cidade a uma cidade. A cidade não é uma ocupação, é uma construção, a formatação de uma estética da vida. O que é particularmente interessante num lugar como São Paulo, que ainda tem restos da cidade que São Paulo já foi, antecipações da cidade que São Paulo quer ser e manchas da São Paulo que a cidade abomina. Na proposição, debate, modificação e definição do Plano Diretor aprovado essas três cidades brigaram entre si e continuarão brigando. Faltou aos que decidem e aos que berram a consciência do urbano como diversidade e pluralidade.

Os conflitos do plano são os que resultam da equivocada suposição de que o urbano é justo quando obriga e reduz ao linear das semelhanças. O urbano só é urbano quando abrigo das diferenças e da diferenciação, da desarmonia dodecafônica do plural, sinfonia pós-moderna de todos e não só de alguns. Empurrar os pobres para o meio dos ricos ou os ricos para o meio dos pobres apenas desdobra a ideologia oficial do progresso social na aparência. O plano, que deveria ser um plano de ocupação e uso do solo, pretende ser, também, um plano de reforma social, por meio de uma redistribuição espacial das classes e estratos sociais. Cria a ideia da coabitação das classes, como sucedâneo fictício de transformação social. Transforma a habitação pobre em habitação de pobre.

O principal fantasma de todo plano diretor urbano é a renda fundiária, a mediação sem controle da especulação imobiliária. De cara já há estimativas de uma elevação substancial de preço dos apartamentos atuais que dispõem de duas ou mais garagens. De uma penada, a simples assinatura da lei do plano encherá o bolso dos já proprietários com a renda diferencial decorrente do privilégio de terem mais do que a nova lei permite. Na mesma régua, pode-se prever que acontecerá na cidade o que já acontece no programa de reforma agrária. Os beneficiados pelas habitações sociais em enclaves de classes sociais mais altas serão assediados por compradores que não resistirão à tentação de comprar apartamentos baratos em bairros ricos, no espaço de outra classe social, a moldura do quadro e não o quadro. É pouco provável que os destinatários dessa tímida reforma urbana resistam à tentação de transformar em moeda sonante a renda diferencial invisível da habitação fora do lugar.

*José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, de A sociologia como aventura (Contexto)

Paulo Brossard: Coisas da Copa

- Zero Hora (RS)

Neymar, a grande figura da Seleção Brasileira n a C opa do Mundo, sofreu uma fratura da terceira vértebra lombar, em consequência de joelhaço que o atingiu por parte de um lateral da Colômbia. A brutalidade foi documentada no início, meio e fim, uma vez que reproduzida pela generalidade dos meios de comunicação, nacionais e estrangeiros, de forma que a ocorrência e o modo como ela ocorreu foram fartamente difundidos.

Embora não seja possuidor da paixão pelo futebol, não ignoro que há normas cogentes a disciplinar a lisura da ação esportiva; é pacífico que a agressão em campo é incompatível com elas. Ora, em várias disputas eu vi, com os meus olhos, cenas nada esportivas e inequivocamente violentas em meio à paralela leniência dos juízes. E isso na Copa do Mundo. Vê-se que o resultado se tornou público no lamentável caso de que foi vítima Neymar, que pode não ter sido de alta ou perene gravidade, mas que o tirou do campo, privando a Seleção Brasileira por algum tempo de personagem de marcada primazia, exatamente no momento crucial das finais.

Admitir como lícita a agressão capaz de gerar impedimento efetivo de esportista por algum tempo, dias, semanas, ou até meses, seria legitimar a violência mais ostensiva, com a agravante de ter ocorrido perante os olhos do mundo. Enfim, não perdeu a atualidade a sentença castelhana, segundo a qual "Al valiente no quite el cortés".

Sem prejuízo dessa mácula, é de ser considerada bem-sucedida a copa mundial realizada entre nós. Pode-se dizer, sem exagero, que os êxitos já verificados garantem o bom sucesso da iniciativa, a qual altera de tal modo a vida nacional de forma a permanecerem todos, brasileiros e estrangeiros sem conta, sob o império da Copa, como se submetidos ao fascínio do futebol, convertido na secular lei da terra.

Contudo, é de lastimar o fato, inegável e notório, da coincidente estagnação nacional, consórcio da inflação com a paralisação econômica, e que não é segredo para ninguém, quando se reconhece e se afirma que a indústria está em crise, ainda que o setor agroindustrial, tantas vezes injuriado, venha respondendo pelo alívio ainda visível do conjunto.

A partir da festa final no próximo domingo, não será surpresa se os incômodos de certa forma afastados e momentaneamente quase esquecidos voltarem a ocupar as preocupações do cotidiano, recolocados no proscênio dos acontecimentos. Não me sinto à vontade para indicá-los e me limito a aludir ao que me parece poderá ocorrer nessa fase.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Carlos Alberto Di Franco: Ataque à mídia

• Para Lula, um político que deve muito à liberdade de de expressão, imprensa boa é a que fala bem

- Globo

Depois de o ex-presidente Lula, armado de notável irresponsabilidade, ter proclamado que o inaceitável episódio das ofensas dirigidas a Dilma Rousseff no jogo da abertura da Copa do Mundo foi obra da elite, seu braço-direito e companheiro de longa data, ministro Gilberto Carvalho, manifestou opinião divergente.

“Lá no Itaquerão não tinha só elite branca, não! (…) Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha a ver com elite branca.” Divergência só aparente. O denominador comum revela a estratégia. “A coisa desceu! Tá? (…) esse cacete diário de que não enfrentamos a corrupção, que aparelhamos o Estado, que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou! Na classe média, na elite da classe média e vai gotejando, vai descendo! (...) Essa eleição agora vai ser a mais difícil de todas.”

Não foi uma autocrítica, nem um reconhecimento claro dos equívocos. Foi a tática da vitimização e, ao mesmo tempo, a busca de um bode expiatório. A culpa é da “mídia conservadora e hegemônica”. Trata-se, desesperadamente, de construir uma narrativa que sirva para desviar a atenção dos problemas concretos. 

Da economia que range. Da inflação que se percebe em cada nova compra. Da falta de saúde que grita nos corredores dos hospitais públicos. Da péssima educação que gera frustração enfurecida nos jovens. Da corrupção que se torna patente em cada novo capítulo da novela da Petrobras.

Lula manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa independente. Seus sucessivos e reiterados ataques à mídia, balanceados com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder a verdadeira face dos que, mesmo legitimados pela força do processo eleitoral, querem tudo, menos democracia. Para Lula, um político que deve muito à liberdade de imprensa e de expressão, imprensa boa é a que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda e deve ser extirpado.

 Preocupa, e muito, o entusiasmo de Lula, da presidente Dilma e de seu partido com modelos políticos capitaneados por caudilhos. Cuba e Venezuela, ditaduras cruéis e antediluvianas, são o modelo concreto da utopia petista.

A fórmula Lulinha e Dilminha paz e amor acabou. Agora, com o Estado aparelhado, o Congresso ameaçado pelo decreto de Dilma que inaugura a governança via conselhos, obviamente controlados pelo governo, e a imprensa fustigada, o lulismo mostra sua verdadeira cara: o rosto do caudilhismo.

O jornalismo não deve cair na armadilha da radicalização, mas fomentar a discussão das políticas públicas. Vamos romper a embalagem do marketing político e da propaganda avassaladora. Vamos contrastar o discurso oficial com a realidade concreta. Os protestos crescentes, alguns francamente impróprios e deselegantes, enviam recados muito claros: o povo flagra a mentira no emagrecimento do seu poder de compra, nas filas do SUS, na frustração de uma educação que não forma gente preparada para a vida. A sociedade está perfilando a verdadeira e correta agenda eleitoral.

Carlos Alberto Di Franco é diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais