- Zero Hora (RS)
Neymar, a grande figura da Seleção Brasileira n a C opa do Mundo, sofreu uma fratura da terceira vértebra lombar, em consequência de joelhaço que o atingiu por parte de um lateral da Colômbia. A brutalidade foi documentada no início, meio e fim, uma vez que reproduzida pela generalidade dos meios de comunicação, nacionais e estrangeiros, de forma que a ocorrência e o modo como ela ocorreu foram fartamente difundidos.
Embora não seja possuidor da paixão pelo futebol, não ignoro que há normas cogentes a disciplinar a lisura da ação esportiva; é pacífico que a agressão em campo é incompatível com elas. Ora, em várias disputas eu vi, com os meus olhos, cenas nada esportivas e inequivocamente violentas em meio à paralela leniência dos juízes. E isso na Copa do Mundo. Vê-se que o resultado se tornou público no lamentável caso de que foi vítima Neymar, que pode não ter sido de alta ou perene gravidade, mas que o tirou do campo, privando a Seleção Brasileira por algum tempo de personagem de marcada primazia, exatamente no momento crucial das finais.
Admitir como lícita a agressão capaz de gerar impedimento efetivo de esportista por algum tempo, dias, semanas, ou até meses, seria legitimar a violência mais ostensiva, com a agravante de ter ocorrido perante os olhos do mundo. Enfim, não perdeu a atualidade a sentença castelhana, segundo a qual "Al valiente no quite el cortés".
Sem prejuízo dessa mácula, é de ser considerada bem-sucedida a copa mundial realizada entre nós. Pode-se dizer, sem exagero, que os êxitos já verificados garantem o bom sucesso da iniciativa, a qual altera de tal modo a vida nacional de forma a permanecerem todos, brasileiros e estrangeiros sem conta, sob o império da Copa, como se submetidos ao fascínio do futebol, convertido na secular lei da terra.
Contudo, é de lastimar o fato, inegável e notório, da coincidente estagnação nacional, consórcio da inflação com a paralisação econômica, e que não é segredo para ninguém, quando se reconhece e se afirma que a indústria está em crise, ainda que o setor agroindustrial, tantas vezes injuriado, venha respondendo pelo alívio ainda visível do conjunto.
A partir da festa final no próximo domingo, não será surpresa se os incômodos de certa forma afastados e momentaneamente quase esquecidos voltarem a ocupar as preocupações do cotidiano, recolocados no proscênio dos acontecimentos. Não me sinto à vontade para indicá-los e me limito a aludir ao que me parece poderá ocorrer nessa fase.
*Jurista, ministro aposentado do STF
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