• Principais candidatos à Presidência da República dão largada à campanha ainda em ritmo lento. Aécio Neves e Eduardo Campos têm agendas rápidas em São Paulo e no Distrito Federal, enquanto Dilma Roussef inaugura site oficial à reeleição
Paulo de Tarso Lyra, Naira Trindade – Correio Braziliense
Atrás nas pesquisas eleitorais e com menos tempo de televisão que a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, os dois principais candidatos de oposição aproveitaram o primeiro dia de campanha oficial para sair à rua. Enquanto Eduardo Campos (PSB) esteve em Brasília, Aécio Neves (PSDB) escolheu São Paulo. Dilma decidiu permanecer no Palácio da Alvorada, mas o PT lançou o site oficial de campanha (leia matéria na página ao lado). Aécio e Eduardo atacaram o governo federal em suas agendas, mas com discursos diferentes. O tucano optou por questionar o discurso político atrelado à Copa do Mundo, acrescentando que a população está madura para saber a diferença entre o evento e as eleições.
Já Campos mirou na inflação e nas falhas do governo federal na área de educação. A escolha dos palcos para o início da campanha também foi estratégica. São Paulo, além de maior colégio eleitoral, é uma cidadela dos tucanos há duas décadas e também rende vitórias ao PSDB no plano nacional. Já o Distrito Federal foi o único local em que Marina Silva — vice de Eduardo Campos — venceu nas eleições presidenciais de 2010. Os socialistas acreditam que, atrelando a imagem de ambos, conseguirão subir nas pesquisas de intenção de voto.
Sobre Copa e política
Em seu primeiro ato depois do início oficial da campanha, o candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), afirmou ontem, em São Paulo, que pretende assistir ao jogo de amanhã em Belo Horizonte, mas critica quem tenta associar Copa do Mundo e política. "Alguns acham que podem confundir Copa do Mundo com eleição. O brasileiro está suficientemente maduro e consciente para perceber que são coisas absolutamente diferentes", criticou o tucano.
Aécio busca um antídoto ao discurso oficial da campanha de Dilma Rousseff (PT), que usa o êxito da Copa do Mundo para responder àqueles que, antes do Mundial, afirmavam que os jogos provocariam um caos aéreo, na mobilidade urbana e uma explosão de violência por conta das manifestações de rua. "Vejo uma tentativa de uma certa apropriação desses eventos para o campo político. Vamos debater em qualquer campo todas as nossas propostas. A campanha eleitoral para mim não é uma guerra, é uma oportunidade de nós apresentarmos as nossas propostas. Vamos fazer isso com transparência", prometeu o senador mineiro.
A escolha de Aécio por São Paulo para iniciar a campanha presidencial não é fruto do acaso. Principal colégio eleitoral do país, o estado tem dado sucessivas vitórias aos tucanos sobre os petistas durante as últimas corridas presidenciais. Em 2010, como mostrou o Correio na edição do último sábado, o êxito foi apertado — apenas três pontos percentuais separaram José Serra (PSDB) e Dilma.
Este ano, o staff de campanha tucana espera um resultado mais folgado. Para isso, Aécio convidou o senador Aloysio Nunes Ferreira para ser o vice e articulou para que o ex-governador José Serra concorresse ao Senado na chapa do governador paulista Geraldo Alckmin, candidato à reeleição.
"Começamos aqui com o pé direito, ao lado do grande governador Geraldo Alckmin, que vai governar São Paulo por mais quatro anos. Ao lado do companheiro José Serra, ao lado do companheiro Aloysio Nunes, o meu companheiro de chapa", enumerou Aécio.
O presidenciável visitou ontem, com seus aliados, o 17º Festival do Japão e aproveitou para pintar um olho do bonequinho da sorte, espécie de talismã da cultura japonesa. "Espero, daqui a três meses, estar pintando outro olho [referindo-se ao boneco da sorte]." Aécio defendeu um debate de alto nível durante a campanha.
"Vamos fazer uma campanha decente, propositiva e de alto nível, acreditando na capacidade das pessoas de discernirem aquilo que é correto e aquilo que não é. A nossa melhor companhia durante esta campanha é a verdade", disse ele. Não faltaram também afagos aos japoneses, já que São Paulo é a maior comunidade nipônica fora do Japão. "A cultura japonesa está enraizada na nossa. São seis gerações de japoneses e descendentes, que vêm ajudando o Brasil a ser o que é hoje, seja no agronegócio, na indústria e nos seus valores", elogiou. (PTL)
"O brasileiro está suficientemente maduro e consciente para perceber que são coisas absolutamente diferentes (Copa e eleição)"
Aécio Neves (PSDB), candidato à Presidência
Propostas contra o descaso
A comunidade Sol Nascente, em Ceilândia, serviu de ponto de partida para o presidenciável Eduardo Campos (PSB), ao lado da vice, Marina Silva, iniciar ontem a disputa eleitoral. Atacando o descontrole da inflação e a ausência de políticas públicas para regiões carentes, o pernambucano disse que o PT deveria ter "humildade de admitir que fracassou" e "nem disputar as eleições", após o corpo a corpo com moradores e comerciantes na caminhada pela terra vermelha de Ceilândia.
Para Campos, a situação do Sol Nascente reforça as diretrizes do programa de governo do PSB. "Aqui, fica muito claro que a prioridade anunciada por nós, quando botamos o foco na educação integral, é, sem sombra de dúvida, a prioridade de toda a sociedade", frisou. "O Brasil tem jeito. O povo brasileiro vai entrar em campo, tirar essas velhas raposas da política e fazer com que o Brasil oficial venha para junto do Brasil real", disse Eduardo ao comentar sua expectativa e a de Marina com a disputa eleitoral. Marina reforçou o discurso de seu parceiro de chapa. "Brasília é o ponto de partida de nossa caminhada e haverá de ser o ponto de chegada".
Eduardo retomou uma figura que foi adotada por Lula em 2002. "Queremos basear a nossa campanha numa carta dos brasileiros. Aqui, temos um retrato dos brasileiros. A ausência de urbanização numa cidade a poucos metros de Brasília, que precisa de ajuda do poder público para poder viver melhor", completou a vice. No primeiro ato oficial, Marina Silva contou com o reconhecimento de pessoas na rua — em 2010, a então candidata verde venceu no DF, com 41,96% dos votos.
Em meio a pouco mais de 100 pessoas, Campos e Marina ouviram cobranças e reclamações. "O pessoal foi unânime ao dizer que estava indo à feira buscar os mesmos produtos e sentiu que o dinheiro que levava não dava para comprar a mesma quantidade", relatou. "Tudo que nós não precisamos no Brasil é descuidar da inflação, e esse governo descuidou da inflação. Temos que conter a inflação, que corrói o recurso e a renda, sobretudo, dos mais pobres", criticou.
De acordo com Marina, o contato com os moradores evidenciou que "a comunidade tem a necessidade de mostrar que ela sobrevive a partir de seus próprios esforços e que, se tiver a ajuda do poder público, a sua vida pode melhorar. O programa de governo que Eduardo Campos e eu defendemos é resultado da escuta dedicada à sociedade brasileira, para tratar de forma integrada os problemas que afligem as pessoas — educação, saúde e segurança". "Nosso programa será uma carta dos brasileiros, não uma carta para os brasileiros", completou. No início da noite, Campos lançou o site oficial de campanha, com a publicação de um discurso dividido com Marina Silva. (NT)
"(O PT) não deveria nem disputar a eleição. Deveria ter a humildade de dizer: "olha, eu fracassei""
Eduardo Campos (PSB), candidato à Presidência
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