Natuza Nery – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A menos de 40 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, esgoto a céu a aberto. Foi lá, em Sol Nascente, comunidade que disputa com a Rocinha o título de maior favela da América Latina, que o presidenciável Eduardo Campos (PSB) iniciou sua campanha eleitoral.
Também neste domingo, o tucano Aécio Nevesvisitou uma exposição em São Paulo e disse que governo faz uso político da Copa. A presidente Dilma não saiu às ruas, mas inaugurou o site de sua campanha.
Ao lado da vice, Marina Silva, Campos concedeu uma entrevista a jornalistas sobre um amontoado de lixo na via central do bairro.
"Este buraco está tão grande que tem de perguntar onde está a pista", indagou Campos à Folha, desviando da vasta poça de lama no meio da rua.
Em seguida, alfinetou o PT, seu novo adversário.
"Não se pode admitir que, a 35 quilômetros do Palácio do Planalto, no Distrito Federal –governado pelo mesmo partido [que o governo federal]–, você ande em uma comunidade que sequer tem o lixo retirado das ruas. Não deveriam nem disputar a eleição, deveriam ter a humildade de dizer que fracassaram", disse Campos, referindo-se ao PT.
Na lista de queixas dos moradores, uma repetição quase unânime: violência, falta de saneamento básico e alimento caro.
"Ela comprava sacos de batata a R$ 50. Agora, diz que custam R$ 70", comentou Campos com Marina, referindo-se a Maria do Carmo Pereira Pinto, 44, dona de uma barraquinha de verduras.
À Folha, Maria do Carmo disse ter sido eleitora de Marina Silva em 2010, mas, até poucos minutos antes de falar com Eduardo Campos, não fazia ideia de quem era o presidenciável.
A ambulante sintetiza o alto desconhecimento do pernambucano junto ao eleitorado nacional, daí o esforço de usar a popularidade de sua parceira de chapa como passaporte eleitoral. Há quatro anos, Marina Silva alcançou 20 milhões de votos.
Sol Nascente é uma espécie de "lado B" da capital federal. Quem não conhece, vai logo rememorando trechos da música "Faroeste Caboclo", da banda Legião Urbana. Uma inevitável associação quando se depara com as ruas, casas e comércio local com a cor vermelha de terra.
"A matança de gente aqui é grande", disse Isabel Pereira, 63, que vende roupas novas e usadas sobre um carro de tração. Dona Isabel logo pergunta à reportagem se "o pessoal que vem aí é o que vai acabar com o Bolsa Família". Depois, mostra-se insatisfeita com a presidente Dilma Rousseff, mas sem saber explicar direito a razão.
"Lula deixou umas coisas assinadas que ela não fez."
A seu lado, a também ambulante Taís Estéfani, 20, votará pela primeira vez para presidente em outubro.
"Se Marina fosse candidata, votava nela. Agora ela é vice, não é a mesma coisa."
A vendedora de cremes e perfumes elogiou o ex-presidente Lula, mas disse não ter prestado muita atenção nele porque não votou nas eleições passadas e por, segundo ela, ser muito jovem.
"Parece que ele foi bom, mas é meio antigo, né?", indagou.
Próximos ao local que Campos e Marina visitaram neste domingo, o grande número de igrejas evangélicas rivalizava com os diversos salões de beleza.
Na frente de uma casa simples com a placa "Igreja Evangélica Abençoando as Nações", o evangelizador Antônio Amilton, 42, contou que irá aguardar a orientação do bispo para decidir como votar. "Falei com meus irmãos aqui agora: vocês têm que votar em pessoas que tenham, no mínimo, temor a Deus."
Quase na metade da visita, um assessor chamou Campos para entrar em um mercadinho. A sugestão foi prontamente recusada.
"Não, supermercado não dá certo, não. O dono fica logo apavorado com esse tanto de gente tentando entrar", explicou.
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