- Valor Econômico
Geraldo Alckmin avança e Lula pode sair só em 2019
A pesquisa semanal da corretora XP informa que Geraldo Alckmin avançou, entrou na faixa dos dois dígitos e botou a ponta do pé no segundo turno. Uma grande notícia para o pré-candidato do PSDB, que parecia empacado, mas não tanto quanto outras que circulam nos bastidores do Judiciário e podem complicar de vez a situação do PT: a primeira diz que Lula só deve sair da prisão em 2019, depois da eleição, portanto, já com um novo presidente no Planalto; e a tendência dos tribunais - diz a segunda - é manter a proibição de o ex-presidente fazer campanha e gravar programas eleitorais na prisão.
Sem a montaria de Lula, a tendência do candidato do PT é perder competitividade e o lugar no segundo turno que parecia certo, tendo em vista a liderança do ex-presidente nas pesquisas. A última rodada da XP estima que Fernando Haddad, o nome mais provável se Lula não for o candidato, salta de 2% para 12% já na largada, quando é apresentado como o candidato do ex-presidente da República, preso há três meses em Curitiba, onde cumpre pena pelo crime de corrupção passiva.
Acurado analista da cena política de Brasília, o professor David Fleischer tem suas dúvidas. Em sua opinião o PT terá mais dificuldades do que deixa aparentar para colocar um nome no segundo turno da eleição, especialmente se for levado a fazer uma "campanha boca-a-boca", como anunciam seus dirigentes (na realidade, o PT vai recorrer até as últimas instâncias para ter a imagem e a voz de Lula na TV, se não para eleger o avatar de Lula, ao menos para assegurar suas bancadas no Congresso).
O cálculo de Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), vai além da questão de transferência de votos. Noves fora as denúncias de corrupção, o PT está mal também em suas posições eleitorais. Em geral um partido que elege mais prefeitos na eleição municipal vai bem dois anos mais tarde nas eleições parlamentares. E vice-versa. Em 2016, o PT elegeu menos da metade dos prefeitos que fez em 2012. Mantida a regra pode perder até 30 deputados na eleição. A tendência no Senado também é decrescente. Com problemas para se reeleger, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, vai se candidatar à Câmara dos Deputados, mesmo caminho que deve ser trilhado por Lindberg Farias, outra estrela do partido.
No PT já houve tentativas de refundação partidária, como aquela referida entre 2005 e 2006 por Tarso Genro. O programa de governo que Fernando Haddad, o virtual "representante" de Lula nas eleições, apresentou é um retrocesso em relação ao programa vencedor em 2002. Enquadramento da imprensa, do Judiciário, mudança das leis anticorrupção, entre outras capazes de provocar urticária à direita, como intervenção governamental em assuntos privados.
O programa do PT também prevê a convocação de uma assembleia constituinte, cujo poder é praticamente ilimitado.
Certo é que o PT não vai aceitar sem briga a decisão de impedir Lula de fazer campanha de dentro da cadeia. Algumas das justificativas apresentadas pela juíza de execuções de Curitiba, de fato, são de explicação difícil. Caso, por exemplo, de que a gravação dos programas vai perturbar o dia a dia da prisão. A mesma prisão já serviu de cenário até para uma série de televisão.
Os advogados do partido também estão em estado de alerta em relação a outra decisão: o PT quer indicar apenas o nome de Lula a presidente, na convenção do dia 5 de agosto, registrar a candidatura dia 15 e deixar para depois da escolha do candidato a vice pela Executiva Nacional do partido. O Ministério Público analisa a possibilidade de pautar a Justiça Eleitoral sobre a necessidade de a escolha ser simultânea. O deputado Jair Bolsonaro foi indicado candidato pelo PSL sem um vice escolhido, mas ainda está no prazo para apontar um companheiro de chapa.
Alckmin botou o pé no segundo turno porque conseguiu preencher o centro, o que muitos quiseram mas não conseguiram ocupar. Além disso, dispõe de uma máquina forte para trabalhar a seu favor, mesmo dividida. No DEM a perda estimada dos tucanos gira em torno dos 20% - a grande maioria deve fazer campanha para o candidato da aliança. O governador também conta com palanque forte em Minas Gerais, com a candidatura do senador Antonio Anastasia ao governo estadual, e mesmo em São Paulo, com todos os problemas de relacionamento com o ex-prefeito João Doria.
Por fim, mas não menos importantes, as pesquisas também detectaram uma mudança no humor do eleitorado em relação ao novo. Segundo dados divulgados ontem pela Ipsos, 50% dos brasileiros hoje prefere que o próximo presidente do país seja um político experiente. Em dezembro de 2017 a mesma pesquisa informava que só 39% queriam um político antigo no Palácio do Planalto. Na primeira quinzena de julho, "o desejo por um "outsider" caiu para 44%", informa a Ipsos.
Se Alckmin está com um pé e o PT em dificuldades para entrar, quem o professor Fleischer acha que disputa o segundo turno com o tucano? Tudo pode acontecer, inclusive nada, como diria o ex-senador Marco Maciel. "Ciro está com problemas de aliança, ninguém quer coligar com ele por causa da boca grande. Ele vai encolher. O Bolsonaro também, porque construiu sua candidatura em cima do discurso anti-Lula. A Marina Silva (Rede) pode crescer mais um pouco, mas eu duvido, porque ela é muito rígida, não quer coligar com ninguém".
Rejeitado pelo Centrão, Ciro Gomes sentiu o golpe. Sua força está no Nordeste, onde deve perder votos com a entrada do candidato de Lula. Um movimento natural de aproximação seria com Marina Silva, ideia com simpatizantes nos dois lados. Mas quem seria o cabeça de chapa? Bolsonaro também está isolado e perdeu muito com a impossibilidade de contar com o general Augusto Heleno, nome de prestígio das Forças Armadas, como candidato a vice. Alckmin subiu dois degraus, botou o pé no segundo turno, mas ainda tem mais chão pela frente que os outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário