domingo, 25 de maio de 2025

O acerto de Netanyahu com a Justiça – Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Até Trump já desistiu da ideia de desterrar palestinos defendida agora por Netanyahu

O premiê Binyamin Netanyahu admitiu em público pela primeira vez que pretende “colocar em prática o plano do presidente Donald Trump”, referindo-se a expulsar os palestinos da Faixa de Gaza. O próprio Trump já abandonou a ideia, ao constatar que nenhum país árabe aceitaria o desterro dos palestinos.

Em reunião fechada do gabinete, Netanyahu admitiu que a destruição das casas dos palestinos de Gaza é proposital, para tornar inviável sua permanência, segundo o jornal The Times of Israel. O bloqueio da entrada de ajuda humanitária e os bombardeios são parte da mesma estratégia.

Os ministros das Finanças, da Segurança Nacional e das Relações Exteriores defendem a expulsão dos palestinos e a anexação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, onde vivem desde a expansão árabe do século 7.

Os partidos desses três ministros somam 17 cadeiras no Parlamento, no qual Netanyahu tem maioria de apenas 8. Suas posições são impopulares em Israel. Segundo pesquisas, 70% dos israelenses querem o fim da guerra e a negociação para a libertação dos reféns.

Dos 251 capturados pelo Hamas em outubro de 2023, 140 foram libertados mediante negociações; ao menos 43 morreram como consequência dos ataques israelenses ou em operações de resgate fracassadas; e apenas 8 foram resgatados em operações militares. Os parentes e a opinião pública acusam o governo de priorizar a continuidade da guerra em vez da volta dos 60 reféns vivos e mortos.

O general e líder oposicionista Yair Golan advertiu que Israel arrisca tornar-se um Estado pária e acrescentou: “Um país saudável não faz guerra contra civis, não mata bebês como passatempo e não se engaja em deslocamento de população em massa”. Para o expremiê Ehud Olmert, os comentários de Golan refletem “o que muita gente pensa”.

GUERRA. Outro general e expremiê, Ehud Barak, escreveu em artigo no Financial Times que “um acordo significaria o retorno dos reféns restantes, o fim dos combates e da crise humanitária em Gaza e o início da reconstrução – oferecendo a Israel a chance de se integrar a uma nova arquitetura regional, com a normalização com a Arábia Saudita e a participação no corredor econômico ÍndiaOriente Médio-Europa.

Mas isso “ameaça a coalizão, abre espaço para nova pressão por uma comissão de inquérito sobre o 7 de outubro e pode acelerar o julgamento de Netanyahu por corrupção”, paralisado desde sua volta ao governo, conclui Barak. A guerra serve para adiar o encontro do premiê com a Justiça.

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