terça-feira, 15 de julho de 2025

Opinião do dia – Ulysses Guimarães*

“A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca.

Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério.

Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o Estatuto do Homem da Liberdade e da Democracia bradamos por imposição de sua honra.

Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. (Aplausos)

Amaldiçoamos a tirania aonde quer que ela desgrace homens e nações. Principalmente na América Latina.”

*Do discurso de Promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Tarifaço de Trump traz prejuízo a toda a economia

O Globo

Além do impacto imediato nos setores exportadores, dólar tende a subir pressionando inflação e juros

É difícil estimar o prejuízo para a economia brasileira do tarifaço de Donald Trump. O Brasil não é o único alvo da política comercial insana de Trump. Depois da primeira rodada de aumento em abril, ele reavivou a guerra tarifária enviando cartas ameaçando novas altas a países da Ásia, África, Europa e Américas. É impossível saber de antemão a tarifa final que cada país pagará ou a capacidade americana de dar conta da demanda interna. Ainda que não se confirme o aumento anunciado de 50% no caso do Brasil, uma coisa é certa: empresas e setores que dependem das exportações para os Estados Unidos têm mais a perder.

O setor industrial brasileiro é um dos mais vulneráveis. Os Estados Unidos são um dos principais mercados para produtos brasileiros de maior valor agregado. Como mostrou reportagem do GLOBO, as exportações de manufaturados bateram recorde no primeiro semestre e chegaram a US$ 16 bilhões, aumento de quase 9% na comparação com os primeiros seis meses do ano passado. Entre as empresas com forte presença no mercado americano estão Embraer (aviões), Weg (equipamentos elétricos), Suzano (papel e celulose), Tupy (metalurgia) e Alpargatas (calçados). No setor de commodities, os mais afetados são as indústrias petrolífera, metalúrgica e siderúrgica.

A íntegra da carta de Luiz Roberto Barroso, presidente do STF

Em 9 de julho último, foram anunciadas sanções que seriam aplicadas ao Brasil, por um tradicional parceiro comercial, fundadas em compreensão imprecisa dos fatos ocorridos no país nos últimos anos. Cabia ao Executivo e, particularmente, à Diplomacia – não ao Judiciário – conduzir as respostas políticas imediatas, ainda no calor dos acontecimentos. Passada a reação inicial, considero de meu dever, como chefe do Poder Judiciário, proceder à reconstituição serena dos fatos relevantes da história recente do Brasil e, sobretudo, da atuação do Supremo Tribunal Federal.

As diferentes visões de mundo nas sociedades abertas e democráticas fazem parte da vida e é bom que seja assim. Mas não dão a ninguém o direito de torcer a verdade ou negar fatos concretos que todos viram e viveram. A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. A oposição e a alternância no poder são da essência do regime. Porém, a vida ética deve ser vivida com valores, boa-fé e a busca sincera pela verdade. Para que cada um forme a sua própria opinião sobre o que é certo, justo e legítimo, segue uma descrição factual e objetiva da realidade.

Fator Trump: uma segunda chance para o governo Lula - Paulo Fábio Dantas Neto*

Tenho sentido, nos últimos dias, mais do que uma intensa simpatia, uma solidariedade autointeressada, como colunista, por esforços de análise que tentam abrir caminho para temas políticos de fundo, num momento em que se tem um fato que parece encerrar em si mesmo o poder de revogar o tempo e tudo o que ele vinha ensinando. O tarifaço que o presidente norte-americano ameaça impor ao Brasil é um fato espaçoso que, além de parecer ocupar todo o presente, parece também explicar o passado e prever o futuro. Ideias e personagens do nosso cotidiano político são relidos e reinterpretados com lentes de curto alcance, que o impacto instantâneo do acontecimento nos fornece. Todo e qualquer assunto antes importante torna-se irrelevante ou, no máximo, um tópico daquilo que supostamente mais interessa, isto é, o que acontecerá com a suposta disputa entre Lula e Bolsonaro depois do tarifaço de Trump. Quem dos dois ganha ou perde com ele tornou-se questão cuja resposta selaria a sorte do país.

Mas o conhecimento antecipado do resultado dessa contenda interessa a quem? Parte da parcela politizada do país (aquela parte que iguala politização e engajamento) assegura que o desfecho interessa a todos e de preferência, já. Mesmo que se argumente que Bolsonaro já está virtualmente fora da disputa, essa realidade não é admitida em público pelos engajados em qualquer dos polos. Num deles afirma-se a certeza de que será bolsonarista qualquer candidato da oposição e o outro lado segue crendo, como se viu claramente nos últimos dias, numa reabilitação espúria do seu líder para a disputa, através de uma ingerência infame de Trump.  Daí a convicção dos engajados de que o grande efeito do fator Trump é atuar diretamente sobre essa disputa da qual, ao fim e ao cabo, dependeria nosso futuro.

O patriotismo e a canalhice - Merval Pereira

 Globo

Nada justifica uma intervenção de Trump: chantagem barata na forma e cara nas consequências

É temerário afirmar em política que fulano está perdido ou que beltrano não tem mais chance de recuperar a popularidade. Faltando pouco mais de um ano para as eleições presidenciais, é difícil prever quem vencerá, ou até quais serão as alianças políticas. Mas o momento político não é nada bom para fulano e ajuda beltrano a se recuperar. No caso, fulano pode ser o ex-presidente Bolsonaro ou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Beltrano é, sem dúvida, Lula, que até há pouco tempo estava no desvio e hoje voltou à trilha principal.

Erros políticos crassos como os cometidos por Bolsonaro e seus filhos são previsíveis, mas reforçam a ideia de que são arrivistas políticos e se meteram em enrascada na tentativa de escalar alturas não compatíveis com seus talentos. Unir-se a Trump é uma jogada abusada, que foi além de suas capacidades. Intuir que a intervenção dele seria capaz de dobrar a espinha institucional brasileira, um erro crucial.

Tarifas e o teste das lideranças - Míriam Leitão

O Globo

Na hora das crises, os líderes se revelam. O governador de São Paulo tem errado desde o começo no caso das tarifas de Trump

A qualidade de uma liderança se vê na primeira reação, não naquela em que tenta consertar o estrago. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, num primeiro momento aprovou a ameaça feita por Donald Trump. Quando foram anunciadas as tarifas ele ficou em silêncio e só depois tem tentado corrigir. Ele governa o estado que terá o maior prejuízo com as tarifas de 50% imposta pelos Estados Unidos. As exportações brasileiras podem ficar inviáveis e isso afeta muito as indústrias, as empresas do agronegócio e os exportadores, muitos deles de São Paulo.

Quando Tarcísio colocou o boné ele já estava errando, porque a ideia de Trump (Make America Great Again) era crescer em detrimento dos outros países. Ele havia ameaçado guerra tributária e impor sua força, inclusive militar, contra outras nações. Um líder assumir o bordão do nacionalismo alheio é sempre ruim, mas quando nele se embute uma ameaça aos outros países, inclusive ao nosso, é ainda mais temerário.

Trump, tarifas e o Vale do Silício – Pedro Doria

O Globo

É irônico que alguns setores mais atingidos pelo tarifaço de Trump sejam os mais ligados ao financiamento do bolsonarismo

A carta do presidente Donald Trump anunciando tarifas de 50% para as exportações brasileiras tornou-se o principal assunto no país faz uma semana. Claro — o impacto já se faz sentir em inúmeros setores. Vendas já acertadas vêm sendo canceladas. Muito de nossa conversa vem se concentrando no primeiro parágrafo da explicação que Trump oferece para a decisão: ou a Justiça suspende o julgamento de Jair Bolsonaro ou as sanções virão. Mas falamos pouco do segundo parágrafo — a queixa, também dirigida ao STF, sobre decisões contra as grandes plataformas digitais.

Pressões de Trump não vão barrar o julgamento de Bolsonaro no Supremo - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ontem, o ex-presidente Bolsonaro recorreu, mais uma vez, à retórica de autovitimização. Em postagens nas redes sociais, denunciou um suposto “sistema podre” de perseguição e ameaças à sua vida

As tentativas de o ex-presidente norte-americano Donald Trump interferir nos assuntos internos do Brasil, por meio de declarações e medidas retaliatórias, como a imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras, não vão desviar, muito menos interromper, o curso das investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro e, sobretudo, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).

Apesar da grave crise diplomática e comercial provocada pela decisão de Trump, essas pressões não anulam os fundamentos constitucionais e jurídicos que orientam as decisões do Supremo. O processo contra Bolsonaro segue em conformidade com o devido processo legal, baseado em provas materiais, delações homologadas e evidências documentadas, como a famosa “minuta do golpe”, que ontem foi objeto de nova confirmação do ex-ajudante de ordens da Presidência tenente-coronel Mauro Cid.

Tríplice aliança pela reeleição tem contrapartida de Lula - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Reação interna de Lula para recompor forças passou por um encontro com Alexandre de Moraes

Donald Trump, Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas uniram-se para reeleger Lula, mas a atuação da tríplice aliança teve contrapartida nacional. O pacote da reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao tarifaço Brasil envolveu um freio de arrumação na sua relação com os Poderes que teve início algumas horas depois do anúncio do tarifaço de Trump.

Lula tratou de recompor o eixo depois do estranhamento provocado pela suspensão do decreto do IOF por Alexandre de Moraes. O ministro do Supremo Tribunal Federal foi recebido no Palácio do Alvorada, encontro sobre o qual nenhuma das partes se pronuncia.

Chegara aos ouvidos de Lula que sua opção pela ministra-substituta do TSE, Vera Lúcia Santana, para uma das duas vagas de titular em disputa, atendendo ao movimento negro, ao Prerrogativas e ao gabinete da primeira-dama, havia deixado o STF em polvorosa e o ministro Flávio Dino, ausente de Brasília na semana passada, particularmente preocupado.

Extorsão, azáfama, mendacidade... - Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

O mundo mostrará a Trump que a convivência internacional exige um mínimo de respeito a regras aplicáveis a todas as nações

Serão poucas – muito poucas, na verdade – as pessoas familiarizadas com o mundo diplomático e as modernas relações entre as nações em tempos de paz que já tenham visto algo tão rasteiro e vulgar como a carta que o presidente norteamericano, Donald Trump, pretendeu ter enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na verdade, a carta não foi endereçada por um chefe de governo a outro, como costuma ocorrer quando padrões de respeito são obedecidos. Foi postada por Trump em sua rede social, chamada Truth Social.

Centrão: pausa para pensar - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula sai das cordas, Bolsonaro se enrola nelas e o Centrão está de olho no ringue dessa briga

O Centrão, ou boa parte dele, vinha impondo derrotas para o governo e articulando a entrega de ministérios até setembro, para cerrar fileiras com o bolsonarismo a um ano da eleição presidencial, mas estancou o movimento diante do sucesso da campanha “pobres contra ricos” e agora, com os ataques de Donald Trump, em vez de marchar contra o governo, recolhe as armas, faz meia-volta volver e entra na onda de defesa da soberania nacional.

Depois de momentos graves e humilhações no Congresso, Lula tem expectativa de resgatar pontos nas pesquisas e começa a recuperar condições de governabilidade – ou seja, o diálogo e as negociações com Câmara e Senado. Como se sabe, o Centrão ora vai para um lado, ora para outro, e acaba de ser empurrado por Trump para Lula, querendo distância prudente de Jair Bolsonaro.

Lá em Madureira - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Antes e acima de tudo, a sanção anunciada por Trump será ruim para o Brasil. É o que importa. O cronista se desculpa pela obviedade. Se afinal materializada, péssima para a produção brasileira e o emprego no País. Medida divulgada em carta que tem fundamento comercial falso, evidência de descompromisso com os fatos. Urge que os adultos se apresentem.

Perde-se tempo dando centralidade ao secundário – o custo do tarifaço para Bolsonaro, donde o quanto beneficiaria Lula. São exercícios prematuros. Falar de 2026, à luz de impulsos trumpistas, é tentador e inútil. Há ainda longo mar, desconhecidas as ondas, a atravessar, uma eternidade em termos de condicionamento do eleitor. Nenhum dos dois navega em maré favorável.

É o fim do bolsonarismo moderado? - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Ou adere-se ao clamor pela supressão do nosso Judiciário em subserviência aos EUA ou rompe-se com Bolsonaro

Um nome de direita pode chegar ao segundo turno das eleições de 2026 sem o apoio de Bolsonaro? Por mais que isso me entristeça, sou obrigado a admitir: "provavelmente não". A não ser que uma revolução do sentimento popular ocorra, o candidato que disputará o segundo turno com Lula será aquele ungido por Bolsonaro.

É claro que o melhor para o Brasil é ter uma direita democrática e que rejeite o bolsonarismo. A criação dessa direita, contudo, é um trabalho de mais longo prazo. No horizonte previsível, o ex-capitão segue incontornável em 2026.

Para o Brasil —e sem expressar aqui preferência por qualquer lado que seja—, seria muito importante que o candidato de direita em 2026 não reproduza as condutas antidemocráticas de Bolsonaro em 2022, o mais grave ataque à nossa democracia na Nova República.

Moraes defendeu resposta rápida contra Trump - Mônica Bergamo

Folha de S. Paulo

Magistrados da Corte preferiam deixar a reação à crise nas mãos de Lula

O ministro Alexandre de Moraes defendeu internamente que o Supremo Tribunal Federal (STF) desse uma resposta rápida e firme aos ataques de Donald Trump ao Judiciário brasileiro.

Outros magistrados achavam melhor que a Corte deixasse a condução da crise exclusivamente com Lula e com o Itamaraty.

Eles entendiam que o ataque de Trump não se restringia ao STF, mas a todo o país: além de citar o que define como "caça às bruxas" sofrida por Jair Bolsonaro na Justiça, o presidente norte-americano invocou razões econômicas para aplicar ao Brasil uma sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros vendidos nos EUA.

Cadê o slogan 'Brasil acima de tudo'?- Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Defesa do tarifaço prova que o slogan 'Brasil acima de tudo' era mais uma mentira

As duas frases, citadas nem sempre ao pé da letra, se tornaram virais e, coisa rara, o crédito dos autores é respeitado, embora às vezes surja um H a mais no nome do semiólogo italiano. "O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade" —Umberto Eco. "Os idiotas vão dominar o mundo"— Nelson Rodrigues.

A de Eco se confirma a cada checada no dispositivo do celular. A de Nelson, escrita antes do advento da internet, é ainda mais abrangente, pois mira o mundo real, a vida como ela é, na figura do burro sublimado pela própria ignorância, que se entrega ao rebanho de ódio e frustração das redes.

Sorte de Lula volta a atacar - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Tarifaço de Trump pode ajudar petista numa campanha de reeleição que se desenhava como desafiadora

A proverbial sorte de Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar. O cenário que se desenhava para sua reeleição em 2026 era desafiador. A popularidade da administração vinha em queda e não se via no horizonte nenhum projeto que poderia converter-se em marca eleitoral muito poderosa.

Não dava, é claro, para considerar Lula carta fora do baralho. Incumbentes, salvo raras exceções, costumam ser candidatos pelo menos competitivos. A situação do petista, contudo, estava longe de confortável.

Congressistas na mira da polícia – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

No lugar de reclamar, os deputados deveriam estar atentos à razão de a PF fazer buscas nos gabinetes

Os deputados reclamam das operações policiais nas dependências da Câmara, quando deveriam estar mais atentos ao que motiva a Polícia Federal em fazer buscas e apreensões nos gabinetes dos colegas.

A razão é a existência de indícios de que ali possam ser encontradas provas importantes para investigações sobre desvio de dinheiro público por parte de quadrilhas formadas em municípios com o conluio de prefeitos, parlamentares e até braços do crime organizado.

Poesia | Celina de Holanda - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Diogo Nogueira, Chico Buarque, Ivan Lins e Hamilton de Holanda - Sou Eu

<p>