O Globo
Republicano presenteou petista com bandeira
de defesa da soberania nacional
Desde que Donald Trump se elegeu, Jair
Bolsonaro estava ansioso. O capitão sempre acreditou que só poderia escapar da
cadeia com ajuda dos Estados Unidos. Em apuros no Brasil, clamava por uma boia
lançada pela Casa Branca.
Depois de meses de expectativa, o republicano
finalmente falou —ou melhor, tuitou. Trump descreveu Bolsonaro como vítima
inocente de uma “caça às bruxas”. Acrescentou que ele não seria culpado de
nada, exceto de ter “lutado pelo povo”.
O capitão ficou eufórico, mas alguém precisa avisá-lo que a declaração não deve surtir muito efeito fora da bolha da extrema direita. Bolsonaro é réu por tentativa de golpe e se complicou ainda mais ao ser interrogado no Supremo. Os ministros não varrerão as provas para baixo do tapete para agradar Trump.
Nas urnas, o efeito pode ser o contrário do
que o bolsonarismo espera. Ao tentar ditar regras ao Brasil, o republicano deu
um presente para Lula: o discurso de defesa da soberania nacional. No
encerramento da cúpula do Brics, o petista disse que o Brasil não aceita
interferência ou tutela estrangeira. Abraçou uma bandeira poderosa, com
potencial para ajudá-lo a recuperar a popularidade perdida.
Trump é um cabo eleitoral às avessas. Em
abril, suas ameaças ao Canadá prejudicaram a direita local, que liderava as
pesquisas com mais de 20 pontos de vantagem. O Partido Liberal caminhava para a
derrota, mas surfou a onda nacionalista e conseguiu virar o jogo.
O discurso de Lula esbarra na incoerência.
Ele já palpitou sobre a política interna de outros países e acaba de sair em
defesa de Cristina Kirchner, presa por ordem da Suprema Corte da Argentina. Mas
é exagero comparar sua visita à peronista à pressão do homem mais poderoso do
mundo sobre as instituições brasileiras.
Em maio, o secretário de Estado americano,
Marco Rubio, ameaçou impor sanções a Alexandre de Moraes caso Bolsonaro seja
condenado. A ação movida pela Trump Media contra o ministro indica que a
ofensiva não deve ficar só na retórica.
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