Folha de S. Paulo
Novo livro de Eduardo Giannetti da Fonseca
esmiúça as possibilidades seculares e religiosas de transcender a morte
"Imortalidades", o mais recente
livro de Eduardo
Giannetti da Fonseca, é muito bom. Trata do que possivelmente é o tema mais
relevante que existe —a vida como a experimentamos é tudo o que há ou podemos
transcendê-la?— e o faz com erudição, rigor e arte.
Antes de continuar, o alerta que costumo
lançar quando o autor do livro que resenho é meu amigo. Sempre tento ser
objetivo, mas a própria definição de amizade já embute uma boa dose de
benevolência. Ciente disso, cabe ao leitor aplicar os descontos que julgar
necessários.
"Imortalidades" consiste de 235 microensaios —forma a que Giannetti parece ter aderido definitivamente— que podem ser lidos de modo mais livre do que um texto corrido. Neles, o autor traça uma radiografia panorâmica das várias imortalidades que podemos conceber e as destrincha, recorrendo à ciência, à filosofia e à literatura.
Giannetti começa com a mais óbvia das
imortalidades, que é a que atingimos ao não morrer. Ele discute as possibilidades
de driblar a morte por meio de avanços tecnológicos (ou de ao menos
prolongar bastante nossas existências) e examina as implicações psicológicas e,
por que não
dizer, metafísicas disso.
Outras imortalidades retratadas são a dos
religiosos (as várias versões da vida post-mortem), a dos que buscam
perenizar-se através de realizações terrenas (obras, glória, descendência etc.)
e aquelas que podemos vislumbrar ainda que só muito brevemente com o auxílio de
drogas, meditação e mesmo das experiências de quase morte.
Cada uma das quatro partes do texto começa
objetiva e impessoal, mas, nos parágrafos finais, Giannetti vai confessando a
sua posição pessoal em relação ao tema e, ao fazê-lo, nos convida a também nos
posicionarmos.
Você, leitor, é um imortabilista ou um
mortabilista, isto é, gostaria de viver para sempre ou pensa que é justamente a
duração limitada de nossas vidas que lhes dá beleza e significado? As melhores
respostas são sempre menos óbvias do que clama nosso instinto de sobrevivência.
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