quarta-feira, 11 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Armênio Guedes: eleições, 1972 tempos difíceis

Nos próximos pleitos, serão escolhidos, em eleição indireta, o governador, e, em eleições diretas, os deputados estaduais, federais e senadores. A ditadura está adotando uma série de medidas fascistas para evitar, em torno das eleições, os contatos e a movimentação políticos que certamente determinarão um impulso para o acordo de pontos de vista e a ação comum das forças de oposição. Acautela-se contra a possibilidade de as eleições se transformarem em elemento de contestação do regime, mesmo em escala reduzida. As eleições apresentam, assim, nas condições atuais, um duplo aspecto: de um lado, são mantidas porque o processo de fascistização não teve força para suprimi-las totalmente; de outro, porque ajudam a mascarar o caráter fascista da ditadura e a diminuir certas tensões políticas (conflito aberto com a direita liberal), que poderiam ser fatais ao regime atual.

Conscientes de tudo isso é que vamos trabalhar nas eleições.

Os obstáculos à atividade política, em torno das eleições, tornam-se ainda mais evidentes quando consideramos a imensa apatia popular em relação às mesmas.

O fato é que temos de empenhar-nos, desde já, junto às forças de oposição no estado, para pôr em andamento nossa tática eleitoral.

Levando em conta a força da ditadura, julgamos difícil colher, de imediato, grandes lucros políticos das eleições. Mas não podemos subestimar sua importância: abrem-se respiradouros, por menores que sejam, para a manifestação da vontade das massas e ampliam-se as possibilidades de criação de novos focos de resistência à ditadura.

Devemos, por isso, preparar imediatamente as candidaturas que apresentaremos ou apoiaremos, intensificando, ao mesmo tempo, as alianças políticas, organizando os contatos com líderes e cúpulas políticas e selecionando os quadros e recursos materiais para sustentar esta atividade. Agindo, é claro, sem perder de vista que o trabalho eleitoral é apenas um momento, e nada mais do que isto, do nosso esforço para a formação, na GB, da frente antiditatorial. É uma atividade que deve reforçar e ser reforçada pelas demais frentes de trabalho: sindical, estudantil, favelas, cultural, etc.

Chamamos, em último lugar, a atenção para a possibilidade que as eleições abrem para se estimular as crises e cisões no sistema de forças do governo, crises que minam e enfraquecem os seus suportes políticos.

Passagem do texto Resolução Polítitica do PCB da Guanabara (março de 1970), de autoria de Armênio Guedes, extraída do livro Manifestos Políticos do Brasil Contemporâneo, org.: PENA, Lincoln de Abreu. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Planos de saúde são punidos por falhas no atendimento
O Dia D, de Demóstenes
Paes desafia procurador: "Ele critica muito rápido"
César Maia diz não ter mais bens
FH, o prêmio e o imposto
Chefe da OEA apoia Paraguai e irrita Brasil

FOLHA DE S. PAULO
Governo suspende a comercialização de 268 planos de saúde
Senado decide hoje, em sessão aberta, se cassa Demóstenes
Dez empresas que recebem da Delta são de laranjas
Celular poderá funcionar como cartão de crédito
Impeachment no Paraguai foi legal, diz missão da OEA

O ESTADO DE S. PAULO
Governo prepara corte da previsão para o PIB do ano
Ministra anuncia novas concessões
Demóstenes deve ter hoje o mandato cassado
"Tive a infelicidade de ser filmado"
ANS proíbe 268 planos de saúde de obter novos clientes

VALOR ECONÔMICO
Preços revigoram produção de soja
Desemprego nos polos industriais
PIS-Cofins fora da conta de energia

BRASIL ECONÔMICO
Governo vai estender incentivos fiscais às montadoras até 2017
"Não houve traição ao PT em BH", rebatem tucanos

CORREIO BRAZILIENSE
Freio nos abusos dos planos de saúde
Senado deve cassar, hoje, mandato de Demóstenes

ESTADO DE MINAS
Esquecemos a gripe suína e ela voltou a matar
Eleição em BH começa apertada
ANS suspende 268 planos de saúde no país

ZERO HORA (RS)
Como será o julgamento de Demóstenes Torres
Governo suspende venda de 268 planos de saúde

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
ANS proíbe venda de 268 planos de saúde
Dengue cresceu 88% no primeiro semestre em Pernambuco

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

FH, o prêmio e o imposto

Ao receber o prêmio Kluge, concedido pela Biblioteca do Congresso dos EUA, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que os partidos brasileiros perderam a definição ideológica. Questionado sobre o destino do prêmio de US$ 1 milhão, brincou: "Dei 27,5% ao governo, espero que saiba usar."

"Partidos estão crescentemente sendo siglas"

Ao receber prêmio nos EUA, FH critica legendas e ironiza imposto de renda: "Dei ao governo 27,5%, espero que ele saiba usar"

Flávia Barbosa

WASHINGTON . O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem os partidos políticos brasileiros, que, "de maneira preocupante", se converteram em simples siglas, que se abstêm do debate sobre temas fundamentais e dão pouca ênfase a programas de governo. Para ele, que respondia a uma pergunta sobre possível parceria eleitoral nacional entre o PSDB e o PSB, as alianças estabelecidas para os pleitos municipais muitas vezes refletem esta falta de compromisso, pois o interesse dos partidos é pautado por questões provinciais e se resume a "buscar maximizar suas chances eleitorais".

FH recebeu da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, o Prêmio Kluge de contribuição às Ciências Sociais. Concedido pela primeira vez em 2003, o prêmio pretende ser um Nobel da área de humanas e oferece US$ 1 milhão. O ex-presidente é o primeiro brasileiro agraciado, de sete premiados até hoje, e foi reconhecido pelo trabalho como sociólogo e líder político.

Para FH, é prematuro dizer se a aliança nacional entre PSDB e PSB vai vingar. Os tucanos caminham com o PSB em Minas, lembrou, mas as circunstâncias não devem ser extrapoladas, pois "a vocação nacional dos partidos brasileiros na eleição municipal desaparece":

- Não dá para avaliar o que vai acontecer em termos de alianças futuras com base no que está sendo feito agora. Agora cada um vai buscar maximizar suas chances eleitorais, sem se preocupar muito com o que vai acontecer depois. E menos ainda se há choques nas visões dos partidos, inclusive porque essas visões estão se diluindo de maneira, para mim, preocupante. Os partidos estão crescentemente sendo siglas. Qual é a posição que está por trás, o conteúdo programático, a visão real? Vai ter, em certos momentos, mas muitas vezes o partido não expressa isso mais.

Sobre o prêmio, entregue ontem, FH agradeceu e dividiu com o Brasil a honra:

- Acredito que se deve não só a mim, mas à proeminência do Brasil. Obviamente, devo ter algum valor, que não vou julgar, mas este valor isoladamente não daria prêmio.

Perguntando se já tinha decidido o que fazer com o US$ 1 milhão, FH brincou:

- Ainda não. Mas dei 27,5% ao governo, espero que ele saiba usar.

FONTE: O GLOBO

FHC não vê 'vocação nacional' em alianças

Para ex-presidente, que foi a Washington receber um prêmio, cada partido vai "maximizar" chances, sem pensar no depois

Denise Chrispim Marin

WASHINGTON - A aliança entre partidos para eleições municipais é provinciana e não tem vocação nacional, afirmou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao avaliar o grau de parceria possível entre o seu PSDB e o PSB, do governador pernambucano, Eduardo Campos. Os dois partidos, assinalou FHC, parecem próximos para a eleição em Belo Horizonte - onde o prefeito socialista Marcio Lacerda rompeu com o PT e tem o apoio tucano. Em São Paulo, no entanto, a aliança do PSB foi feita com o PT

"A política brasileira, na hora da eleição municipal, é de cada província, Estado, de cada local. A vocação nacional dos partidos desaparece na hora da eleição municipal", argumentou FHC numa entrevista em Washington, antes de receber, ontem à noite, o Prêmio John Kluge, de US$ 1 milhão, dado pela Biblioteca do Congresso dos EUA.

"Não dá para avaliar o que vai acontecer com as alianças (em 2014)", disse FHC. "Cada partido vai tentar maximizar suas chances (este ano), sem se preocupar com o que virá depois e menos ainda com os choques entre suas visões." Em tom de desilusão, o ex-presidente se disse preocupado com a dissolução dos conteúdos programáticos dos partidos brasileiros, que estariam se convertendo apenas em "legendas".

Privilégio. Em seu discurso de aceitação - dez páginas lidas em inglês - o ex-presidente definiu como "um verdadeiro privilégio" ter sido "o primeiro da América Latina" a receber o prêmio e dedicou-se a cruzar, em linhas gerais, sua história pessoal com a da política brasileira. Constatou, então, que sua vida pode ser entendida "como uma dicotomia entre a ética da responsabilidade - de um agente público - e a ética dos valores absolutos - a do sacerdote, do profeta e do professor". Em sua história, viveu "entre valores e prática, entre razão e emoção". Entendeu que "a academia e a política - a razão e a emoção - não eram só complementares: eram essenciais".

Mas a experiência, prosseguiu, ensinou-o "a ser otimista", pois no Brasil, "em alguns aspectos, tem havido um reencontro com conceitos como humanidade e comunidade" - ou "uma crescente tendência rumo à aceitação de diferenças e mesmo tolerância dos conflitos". O ex-presidente deu ainda entrevista ao The Washington Post, que lhe perguntou sobre riscos que a crise mundial pode trazer ao Brasil. FHC advertiu, então, para "a falta de sonhos, de horizontes. Quando você não vê possibilidades de seguir adiante e a situação está piorando, então você tem a possibilidade de uma crise séria".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Nos EUA, FHC afirma que partidos políticos se tornaram 'apenas siglas'

WASHINGTON - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se disse "preocupado" com o que vê como uma dissolução das visões partidárias no Brasil e no mundo, resumindo as agremiações a meras siglas em meio à disputa para a formação de alianças nas eleições.

"Agora cada um vai buscar maximizar suas chances eleitorais, sem se preocupar muito com o que vai acontecer depois, e muito menos se há choques entre as visões dos partidos", disse o ex-presidente. "Os partidos estão crescentemente sendo só siglas."

FHC conversou ontem com jornalistas brasileiros em Washington, horas antes de receber o Prêmio Kluge -reconhecimento à sua produção acadêmica pelo qual recebeu US$ 1 milhão da Biblioteca do Congresso dos EUA.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Falta de reformas desindustrializou país, diz FHC

Alex Ribeiro

WASHINGTON - Não é a chamada guerra cambial que empurra o Brasil para uma perigosa desindustrialização, mas a perda de competitividade causada em parte pela paralisia das reformas no governo Lula, afirmou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nos Estados Unidos, horas antes de receber o Prêmio Kluge, por muitos considerado o Nobel das ciências humanas.

"Não há guerra cambial. O problema central de toda a economia é como você aumenta o investimento e a produtividade", disse Fernando Henrique, negando a expressão cunhada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre as desvalorizações feitas por vários países do mundo para turbinar suas exportações.

"Agora mesmo, ajustaram o câmbio. Vai alterar muito isso? Muito difícil. Melhora topicamente", seguiu o ex-presidente tucano, falando sobre a recente alta do dólar no Brasil. Para FHC, as empresas têm dificuldades de concorrer com importados por causa da baixa produtividade da economia, ligada a fatores como altos custos de energia, má infraestrutura e peso dos impostos. "O governo Lula paralisou as reformas."

FHC ganhou o Prêmio John W. Kluge, concedido pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, devido às realizações de toda a sua vida acadêmica. Ele fez pesquisas sobre vários temas, como escravidão e elites, mas o seu reconhecimento veio com o livro "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", publicado em 1969 em co-autoria com o pesquisador chileno Enzo Faletto.

A visão dominante até então era de que países subdesenvolvidos, na periferia do mundo, estavam condenados a um estado de submissão econômica aos países ricos centrais. Os capitais investidos por países desenvolvidos nas economias subdesenvolvidas iriam apenas extrair riquezas. O rompimento dessa relação só seria possível com uma revolução socialista, dizia a tese corrente, como a de Cuba.

Avançando na teoria do economista argentino Raul Prebish, FHC e Faletto argumentaram que os países em desenvolvimento teriam a ganhar com os capitais de países ricos. "Percebemos que a periferia estava longe de ser homogênea e estática", disse FHC ao receber o prêmio, de acordo com cópia de seu discurso. "Países como Brasil, Argentina e México já tinham um começo de base industrial e se ligavam com a economia global de uma maneira diferente de países que eram apenas exportadores de recursos naturais", afirmou o ex-presidente, em entrevista. "Sem muita consciência, discutimos um pouco a globalização", afirmou. "Hoje, todo mundo sabe que é assim, mas na época levei muita crítica, sobretudo da esquerda."

No Brasil atual, o ex-presidente apontou problemas no papel do Estado na economia. "O governo sempre banca o crescimento, o problema é em que medida", disse. "No Brasil, você tem o caso do governo que escolhe campeões", afirmou Fernando Henrique, sobre os empréstimos com juros subsidiados feitos pelo BNDES para "10 ou 12 grupos". "Acho que isso excede o que é razoável."

Para FHC, os partidos políticos brasileiros deixaram de debater os grandes temas nacionais, em parte devido à formação de um consenso básico sobre política econômica.

"Quando eu estava no governo, diziam que eram políticas neoliberais. Agora, é o governo Lula, o governo Dilma, mas é a mesma coisa. Ninguém fala mais em neoliberal, porque foi aceito", declarou ontem.

O ex-presidente criticou a condução pelo Brasil da crise causada pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, no Paraguai. "Acho que teria sido preferível a ação do Mercosul antes do impeachment, mandar uma missão negociadora para uma conciliação", disse.

FHC também criticou a rápida aceitação da Venezuela no Mercosul, porque pode criar problemas quando o Paraguai for readmitido e porque o novo sócio não cumpriu a obrigação de implementar a Tarifa Externa Comum (TEC).

Questionado sobre as eleições municipais de São Paulo, Fernando Henrique deu uma leve alfinetada no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se engajou na campanha do ex-ministro Fernando Haddad e candidato do PT à sucessão paulistana. "Estou torcendo por [José] Serra, ponto", afirmou, referindo-se ao candidato do PSDB. "Depois que sai da Presidência, ou mesmo na Presidência, nunca me envolvi com campanha municipal", comentou o ex-presidente tucano.

Fernando Henrique disse que pensará depois sobre o que fará com a premiação de US$ 1 milhão. "Eu dei 27,5% para o governo federal", disse, sobre o pagamento de Imposto de Renda. "Não foi decisão minha", afirmou FHC ontem.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Mensalão: depois da CUT, petistas pressionam STF

Marco Maia critica coincidência do julgamento com o período eleitoral; presidente do PT diz que não há base para condenação

Isabel Braga

BRASÍLIA. No mesmo tom dos discursos feitos anteontem por sindicalistas na abertura do 11º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), manifestaram ontem preocupação com a politização do julgamento do mensalão, no Supremo Tribunal Federal (STF), a partir de 2 de agosto. Falcão foi além e afirmou que, se o julgamento for feito de acordo com o que consta nos autos do processo, não haverá base para condenação dos que estão sendo processados.

"Judicialização da política e politização da Justiça"

Marco Maia e Falcão criticaram ainda a marcação do julgamento para o período de campanha eleitoral. Para o presidente do PT, os ministros poderiam ter julgado o caso no ano passado ou deixado para depois das eleições deste ano.

- Minha expectativa é que os ministros do Supremo (Tribunal Federal) julguem segundo os autos. E julgando segundo os autos, não há base para condenação. Esse julgamento, não deveria... é claro que eles marcam quando quiserem, mas não tenho notícia de julgamentos de tamanha importância realizado em períodos eleitorais - afirmou Falcão. - Podia ter feito antes, no ano passado, ou depois das eleições, não há nenhuma prescrição (de crime) se for depois das eleições.

Indagado se via algum motivo para a definição da data, Falcão alfinetou:

- Acaba havendo uma judicialização da política e uma politização da Justiça.

O presidente da Câmara também considerou um equívoco a data do julgamento, alegando que durante o processo eleitoral os ânimos se acirram entre os candidatos e tudo ganha uma dimensão maior.

- É um erro você marcar isso para o meio das eleições. As eleições no Brasil são politizadas, é um debate quente, acalorado, que toma conta do país, e, mais do que isso, nas eleições qualquer denúncia entra para o debate político. Quem é acusado, diz que está sendo acusado porque querem prejudicar a sua eleição. E quem acusa, o faz tentando influenciar o resultado da eleição. Isso é normal, legítimo, faz parte do processo democrático, político - argumentou Marco Maia.

Para o presidente da Câmara, já que a data foi marcada para agosto, é preciso agir para evitar a contaminação do processo eleitoral e do julgamento do mensalão:

- Esse tipo de votação, julgamento, denúncia deveria ter sido tratada em período separado do período eleitoral. Mas quis o destino que a decisão do STF, dos ministros, fosse fazer esse julgamento neste momento. O esforço que temos que fazer agora é exatamente para impedir que a eleição seja contaminada pelo julgamento e o julgamento seja contaminado pela eleição.

Partido tem deputados e ex-integrantes como réus

O presidente do PT não quis comentar a decisão de sindicalistas da CUT de ir à ruas para denunciar a politização no julgamento do mensalão. O presidente da central, Artur Henrique, chegou a comparar o mensalão à destituição do presidente paraguaio Fernando Lugo, afirmando que, em ambos, houve ataque à democracia.

Falcão afirmou que estava em Brasília e não participou do Congresso da CUT.

- Quem me representou no congresso foi o (João) Vaccari (Neto, tesoureiro do PT), não vi isso, não vou comentar - afirmou.

O julgamento do mensalão começa no dia 2 de agosto e entre os réus estão deputados e ex-dirigentes do PT e de outros partidos que integravam a base aliada do governo do ex-presidente Lula.

FONTE: O GLOBO

Falcão vê 'politização da Justiça' no mensalão

Presidente do PT critica STF por marcar julgamento perto das eleições, mas diz acreditar que, "segundo os autos, não há base para condenação"

Eduardo Bresciani, Bruno Boghossian

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, atribuiu ontem a uma "politização da Justiça" a escolha do Supremo Tribunal Federal por realizar o julgamento do mensalão em agosto, em plena época de campanha eleitoral. "Não tenho notícia de julgamentos importantes realizados em períodos eleitorais. Podia ser feito antes ou depois das eleições. Não há nenhuma prescrição se fosse depois das eleições."

E acrescentou que, se o julgamento se basear nos autos, não deverá haver condenação. "A minha expectativa é que os ministros do STF julguem segundo os autos. Fazendo desta forma, não há base para condenação", disse Falcão.

As declarações do presidente nacional do PT vêm se juntar às do novo presidente da CUT, Vagner Freitas, que toma posse nesta semana. Ele afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que a central sindical pretende ir às ruas caso haja um "julgamento político". Num discurso no mês passado, o ex-ministro José Dirceu, réu no processo, conclamou estudantes ligados à UNE a sair às ruas a fim de defendê-lo politicamente durante o julgamento.

Falcão esteve ontem em Brasília, no Congresso Nacional, em visita ao presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), para agradecer o apoio do aliado a Patrus Ananias, candidato do PT à Prefeitura de Belo Horizonte. O PMDB tirou o deputado Leonardo Quintão da disputa e indicou Aloisio Vasconcellos para vice.

O petista acusou de traição o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), ao comentar o fim da aliança com o PT na capital mineira, mas afirmou que não há rompimento com o PSB em nível nacional. Para ele, não houve "ação deliberada" do partido aliado ao se afastar do PT na disputa em algumas das principais capitais. "Eu disse sempre que não há rompimento com o PSB. Temos alianças em várias cidades, capitais inclusive. Em Belo Horizonte, o prefeito rompeu a palavra, traiu um compromisso, mas isso não dá para atribuir como se fosse uma política nacional do PSB", afirmou.

Sobre o jantar que a presidente Dilma Rousseff teve na noite anterior com o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), para reafirmar o compromisso nacional entre os dois partidos, Falcão declarou que Campos deve ter ido "se explicar" para Dilma sobre o rompimento em Belo Horizonte.

CPI. Também ontem, o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, acusou o PT de utilizar a CPI do Cachoeira como instrumento político contra partidos de oposição. O tucano reagiu à convocação pela comissão do engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, que foi diretor do departamento de estradas do Estado quando Serra era governador. "A CPI está sendo utilizada como instrumento político. É tipicamente petista: usar um aparato de Estado para oprimir e hostilizar adversários", disse Serra.

Souza foi convocado a fim de falar sobre contratos entre o governo paulista e a construtora Delta. Serra afirmou que não há irregularidades em obras da empreiteira. "Meu governo não tem nada, nada a esconder", disse.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Centrais resistem a endossar pressão da CUT sobre Supremo

Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - As centrais sindicais não parecem dispostas a embarcar na mobilização da Central Única dos Trabalhadores (CUT) para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a não julgar "de forma política" os réus do mensalão - suposto esquema de compra de apoio político no governo Lula. Enquanto a União Geral dos Trabalhadores (UGT), central com grande número de filiados ao PSD, ficou em cima do muro, dirigentes da Força Sindical e Nova Central refutaram qualquer manifestação, que só tem apoio explícito da Central de Trabalhadores do Brasil (CTB).

"Confiamos que o Supremo fará uma avaliação jurídica das denúncias. Se isso não ocorrer, se percebermos que o julgamento está sendo parcial, vamos nos mobilizar para contestar essa posição", afirmou Wagner Gomes, presidente da CTB, central ligada ao PCdoB e formada por dissidentes da CUT em 2007.

Para o sindicalista, "não só as centrais, mas toda a sociedade irá protestar" se o julgamento cair no campo político do debate eleitoral". Ele acredita, porém, que os réus do mensalão já foram punidos. "Se o STF inocentar os acusados, vai pesar muito pouco, porque eles já foram condenados pela grande mídia antes do julgamento", avaliou.

Gomes esteve com dois dos principais réus dos mensalão, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT) e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, na abertura do 11º Congresso da CUT anteontem em São Paulo. Os petistas foram assediados com pedidos de fotos e muito aplaudidos pela plateia de sindicalistas da central, que é umbilicalmente ligada ao partido. Nem Dirceu nem Delúbio quiseram falar com a imprensa.

Na segunda-feira, o futuro presidente da CUT, Vagner Freitas, que toma posse amanhã, declarou ao jornal "Folha de S. Paulo" que os trabalhadores tiveram avanços importantes no governo Lula e que, se o julgamento do mensalão for político, a central irá às ruas em protesto. À noite, ele se disse mal interpretado, embora não tenha negado que a entidade pode fazer manifestações contra o que chamou de "julgamento político".

Para o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a declaração foi "infeliz". "O julgamento não se dá assim, sob pressão. Estamos num período democrático, não na ditadura em que os tribunais serviam aos militares", afirmou. Filiado ao PDT, Juruna garante que a central não sairá às ruas para qualquer protesto referente ao mensalão. "Temos que guardar munição para as campanhas salariais."

Embora não critique a postura da CUT, o presidente da Nova Central, José Calixto Ramos, diz que acredita no julgamento técnico do STF, diante da importância do tema, e que "os de fora" não têm devem dar opinião. "A questão está entregue a quem tem competência para julgar. A Nova Central não irá se envolver nisso de jeito nenhum", afirmou.

O secretário-geral da UGT, Canindé Pegado, diz a central ainda não avaliou o tema e discutirá isso se perceber que a decisão do STF não será técnica. "A gente não quer julgamento político, de quem quer que seja, porque isso é uma afronta à democracia", afirmou.

Em visita à sede da UGT no fim de 2011, quando deu uma palestra sobre economia, Dirceu comentou que esperava que os sindicalistas fossem às ruas para defendê-lo, segundo integrantes da central contaram ao Valor. Pegado negou ontem que o assunto tenha sido debatido.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Dilma vai a aliados para evitar racha

A Temer e governadores do PSB, presidente diz que é preciso manter projeto nacional

Paulo Celso Pereira, Isabel Braga e Luiza Damé

BRASÍLIA . Na última semana de trabalho do Congresso antes do recesso, o Palácio do Planalto entrou em campo para afinar o discurso com os aliados às vésperas do início da campanha eleitoral. Após jantar com os governadores Eduardo Campos (Pernambuco) e Cid Gomes (Ceará), do PSB, anteontem, a presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem com o vice-presidente Michel Temer, principal cacique do PMDB, e jantou com os congressistas e ministros do PT.

Sem dar detalhes, Temer disse a aliados que a conversa foi "sobre política", e que estava satisfeito. A principal preocupação do Planalto é impedir que as rusgas das campanhas municipais atinjam o relacionamento dos partidos com o governo.

Esse foi o principal recado de Dilma no jantar de segunda-feira para tratar dos problemas que levaram ao racha entre PT e PSB em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Foram três horas de conversa, com a presença dos ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais).

- Temos queixas de todos os lados. Onde não fizemos alianças, vai haver disputa eleitoral. A presidente disse que não podemos confundir uma eleição municipal com um projeto nacional, no qual somos aliados e estamos do mesmo lado há muito tempo. Na conversa, todos reafirmamos o nosso desejo de permanecer assim - disse Paulo Bernardo.

Eduardo Campos afirmou que o PSB vai continuar apoiando o governo Dilma, mas sem submissão. Sob a desconfiança de petistas, que espalham que ele tem projeto solo para 2014, ele aproveitou o encontro com Dilma para afirmar que a prioridade do partido é manter a aliança com ela em 2014:

- Crescemos fazendo política com coerência, lealdade, mas sem submissão. Não interessa ao PSB nem à presidente criar crise ou dificuldade. Temos claro que o nosso objetivo é ajudá-la a fazer um grande mandato para poder ser candidata em 2014 - afirmou Campos.

Em reunião com a bancada do PT na Câmara, Ideli disse que os ministros estão liberados para atuar nas campanhas, fora do horário de expediente.

FONTE: O GLOBO

Dilma e Campos selam acordo para evitar racha

Em jantar no Alvorada, presidente se compromete a não fazer campanha neste ano e governador de Pernambuco reafirma apoio do PSB à petista

Tânia Monteiro

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff e o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, fizeram um "pacto pela paz" em jantar de mais de três horas na noite de segunda-feira, no Palácio da Alvorada. Dilma se comprometeu a não atuar em campanhas de cidades em que PT e PSB romperam alianças, como em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza. Já Campos, que recentemente fez críticas públicas à conduta do PT como aliado nacional, disse que manterá o apoio à provável campanha à reeleição da presidente em 2014.

"Nossa tarefa é ajudar a presidente Dilma a fazer um grande governo, criando as condições para ser reeleita", disse Campos, logo depois do jantar, que terminou no início da madrugada.

Campos chegou a dizer que é difícil para o PSB lançar um candidato à sucessão de Dilma em 2014. "Nós não entendemos como o PSB, a esta altura, vai ter um candidato se não existe esse campo político para ser ocupado por nós." O governador disse que, se o partido tivesse optado por ter um candidato, teria de sair do governo agora.

Para ele, "alguém quer vender à presidente Dilma um inimigo oculto, criar e fabricar um inimigo, para, em troca, querer oferecer um apoio fisiológico e atrasado". Questionado se se referia ao PMDB como o fator "intrigante", o governador se esquivou: "Vocês sabem quem são, vocês falam todos os dias com eles".

Em seguida, Campos disse que Dilma pode ter confiança no seu partido. "Eu tenho certeza que ela confia mais no PSB do que em outros aliados", disse.

Sobre a intenção de os partidos aliados usarem a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas campanhas pelo País, Campos disse que espera neutralidade do velho parceiro.

"Uma liderança do tamanho de Lula não pode ser puxada para qualquer disputa municipal, sobretudo quando tem pessoas que acompanharam de um lado e de outro." Para Campos, "Lula é uma liderança que está acima dos partidos. É maior do que o PT, maior do PSB, PC do B e PDT juntos. Lula é uma referência do povo e não se pode transformar o Lula em um instrumento de lutas políticas passageiras".

O jantar de Dilma com Campos contou com a presença dos ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), além do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Bernardo contou que Dilma e Campos tentaram identificar a origem das rusgas entre PT e PSB. Segundo ele, existem queixas de todos os lados. Por isso, afirmou o ministro, tanto a presidente quanto o governador concluíram que o momento não é de ficar desfiando problemas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma propõe 'pacto' a governadores do PSB

Presidente diz a aliados que a disputa municipal não contaminará sua coalizão

Natuza Nery, Catia Seabra, Kelly Matos

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff propôs ao PSB um "pacto de convivência" e disse que cuidará para que a disputa municipal não contamine sua coalizão nacional.

As declarações foram dadas em jantar no Palácio da Alvorada anteontem, após o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), fazer críticas ao PT em entrevista publicada na Folha no domingo.

As relações entre PSB e PT estão estremecidas. As siglas estarão em palanques diferentes em três capitais em que antes estavam unidas: Belo Horizonte, Recife e Fortaleza.

Segundo presentes à reunião, Dilma disse não ter interesse em transformar a eleição municipal em um problema para o governo federal.

O jantar foi pedido pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), para deixar claro que o PSB não lançará candidato à Presidência em 2014. Além de Ideli, estavam presentes o ministro Paulo Bernardo e o chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo.

A presidente recomendou que Eduardo Campos procurasse Lula para evitar sequelas. Ela ponderou que, conhecendo o petista, acha que ele tenha ficado chateado com o fim da aliança em Recife.

Cid Gomes pôs o nome de José Dirceu na pauta, com a suspeita de ser ele a origem das "futricas". Dilma prometeu conversar com petistas para baixar a temperatura.

Cid Gomes afirmou que o PSB não lançará candidato à Presidência em 2014, mas sinalizou a possibilidade de o partido indicar o vice do PT. Essa alternativa incomoda o PMDB, partido do atual vice, Michel Temer.


FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Desconfiança em relação ao PT une PSB ao PMDB

Raymundo Costa

BRASÍLIA - Às vésperas das eleições municipais, a presidente Dilma Rousseff enfrenta um clima de desconfiança generalizada entre os principais partidos que integram a base de sustentação de seu governo: PT, PMDB e PSB. Os dois últimos, por exemplo, estabeleceram um canal de consultas permanente para conferir se não estão sendo jogados um contra o outro pelo PT, com o aval do Palácio do Planalto.

A crise entre os partidos foi o assunto principal do jantar oferecido anteontem, no Palácio da Alvorada, aos governadores do Ceará, Cid Gomes, e de Pernambuco, Eduardo Campos, que também é presidente nacional do PSB. Dilma disse aos dois, segundo as versões dos presentes, que "a eleição municipal é importante, mas a aliança nacional é muito mais importante", numa referência aos aliados desavindos. A presidente prometeu atuar para pacificar especialmente as relações entre PT e PSB.

Semana passada, integrantes da cúpula do PMDB mantiveram contato com Campos. Disseram que a decisão de trocar a candidatura à reeleição de Márcio Lacerda (PSB) pelo apoio a Patrus Ananias, nome lançado de última hora pelo PT, fora de conveniência exclusivamente partidária e que o PMDB nada tem contra o governador de Pernambuco, nome recorrente nas especulações sobre a sucessão presidencial de 2014 e 2018. Dias antes, o vice Michel Temer estivera no Alvorada e teria ouvido da presidente que a "aliança preferencial" para 2014 será o PMDB.

Dilma também acenou para o PMDB que o acordo com o PT para as eleições do Congresso será cumprido. Segundo integrantes da cúpula pemedebista, na conversa também teriam sido comentados os problemas que Eduardo Campos estaria criando para o PT, nas negociações dos palanques municipais, e que o governador de Pernambuco demonstrava apetite para ser candidato a vice-presidente, no lugar do PMDB, ou mesmo a presidente já na eleição de 2014.

As versões que saíram tanto do Palácio do Planalto quanto do PSB foram no sentido de que Dilma quer que, agora, passadas as convenções e com o início da campanha propriamente dita, os partidos aliados não deixem que os conflitos contaminem a execução dos programas de governo.

Quando deixaram o Alvorada, os governadores do PSB fizeram juras de fidelidade a Dilma. "Entendemos que a parceria nacional, para tocar em frente o Brasil, é maior do que as eleições municipais", disse Campos. "Temos que saber conviver com essa diversidade no campo político. O povo é que vai se posicionar com o seu voto".

Na conversa que teve com Dilma, Campos foi mais duro em relação a posições assumidas pelo PT que julgou contrárias ao PSB, como o lançamento de candidaturas próprias, pelo PT, no Paraná, onde o PSB concorre à reeleição, em Belo Horizonte, rompendo um acordo escrito e assinado pelas duas siglas, sem falar em Pernambuco, onde Campos lançou um nome do PSB, diante da divisão irremediável do PT, o que impediria a sigla comandar uma frente partidária.

Segundo Campos, a disputa de Recife está para o PSB assim como a de São Paulo para o PT. É tão importante para ele vencer em Recife, quanto para o PT e Lula derrotar o tucano José Serra em São Paulo. O presidente do PSB não teria sido explícito, mas com essa comparação deixou claro que não tem como impedir o ex-presidente Lula ou Dilma de participar da eleição no Recife, mas prefere que eles se mantenham ao largo.

A divulgação de que a Controladoria Geral da República (CGU) estava investigando a gestão do ex-ministro Sérgio Rezende na Ciência e Tecnologia - sucedendo a Eduardo Campos, do qual fora secretário-executivo - agravou o quadro de tensão entre PT e PSB. A explicação recebida pelo partido é que não se trata de uma investigação sobre a gestão do PSB no ministério, mas algo residual do período em que vários ministérios tiveram convênios com ONGs sob suspeita.

Além dos governadores, dois ministros participaram da conversa: Ideli Salvatti (Relações Institucionais), encarregada da coordenação política do governo, e Paulo Bernardo (Comunicações). Uma das principais queixas de Campos era a atuação de Paulo Bernardo em Curitiba, onde ele levou o PT a apoiar a candidatura de um dos mais ferrenhos críticos de Lula, na CPI do mensalão, Gustavo Fruet, à época tucano e agora candidato do PDT. O prefeito Luciano Ducci, candidato à reeleição, é do PSB.

A avaliação feita no Palácio do Planalto é que ninguém ganha nada brigando agora. O próprio Campos ainda tem um ano e meio de governo, portanto, só teria a perder indispondo-se com Dilma. Também no Planalto e nas cúpulas dos principais partidos, o Plano A dos aliados hoje seria a reeleição de Dilma. O Plano B só seria acionado em duas circunstâncias: a crise econômica mundial se agravar e atingir em cheio o pais ou o ex-presidente Lula reivindicar a precedência de sua candidatura.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Central critica Dilma e já fala em greve geral

CUT diz que presidente está irredutível sobre reajustes e ressalta que "na época de Lula não era assim"

Mariana Timóteo da Costa

SÃO PAULO. Sai o mensalão, entra a greve. Depois de declarações que geraram polêmica sobre uma possível mobilização social caso o julgamento do mensalão seja "político" e não "técnico", dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) - reunidos no 11º Congresso do órgão - debateram a iminente paralisação geral dos servidores públicos federais e não pouparam críticas ao governo Dilma, com frases do tipo "na época do Lula não era assim". Desde março, os sindicalistas tentam negociar ajustes salariais, mas, segundo eles, o governo vem se mostrando irredutível e "tentando mais um ataque (em referência ao fator previdenciário)".

Pelo menos a metade dos funcionários de 20 órgãos e ministérios em atividade no país já está paralisada, de acordo com a CUT. O setores da saúde e da educação são os mais afetados. A greve, por exemplo, atinge 56 das 59 universidades federais.

- Que mensalão? Não temos tempo para o mensalão. Queremos que o governo mude o comportamento que vem tendo conosco. Greve nunca é a melhor alternativa, mas vem se mostrando a única. Estamos tendo paciência, mas é claro que ela (a greve) pode ser ampliada - disse Pedro Armengol, diretor-executivo da central.

Armengol voltou ontem de Brasília para São Paulo, onde se encontrou com o secretário de Relações do Trabalho do Planejamento, Sérgio Mendonça, que negocia com o funcionalismo. Os servidores preparam, para a semana que vem, um acampamento em frente à Esplanada dos Ministérios. No dia 18, uma marcha contrária ao governo deve ocorrer em Brasília. Embora não deseje desagradar ao setor que historicamente apoia o PT, Dilma já teria deixado escapar que está mais preocupada em controlar os gastos públicos para enfrentar a estagnação da economia e a crise internacional. O prazo para envio ao Congresso da previsão de gastos para 2013 é 31 de agosto. Até lá, a CUT vai pressionar. O governo gasta atualmente cerca de 4% do PIB com os servidores.

- Na época do Lula se gastava mais: pelo menos 4,8%. Hoje, países com serviço público razoável gastam 5%. O problema é que ninguém sabe qual será a diretriz orçamentária do governo, mas já sabemos que a intenção é baixar ainda mais os 4% que já gasta. É para que isso não ocorra que lutaremos - disse Armengol.

Ele acha aceitável a preocupação do governo com a crise, mas sem sacrificar o trabalhador.

- Agora, não venham colocar, de forma perversa, que a despesa de pessoal é um risco para o não crescimento econômico. Pelo contrário, salários justos fortalecem a economia - defende Armengol.

FONTE: O GLOBO

Governo prepara corte da previsão para o PIB do ano

Os Ministérios da Fazenda e do Planejamento preparam um corte na previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Segundo os cálculos que balizam as projeções de arrecadação e ditam o ritmo de gastos federais, a atual estimativa - considerada otimista de 4,5%, deverá ser reduzida para algo entre 2,7% e 3%. Ainda assim, será superior ao número previsto pelo Banco Central, que trabalha com 2,5%, e pelo mercado financeiro, que, hoje, aposta em 2,01%, mas com tendência de queda. Os números usados por Fazenda e Planejamento normalmente são mais altos que os do BC porque servem para sinalizar a intenção do governo. O ajuste na estimativa de crescimento, considerado inevitável no meio técnico, deverá ser oficializado no dia 20, durante a divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias referente ao terceiro bimestre de 2012. É com base nesses cálculos que o governo decide se libera mais dinheiro, corta mais despesas ou não mexe no planejamento

Governo vai cortar previsão para o PIB

Projeção de crescimento vai cair de 4,5% para 3% ou 2,7%, reduzindo também a previsão de arrecadação e de gastos este ano

Lu Aiko Otta

BRASÍLIA - O governo se prepara para cortar fortemente a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano nos cálculos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento que balizam as projeções de arrecadação e ditam o ritmo de gastos federais. Atualmente, a estimativa está em otimistas 4,5%, e ela deverá ser reduzida para algo como 2,7% a 3%.

Ainda assim, será algo superior ao previsto pelo Banco Central, que trabalha com 2,5%, e pelo mercado financeiro, que aposta em 2,01%, com tendência de novas quedas. Os números usados pela Fazenda e Planejamento normalmente são mais altos que os do Banco Central porque eles têm um componente político, servem para sinalizar a intenção do governo.

O ajuste na estimativa de crescimento, considerado inevitável no meio técnico, deverá ser oficializado no próximo dia 20, quando está prevista a divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias referente ao terceiro bimestre de 2012. É com base nesses cálculos que o governo decide se libera mais dinheiro, corta mais despesas ou deixa tudo como o programado.

Com o PIB menor, a projeção de arrecadação com impostos e contribuições para 2012 também deverá encolher. O Estado publicou em sua edição de domingo que a chamada receita administrada, exatamente a composta por impostos e contribuições recolhidos pelo Fisco, já está cerca de R$ 20 bilhões abaixo do previsto, como reflexo da retração econômica.

Para evitar cortes de gastos, que afundariam ainda mais a economia, é possível que o governo recorra a outras fontes de receitas, como dividendos das empresas estatais e a chamada receita não administrada, formada por taxas específicas recolhidas por órgãos públicos, por exemplo. O próprio secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, adiantou que poderia lançar mão dessa estratégia.

"Vão tirar mais coelhos da cartola", aposta o economista-chefe da corretora Convenção Tullett Prebon, Fernando Montero. Ele acha que isso será necessário porque não faria sentido o governo anunciar restrição a despesas poucos dias após haver anunciado um pacote que aumenta as compras dos ministérios em R$ 6,6 bilhões este ano, como forma de estimular a indústria.

Outra opção diante do cobertor curto seria reduzir a meta de superávit primário (diferença entre receitas e despesas sem considerar pagamento de juros), fixada em R$ 139,8 bilhões este ano, dos quais R$ 97 bilhões devem ser poupados pelo governo federal e R$ 42,8 bilhões por Estados e municípios. Há um grupo dentro do governo pressionando pela redução da meta primária, como forma de abrir mais espaço para ações de estímulo à economia, mas no momento a balança parece pender mais para o outro lado.

Esforço maior. A meta fiscal de R$ 139,8 bilhões representa 3,1% do PIB pelas contas do governo, que pressupõe um crescimento de 4,5%. Como as previsões de expansão do Produto estão em baixa, inclusive dentro do governo, o esforço fiscal ficará maior, quando medido como proporção do PIB.

Nas contas do economista Mansueto Almeida, o governo persegue um resultado de 3,2% do PIB e não de 3,1%, supondo que o crescimento seja de 1,5% este ano.

Montero chega a um resultado parecido. Ele calcula que, antes da mudança de cenário para o crescimento econômico, o governo tentava chegar a um primário de 3% do PIB e agora está em 3,1% do PIB. É a mesma conta feita pelo Banco Central. "Se o ano for realmente ruim, então podemos arredondar para 3,2%."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Emprego na indústria teve queda de 1,7% em maio, a maior desde 2009

Salários recuaram 2,5% no mês, pela terceira vez seguida, segundo o IBGE

Rennan Setti

Os sucessivos resultados negativos da produção industrial estão provocando demissões e perdas salariais no setor. O emprego na indústria brasileira recuou 1,7% em maio na comparação com o mesmo mês de 2011, informou o IBGE ontem. Foi a oitava queda consecutiva e a mais intensa desde dezembro de 2009, no auge da crise global e quando o emprego na indústria recuou 2,4%. Frente a abril, a redução foi de 0,3%, o terceiro resultado negativo seguido. No ano, o recuo é de 1,1% na comparação com igual período de 2011. Já a perda acumulada nos últimos 12 meses é de 0,3%.

A folha de pagamento real também diminuiu. Apesar de ainda sustentar crescimento no ano (3,8%), o indicador caiu 2,5% em maio, sua terceira queda seguida na comparação com o mês anterior. Seu avanço em relação a 2011 foi de 1,1%, o menor desde outubro e muito abaixo do patamar superior a 4% exibido nos outros meses do ano.

Houve redução no contingente de funcionários em 12 das 14 áreas pesquisadas, em relação ao ano passado. O principal impacto negativo veio de São Paulo, com queda de 3,2%. Do Nordeste (-2,6%) veio a segunda maior contribuição negativa. No Rio, houve queda de 0,8%. Os únicos dois estados com resultados positivos foram Paraná (2,2%) e Minas Gerais (0,3%).

Setor de minério e petróleo contratou mais 3,4%

O emprego caiu também em 12 dos 18 segmentos da indústria. E os que mais sofrem são os ligados à indústria de transformação, justamente a que mais emprega. São as fábricas das áreas têxtil (cujo emprego caiu 5,7% no mês), de vestuário (-8,7%), calçados (-6,1%) e metalurgia (-4,8%), prejudicadas pelo câmbio que favorece a importação e prejudica a entrada em outros países, avaliou o coordenador das pesquisas de indústria do IBGE, André Macedo.

- Há nesses setores uma influência muito clara da forte presença de produtos importados no país - analisou Macedo.

A indústria extrativista vai na contramão do setor, com crescimento de 3,4% no pessoal ocupado entre abril e maio. O segmento é sustentado pela extração de minério e petróleo - em suma, por Vale e Petrobras -, mas o economista do IBGE observa que o setor emprega pouco e teve impacto de apenas 0,1 ponto percentual no índice mensal.

FONTE: O GLOBO

Desemprego nos polos industriais

Polos industriais do país já registram desemprego na indústria de transformação e houve mais demissões que contratações no acumulado de janeiro a maio.

Na Região Metropolitana de São Paulo, são 6,6 mil empregos a menos e em Sobral, que concentra a indústria calçadista do Ceará, ocorreram 1,6 mil demissões neste ano, entre outros exemplos observados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre as cidades do ABC Paulista, a indústria fechou 2,5 mil vagas em São Bernardo e Diadema entre janeiro e maio. No país como um todo, a indústria de transformação ainda criou 117 mil empregos formais até maio, mas o saldo é bem inferior ao observado no mesmo período do ano passado

Desemprego industrial cresce em várias cidades-polo do país

Tainara Machado e Marcos de Moura e Souza

SÃO PAULO e BELO HORIZONTE - Em diferentes polos industriais do país, a indústria de transformação demitiu mais do que contratou entre janeiro e maio. Em Manaus, o saldo é de 4,2 mil vagas fechadas. Na região metropolitana de São Paulo, são 6,6 mil empregos a menos e em Sobral, que concentra a indústria calçadista do Ceará, 1,6 mil demissões ocorreram no período, entre outros exemplos espalhados pelo país, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No Brasil como um todo, a indústria de transformação ainda criou 117 mil empregos formais até maio, mas o saldo é bem inferior aos 236 mil novos empregos do começo do ano passado.

O desemprego industrial é pulverizado, marcado pela não reposição da rotatividade inerente ao mercado de trabalho (como aposentadorias, demissão por iniciativa do empregado e desligamento por justa causa) e pelo início de demissões em pequenas e médias empresas, especialmente, segundo informações de dirigentes dos sindicatos que concentram as demissões. Entre as cidades do ABC paulista, a indústria fechou 2,5 mil vagas em São Bernardo e Diadema entre janeiro e maio, enquanto o saldo positivo de Santo André e São Caetano é de 160 empregos.

Para Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as demissões ainda não ocorrem em grande volume porque as grandes empresas do setor, como montadoras e sistemistas, têm fôlego financeiro para administrar a situação de paralisação da produção com férias coletivas e uso do banco de horas dos funcionários.

Por enquanto, são as pequenas fornecedoras de partes e peças que mais sofrem com a retração das encomendas na cadeia automobilística. "Quando a crise se instala, essas empresas não conseguem sustentar o emprego e, em alguns casos, precisam demitir até 10% do seu quadro de funcionários", diz Nobre. Como são de pequeno porte, as demissões podem variar de 10 a 15 funcionários por empresa.

José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, ressalta que ainda não é uma questão de desemprego em massa, mas empresas que já recorreram a férias coletivas e licença remunerada, por exemplo, estão deixando de repor parte das vagas deixadas em aberto pela rotatividade normal do setor. A indústria de transformação na cidade fechou 1,1 mil postos de trabalho entre janeiro e maio.

Pereira relata que algumas companhias instaladas em Guarulhos já procuraram o sindicato para negociar redução da jornada de trabalho e dos salários e diz que, se o setor não responder aos estímulos já concedidos pelo governo, como redução do IPI para itens da linha branca e veículos, por exemplo, as demissões podem ocorrer em escala maior a partir de agosto.

Em Manaus, onde os desligamentos superaram admissões em 4,2 mil, o problema se concentra na indústria de motos, que também vem realizando cortes. Só na Honda - maior do setor, com quase 80% do mercado - 886 funcionários deixaram a fábrica. Na Yamaha, 423 foram desligados.

As montadoras de motos já começaram a conceder as férias coletivas que estavam programadas para este mês, o que deve ajudar o setor a adequar a produção a um mercado retraído. Na Honda, a maior parte dos funcionários volta hoje, após dez dias de férias. Mas, em duas de suas cinco linhas de produção, a montadora estendeu a parada por mais uma semana.

Para Henrique Nora, presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) no Sul do Estado, as grandes empresas tentaram evitar demissões no fim de 2011, apesar da produção estagnada, mas como o ambiente que se instalou foi de crise, as indústrias começaram a demitir. Em Resende, foram fechadas 360 vagas.

Em Pernambuco, segundo Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), o forte volume de demissões nos cinco primeiros meses do ano ocorreu por fatores sazonais, já que o período entre fevereiro e maio é marcado pela entressafra da cana-de-açúcar. No Estado, foram fechadas 25 mil vagas nos cinco primeiros meses do ano, mas boa parte delas (23,9 mil) ocorreu na indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico.

Segundo Cunha, questões climáticas, como a forte seca na região, devem resultar em uma safra cerca de 20% menor neste ano do que em 2011. Com menos toneladas de cana para colher, o setor deve reduzir as contratações neste ano para 85 mil - no ano passado, foram cerca de 100 mil.

Em Betim, onde está a Fiat e várias empresas de autopeças, o quadro, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, João Alves de Almeida, é de aumento no ritmo da produção desde junho em função dos estímulos do governo para a venda de veículos. Como resultado, operários estão sendo convocados para trabalhar aos sábados ou mais horas ao longo da semana, diz ele. Mesmo assim, mais de 600 empregos foram fechados na cidade até maio.

Em Contagem, outro polo importante da indústria, e Belo Horizonte a situação não é muito diferente, segundo Geraldo Valgas, presidente do sindicato dos metalúrgicos das duas cidades. "No setor de autopeças, estamos fechando mais acordos de PLR este ano do que no ano passado. As empresas começaram a fazer os acordos mais ou menos em maio", disse. A queixa é que na movimentação de demissões e contratações, a regra passou a ser demitir funcionários com mais experiência e maiores salários por mão de obra mais jovem e mais barata.

Colaborou Eduardo Laguna

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Ação de Kassab em Minas racha PSD

Depois de ex-ministro Roberto Brant deixar sigla, senadora Kátia Abreu critica "medida de força" e pede reunião da Executiva nacional

Christiane Samarco

BRASÍLIA - A ação para se aliar ao ex-ministro Patrus Ananias (PT) em vez de apoiar a reeleição de Marcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte começa a custar caro ao presidente nacional do PSD e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Depois de anunciar intervenção no diretório municipal da capital mineira, o partido perdeu seu vice-presidente Robert Brant (MG) e agora vê outra vice-presidente, a senadora Kátia Abreu (TO), questionar a "medida de força" tomada pelo líder da recém-criada sigla.

A exemplo do ex-ministro mineiro, Kátia Abreu ajudou Kassab a estruturar o PSD. Agora, a senadora tornou-se porta-voz da primeira dissidência contra o comando partidário.

Enquanto ela enviava ao prefeito uma carta de protesto para manifestar "indignação e repúdio à intervenção arbitrária e clandestina", parlamentares do PSD já se movimentavam ontem para forçar uma reunião da executiva nacional. Os dissidentes querem exigir de Kassab o "compromisso moral" de que a intervenção "à la Belo Horizonte" não se repetirá.

Resposta. Kassab explicou que agiu para dar uma resposta rápida do partido, em situação de emergência. Argumentou que a nacionalização da campanha em Minas acabou antecipando o embate entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (MG), virtual pré-candidato tucano à Presidência. E disse que, diante do rompimento repentino da aliança entre o PT e o PSB, teve apenas dez horas para reposicionar o partido.

A falta de tempo para seguir o rito da política, reunindo dirigentes municipais e estaduais, foi a justificativa para a intervenção. Kassab entendeu que manter a aliança significaria jogar o PSD prematuramente nos braços de Aécio. Brant saiu da sigla dizendo que sequer foi ouvido, o que fez Kátia Abreu afirmar ao prefeito que ele abandonou "qualquer resquício de lealdade e respeito devido aos dirigentes". Kassab alega ter apoio de 4 dos 6 deputados do PSD em Minas.

Após divulgar sua carta ontem à tarde, a senadora recebeu oito ligações de solidariedade de deputados federais. Aos que lhe cobraram conhecimento prévio sobre o texto, disse não ter avisado ninguém porque "não queria promover um motim, e sim fazer uma declaração de princípio".

De qualquer forma, até parlamentares próximos de Kassab entendem que ele não terá como escapar à reunião da executiva. Os autodenominados bombeiros da crise não trabalham contra a ideia de levar a questão à direção partidária. Tentam apenas ganhar tempo para acalmar ânimos, evitando um levante.

O que mais preocupa é a reação da senadora, que diz não se conformar com "a truculência típica de um feitor". Ela argumenta que uma medida dessa natureza não se decide "trancado em quarto de hotel". "Se fosse em cima de mim no Tocantins, me obrigando a coligar com o PT, seria a desmoralização total."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Eleição em BH começa apertada

Disputa começa apertada em BH

Primeira pesquisa do Instituto EmData mostra o prefeito Marcio Lacerda com cinco pontos percentuais à frente do ex-ministro Patrus: 34% a 29%. Os outros cinco candidatos somam 7%

Isabella Souto

Cinco dias depois do início da campanha pelo comando da capital mineira, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) e o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias (PT) aparecem na primeira rodada da pesquisa realizada pelo Instituto EMData com 34% e 29% das intenções de voto, respectivamente. A polarização, segundo os responsáveis pelo levantamento, pode ser explicada por dois fatores: ambos são bem conhecidos e aprovados pelos belohorizontinos e, até 30 de junho, a expectativa era que seus partidos disputassem juntos as eleições de outubro. Na modalidade espontânea, em que os nomes não são apresentados ao eleitor, os números foram 13% e 12%.

O levantamento foi realizado entre o dia 8 e ontem com 600 eleitores e tem margem de erro de quatro pontos percentuais para mais ou para menos – daí o empate técnico entre Lacerda e Patrus. Considerando a margem de erro na estimulada, o prefeito teria entre 30% e 38% e Patrus, entre 25% e 34%.

Os demais cinco candidatos a prefeito estão bem abaixo na preferência do eleitorado: Vanessa Portugal (PSTU) foi apontada por 3% dos entrevistados, Maria da Consolação (PSOL), Pedro Paulo (PCO), Alfredo Flister (PHS) e Tadeu Martins (PPL) receberam cada um 1% das indicações de voto. O índice de indecisos e de quem vai anular o voto ou votar em branco soma 30%.

O equilíbrio entre Marcio Lacerda e Patrus Ananias se mantém até no índice de conhecimento dos candidatos: ambos são bem conhecidos por exatos 43% dos entrevistados. Entre aqueles que conhecem mais ou menos, o índice foi de 42% e 36%, respectivamente. Nunca ouviram falar do atual prefeito 1% daqueles que responderam ao questionário, enquanto 3% não sabem quem é o ex-ministro. O mesmo empate é verificado quando a pergunta se tratou do grau de aceitação dos candidatos: 38% elegeram um deles como o único em que votariam – 19% para cada um.

O eleitor de Lacerda, no entanto, tende a ser mais fiel, pois 38% admitiram que poderiam escolher outro nome, seis pontos percentuais abaixo dos 44% que indicaram a preferência pelo petista, mas com disposição para votar em outro. Já no quesito rejeição, Patrus levou a melhor: é reprovado por 24% dos entrevistados, enquanto 32% afirmaram que não votariam pela reeleição do socialista. "Talvez por estar na prefeitura, a rejeição do Lacerda é maior que a do Patrus, o que é normal", afirma o cientista político Adriano Cerqueira, coordenador do Instituto EMData.

Cerqueira lembra ainda que 45% dos entrevistados quer a continuidade da atual administração, 10 pontos percentuais acima dos 35% que pretendem votar no candidato de oposição. A participação do PT na atual administração pode acabar confundido o eleitor. Em 2008, as duas legendas se aliaram e o PT indicou Roberto Carvalho para vice-prefeito. "Com esse histórico de aliança, um pode acabar perdendo voto para o outro", analisa Adriano Cerqueira.

Mulheres A pesquisa mostra um ponto positivo para Patrus: a filiação ao partido apontado como o preferido de 25% dos entrevistados, o PT. Já Lacerda conta com o fato de ser o nome que representa oficialmente a continuidade e ainda tem a gestão aprovada por 63% dos eleitores.

A preferência dos candidatos entre homens é a mesma, 34% para cada, mas Lacerda leva vantagem em relação às mulheres: 34% das eleitoras estão dispostas a votar nele, enquanto 26% escolheram o petista. Por faixa etária, Lacerda tem mais aceitação entre os que estão na faixa etária entre 35 e 44 anos (39%) e menor entre aqueles com mais de 60 anos (26%). Este último grupo é justamente aquele em que Patrus recebeu o maior índice de aprovação, 35%. Na outra ponta, tem o menor percentual de votos entre jovens de 16 a 24 anos (17%). Segundo Adriano Cerqueira, o que pode explicar em parte esse número é o desconhecimento. Quando administrou a capital (entre 1993 e 1996), esses eleitores ainda eram crianças.

Para ganhar as eleições, o candidato deve dar mais atenção para a saúde, setor considerado o maior problema da capital para 45% dos entrevistados. A segurança pública é assunto prioritário para 14% dos belo-horizontinos e o combate ao tráfico de drogas para 9%.

Governo tucano

A pesquisa do EMData avaliou ainda o governo de Antonio Anastasia (PSDB). A gestão tucana é aprovada por 63% dos eleitores da capital – somados aqueles que a consideraram ótima, boa e regular positiva. Outros 25% desaprovam o governo e 11% são indiferentes à administração estadual.

Registro

A pesquisa do Instituto EMData – que completa 10 anos em 2012 – foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) com o número MG00136/2012 e contou com a consultoria técnica da empresa Giga Consultoria Ltda

FONTE: ESTADO DE MINAS

Paes desafia procurador: "Ele critica muito rápido"

Em resposta ao procurador eleitoral Maurício Ribeiro, que viu abuso de poder no uso do Palácio da Cidade para receber o craque Seedorf, o prefeito Eduardo Paes foi ao ataque. Disse que Ribeiro “critica muito rápido” sem saber “o que estava acontecendo”. “Não posso cumprimentar um atleta? É um absurdo, eu não pedi voto.”

Paes ironiza críticas do Ministério Público

Prefeito defende evento com Seedorf no Palácio da Cidade : "Não pedi voto. Cumprimentei o sujeito e a imprensa tirou foto"

Luiz Gustavo Schmitt, Renato Onofre

O prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, rebateu as críticas feitas pelo procurador regional eleitoral, Maurício da Rocha Ribeiro, que classificou a cessão do Palácio da Cidade para o Botafogo apresentar o jogador holandês Clarence Seedorf como abuso de poder político. Na segunda-feira, durante a apresentação, o prefeito posou para fotos com o jogador e entregou uma camisa ao craque. Paes ironizou:

- Eu sou prefeito do Rio de Janeiro, quer ele goste ou não - ironizou o prefeito ontem em um café da manhã com representantes do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro.

Paes disse ainda que o presidente do clube alvinegro, Maurício Assumpção, fez o pedido por telefone, mas não comentou o fato de os dois serem filiados ao PMDB.

Para o procurador, a ligação partidária põe mais uma dúvida sobre as intenções do evento.

Paes ainda criticou o posicionamento público do procurador:

- Acho que ele (referindo-se ao procurador) critica muito rápido. Ele não sabia nem o que estava acontecendo e já faz um monte de adjetivação. Já faz um monte de comentários. Como prefeito, eu não posso cumprimentar um atleta como Seedorf? É um absurdo. Eu não pedi voto. Não fiz nada. Eu cumprimentei o sujeito e a imprensa tirou foto. Não tem problema nenhum.

- Por que ele não fez isso antes? Porque agora, com o presidente de um time que é seu colega de partido ? - rebateu o procurador Ribeiro.

Para ele, Paes não está sabendo compatibilizar a função de prefeito com a de candidato:

- Ele diz que é prefeito de segunda à sexta e que, nos finais de semana, é candidato. Na minha opinião não é. Se ele se sente à vontade nessa condição, parabéns para ele

Durante o evento com o sindicato, Paes ainda prometeu a ampliação, até Santa Cruz, da TransBrasil - corredor viário que ligará a Zona Oeste ao Centro. Contudo, à tarde, voltou atrás e afirmou que, por enquanto, essa é só uma ideia.

FONTE: O GLOBO

De novo a gaiola de ouro :: Zuenir Ventura

Agente vem de um Brasil que dá alegria por dar certo para cair em outro, mais real, que nos enche de vergonha. O primeiro é o da Flip, que há dez anos reúne anualmente em Paraty escritores do Brasil e do exterior para falarem de cultura numa festa literária única, cheia de charme, inteligência e carisma, e sem se apoderar do dinheiro público. O segundo é o descrito esta semana pelos repórteres Dorio Ewbank Victor e Luiz Gustavo Schmitt, do GLOBO. É o da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que parece estar querendo reconquistar o velho título de Gaiola de Ouro, assim chamada por causa do exagerado custo de sua construção, entre outros desatinos posteriores. Agora, a casa de triste reputação conseguiu se destacar no ranking nacional como a segunda mais cara do país. Seus 51 vereadores consomem nada menos que R$ 398 milhões por ano, ou seja, R$ 63 do meu, do seu, do nosso dinheiro. Esse desperdício seria menos escandaloso se os representantes do povo fizessem jus ao que recebem. Mas não. Segundo levantamento dos repórteres, das 244 propostas apresentadas no primeiro semestre, só 20 foram aprovadas, sem falar nas sessões canceladas por falta de quorum. Eles não compareceram a quase 20% das sessões corridas. Há evidentemente os que, como Andrea Gouvêa Vieira e Teresa Bergher, do PSDB, Eliomar Coelho e Paulo Pinheiro, do PSOL, e Sonia Rabello, do PV, honram o mandato. Mas são exceções.

Aliás, quem melhor diagnosticou o fenômeno foi Andrea: "O mandato de vereador vem sendo confundido com um emprego e com a busca de ascensão social e econômica. Está errado." Segundo ela, quem depende desse "emprego" para pagar as contas de casa "fará qualquer negócio para mantê-lo". Coerente, a vereadora decidiu não concorrer a um terceiro mandato, um compromisso que assumiu ao obter o primeiro, em 2004. Ela argumenta que a limitação de dois mandatos deveria valer também para o Legislativo, e não apenas para o Executivo.

O perigo dessa atitude é vir a ser seguida por todos os melhores, permanecendo na Câmara apenas os piores. O trabalho de profilaxia deveria ser feito pelos eleitores conscientes. Mas onde é que eles estão?

Na véspera de morrer, Ivone Kassu me convidou por e-mail para assistir à estreia no Teatro Fashion Mall da peça "Em nome do jogo". Como não estaria aqui, respondi que na volta iria sem falta. Convite "da Kassu" era convocação, não dava para não atender. Ela foi uma das mais dedicadas e eficientes divulgadoras da nossa cultura. Por isso é que na sua missa de sétimo dia estavam lá, entre muitos outros artistas, Erasmo e Roberto Carlos, duas presenças raras nessas cerimônias de adeus.

FONTE: O GLOBO

Em Recife, oposição define agenda

Rebeca Buarque

RECIFE — Enquanto os candidatos do PSB, Geraldo Julio, e do PT, Humberto Costa, despontam como favoritos na disputa pela prefeitura do Recife, os principais nomes da oposição — Mendonça Filho (DEM) e Daniel Coelho (PSDB) — tentam direcionar o rumo das respectivas campanhas. O concorrente do Democratas cumpriu agenda com lideranças religiosas e o tucano anunciou mudanças no próprio estilo para arregimentar eleitores.

Na manhã de ontem, Mendonça Filho firmou compromissos de cunho religioso e social com o arcerbisbo de Recife e Olinda, dom Fernando Saburido, e o presidente da Igreja Batista da Capunga, Ney Ladeia. No primeiro encontro, o deputado se comprometeu em reverter, caso eleito, o problema da desapropriação de terras da Igreja Católica usadas como sede de projetos sociais, em 2010, pelo atual prefeito, João da Costa (PT). Segundo o arcebispo, a prefeitura não comunicou oficialmente a instituição nem a procurou para fazer acordo. "Um absoluto descaso do prefeito", disparou Mendonça. Entre as promessas, o candidato se comprometeu a auxiliar e incentivar pastorais voltadas para o trabalho com o público jovem.

Meio ambiente

Conhecido pelo perfil combativo, o tucano Daniel Coelho promete que vai assumir um perfil mais voltado para o diálogo no pleito deste ano, com foco na questão ambiental. "Nosso objetivo é fazer uma campanha propositiva, apresentando soluções para os problemas históricos do Recife", enfatizou, na tarde de ontem. "Não haverá ataques pessoais, mas a cobrança de postura", explica. Dentro desse contexto, o deputado estadual tucano citou bandeiras como o combate às dificuldades em relação à mobilidade na capital e à questão ambiental.

"A cidade vai ter um milhão de veículos em circulação daqui a alguns anos. Isso chega perto do número de habitantes do Recife", lembrou Coelho, apontando como única solução medidas que convençam o recifense a deixar o carro em casa e adotar outros meios de transporte. "Isso se consegue com corredores exclusivos para ônibus, veículos com ar-condicionado e ciclovias", pontuou.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Oposição fica com 0,5% dos convênios

Ribamar Oliveira

BRASÍLIA - Os partidos de oposição ficaram com apenas 0,58% do valor total dos convênios assinados pelo governo federal com municípios este ano, a partir de emendas parlamentares ao Orçamento, segundo levantamento feito pelo PSDB no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e no Sistema de Convênio (Siconv). Os partidos da base aliada ficaram com 99,42% dos convênios. O levantamento do PSDB foi feito até o dia cinco deste mês, um dia antes do prazo final para a assinatura de convênios, determinado pela legislação eleitoral.

Até aquele dia foram assinados convênios no valor de R$ 364,9 milhões. As verbas são colocadas no Orçamento pelos parlamentares e, com a assinatura do convênio, o governo autoriza o empenho da dotação, ou seja, libera o gasto. Os partidos da base aliada do governo ficaram com R$ 362,8 milhões, enquanto os partidos da oposição tiveram apenas R$ 2,1 milhões.

Essa foi a primeira vez em que ocorreu uma diferença tão grande de tratamento entre os partidos aliados do governo e os da oposição na assinatura desse tipo de convênio, segundo os assessores do PSDB responsáveis pelo levantamento. Em anos anteriores, de acordo com eles, a liberação dos convênios manteve uma certa proporção com a representatividade de cada um dos partidos no Congresso.

O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) protestou contra o que chamou de "discriminação" do governo contra os eleitores que votaram em parlamentares da oposição. "O tratamento que o governo federal vem dando aos parlamentares dos partidos de oposição não é republicano", afirmou. Nogueira, que é o coordenador da bancada do PSDB na Comissão Mista de Orçamento do Congresso, afirmou que os deputados e senadores oposicionistas também foram eleitos pelo povo. "Portanto, o governo está discriminando o povo", disse. Para Duarte, a única explicação para esse comportamento é a eleição municipal deste ano.

Os números mostram também que houve, até agora, uma baixa execução das emendas parlamentares. O valor dos convênios assinados até o dia cinco deste mês representa apenas 4,1% do total incluído por deputados e senadores no Orçamento deste ano. No caso dos partidos da base aliada, o valor liberado corresponde a pouco menos de 5% do total apresentado, enquanto que para os partidos da oposição, o valor liberado representa 0,15% do total apresentado. "O que é ruim para os partidos da base, é pior ainda para a oposição", resumiu um assessor.

Os líderes governistas tentavam votar na Comissão Mista de Orçamento, ontem à noite, a lei de diretrizes orçamentárias (LDO) válida para 2013. Os partidos da oposição iriam obstruir a votação, pois algumas de suas emendas ao texto não estavam sendo acolhidas pelo relator da LDO, senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE). Uma das principais emendas apresentadas pelos oposicionistas determina que o governo reduza em 50% o estoque dos restos a pagar que ficará para 2014, em relação ao estoque que ficará para 2013.

Outra emenda dos partidos de oposição obriga o governo a discriminar as despesas discricionárias que foram contingenciadas. Atualmente, o governo anuncia apenas o valor global por ministério ou órgão público, ficando a critério de cada mistro definir onde os cortes serão feitos. Assim, o Congresso não toma conhecimento do que será efetivamente cortado. A emenda da oposição obriga o governo a informar, quinze dias depois do contingenciamento, quais dotações foram cortadas.

A oposição apresentou ainda uma emenda proibindo que o governo faça contingenciamento das verbas orçamentárias destinadas à reconstrução da base Comandante Ferraz, na Antártica, que foi destruída por um incêndio.

VALOR ECONÔMICO

Lições ao senador:: Merval Pereira

Precisar, não precisava, mas o caso dos catadores de papelão em São Paulo Rejaniel Santos e Sandra Domingues, que encontraram R$ 20 mil em sacos plásticos atrás de uma árvore próxima ao viaduto onde dormem e procuraram a polícia para devolver o dinheiro, faz um contraponto poderoso ao senador Demóstenes Torres, que deve ser cassado hoje pelo Senado.

Não era preciso uma contraposição tão escandalosa, que coloca dois pobres trabalhadores na escala mais baixa da sociedade a dar lições de moral a um senador da República, já que as gravações que incriminaram Demóstenes falam por si.

Mas, no Brasil, um gesto como esse ainda é tratado como fato anormal, dá primeira página de jornal, e periga os catadores honestos serem criticados pela "burrice" que fizeram. Parece o caso de uma amiga que, exilada nos anos 70 do século passado na Suécia, se espantou com a foto na primeira página de um jornal de um rato que aparecera na cidade. Fatos inusitados na pequena cidade sueca daquele tempo e hoje no Brasil.

Imediatamente, ambos entregaram o dinheiro à polícia. "A minha mãe me ensinou que não devo roubar", explicou candidamente Rejaniel Santos. "E que devia contar à polícia se visse alguém roubando."

Já o quase ex-senador Demóstenes Torres encontrou uma maneira mais adequada a estes tempos de moral complacente para se explicar a seus colegas: disse da tribuna do Senado que mentir não é quebra de decoro.

Como um experiente promotor, Demóstenes Torres agarrou-se a duas estratégias na sua defesa. Do ponto de vista jurídico, alega que as gravações em que foi apanhado em flagrante não tinham autorização da Justiça, pois a Polícia Federal investigava o bicheiro Carlinhos Cachoeira e apanhou o senador com a boca na botija de maneira indireta.

É possível que o advogado de Demóstenes, Antonio Carlos de Almeida Castro, o experiente Kakay, consiga anular no Supremo a legalidade das gravações, mas será impossível apagar da memória dos senadores e, sobretudo, da opinião pública as conversas que ouviram.

No plano político, tentou em vão o apoio de seus pares para não ser julgado pela Comissão de Ética e foi condenado por unanimidade.

Um dos pontos levantados contra ele foi justamente o fato de ter mentido a seus pares, negando um relacionamento com o bicheiro que, ao final, ficou comprovado.

Nos últimos dias, Demóstenes Torres subiu à tribuna do Senado sete vezes seguidas, diante de um plenário praticamente vazio, para tentar a última defesa.

Jogou sempre no aspecto emocional, tentando transformar-se em uma vítima do sistema político. Essa estratégia de vitimização, ele já tentara logo no início do processo, quando disse, a certa altura, "Eu não sou mais o Demóstenes".

Na ocasião, ouvi o psicanalista Joel Birman, que viu na frase a revelação de uma personalidade psicologicamente quebrada, como se dissesse "Eu não sei mais quem é o Demóstenes".

Na sua defesa da tribuna, Demóstenes Torres continua confirmando que o personagem que ele criou para si próprio não era uma mentira, ele incorporou esse personagem e acreditava nele.

Podia acusar com veemência seus colegas senadores apanhados em desvios, como o senador Renan Calheiros, enquanto mantinha o relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira porque, como todo psicopata, não misturava as personalidades, analisou Birman. Ele vestiu uma máscara, e ela acabou se colando em seu corpo.

Outro que parece ter duas personalidades é o prefeito petista de Palmas, no Tocantins, Raul Filho, flagrado em uma conversa comprometedora com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que tem o hábito de gravar seus encontros.

O prefeito, sentado naquele sofazinho do gabinete do bicheiro, foi abrindo propostas de parceria em seu futuro governo e não podia imaginar que, dentro do ar-condicionado, havia uma câmera filmadora.

Foi por isso que ele, num ato falho típico, disse que teve a "infelicidade" de ser gravado, em mais um comentário próprio dos tempos aéticos que vivemos na política.

O mais grave dessa sucessão de envolvimentos de políticos com o bicheiro é a constatação de que o crime organizado já estava tomando conta da política nacional.

Depois de ouvir os delegados da Polícia Federal que trabalharam na investigação, o senador Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso, disse que o bicheiro Carlinhos Cachoeira já estava no terceiro estágio do crime organizado, buscando negócios legais.

Oriundo do Ministério Público, assim como Demóstenes, o senador Taques tem experiência de acompanhar esse tipo de ação criminosa e não estava fazendo um comentário leviano.

As investigações revelaram com uma profusão de detalhes as ligações de Cachoeira com praticamente todos os níveis de poder da República, sendo que tinha no bolso do colete pelo menos um senador - Demóstenes Torres, ex-DEM de Goiás, que um dos delegados classificou como o braço político da organização - e dois deputados federais - Carlos Leréia, do PSDB, e Sandes Júnior, do PP, ambos de Goiás.

Além do Congresso, o bicheiro tinha influência importante sobre pelo menos dois governadores, o tucano Marconi Perillo (Goiás) e o petista Agnelo Queiroz (Brasília).

A atuação do mafioso não se limitava a Goiás, seu estado natal, ou ao Centro-Oeste, como quis fazer crer num primeiro momento o relator petista, tentando circunscrever as investigações ao interesse de setores de seu partido.

Seu império se espalhava por todo o país, e há ainda a se provar sua participação na empreiteira Delta, de quem parece ser um sócio oculto.

Mais do que o depoimento do dono da Delta, Fernando Cavendish, que acabou sendo convocado pela CPI, as investigações sobre as contas da empreiteira é que darão a real dimensão dos crimes praticados.

A cassação do senador Demóstenes é apenas uma etapa dessa investigação.

Isso se o Senado ainda se der ao respeito.

FONTE: O GLOBO