“Nos próximos pleitos, serão escolhidos, em eleição indireta, o governador, e, em eleições diretas, os deputados estaduais, federais e senadores. A ditadura está adotando uma série de medidas fascistas para evitar, em torno das eleições, os contatos e a movimentação políticos que certamente determinarão um impulso para o acordo de pontos de vista e a ação comum das forças de oposição. Acautela-se contra a possibilidade de as eleições se transformarem em elemento de contestação do regime, mesmo em escala reduzida. As eleições apresentam, assim, nas condições atuais, um duplo aspecto: de um lado, são mantidas porque o processo de fascistização não teve força para suprimi-las totalmente; de outro, porque ajudam a mascarar o caráter fascista da ditadura e a diminuir certas tensões políticas (conflito aberto com a direita liberal), que poderiam ser fatais ao regime atual.
Conscientes de tudo isso é que vamos trabalhar nas eleições.
Os obstáculos à atividade política, em torno das eleições, tornam-se ainda mais evidentes quando consideramos a imensa apatia popular em relação às mesmas.
O fato é que temos de empenhar-nos, desde já, junto às forças de oposição no estado, para pôr em andamento nossa tática eleitoral.
Levando em conta a força da ditadura, julgamos difícil colher, de imediato, grandes lucros políticos das eleições. Mas não podemos subestimar sua importância: abrem-se respiradouros, por menores que sejam, para a manifestação da vontade das massas e ampliam-se as possibilidades de criação de novos focos de resistência à ditadura.
Devemos, por isso, preparar imediatamente as candidaturas que apresentaremos ou apoiaremos, intensificando, ao mesmo tempo, as alianças políticas, organizando os contatos com líderes e cúpulas políticas e selecionando os quadros e recursos materiais para sustentar esta atividade. Agindo, é claro, sem perder de vista que o trabalho eleitoral é apenas um momento, e nada mais do que isto, do nosso esforço para a formação, na GB, da frente antiditatorial. É uma atividade que deve reforçar e ser reforçada pelas demais frentes de trabalho: sindical, estudantil, favelas, cultural, etc.
Chamamos, em último lugar, a atenção para a possibilidade que as eleições abrem para se estimular as crises e cisões no sistema de forças do governo, crises que minam e enfraquecem os seus suportes políticos.”
Passagem do texto Resolução Polítitica do PCB da Guanabara (março de 1970), de autoria de Armênio Guedes, extraída do livro Manifestos Políticos do Brasil Contemporâneo, org.: PENA, Lincoln de Abreu. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.
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