Diz-se logo, no governo, que não será uma reforma ministerial, tal o vazio conceitual da dita providência. Tão desmoralizada está que com ela ninguém quer se identificar. Mas vai haver mudança, sim, de condutores do governo Dilma, com a mesma filosofia de sempre: repor peças desgastadas pelo tempo, aquelas que chegaram com defeito de fabricação e nunca foram devolvidas, recuperar capacidade de iniciativa e recompor a aliança. Os fatos políticos mais próximos dessa mexida ocorrerão entre o resultado das eleições municipais, em outubro deste ano, e o resultado das eleições para presidente da Câmara e do Senado, em fevereiro do ano que vem. Depois disso, pensamentos e ações se voltarão para o projeto da reeleição da presidente Dilma Rousseff. É o calendário.
O PSD terá ministério, vai participar do governo Dilma depois das eleições municipais. Pode ser imediatamente após, pode ser em janeiro, quando Gilberto Kassab deixar o cargo de prefeito de São Paulo e passar a exercer a presidência do partido integralmente. A partir daí há uma sucessão de indefinições: o cargo pode ser para ele mesmo, ou pode ser para um outro nome do partido, por ele indicado, se até lá sobreviverem lideranças fortes aos métodos atordoantes do prefeito.
Em outra hipótese, a assunção do kassabismo ao governo Dilma pode também ficar para depois da eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, próximo embate político após as municipais, no qual o partido de GK terá um peso extraordinário.
Dilma dará ministério a Kassab ou a quem ele indicar
O PSD, sob Kassab, está e ficará aliado a Dilma Rousseff, por isso fez o que ela determinou (por iniciativa própria ou movida pelo antecessor Lula, não importa) no caso em que promoveu o racha da aliança PT-PSB em Belo Horizonte, resultando em duas chapas de aliados nas eleições municipais da cidade e escanteando, a um só tempo, dois presidenciáveis candidatos a concorrer com o PT em 2014 e 2018. São eles Eduardo Campos (PSB), um aliado, e Aécio Neves (PSDB), um adversário.
Tudo feito passando por cima da palavra empenhada e assinatura do vice-presidente do partido, o mineiro de raiz Roberto Brant, numa interferência na política local que o próprio presidente do PSD impediu que ocorresse, de fora para dentro, no caso da sua cidade, São Paulo.
Ali, o partido, que já vinha se aproximando de Dilma, foi conduzido para a aliança com o candidato oposicionista José Serra (PSDB), apesar de muitos, agora atingidos no seu acerto regional, terem defendido o contrário e aceitado a cor local. O argumento que serviu a São Paulo foi anulado em Belo Horizonte, incoerência que não causa a Kassab, como se vê, a menor espécie.
Por sinal, já prevendo a heterodoxia de suas articulações, o próprio presidente do PSD avisara ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff que em São Paulo ficaria com o PSDB mas no resto do país, tudo bem, seria o que quisessem.
O PSD pode até estar de olho em Eduardo Campos, mas para 2018; pode até estar associado a José Serra, mas em 2012. A moeda de troca kassabista nas municipais é para aqui e agora. O prefeito paga a conta do reconhecimento, no TSE, do tempo de televisão e o direito do PSD ao fundo financeiro partidário. E enquanto quita seu débito de hoje, vai aumentando o cacife para o futuro.
Há outras alterações no horizonte. Há seis meses que Brasília está tomada pelas notícias, originadas em diferentes ambientes, de insatisfação da presidente Dilma com o desempenho do ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Bem difuso o seu dissabor, vez que a política externa, como qualquer outra, é de autoria da própria presidente. Faz-se o que ela manda. Contudo, circulam informações abertas, cifradas ou criptografadas, de que ela não gosta da falta de musculatura do ministro, do jeito tímido, do academicismo do chanceler. Dilma queria mais animação, mais visão política e um pouco de agressividade, alguém que pegue as ideias que lança, sobretudo nos fóruns internacionais, e as multiplique. O exemplo muito citado foi o do "tsunami monetário", que Dilma lançou no exterior, considerou a metáfora um achado e esperava que o chanceler o explorasse mundo afora.
Já houve fase de negativa peremptória da queda do ministro Patriota, outras semanas em que apenas a ausência de um substituto o mantinha no cargo. Dizia-se também que Dilma não desejava a volta do ex-chanceler Celso Amorim, à disposição no Ministério da Defesa, porque também não concordava com a espalhafatosa gestão. Ela ouvia Marco Aurélio Garcia. Agora, porém, liberou geral, ela tem conversado muito até com Amorim, como informou Raymundo Costa ontem, neste espaço.
O ministério da Cultura sofre do mesmíssimo mal, é muito falada a insatisfação com o desempenho da ministra Ana de Holanda. Nesse caso há um pouco mais de precisão: a avaliação é que a ministra não faz uma gestão à altura do Brasil, da cultura brasileira. Acredita-se, por exemplo, que um país com esta importância não pode ter sua uma política cultural se sobrassaindo pelo que faz em direitos autorais. Uma pobreza.
Ninguém disse à irmã de Chico Buarque, porém, o que se pretende dela nessa área. Mas já se disse que é ela quem deveria dizer à presidente o que fazer. Nesses setores que vão dando errado não se fala na Dilma controladora e forte, incisiva e determinante. Pode estar chegando ao fim o constrangimento em demiti-la, até porque o intenso lobby armado contra ela por seus antecessores recolheu-se diante do efeito contrário que vinha provocando.
São três casos singulares, por enquanto: pôr o PSD no governo, dar gás às políticas externa e de cultura. Entrando na segunda metade do seu governo, após as eleições das Mesas da Câmara e do Senado, a presidente vai se atirar ao projeto de reeleição, esperando que até lá tenha funcionando o braço firme e pulso forte que vem exibindo no trato à crise na economia e à lentidão na gestão das obras, dois calcanhares que precisam se transformar em bandeiras eleitorais positivas.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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