O Estado de S. Paulo
Chama a atenção de vários analistas quão otimistas são as projeções do BC para o IPCA
Chama a atenção de vários analistas quão
otimistas estão as projeções de inflação do Banco Central, em particular a de
2026, que agora é o horizonte relevante para a política monetária. A questão é
que praticamente ninguém ainda entendeu direito o porquê de essas estimativas
estarem bem abaixo do consenso das projeções do mercado.
Para o ano inteiro de 2026, a projeção de inflação do BC, divulgada no comunicado da última reunião do Copom, é de 3,6%. Esse número é quase 1 ponto porcentual (0,90 ponto) abaixo da mediana das estimativas dos analistas para o IPCA de 2026 (de 4,50%) na última pesquisa Focus.
O que o BC estaria enxergando como trajetória
para a inflação que o mercado não está vendo? Ou melhor, o que o BC estaria se
negando a embutir nas suas projeções de inflação que o mercado já está prevendo
na dinâmica de preços?
Projeções de inflação mais otimistas do BC
não são novidades. Mas suscita desconfiança a grande discrepância entre o BC e
o mercado na estimativa para o IPCA do ano que vem. Essa divergência também
pode ser interpretada como falta de credibilidade por parte do mercado no
compromisso do Copom em trazer a inflação em direção à meta. Até porque um IPCA
de 4,50% está acima até do limite superior de tolerância da meta.
E 3,6%, embora muito acima do centro (3%),
ainda está no intervalo permitido de oscilação.
Em termos dos modelos usados para projetar a
inflação, não existem tantas diferenças entre os fatores que o BC e o mercado
usam para alimentar os seus cálculos. Talvez a divergência entre os números
seja em razão do peso dado pelo BC e pelos analistas a variáveis como
expectativas de inflação, hiato do produto (nível de ociosidade da economia),
câmbio e preços de commodities. Mas não é só uma questão de parâmetros.
Há suspeita de que, quanto às expectativas
inflacionárias, o BC não esteja levando em conta o impacto que os analistas
consideram que o risco fiscal, em 2026, terá sobre as projeções de inflação e,
por tabela, na inflação corrente. Os preços de serviços, por exemplo, sofrem
influência grande das expectativas inflacionárias. E a questão fiscal pesa. Do
lado do desempenho do PIB, há a crítica de que o BC ainda ignora o potencial
aumento na demanda em razão de estímulos ao crédito consignado do setor privado
ou da proposta de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil.
E a projeção de quem aposta dinheiro? A
inflação implícita nos títulos públicos, com vencimento em maio de 2027, é de
5,34%. Não à toa, a visão de que a inflação do BC está “Poliana” demais.
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