quarta-feira, 14 de maio de 2025

A inflação ‘Poliana’ do Banco Central - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas são as projeções do BC para o IPCA

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas estão as projeções de inflação do Banco Central, em particular a de 2026, que agora é o horizonte relevante para a política monetária. A questão é que praticamente ninguém ainda entendeu direito o porquê de essas estimativas estarem bem abaixo do consenso das projeções do mercado.

Para o ano inteiro de 2026, a projeção de inflação do BC, divulgada no comunicado da última reunião do Copom, é de 3,6%. Esse número é quase 1 ponto porcentual (0,90 ponto) abaixo da mediana das estimativas dos analistas para o IPCA de 2026 (de 4,50%) na última pesquisa Focus.

O que o BC estaria enxergando como trajetória para a inflação que o mercado não está vendo? Ou melhor, o que o BC estaria se negando a embutir nas suas projeções de inflação que o mercado já está prevendo na dinâmica de preços?

Projeções de inflação mais otimistas do BC não são novidades. Mas suscita desconfiança a grande discrepância entre o BC e o mercado na estimativa para o IPCA do ano que vem. Essa divergência também pode ser interpretada como falta de credibilidade por parte do mercado no compromisso do Copom em trazer a inflação em direção à meta. Até porque um IPCA de 4,50% está acima até do limite superior de tolerância da meta.

E 3,6%, embora muito acima do centro (3%), ainda está no intervalo permitido de oscilação.

Em termos dos modelos usados para projetar a inflação, não existem tantas diferenças entre os fatores que o BC e o mercado usam para alimentar os seus cálculos. Talvez a divergência entre os números seja em razão do peso dado pelo BC e pelos analistas a variáveis como expectativas de inflação, hiato do produto (nível de ociosidade da economia), câmbio e preços de commodities. Mas não é só uma questão de parâmetros.

Há suspeita de que, quanto às expectativas inflacionárias, o BC não esteja levando em conta o impacto que os analistas consideram que o risco fiscal, em 2026, terá sobre as projeções de inflação e, por tabela, na inflação corrente. Os preços de serviços, por exemplo, sofrem influência grande das expectativas inflacionárias. E a questão fiscal pesa. Do lado do desempenho do PIB, há a crítica de que o BC ainda ignora o potencial aumento na demanda em razão de estímulos ao crédito consignado do setor privado ou da proposta de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil.

E a projeção de quem aposta dinheiro? A inflação implícita nos títulos públicos, com vencimento em maio de 2027, é de 5,34%. Não à toa, a visão de que a inflação do BC está “Poliana” demais.

 

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