Andrea Jubé e Fernando Exman / Valor Econômico
Inelegível, ex-presidente é pressionado a
sinalizar preferência para eleição presidencial em 2026 ainda este ano
Em reuniões após a alta médica, em sua
residência, em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu a aliados
que está dividido entre lançar a candidatura da ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro (PL) à Presidência da República em 2026 ou apoiar o nome do
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para a sucessão
presidencial. Ao mesmo tempo, está empenhado em eleger o maior número de
senadores, a fim de elevar a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), em
uma estratégia que tem como uma das apostas a candidatura do vereador Carlos
Bolsonaro (PL).
De acordo com um interlocutor que o visitou nos últimos dias, aumentou a pressão de aliados para que o ex-presidente se posicione ainda neste ano sobre quem apoiará na corrida ao Palácio do Planalto, já que está inelegível. Em público, o ex-presidente continuará afirmando que será candidato no pleito de 2026. Em conversas privadas, entretanto, reconhece que terá de apoiar um aliado na disputa contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em provável reedição da polarização do pleito de 2022. Nesse contexto, seus interlocutores têm argumentado que Tarcísio teria que ser ao menos comunicado com antecedência para poder se preparar para a campanha, ainda que de forma sigilosa, e organizar sua sucessão.
Bolsonaro está com os direitos políticos
cassados até 2030, por força de decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
que considerou abuso de poder político a reunião convocada por ele com
embaixadores, realizada no Palácio da Alvorada, quando fez ataques ao sistema
eleitoral e às urnas eletrônicas sem apresentar provas.
Em paralelo, ele é réu na ação penal, em
tramitação no STF, que julga os responsáveis pela trama golpista que tentou
impedir a posse de Lula, e pelos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de
janeiro de 2023. Aliados não descartam o risco de que, se for condenado, o
ex-presidente esteja preso durante a campanha eleitoral do ano que vem. Em
defesa apresentada à Corte, ele nega ter articulado a suposta trama golpista e
praticado qualquer ilegalidade.
Nesse cenário, e segundo relato deste
interlocutor ao Valor,
Bolsonaro estaria convencido de que somente a eleição de um aliado, de sua
inteira confiança, poderia lhe assegurar um indulto em 2027, ou seja, o perdão
presidencial, capaz de absolvê-lo das acusações da Procuradoria-Geral da
República (PGR), de que estaria à frente da trama golpista em julgamento no
STF.
Nesse ponto, uma liderança do Republicanos,
partido de Tarcísio, pondera que seria preciso dialogar com o STF sobre a
concessão do indulto, já que a Suprema Corte tem competência para revogar o
benefício. Para isso, avalia que Tarcísio seria melhor opção do que Michelle,
porque a percepção é de que os magistrados não estariam abertos ao diálogo com
um dos representantes da família de Bolsonaro.
Em maio de 2023, o STF anulou o perdão
presidencial com que Bolsonaro havia agraciado o ex-deputado Daniel Silveira,
condenado a oito anos e nove meses de reclusão por ataques ao Estado
Democrático de Direito. No caso, a Corte entendeu que houve “desvio de
finalidade” na concessão do benefício.
Em contrapartida, Tarcísio sofre restrição de
apoiadores de Bolsonaro que não veem o governador como um legítimo
representante do “bolsonarismo-raiz”, enquanto Michelle desponta como herdeira
natural do bolsonarismo, ao lado dos filhos do ex-presidente, como o senador
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Além disso, no momento, Michelle tem melhor desempenho nas pesquisas internas
contratadas pelos partidos do que Tarcísio.
Um interlocutor do governador disse ao Valor, entretanto, que ele
descarta concorrer ao Planalto, e que está empenhado em disputar a reeleição no
ano que vem.
Simultaneamente, Bolsonaro está debruçado
sobre o mapa dos Estados onde tem chances razoáveis de eleger, pelo menos, 40
senadores, o que lhe viabilizaria fazer maioria no Senado a partir de 2027, com
força para eleger o presidente da Casa e aprovar pedidos de impeachment contra
ministros do STF.
Como em 2026 serão renovados dois terços do
Senado, com duas vagas por Estado, Bolsonaro foi convencido a apostar em duplas
de candidatos, onde um deles será um “puro de origem”, ou seja, um
bolsonarista-raiz, enquanto o outro será um aliado de direita.
Outro cálculo é de que, em casa, ele pode fazer até quatro senadores, com Michelle podendo se eleger em uma das vagas pelo Distrito Federal. Nessa contabilidade, Flávio deve ser reeleito no Rio de Janeiro, enquanto Eduardo, que está nos Estados Unidos, poderia retornar ao Brasil e concorrer ao Senado por São Paulo. Carlos, que foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro no ano passado, seria uma espécie de “coringa”, podendo concorrer ao Senado por um Estado menor, a ser designado por Bolsonaro. Procurado por meio da assessoria do PL, Bolsonaro não retornou. Já um interlocutor do vereador disse que Carlos é parlamentar no Rio e, se for se candidatar a algum cargo, será pelo Estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário