Valor Econômico
Reação interna de Lula para recompor forças
passou por um encontro com Alexandre de Moraes
Donald Trump, Jair Bolsonaro e Tarcísio de
Freitas uniram-se para reeleger Lula, mas a atuação da tríplice aliança teve
contrapartida nacional. O pacote da reação do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ao tarifaço Brasil envolveu um freio de arrumação na sua relação com os
Poderes que teve início algumas horas depois do anúncio do tarifaço de Trump.
Lula tratou de recompor o eixo depois do
estranhamento provocado pela suspensão do decreto do IOF por Alexandre de
Moraes. O ministro do Supremo Tribunal Federal foi recebido no Palácio do
Alvorada, encontro sobre o qual nenhuma das partes se pronuncia.
Chegara aos ouvidos de Lula que sua opção pela ministra-substituta do TSE, Vera Lúcia Santana, para uma das duas vagas de titular em disputa, atendendo ao movimento negro, ao Prerrogativas e ao gabinete da primeira-dama, havia deixado o STF em polvorosa e o ministro Flávio Dino, ausente de Brasília na semana passada, particularmente preocupado.
Ex-chefe de Estela Aranha no Ministério da
Justiça, Dino uniu-se à ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, a Moraes,
Gilmar Mendes, Cristiano Zanin e a quase toda a Esplanada para levá-la à Corte.
A presença da ex-secretária de direitos digitais do Ministério da Justiça no
TSE seria importante não apenas para a batalha de 2026 como para a manutenção
da inelegibilidade de Jair Bolsonaro.
A nomeação de Estela Aranha e a recondução do
ministro Floriano de Azevedo Marques, indicado de Moraes, para mais um mandato
no TSE reequilibrou o jogo. O encaminhamento do IOF poderá sinalizar se o
Executivo acumulou créditos na relação, mas o prumo se alinhou.
No dia seguinte, Gilmar Mendes autorizou o
acesso aos celulares do deputado federal Júnior Mano (PSB-CE), cujas emendas
são a ponta mais visível de uma investigação sobre a lavagem de dinheiro, via
Congresso, do crime organizado.
No pacote de nomeações, a escolha da
procuradora do MP de Alagoas, Marluce Caldas pacificou a política daquele
Estado e abriu o caminho do deputado federal Arthur Lira (PP-AL) ao Senado.
Dois dias depois, Lira apresentou o relatório para a reforma do IR com a
taxação da alta renda.
Para arrematar a retomada da ofensiva
governamental, Lula fechou a semana com a edição da medida provisória que cria
um teto para os subsídios no setor elétrico invalidando parte dos jabutis que
haviam sido inseridos pelo Congresso no marco das eólicas “offshore” (em alto
mar).
Lula assumiu o comando da mesa do pôquer.
Como o jogo tem o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), poderá
ceder pontualmente, como no Ministério das Minas e Energia.
A mesa também tem o presidente da Câmara,
Hugo Motta (Republicanos-PB), cuja condição de alvo da campanha petista “pobres
x ricos” nas redes mostra o baixo cacife com o qual enfrenta este momento do
jogo.
O espaço de Lira, que deixou o poder mas,
além do futuro no Senado, mantém todos os cargos, Caixa e BB, entre eles, é um
dos motivos de aborrecimento do sucessor. Motta herdou o cargo sem suas
benesses e foi convencido pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI) a ir à luta.
É com este jogo reconfigurado que Lula deve
receber Alcolumbre e Motta para uma conversa. Já não precisará gastar todo seu
latim para conseguir a aprovação de projetos no Congresso. A expectativa do
entorno presidencial é de que é sobre os parlamentares que recairá o ônus da
não aprovação.
Tome-se, por exemplo, a MP do setor elétrico.
Se não for aprovada, Lula poderá depositar o aumento da conta de energia no
colo do Congresso sem ser contestado. Ou ainda o tema da vez, a inteligência
artificial, que deu sinais de sair do berço esplêndido em que dormitava.
Se é verdade que as “big techs” foram, em
última instância, a pressão mais decisiva para o tarifaço de Trump, sua atuação
deve-se, em menor grau, à moderação de conteúdo exigida pelo STF e, mais
decisivamente, à expectativa do que este precedente pode abrir para a
inteligência artificial.
Este é, de fato, o grande foco da indústria
de tecnologia americana, que ganhou todas nesse novo orçamento. Não vão
conseguir desmontar o Estado, como pretendia Elon Musk, mas com o reforço do
caixa do Departamento de Defesa, programas de cybersegurança, o uso softwares
no planejamento de deportações e drones militares, serão vitaminados.
Antes mesmo do tarifaço, as “big techs” já
atuavam no Congresso Nacional, pressionando empresários de “datacenters”
(processadores de dados) e eólicas por outra tríplice aliança contra a
regulamentação da inteligência artificial. O discurso é de que, se o setor for
regulamentado não haverá investimento em “datacenters”, cujo provimento de
energia e transmissão de dados se daria por eólicas.
O problema é que agora o Congresso, que se
viu atingido pela propaganda governista, feita por inteligência artificial,
passou a se interessar por uma regulamentação do tema. O que acabou por jogar
água no moinho de Lula.
Está claro que o vice Geraldo Alckmin, com o
protagonismo nesse enfrentamento do tarifaço, ganha força para permanecer na
chapa da reeleição. O PT pressiona para que dispute São Paulo, ampliando a
votação de Lula no Estado e abrindo a chapa para composição.
Sua presença na chapa manteria viva a ideia
da frente ampla, que respirava por aparelhos quando foi resgatada pela tríplice
aliança, mas nunca se pode desprezar a capacidade de o governo remar contra uma
maré a favor.
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