sexta-feira, 18 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula precisa vetar trechos do PL do Licenciamento

O Globo

Projeto aprovado na Câmara agrava devastação ambiental. O possível agora é tentar conter os danos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa vetar os artigos mais descabidos do Projeto de Lei (PL) que estabelece novas regras para o licenciamento ambiental, aprovado pela Câmara de afogadilho na madrugada desta quinta-feira. Apelidado “PL da Devastação” pelos ambientalistas, o texto aprovado contribui para ampliar a degradação ambiental no Brasil. Criticado por representantes do setor produtivo, da comunidade científica e de entidades ligadas à conservação, foi votado de forma açodada por pressão da bancada ruralista.

É verdade que a legislação precisava ser atualizada. Mas, da maneira como ficou, o texto representa um retrocesso. Seus defensores argumentam que, sem flexibilizar as exigências, não haverá desenvolvimento. Não é verdade. Com regras apropriadas, o país tem plena condição de zelar pelos recursos naturais e, ao mesmo tempo, incentivar produção e obras de infraestrutura. Entre idas e vindas no Parlamento, a pressão dos ruralistas tornou inócuos os termos razoáveis da proposta inicial. O estrago está feito. A alternativa possível é a redução de danos.

Descobriram quem são os Bolsonaros? - Fernando Luiz Abrucio

Valor Econômico

Saber quem são, de verdade, os governadores que bajulam o ex-presidente e se vendem como moderados é central para o futuro do país. Afinal, é preciso saber com quem se contará na próxima pancada de Trump

O presidente Trump causou duas hecatombes no Brasil em uma só tacada. A primeira com o aumento escandaloso de 50% das tarifas, algo mais próximo de uma sanção contra uma nação inimiga. A segunda foi a forma que propôs para rever a decisão: bastava que as instituições brasileiras salvassem a família Bolsonaro - o pai Jair e o filho Eduardo -, que tudo seria esquecido. Essa vendeta trumpista, típica de mafioso, foi apoiada pelos governadores Zema, Tarcísio, Ratinho Jr. e Caiado, que depois se arrependeram, mas sem romper com o “mito”. Após esse escorregão, fica a pergunta: esse grupo da direita brasileira é incapaz de entender o perverso significado do bolsonarismo?

Quem se surpreendeu com esse casamento entre Trump e os Bolsonaros, e o tipo de decisão que produziram, ficou os últimos anos fora do planeta Terra - ou então concorda com a forma extremista que pensam. Em relação ao presidente americano, a intempestividade e a chantagem são marcas de seus governos, tendo crescido ainda mais agora por ter ampliado o seu poder. O Brasil não é o primeiro a sofrer com isso. O trumpismo, como toda a extrema direita que se alimenta das ideias totalitárias de Carl Schmitt, segue a lógica do amigo versus o inimigo, tanto no plano interno como no externo. E o presidente Lula é certamente um alvo preferencial de Trump.

Enfim, a perplexidade - José de Souza Martins*

Valor Econômico

Num país que bate continência para qualquer fardado, Bolsonaro ainda flutua na ilusão da geopolítica da Guerra Fria, da sujeição do Brasil aos interesses americanos contra a União Soviética

Posto de joelhos por um dos filhos de Bolsonaro, vassalo de Trump, o Brasil começa a surpreender-se com a humilhação de ser minimizado diante de um país de que não somos colônia. Somos ingênuos, mas não tanto. Mesmo as pessoas mais manipuláveis têm a dignidade do limite para o tratamento que as degrada e humilha.

Apesar do modo como Bolsonaro, seus parentes, cúmplices e seguidores nos tratam, o país vem manifestando crescente impaciência com seu empenho de nos impor a todos o tratamento próprio da cultura da senzala.

Se as manifestações bolsonaristas na avenida Paulista, em São Paulo, nos últimos tempos, forem tomadas como medidor de legitimidade, o declínio de comparecimentos indica o cansaço popular com a manipulação e os abusos e as ilegalidades da política disfarçada em suposta religião, marca do bolsonarismo.

Lula cresce com inimigo na mira e vendendo sonhos - Andrea Jubé

Valor Econômico

Governo volta a respirar sem o auxílio de aparelhos, na esteira da recuperação da popularidade do presidente

Num momento em que o governo voltou a respirar sem o auxílio de aparelhos, na esteira da recuperação da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os esforços no Palácio do Planalto convergem para que esse crescimento se mostre sustentável, e para evitar novas crises e erros rumo a 2026.

Um diagnóstico que já havia se formado, antes de o presidente Donald Trump impor a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, era de que Lula tinha de aparecer mais e falar mais aos brasileiros. Embora não se questione o papel de Lula como maior comunicador do governo, a percepção de auxiliares é de que, no terceiro mandato, ele ainda não conseguiu demonstrar o mesmo talento que o ex-presidente Jair Bolsonaro para dominar a pauta nacional.

Trump inaugura a era do neoimperialismo digital - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O xis da questão são as big techs: controlam fluxos de informação e expropriam capital social, transformam redes de confiança e reputação em lucro, sem pagar impostos

Eric Hobsbawm (1917-2012), em sua célebre quadrilogia — A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios e A Era dos Extremos — descreveu o capitalismo de sua gênese industrial ao colapso das ordens liberais e socialistas do século XX. Se o historiador britânico estivesse vivo, acrescentaria um quinto volume: “A Era Digital do Imperialismo”. Nela, as antigas disputas por colônias e matérias-primas seriam substituídas pela luta por dados, algoritmos e infraestrutura tecnológica, e os monopólios industriais dariam lugar às big techs.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (“O mundo sou eu”, parafraseando Luís XIV da França), de forma personalista e agressiva, encarna uma espécie de recidiva do imperialismo no novo contexto digital: um nacionalismo protecionista que confronta aliados e rivais, do Canadá à Rússia, e busca subjugar os países emergentes. Neste cenário, a União Europeia tenta manter sua relevância com medidas regulatórias, enquanto a China, ao transitar para a economia do conhecimento, ameaça verdadeiramente a hegemonia norte-americana no comércio global. Com um lugar cativo nas cadeias globais de valor como produtor de commodities de alimentos e minérios, o Brasil tenta se equilibrar no tabuleiro, para não perder a condição de economia industrial, da qual o principal mercado são os Estados Unidos.

Câmara passou trator sobre legislação ambiental - Bernardo Mello Franco

O Globo

A Câmara passou o trator sobre a legislação ambiental. Os deputados aprovaram o chamado PL da Devastação, que desmonta o sistema de licenciamento. A votação avançou pela madrugada de 17 de julho, Dia de Proteção às Florestas.

O tratoraço foi comandado por Hugo Motta. No início da tarde, o presidente da Câmara recebeu telefonema de Marina Silva, que pedia o adiamento da votação para depois do recesso. Além de ignorar o apelo da ministra, ele se empenhou para derrotar o governo. Ficou no plenário até o fim da sessão, às 3h42 da manhã.

O Observatório do Clima classificou a aprovação do projeto como um “crime histórico” e uma “vergonha para o Brasil”. Em novembro, o país sediará a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Será difícil explicar aos visitantes o que o Parlamento acaba de fazer.

Parlamento está desconectado da agenda atual mais urgente – Flávia Oliveira

O Globo

Está em cartaz no Masp, em São Paulo, até fins de agosto, a exposição “A ecologia de Monet”. Hoje, o Museu do Amanhã, no Rio, inaugura a mostra “Claudia Andujar e seu universo — Sustentabilidade, ciência e espiritualidade”, com curadoria de Paulo Herkenhoff. São duas coletâneas que, cada uma a seu jeito, trazem a preservação da natureza para o mundo das artes, no ano em que o Brasil receberá a COP30, conferência do clima da ONU. Claudia Andujar nasceu na Suíça em 1931. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois que o pai foi capturado e morto por nazistas num campo de concentração, exilou-se com a mãe em Nova York. Em 1955, mudou-se para o Brasil; fotógrafa, por sugestão de Darcy Ribeiro, passou a documentar sociedades indígenas. Dedicou quase toda a carreira aos ianomâmis, etnia que habita o norte da Amazônia; há uma década empresta o nome a uma galeria com 400 fotos no Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), do crime da Vale.

O impressionista Claude Monet (1840-1926) é reconhecido pelas pinturas de paisagens. As 32 obras expostas em São Paulo — curadoria de Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Isabela Ferreira Loures — passeiam pela relação do francês com o meio ambiente em 50 anos de carreira. Chama a atenção a travessia entre as paisagens bucólicas de fins do século XIX e os cenários cortados pela fumaça dos trens e das chaminés das fábricas, em decorrência da industrialização. A série de quadros é documento histórico da transição para o mundo moderno e evidência de que o artista não a ignorou. O trabalho de Claudia Andujar, igualmente, registra a existência de um povo que, há um par de anos, enfrentava nova ameaça de extermínio no próprio território pela presença do garimpo, durante o governo Bolsonaro.

Uma semana para a história - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

O primarismo político de supor que a truculência externa pode resolver questões no interior da democracia brasileira é algo suicida

Desde a semana passada, o Brasil vive uma singularidade planetária. Neste ano, o déficit comercial com os Estados Unidos alcançou US$ 1,7 bilhão e fomos punidos com uma tarifa de 50%, a maior do mundo.

Superado o impacto inicial, é possível fazer algumas projeções, baseadas na experiência. Na maioria dos casos em que países são punidos com sanções, o objetivo é atingir o governo. Mas como as sanções atingem todos, a tendência é fortalecer as autoridades que querem punir e contribuir com o empobrecimento do país. O resultado é este: o governo se eterniza junto com a pobreza.

Virou guerra de presidentes – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula parte para a briga, Trump vai da chantagem a um inadmissível ultimato

Se até o ex-vice presidente Hamilton Mourão entrou na contramão dos Bolsonaros e disse para Donald Trump “não meter o bedelho” no Brasil, é a vez de os brasileiros gritarem que “o Pix é nosso” e os paulistanos, que “a 25 de Março é nossa!” Bom para Lula? Sim, mas ele está usando politicamente a onda de união nacional.

Lula está entre recuperar energia para 2026 ou apoio do Congresso e arriscando seus ganhos ao confrontar Trump, que passou da chantagem ao ultimato, em carta a Jair Bolsonaro. Suspender o julgamento de Bolsonaro imediatamente?

Durou pouco também a trégua que o Congresso – ou melhor, o Centrão – selou com Lula depois dos bombardeios dos EUA ao Supremo, aos produtos, às empresas e à soberania nacional. No mesmo dia em que Hugo Motta e Davi Alcolumbre se reuniram com Geraldo Alckmin para demonstrar apoio à resistência a Trump, a trégua desabou sob o peso de três projetos.

O Brasil, sem poder de barganha – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Aos poucos, a indignação infantil e inconsequente vai sendo substituída por uma visão mais realista das nossas precariedades.

A primeira reação do presidente Lula ao anúncio do presidente Trump sobre o tarifaço de 50%, a vigorar a partir de 1º de agosto, foi apelar para a soberania nacional e para revides em nome do princípio da reciprocidade. Lula chegou a avisar que recorreria à Organização Mundial do Comércio, providência que teria a mesma força de um pedido de apoio ao arcebispo de Nova York. Nesta quinta-feira, declarou que “gringo não vai dar ordens” e, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, disse que “No Brasil, ninguém está acima da lei”.

Mas, na avaliação de parte dos empresários brasileiros, cutucar a onça com vara curta poderia levar ao pior. O País está na defensiva, tentando se apegar a alguma ajuda dos empresários norte-americanos prejudicados com a alta dos preços dos produtos exportados pelo Brasil. Nem a primeira carta enviada a Donald Trump, logo após o anúncio do tarifaço geral em abril, conseguiu resposta.

O presidente Trump parece ter eliminado a principal justificativa apresentada em sua carta do dia 11, quando alegou que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava sendo vítima de uma caça às bruxas. “Bolsonaro nem chega a ser amigo”, disse Trump. “É apenas conhecido.”

Trump é a maior ameaça ao dólar, não o Brics - Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Além de gerar inflação, tarifaço deverá reduzir potencial de crescimento dos EUA

dólar norte-americano registrou, ao longo do primeiro semestre deste ano, uma desvalorização de 10% diante de uma cesta de outras moedas fortes, como euro e iene. Foi a maior perda de valor já registrada na primeira metade de um ano desde 1973.

O principal fator responsável por isso é a política econômica que vem sendo adotada pelo governo Donald Trump. O tarifaço contra praticamente todos os países do mundo, inclusive aliados de longa data, irá não apenas gerar mais inflação e menos crescimento a curto prazo mas também poderá reduzir o potencial de crescimento a médio e longo prazo —tornando os EUA menos atrativos para os capitais internacionais.

Alckmin e a ponte para o centro - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O vice pode ser um ativo de Lula para promover a reaproximação com o centro e o setor produtivo

Os últimos acontecimentos confirmam que Luiz Inácio da Silva (PT) é um homem de sorte, mas indicam que Geraldo Alckmin (PSB) é também bafejado pelos mesmos ventos.

Escapou de participar das exéquias do PSDB e, numa manobra que pareceu arriscada quando mudou de partido e de lado ao aceitar compor a chapa com o petista em 2022, tomou uma decisão que lhe garantiu lugar ao sol na política e agora o coloca na boca de um novo gol.

Se Lula não subir nas tamancas do ego e estragar o trabalho de Alckmin na condição de porta-voz da condução das tratativas em torno da crise provocada pelo tarifaço de Donald Trump, o vice hoje tem garantido um papel de destaque em 2026. Seja na corrida presidencial —quem sabe não como reserva— ou solução competitiva ao Palácio dos Bandeirantes.

Bolsonarismo em curto-circuito - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Lobby de Eduardo Bolsonaro contra instituições brasileiras nos EUA saiu de controle e acabou virando ônus para o próprio clã

Estou entre os que acreditam que não existem limites biológicos para a burrice. A família Bolsonaro não é conhecida por produzir candidatos ao prêmio Nobel ou à medalha Fields, mas acho que nem o mais estulto membro do clã teria tido a ideia de pedir a Donald Trump que ameaçasse o Brasil com tarifas de 50% a menos que o processo contra Jair Bolsonaro no STF fosse extinto.

Fazê-lo seria criar um caso de dano autoinfligido para constar em todos os compêndios de erros políticos catastróficos. Ainda assim, foi exatamente o que ocorreu. Como explicar?

Um soldado e um cabo - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro queria fechar o STF. Este agora pode mandar o soldado e o cabo para fechá-lo

Um dia, um fanfarrão disse para uma plateia de estudantes em Brasília: "Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não quero desmerecer o soldado e o cabo. O que é o STF? Tira a caneta de um ministro do STF, e você acha que vai ter manifestação popular a favor dele? Milhões na rua?".

Pode-se imaginar a cena. Depois de cruzar assobiando a praça dos Três Poderes, o soldado e o cabo chegam ao Supremo Tribunal Federal. Metem-lhe o pé na porta, adentram o plenário em sessão e, com uma simples ordem de "Passa fora!", enxotam os ministros do recinto. De toga, tíbios, derrotados, eles saem um a um. O cabo bate a porta ao sair, passa-lhe um ferrolho e vai à Câmara entregar a chave a quem lhe dera a ordem: o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Poesia | Antônio Maria - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Minha Missão - Clara Nunes