quarta-feira, 12 de junho de 2019

*Nilson Teixeira: Decepção tem sido a regra

- Valor Econômico

Elevação do crescimento potencial nas próximas décadas será um desafio bem maior do que a maioria quer supor

A maioria dos participantes de mercado adotava, até recentemente, uma leitura muito otimista sobre as perspectivas de expansão econômica para 2019. Mais uma vez, essa visão mostrou-se exagerada. A mediana das projeções para o crescimento do PIB (Relatório de Mercado do Banco Central) diminuiu da média de 2,5% em dezembro passado para 1% em 7 de junho.

Essa dinâmica reproduz o processo que vem ocorrendo desde 2011, quando as previsões formuladas em dezembro do ano anterior e nesse mesmo mês dois anos antes foram sempre maiores do que o número final. Essas projeções superestimaram os resultados, na média, em 1,3 ponto percentual e 2,5 pontos percentuais, respectivamente.

A perda de convicção dos participantes de mercado também tem sido comum desde 2011 entre os mais otimistas. A diferença entre a maior previsão de crescimento do PIB formulada em dezembro do ano anterior e o número final foi, na média, de 2,6 pontos percentuais no período entre 2011 e 2018. Isso está ocorrendo mais uma vez em 2019, com o valor máximo das projeções diminuindo dos 4,2% na média de dezembro passado para 2,1% em 7 de junho, um recuo de 2,1 pontos percentuais. Assumindo como precisa a mais recente mediana das previsões de 1%, o erro dos mais otimistas será de 3,2 pontos percentuais.

Apesar de a menor previsão de crescimento para 2019 não contemplar uma recessão, o risco de haver queda do PIB por dois trimestres consecutivos aumentou muito. Apesar da contínua desilusão com a expansão da economia, a leitura do mercado para os próximos anos continua favorável. A mediana das expectativas para o crescimento anual permanece em 2,5% para os próximos anos, com os mais otimistas mantendo a previsão de 3,5%.

Como usual desde 2011, as expectativas de expansão do PIB para o ano seguinte formuladas em dezembro superam as projeções para o ano corrente. Em geral, a expectativa de crescimento para o ano seguinte pouco se altera durante a maior parte do ano, enquanto as projeções para o ano corrente são revisadas recorrentemente para baixo. No presente contexto, é possível atribuir uma probabilidade significativa dessa dinâmica se repetir em 2020, com o atual consenso de mercado tornando-se muito otimista.

A profunda recessão dos últimos anos e a lenta retomada permitem classificar a atual década como perdida, dado que o crescimento médio per capita dos anos 2010 será próximo a zero. A denominação faz mais sentido para esta década do que para os anos 1980, quando as condições globais eram menos favoráveis, com crise do petróleo, inflação elevada e taxas de juros muito altas.

Nunca esperei forte aceleração da atividade durante o governo Temer e tampouco no governo Bolsonaro, apesar das políticas corretas defendidas por seus times econômicos. A história ensina que, com exceção da retomada após a recessão entre 2008 e 2009, a forte recuperação foi sempre capitaneada pelo setor manufatureiro exportador. Dada a pauta de exportações do Brasil, concentrada em commodities, e uma indústria manufatureira distante das cadeias globais e com uma participação no PIB bem menor do que no passado, era relativamente claro que a atual recuperação seria mais gradual do que as anteriores.

Não estou entre aqueles que prevê uma aceleração significativa do crescimento do PIB nos próximos anos. Ao contrário, o risco de o Brasil não conseguir se livrar da armadilha do baixo crescimento é relevante. A elevação do crescimento potencial nas próximas décadas será um desafio bem maior do que a maioria quer supor, seja no que se refere a questões estruturais, como a pouca evolução da qualidade do capital humano, seja nos aspectos conjunturais, como a forte vulnerabilidade fiscal.

Apesar dessa leitura menos construtiva, sempre me surpreende a velocidade com que alguns participantes de mercado saem de um otimismo injustificado para um pessimismo exagerado e vice-versa. Não partilho da recente onda de enorme pessimismo sobre a situação da atividade e do mercado de trabalho. Nas últimas semanas, analistas de mercado, entre os quais alguns que previam há poucos meses uma rápida recuperação da atividade e uma expansão econômica prolongada superior a 2,5% ao ano, passaram a debater a possibilidade de o país estar atravessando uma depressão.

A terminologia até que faz sentido quando se verifica que a recessão entre 2014 e 2016 foi a mais profunda em várias décadas. Não obstante, as depressões possuem, em geral, características que não estão presentes agora no Brasil. A rede de programas sociais torna os impactos da forte alta do desemprego menos drásticos do que os associados a depressões típicas. Do mesmo modo, uma parte significativa das depressões é acompanhada por crises financeiras, o que está longe de ser o caso aqui.

Do mesmo modo, desde o fim da recessão, espero que a redução da taxa de desemprego seja bastante gradual, compatível com uma retomada lenta. Por ora, é isso que vem ocorrendo. Não há nenhuma indicação de uma alta duradoura da taxa de desemprego. Da mesma forma, é prematuro prever a elevação permanente do desalento - desejo de ter um emprego, mesmo após desistência da busca por essa vaga. Em um ambiente em que o mercado de trabalho é concentrado em postos que exigem baixa especialização, não parece razoável prever que a pouca qualidade da mão de obra incapacitará a empregabilidade de uma parcela significativa de trabalhadores nos próximos anos. Não houve nenhuma revolução na economia para alterar substancialmente a demanda por trabalho.

Os três Poderes têm condições de contribuir de forma determinante para evitar cenários desfavoráveis para a atividade e para o mercado de trabalho. No que se refere ao Executivo, cabe ao presidente abraçar os projetos da sua equipe econômica, defendê-los junto à sociedade e negociá-los com os congressistas para que sejam aprovados na maior extensão e no menor tempo possíveis. Não é uma tarefa simples, mas é a única esperança no curto prazo.

*Nilson Teixeira, Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia,

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