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Quem sustenta quem
Foi duro arrancar do presidente Jair Bolsonaro pelo menos uma frase em defesa do ex-juiz Sérgio Moro, seu ministro da Justiça e da Segurança Pública, enrolado em conversas com o procurador Deltan Dallagnol. Por fim, ele disse por meio de um assessor: “Nós confiamos irrestritamente no ministro Moro”. Mas foi só.
Bolsonaro e o ministro conversaram ontem pela manhã no Palácio da Alvorada e foram juntos de lancha para o Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília onde a Marinha comemorou o 154º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo. Ali, em uma espécie de palanque, Moro foi posto do lado direito de Bolsonaro.
No início desta madrugada, 91 fotos oficiais da cerimônia estavam disponíveis no site da presidência da República. Em todas, Bolsonaro dedica a Moro um tratamento protocolar. Em nenhuma aparece sorrindo para ele. Sorri para os demais ministros.
Mais tarde, em São Paulo, Bolsonaro decretou bruscamente o fim de uma entrevista coletiva quando um repórter perguntou sobre a situação de Moro. Irritado, Bolsonaro bateu a palma de uma mão contra a outra, fechou a cara e foi embora.
Diante de uma plateia de mais de mil pessoas no auditório da Federação das Indústrias de São Paulo, Bolsonaro, ao discursar, destacou como de praxe a natureza técnica da equipe que montou para governar. Citou vários dos seus ministros. Não citou Moro
Bons tempos para Moro aqueles onde era apontado como uma das duas principais colunas de sustentação do governo. A outra seria o ministro Paulo Guedes, da Economia. Hoje, é Bolsonaro que sustenta Moro embora ainda se sustente em Guedes.
Se o tempo fechar de vez para o ex-juiz, Bolsonaro não verterá uma lágrima por ele. Bolsonaro só não quer ser contaminado pelo desgaste que Moro começa a amargar. Imagine se restar provado que os dois já haviam se acertado bem antes de Bolsonaro se eleger.
Para que Moro ficasse bem na foto
Assim é se lhe parece...
Servida como foi ao cair da noite e comprada sem muito apuro dado ao adiantado da hora, ficou parecendo verdade a versão de que o ex-juiz Sérgio Moro ofereceu-se espontaneamente para depor na Comissão de Constituição e Justiça do Senado sobre as conversas travadas com o procurador Daltan Dellangnol e reveladas pelo site The Intercept Brasil no último domingo.
De espontâneo nada houve. A Comissão estava pronta para convocá-lo a depor. Havia para isso maioria de votos. Para evitar que a notícia fosse “Comissão convoca Moro para depor”, Fernando Bezerra Coelho (PMDM-PE), líder do governo no Senado, telefonou para o ex-juiz e o convenceu a se antecipar à convocação. Ficaria melhor para ele no noticiário.
Moro topou sem oferecer resistência. Então Bezerra Coelho reuniu-se com Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, e contou-lhe o que se passava. Alcomumbre avalizou a manobra, pedindo-lhe, porém, que o informasse a respeito por meio de um ofício. E assim se fez. A Comissão, portanto, foi dispensada de votar a convocação de Moro.
O Senado é um clube para 81 sócios. Todos ali costumam dar-se bem apesar das diferenças partidárias e de ocasionais discursos inflamados. Não se comportam como inquisidores duros. Primam por certa elegância. A maioria já governou seus Estados, ocupou ministérios e tem muitos anos de política.
Moro não deverá passar por nenhuma saia justa quando for depor. O problema será quando for depor na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Essa comissão dará mais tempo a Moro para que ele continue sangrando. Só o convocará depois da divulgação do próximo lote de conversas, o que poderá acontecer a qualquer momento. O Brasil virou refém de um site.
Operação Fecha a Boca de Lula
Todo cuidado é pouco
Aberta a porteira para que Lula possa conceder entrevistas como é possível a qualquer preso, mas a ele não era, o ex-presidente coleciona cerca de 30 pedidos para que fale.
Ocorre que a direção nacional do PT concluiu que o melhor neste momento é que Lula fique de boca fechada. Melhor que fique quieto só a observar o que possa acontecer.
O ex-juiz Sérgio Moro, o algoz de Lula, está na berlinda desde a revelação de suas conversas com o procurador Deltan Dallagnol. A Lava Jato, em xeque. Um novo lote de conversas está para sair.
Até o fim do mês, o Supremo Tribunal Federal decidirá a sorte de Lula em duas ocasiões: quando deliberar sobre prisão em segunda instância e quando julgar um pedido de habeas corpus para ele.
Nada de marola ou de marolinha, pois. Todo cuidado é pouco para que uma frase, uma palavra mal colocada não se volte contra ele. O PT acha que Lula nunca esteve tão perto de poder respirar melhor.
Quer dizer: de sair da prisão para trabalhar durante o dia, retornando à noite. Ou de cumprir o resto da pena dentro de casa com ou sem tornozeleira eletrônica.
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