Folha de S. Paulo
Inflação, centrão no governo, emendas e
julgamento do golpe pesarão no cenário eleitoral
A política politiqueira do Brasil volta
devagar das férias, além do mais ofuscada pela reestreia do circo sinistro
de Donald
Trump. A propaganda de Lula 3 está
sob nova administração. O acontecimento mais importante se deu na política
virtual ou memeológica, a revolta do Pix.
As redes sociais de Lula agora são mais animadinhas e gente do governo usa a cabeça para vestir uma versão do bonezinho trumpista. O presidente tenta não criar caso com o Banco Central. Diz que a Petrobras faz o que quiser com os preços. Fala de "responsabilidade fiscal". Não é bem assim, mas é melhor do que causar sururu contraproducente gritando o contrário. Afinal, como diz o próprio Lula, 2026, a campanha eleitoral, já começou. Tem até pesquisa.
Dado o nível menos do que medíocre de
aprovação do governo, o resultado da pesquisa Quaest foi bom para o lulismo.
Lula tem em torno de um terço dos votos. Seus adversários têm algo em torno de
12% em quase todas as situações. No segundo turno, Lula tem de 41% a 45%.
Derrotaria Gusttavo Lima (35%)
e Eduardo Bolsonaro (PL),
Pablo Marçal (PRTB) e Tarcísio de Freiras (Republicanos), todos com 34%, entre
os mais cotados.
Mais de um terço vota em quase qualquer nome
da direita sociomidiática ou bolsonarista a fim de derrotar Lula (são quase 43%
dos "votos válidos"). Lima e Marçal valem quase quanto pesam Eduardo
e Tarcísio.
A revolução cultural e política continua,
pois. Pode ter mais impulso a depender do destino de Trump, de direitas em
ascensão no mundo e até de Javier Milei.
O que vai ser desse cenário depende mais dos
jogos habituais da política nacional.
O que será de Jair
Bolsonaro? Em tese, deve haver o julgamento do processo da tentativa de
golpe de 2022-23 e a concomitante ação da bancada da anistia. A política
politiqueira e a elite econômica ainda estão desorientadas. Ao longo de 2023,
houve tentativa de ricos de colocar Tarcísio na ribalta. O plano não embalou
pela dificuldade de calcular o risco que ainda é enfrentar Lula e até pela
indefinição do que será dos Bolsonaro.
Como Lula vai acomodar o centrão no governo
(e como vai fazer para pagar emendas, pelas novas regras e com menos dinheiro)?
Com qual resultado? Vai apenas evitar danos ou conseguirá um mínimo de
articulação com vistas a 2026?
Há a "economia",
o que quer dizer várias coisas. Será muito difícil reduzir o desgosto com a
inflação. Em cinco anos, o preço dos alimentos subiu mais (pouco mais de 60%)
do que o salário (pouco mais de 40%), achatando o restante do poder de compra,
em especial o dos mais pobres (metade do país).
Sob Lula, até o início de 2024, essa
distância começava a diminuir (a inflação anual da comida caía então a 0, o
salário médio aumentava perto de 4% ao ano). A coisa desandou ao longo do ano
passado. Para 2025, a previsão é de que a inflação de alimentos desacelere
pouco; o salário médio vai crescer mais devagar, com economia mais lerda. Hum.
Lula pode conseguir aprovar a isenção de IR
de quem ganha até R$ 5.000 por mês sem causar tumulto fiscal e seus efeitos
colaterais graves, mas é incerto até se tal sucesso vai conseguir virar muitos
votos naquela classe média majoritariamente direitista.
São assuntos que devem ter efeito no
prestígio de Lula, em sua candidatura e na organização da direita da política
politiqueira. Mas Gusttavo Lima vem aí, seja como for.
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