quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

A luta pelo Orçamento - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

A queda de braço para comandar o maior quinhão dos recursos só deve se acentuar nos próximos anos

Na volta do recesso parlamentar, a votação do Orçamento de 2025 é o foco de curto prazo do Congresso e também de uma disputa que vem se acirrando nos últimos anos: o controle pela redistribuição das receitas tributárias entre o Legislativo e o Executivo. A luta pelo Orçamento está na origem de diversos momentos decisivos na história do Brasil, e, se o passado servir de referência, a queda de braço para comandar o maior quinhão dos recursos só deve se acentuar nos próximos anos.

“A disputa pelo Orçamento é praticamente perene na nossa história e, mesmo quando não é tão visível, ela existe, como em períodos autoritários, a exemplo da era Vargas”, diz o professor em história do Brasil na USP e autor do livro Entre oligarquias: as origens da república brasileira (1870-1920), Rodrigo Goyena. O Orçamento não foi só fonte de conflitos, mas também solução pacificadora para se evitar crises desestabilizadoras.

Ele cita o exemplo de Campos Salles, que chegou à Presidência em 1898 e que utilizou o Orçamento como um dos principais instrumentos para arbitrar as graves tensões políticas no País. “Nessa época de Campos Salles, o Orçamento foi usado para garantir a paz nacional, pois o período que antecedeu à presidência dele foi de praticamente guerra civil”, explica Goyena. Campos Salles usou a redistribuição dos recursos federais para atrair o apoio das oligarquias estaduais, na chamada “política dos governadores”, mesmo que para chancelar uma política econômica com sotaque paulista, beneficiando os produtores de café.

O historiador lembra que, na década de 1830, o Orçamento também esteve no centro de graves conflitos nas províncias, muitos dos quais acenavam à secessão, como a Revolução Farroupilha. “Ainda naquela década, na disputa entre políticos liberais e regressistas ( conservadores), o Orçamento já era usado para criar um clima de quanto pior, melhor”, cita Goyena. Em 1836, o então regente padre Diogo Antônio Feijó – do partido liberal – tenta aprovar com celeridade o Orçamento daquele ano diante da urgência de recursos para sufocar rebeliões provinciais. Mas os conservadores fizeram várias manobras para brecar a aprovação do Orçamento, visando a isolar o regente e, assim, derrubá-lo.

No século 20, prosseguiram as mesmas tensões. E, desde a redemocratização, o Legislativo e o Executivo passaram a atores principais nesse embate. “Mas, em vez de ser inserido em um projeto nacional de longo prazo, o Orçamento virou palco de disputas comezinhas, como no caso das emendas”, diz o professor da USP.

 

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