O Globo
Nos quatro dias que passou entre o Japão e o Vietnã, no final
de março, o presidente assinou dez acordos bilaterais e 80 instrumentos de
cooperação, celebrou a venda de 15 aviões da Embraer para uma companhia
japonesa e fez lobby pelo fim de restrições ao etanol e à carne brasileira nos
mercados asiáticos. Como em toda viagem internacional, porém, os resultados
parecem um tanto vagos e incertos. Os efeitos mais concretos da excursão que
levou 84 pessoas para o outro lado do mundo, incluindo oito parlamentares,
apareceram mesmo no front doméstico.
Depois do tour, o senador Jaques Wagner (PT-BA) contou que Lula se apaixonou por Davi Alcolumbre, e auxiliares disseram que ele e o presidente da Câmara, Hugo Motta, estavam muito entrosados. Na entrevista que deu ainda no Japão, Lula fez questão de afirmar que foi uma viagem “de muita fraternidade”, e que ela inauguraria “o melhor momento da relação do Congresso com o Executivo”.
Embalado por toda essa fraternidade, Motta
anunciou que daria prioridade à tramitação da PEC da Segurança Pública, que
busca integrar as ações do governo federal, estados e municípios para combater
o crime organizado, e desceu do muro em que estava encarapitado em relação à
anistia os presos pelos ataques de 8 de janeiro de 2023.
“Diante de um Brasil que tem
tantos desafios pela frente, esse cenário internacional, os nossos problemas
internos, não podemos nos dar ao luxo de achar que aumentando uma crise
institucional nós vamos resolver esses problemas”, afirmou. “Nós não vamos.
Definitivamente não vamos e não embarcaremos nisso”.
Como prometeu à oposição, nos bastidores da
campanha para a presidência da Câmara, que pautaria o projeto, ele agora tenta
costurar uma solução que envolva a revisão de parte das penas pelo
próprio STF,
enquanto sonha convencer Lula a patrocinar um indulto ou instrumento parecido
aos que “só vandalizaram” os prédios públicos.
A costura, que envolve diversos outros
atores, já fez efeito no Supremo, que soltou alguns presos e começou a relaxar
medidas cautelares, além de retirar de pauta dois casos que estavam prontos
para serem julgados. Ao rejeitar a pressão do bolsonarismo sobre o Congresso e
o Supremo, porém, Motta mostrou que escolheu seu lado.
No caso de Alcolumbre, que tem sido muito
mais parceiro do governo e já disse que não vai pautar a anistia, a missão de
Lula era outra: desarmar algumas bombas.
Uma delas tinha a ver com a insistência do
presidente do Senado em tirar do posto o ministro de Minas e Energia, Alexandre
Silveira, seu desafeto declarado. Lula já disse em público e nos bastidores
que não vai demitir Silveira, mas já sabia que em breve precisaria se livrar
de Juscelino
Filho, ministro das Comunicações e apadrinhado de Alcolumbre denunciado
nesta semana pela Procuradoria-Geral da República (PGR)
por organização criminosa, fraude licitatória, peculato e corrupção ativa.
Em meio a piadas, fotos sorridentes e
conversas de pé de ouvido, Lula e Alcolumbre se acertaram. O deputado Pedro
Lucas Fernandes, que é do União
Brasil e do Maranhão como o ministro que sai, e que também estava na
fraternidade japonesa, deve assumir o posto para garantir que nada mude.
Já Silveira ganhou fôlego, mas não terá paz.
Alcolumbre é um homem de propósitos firmes,
assim como o presidente da República. E Lula está convencido de que aprovar a
isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a PEC da Segurança
Pública é o que vai ajudá-lo a recuperar popularidade até 2026.
Para ele, portanto, é muito mais importante
agradar os caciques do Congresso do que sair por aí trocando ministros e
negociando no varejo. Desde que sua autoridade não pareça diminuída, o
presidente fará o que estiver ao seu alcance para manter Motta e Alcolumbre por
perto. Mesmo para isso tenha que aboletar o pessoal no Aerolula e sair pelo
mundo.
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