O Globo
Mudanças em curso na OpenAI fatalmente
afetarão os rumos de toda a indústria da IA
Algumas mudanças profundas em curso na OpenAI
fatalmente mudarão os rumos de toda a indústria da inteligência
artificial. Duas são estritamente de negócios, e a terceira tem a ver
com o produto — é o GPT 5, esperado para algum momento do segundo semestre
deste ano. Mas, bem antes desse lançamento, a empresa OpenAI se transformará,
com a chegada de uma nova executiva. É a francesa Fidji Simo, de 39 anos, que
ocupava o cargo de CEO da Instacart, uma companhia de e-commerce voltada para
tecnologia de supermercados.
Para entender como as peças se encaixam, é preciso antes sobrevoar um pouco a história de como a OpenAI nasceu e se formou. A companhia vem de uma obsessão de Elon Musk. Em 2015, Musk já considerava que a IA estava a um passo de explodir e temia que, nas mãos do Google, se tornasse um monopólio privado. Foi por isso que passou o chapéu entre investidores do Vale do Silício, com o objetivo de criar uma empresa sem fins lucrativos que desenvolveria modelos abertos de IA para todos.
Impaciente, cedo demais Musk entrou em
conflito com o outro principal executivo da companhia — Sam Altman, o atual
CEO. Em 2018, o principal acionista da Tesla estava convencido de que a OpenAI
trabalhava devagar demais, não tinha foco. Ao perder a queda de braço no
Conselho, assinou os papéis desligando-se e não depositou boa parte do dinheiro
que havia prometido à jovem empresa.
Esse nascimento confuso levou a algumas
consequências. A primeira: no papel, a OpenAI é uma companhia sem fins
lucrativos. Só que, sem o dinheiro de Musk, precisou ir atrás de outra fonte e
teve de se adaptar. A “ONG” OpenAI criou sob seu comando uma empresa com fins
lucrativos. Foi essa empresa que recebeu os bilhões de dólares da Microsoft que
possibilitaram o desenvolvimento do GPT e seus muitos subprodutos.
A limitação de não poder distribuir lucros é
relevante no Vale do Silício. Os melhores cientistas da computação no ramo de
IA não estão atrás de salário. Estão atrás de ações das companhias em que
trabalham, que possam se tornar fortunas instantâneas depois da abertura de
capital no mercado financeiro. É o que todas as concorrentes da OpenAI oferecem
aos talentos que contratam. O salário é, realmente, um detalhe de baixa
relevância. O que faz ficar rico são as ações. Desde o ano passado, a empresa
havia anunciado uma reestruturação para se tornar uma companhia com fim
lucrativo. Foi imediatamente processada por Musk, pois romperia seu contrato de
fundação.
Depois de muito ir e vir com advogados, a
OpenAI anunciou na semana passada que desistiu. Com trucagem legal,
reorganizaram a papelada para que a empresa se torne uma “sociedade de
benefício público” em que os investidores podem receber até cem vezes o dinheiro
que puseram, mas não mais. Há um teto jurídico, algo que empresas com fim
lucrativo não têm. Só que, de novo, é puro truque. A figura jurídica se mantém
e, no entanto, oferece a possibilidade de lucro num nível a que nem os maiores
casos de sucesso do Vale chegaram. Ninguém multiplicou por cem seu investimento
no Google ou no Facebook.
Depois dessa fase, que certamente despertará
outros processos, Altman trouxe, em essência, uma co-CEO. É o mesmo que o
Facebook fez quando tinha uns três anos, ao chamar do Google a executiva Sheryl
Sandberg. Fidji Simo cuidará do negócio: entender o que pode virar produto para
pessoas físicas, para pessoas jurídicas, organizar as vendas e fazer explodir
as possibilidades. Até aqui, o foco principal da OpenAI era desenvolver
tecnologia e, nas horas vagas, montar assinaturas básicas. O que estará à venda,
os modelos de negócio, tende a se sofisticar e, possivelmente, disparar toda
uma indústria de subprodutos.
Quem hoje entra no ChatGPT com a assinatura
básica se perde rapidamente nas muitas possibilidades de modelo. Afinal,
deve-se fazer uma pergunta e pedir a resposta para a prévia do 4.5, ou para o
4o, o3, o4-mini, o4-mini-high? A tecnologia é incrível. A maior parte dos
usuários fica desorientada. O objetivo é juntar tudo num modelo só, o GPT 5, em
alguns meses. Um modelo que fará, muito melhor, tudo o que cada uma das
variantes consegue entregar.
O produto será simplificado, mas a maneira de
adquiri-lo se multiplicará. Haverá muitos jeitos de ter acesso a mais ou menos
GPT. E, se tudo funcionar como os planos, há uma lista de novos milionários — e
até bilionários — por nascer no Vale do Silício.
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