terça-feira, 13 de maio de 2025

O GPT vai mudar – Pedro Doria

O Globo

Mudanças em curso na OpenAI fatalmente afetarão os rumos de toda a indústria da IA

Algumas mudanças profundas em curso na OpenAI fatalmente mudarão os rumos de toda a indústria da inteligência artificial. Duas são estritamente de negócios, e a terceira tem a ver com o produto — é o GPT 5, esperado para algum momento do segundo semestre deste ano. Mas, bem antes desse lançamento, a empresa OpenAI se transformará, com a chegada de uma nova executiva. É a francesa Fidji Simo, de 39 anos, que ocupava o cargo de CEO da Instacart, uma companhia de e-commerce voltada para tecnologia de supermercados.

Para entender como as peças se encaixam, é preciso antes sobrevoar um pouco a história de como a OpenAI nasceu e se formou. A companhia vem de uma obsessão de Elon Musk. Em 2015, Musk já considerava que a IA estava a um passo de explodir e temia que, nas mãos do Google, se tornasse um monopólio privado. Foi por isso que passou o chapéu entre investidores do Vale do Silício, com o objetivo de criar uma empresa sem fins lucrativos que desenvolveria modelos abertos de IA para todos.

Impaciente, cedo demais Musk entrou em conflito com o outro principal executivo da companhia — Sam Altman, o atual CEO. Em 2018, o principal acionista da Tesla estava convencido de que a OpenAI trabalhava devagar demais, não tinha foco. Ao perder a queda de braço no Conselho, assinou os papéis desligando-se e não depositou boa parte do dinheiro que havia prometido à jovem empresa.

Esse nascimento confuso levou a algumas consequências. A primeira: no papel, a OpenAI é uma companhia sem fins lucrativos. Só que, sem o dinheiro de Musk, precisou ir atrás de outra fonte e teve de se adaptar. A “ONG” OpenAI criou sob seu comando uma empresa com fins lucrativos. Foi essa empresa que recebeu os bilhões de dólares da Microsoft que possibilitaram o desenvolvimento do GPT e seus muitos subprodutos.

A limitação de não poder distribuir lucros é relevante no Vale do Silício. Os melhores cientistas da computação no ramo de IA não estão atrás de salário. Estão atrás de ações das companhias em que trabalham, que possam se tornar fortunas instantâneas depois da abertura de capital no mercado financeiro. É o que todas as concorrentes da OpenAI oferecem aos talentos que contratam. O salário é, realmente, um detalhe de baixa relevância. O que faz ficar rico são as ações. Desde o ano passado, a empresa havia anunciado uma reestruturação para se tornar uma companhia com fim lucrativo. Foi imediatamente processada por Musk, pois romperia seu contrato de fundação.

Depois de muito ir e vir com advogados, a OpenAI anunciou na semana passada que desistiu. Com trucagem legal, reorganizaram a papelada para que a empresa se torne uma “sociedade de benefício público” em que os investidores podem receber até cem vezes o dinheiro que puseram, mas não mais. Há um teto jurídico, algo que empresas com fim lucrativo não têm. Só que, de novo, é puro truque. A figura jurídica se mantém e, no entanto, oferece a possibilidade de lucro num nível a que nem os maiores casos de sucesso do Vale chegaram. Ninguém multiplicou por cem seu investimento no Google ou no Facebook.

Depois dessa fase, que certamente despertará outros processos, Altman trouxe, em essência, uma co-CEO. É o mesmo que o Facebook fez quando tinha uns três anos, ao chamar do Google a executiva Sheryl Sandberg. Fidji Simo cuidará do negócio: entender o que pode virar produto para pessoas físicas, para pessoas jurídicas, organizar as vendas e fazer explodir as possibilidades. Até aqui, o foco principal da OpenAI era desenvolver tecnologia e, nas horas vagas, montar assinaturas básicas. O que estará à venda, os modelos de negócio, tende a se sofisticar e, possivelmente, disparar toda uma indústria de subprodutos.

Quem hoje entra no ChatGPT com a assinatura básica se perde rapidamente nas muitas possibilidades de modelo. Afinal, deve-se fazer uma pergunta e pedir a resposta para a prévia do 4.5, ou para o 4o, o3, o4-mini, o4-mini-high? A tecnologia é incrível. A maior parte dos usuários fica desorientada. O objetivo é juntar tudo num modelo só, o GPT 5, em alguns meses. Um modelo que fará, muito melhor, tudo o que cada uma das variantes consegue entregar.

O produto será simplificado, mas a maneira de adquiri-lo se multiplicará. Haverá muitos jeitos de ter acesso a mais ou menos GPT. E, se tudo funcionar como os planos, há uma lista de novos milionários — e até bilionários — por nascer no Vale do Silício.

 

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