O Estado de S. Paulo
O Parlamento, sobretudo a Câmara, já se lança
a mais uma semana de férias. O maledicente dirá que o recesso talvez não seja
tão mau, dada a agenda legislativa dos últimos tempos.
Debilitada a pauta parlamentar em função da
delirante campanha por anistia – impunidade – a Bolsonaro, a turma afinal se
uniu para aprovar o aumento do número de deputados e para tentar malocar,
contrabandear mesmo, o ex-presidente no alcance da sustação de ação penal que
só poderia beneficiar Alexandre Ramagem.
Toda essa vergonha – e então este “recesso branco” – desenvolvendo-se enquanto somos informados sobre novos detalhes da roubalheira bilionária aos aposentados, assalto facilitado por iniciativa do Congresso, agente decisivo na desmobilização de mecanismos de controle às concessões de descontos.
O chamado Centrão – grupo de oportunistas que
se articula por oportunismos em comum – jogou-se com carga total pela matéria
corporativista cuja proposta corrompe o princípio da imunidade parlamentar.
Essa galera farejou brecha, instrumentalizando a prerrogativa de Ramagem, para
se proteger contra os processos criminais que a corrupção das emendas
parlamentares fará se multiplicarem. Tem método.
Já o bolsonarismo identificou campo para se
vitimizar novamente, sabedor de que o STF – com razão, nesse caso – limitaria a
extensão do artigo 53. O importante era fazer circular no zap-profundo que o
Supremo xandônico teria agido para invadir-cercear o espaço de competência do
Parlamento. O tribunal faz isso com frequência. Não desta vez. Não interessa.
Interessa o texto. Tem método.
Hugo Motta deixou a cousa rolar porque,
ciente de que não prosperaria senão para suspender (em parte) a ação penal
contra o colega deputado, seria maneira de acarinhar o bolsonarismo parlamentar
insatisfeito com a forma como o presidente da Câmara mina o andamento do
projeto de lei pela anistia. Tem método.
Votaram esse conjunto desvairado de
irresponsabilidades, provocada sobretudo a população ferrada, e agora terão
semana de folga. Decisão do viajante Motta, cujo deslumbramento com o cargo se
expressa no furor como colhe carimbos no passaporte. Vai a Nova York, para
evento empresarial, e deixará trancado o Parlamento – como se a sede da
fazenda.
E o Senado? Vida mansa nos próximos dias,
embora prevista – para quinta – sessão da Comissão de Fiscalização e Controle
com o novo Lupi, o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, até ontem
secretário executivo da pasta. Há muito a lhe perguntar. Improvável que lhe
perguntem a contento.
Davi Alcolumbre sabe matar no peito e
precificar a habilidade. Ele também está viajando. Com Lula. Só viaja com Lula
ultimamente. A resenha é fluente e influente. Já governa dois ministérios. Quer
umas agências reguladoras, quem sabe o Banco do Brasil. Tem negócio. •
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