terça-feira, 13 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trégua tarifária entre EUA e China deveria perdurar

O Globo

Anúncio de negociação para acordo na guerra comercial é um alívio, mas, com Trump, tudo segue imprevisível

Trouxe alívio ao planeta o anúncio de uma trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China. A escalada tarifária iniciada por Donald Trump em fevereiro saiu de controle desde o início de abril, com retaliações em série. Quando negociadores dos dois países deram início a conversas na Suíça no sábado, os produtos chineses pagavam sobretaxa de 145% nos Estados Unidos, e os americanos de 125% na China. Mantido tal patamar, o comércio entre as duas maiores economias do mundo se tornaria inviável. Pelo que foi acertado, os dois lados suspenderão as barreiras por 90 dias enquanto tentam negociar um acordo definitivo. Nesse período, as sobretaxas cairão, respectivamente, a 30% e 10% (na prática, as tarifas serão de 40% e 25%, levando em conta os patamares anteriores à disputa). A redução é bem-vinda — e deveria perdurar.

A rapidez com que os americanos voltaram atrás dá a exata dimensão do erro de Trump. Derrotado pela realidade, ele viu na trégua a única chance de reduzir os danos que causara. A guerra tarifária ameaçou o dólar, pressionou inflação e juros, aumentou o risco de desabastecimento, minou a confiança dos consumidores e acendeu o alerta de recessão. O estrago registrado até agora está feito. Os principais índices das Bolsas americanas continuam abaixo do pico de fevereiro, comprometendo as economias das aposentadorias dos americanos, cujos portfólios são repletos de ações. A esperança é que as negociações dos próximos três meses tragam alguma estabilidade e permitam a retomada da economia global. Foi isso que embalou os ganhos nos mercados acionários nesta segunda-feira. Dado o estilo instável e mercurial de Trump, contudo, nada pode ser considerado definitivo.

Os chineses saíram da negociação na Suíça com algumas vitórias. Até o momento, não tiveram de fazer nenhuma concessão em termos de política cambial ou promessa de reduzir seu superávit comercial com os americanos. A China é acusada de manter o yuan artificialmente desvalorizado, para favorecer suas exportações. As declarações agressivas de Trump contra o câmbio chinês cessaram, pelo menos por ora. É uma incógnita quanto tempo a calmaria durará.

Contra todas as evidências, Trump quer fazer parecer que, desde o início, a escalada tarifária não passava de uma tática para alcançar termos comerciais mais vantajosos. Por isso tinha pressa em anunciar um acordo. Claro que os chineses também têm a ganhar. Uma pesquisa mostrou em abril que as exportações caíram ao nível mais baixo desde 2022, quando o país ainda enfrentava a pandemia. Paira o risco de deflação, e a crise no setor imobiliário ainda não está resolvida. A retomada do comércio global é, por tudo isso, crucial para os chineses.

É certo que o aumento nas trocas entre chineses e americanos poderá resultar em perdas para o agronegócio brasileiro. Mas também pode evitar que a China despeje aqui, a preços irrisórios, o que não conseguir vender aos Estados Unidos. É nessa conjuntura que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita a China. Sua viagem será avaliada pela capacidade de, diante de qualquer contexto comercial, atrair investimentos chineses e assegurar mercados aos produtos brasileiros.

Supersalários de deputados estaduais expõem distorções dos ‘penduricalhos’

O Globo

Pelo menos 17 assembleias legislativas pagam acima do teto constitucional a seus representantes

De acordo com as estimativas, algo como 90% dos juízes e procuradores recebem acima do teto constitucional estabelecido para a remuneração no setor público — o salário de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), hoje em R$ 46.366,19. As distorções não se resumem, contudo, a Judiciário e Ministério Público. Em pelo menos 17 assembleias legislativas, os deputados estaduais também recebem remuneração média acima do teto, como revelou reportagem do GLOBO.

O limite para o subsídio de deputado estadual é oficialmente R$ 34,7 mil, ou 75% da remuneração de deputado federal. Mas em nove estados (Rio Grande do Norte, Rondônia, Minas Gerais, Maranhão, Roraima, Paraíba, Amapá, Goiás e Tocantins) o salário ultrapassa os R$ 50 mil mensais. Em outras oito unidades federativas (Pernambuco, Sergipe, Amazonas, Mato Grosso, Piauí, Ceará, Distrito Federal e Espírito Santo), fica entre R$ 36,7 mil e R$ 49,3 mil. A média da remuneração dos deputados dessas 17 unidades da Federação foi de R$ 46,5 mil no primeiro trimestre. Rio Grande do Norte e Rondônia lideram o ranking, com pagamento médio a seus deputados de R$ 99,7 mil e R$ 67,8 mil, respectivamente.

E os artifícios para inflar os ganhos não param de surgir. Ao menos oito assembleias (Minas, Maranhão, Goiás, Pernambuco, Amazonas, Ceará, Distrito Federal e Rio de Janeiro) já aprovaram ou estão para votar propostas de novos auxílios. A Alerj decidirá sobre um vale-alimentação de R$ 2,9 mil por mês. Minas, em 2024, aumentou em 78% o teto do auxílio-moradia, para R$ 8,6 mil. Em Goiás e Mato Grosso, foram aprovadas verbas de “representação” (um terço da remuneração para os deputados goianos e metade para os mato-grossenses). Minas e Goiás estão entre os estados mais endividados.

Para justificar esse tipo de manobra, repete-se o mecanismo adotado por toda a elite do funcionalismo: driblar o teto por meio de “verbas indenizatórias”, mais conhecidas como “penduricalhos”. Ele é defendido com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) segundo o qual o teto se aplica apenas à parcela “remuneratória”, e não às de caráter “indenizatório”. Mas não há unanimidade no meio jurídico. Em 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo considerou inconstitucional o pagamento de auxílio-moradia. À época, o desembargador Luiz Sérgio Fernandes entendeu que os “penduricalhos” ferem a moralidade pública.

O dever de disciplinar os supersalários não se limita ao Judiciário. Cabe ao Congresso, por meio de lei complementar, definir o que é razoável em termos de verba indenizatória. O Projeto de Lei dos Supersalários é insatisfatório por abrir dezenas de exceções que perpetuariam os “penduricalhos”. Mas isso não exime os parlamentares de regular a questão de modo aceitável. Não é do interesse da democracia que instituições como Judiciário, Ministério Público e Legislativo compactuem com a captura do Orçamento por grupos de interesse alojados na máquina pública. Mesmo que formados por deputados eleitos pelo voto popular.

Trégua EUA-China é bom sinal, mas as incertezas persistem

Valor Econômico

Da mesma forma como o presidente americano foi quase do zero ao infinito tarifário em muito pouco tempo, nada impede que ele mude de opinião novamente

A primeira negociação entre China e Estados Unidos depois que o presidente Donald Trump declarou guerra tarifária contra o mundo, e especialmente contra Pequim, baixou à terra a inverossímil altura em que as taxações haviam alcançado. No fim de semana, constatou-se o óbvio: o comércio entre as duas maiores economias do mundo cessaria após os EUA imporem tarifas de 145% e a China, de 125%. “As tarifas altíssimas foram o equivalente a um embargo”, disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, após reuniões que definiram uma trégua de 90 dias nas “tarifas recíprocas”, que retrocedem a 10%, hoje válida para todos os países. O acordo não é simétrico.

A China aplicará proteção de 10% e manterá retaliações anteriores a alguns produtos americanos. Os EUA aplicarão 30% sobre bens importados da China - 10% mais os 20% de antes de 2 de abril, a “punição” pela suposta falta de controle do governo chinês sobre as exportações de fentanil para os EUA.

A trégua foi considerada pelos mercados financeiros quase como uma definição final dos limites da guerra tarifária, de 10% para todos os países e 30% para a China. As bolsas de valores deram um salto, o dólar subiu com uma força não vista desde a posse de Trump e o petróleo Brent voltou a ultrapassar US$ 65 o barril. A qualquer sinal de alívio no pesadelo tarifário imposto por Trump, os mercados comemoraram com um otimismo que seria depois desmentido pelos fatos. Dessa vez a euforia foi maior, porque houve entendimento direto entre os EUA e seu maior rival. Mas há ainda enorme espaço para frustrações.

Trump, ao seu estilo, disse que Pequim queria fazer um acordo porque foi “ferida gravemente”, tendo de “fechar fábricas” e “enfrentar protestos”. Mas Bessent foi para as reuniões - e os chineses concordaram, cientes disso -levando propostas que poderiam ser discutidas em um nível bem abaixo das tarifas estratosféricas mencionadas pelo presidente. Blefando, como é seu costume, Trump disse na véspera dos encontros que sua expectativa era de que as tarifas pousariam em 80%. Ficaram muito abaixo disso, e Trump logo disse que “estava zerado” o jogo com Pequim.

Da mesma forma como o presidente americano foi quase do zero ao infinito tarifário em muito pouco tempo, nada impede que ele mude de opinião novamente. Os EUA, além dos 30%, mantiveram a proteção de 25% para aço, alumínio e carros, de forma que se o acordo fosse finalizado hoje, os produtos chineses pagariam uma média de 40% para ingressar no mercado americano, segundo cálculos da consultoria Capital Economics (FT, ontem). Por seu lado, a China manteve o aumento de taxas de importação para muitos produtos agrícolas e outros provenientes dos EUA, definidas na retaliação aos primeiros 20% de gravame imposto antes pelos seu rival (caso do fentanil).

Esse nível de restrições mútuas, especialmente se comparado ao que vigia quando Trump assumiu a Presidência, é muito elevado ainda. Ele é capaz de reduzir o crescimento das duas economias, que somam cerca de 45% do PIB mundial, e desacelerar o comércio global, além de aumentar a inflação nos EUA e impedir que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduza os juros, que estão ainda em nível restritivo. Além disso, em seu primeiro mandato, Trump fez acordo com a China, exigiu que ela comprasse mais produtos americanos e ela concordou, mas as exigências americanas não pararam por aí, o acerto desandou e Pequim abandonou as promessas.

A mesma coisa pode ocorrer agora, se os EUA não estiverem negociando com boa fé. Ao anunciar o acordo ontem, Trump disse que a China “abrirá seu mercado”, colocando uma reivindicação adicional que não foi discutida, uma outra tática do manual de negociação do presidente. O que se discutiu de fato foi redução do nível de restrição, transitório até que haja um entendimento mutuamente satisfatório - ou não. O governo de Xi Jinping não levou a sério as bravatas de Trump e exigiu diálogo sério, que culminou na trégua.

As incertezas não diminuíram muito após a negociação, embora as comemorações do mercado financeiro aparentem dizer o contrário. Não é possível saber o fim da guerra tarifária de Trump nem contra a China nem contra o mundo. No dia 9 de julho termina outra trégua, a das tarifas “recíprocas” colocadas ante 60 países que, para o governo dos EUA, mais discriminam os produtos americanos, que vão de 10% a 50%, especialmente pesadas sobre os países asiáticos. Apesar da retórica, o governo Trump só produziu um acordo até agora, com o amigo Reino Unido, e não há tempo hábil para conclusão de muitos outros. O terceiro maior parceiro comercial dos EUA, a União Europeia, por exemplo, tem uma lista pronta de retaliação à espera da decisão americana.

O Brasil já vende mais soja para a China desde que começou a guerra tarifária e Pequim manteve punição aos produtos agrícolas dos EUA. A possibilidade de ganhar competitividade no mercado americano depende do destino das tarifas “recíprocas”, hoje niveladas em 10%. Ainda não há previsibilidade suficiente, e mesmo um início de entendimento promissor entre EUA e China não permite muito otimismo quanto ao futuro.

Trégua EUA-China traz alívio, mas restam incertezas

Folha de S. Paulo

Acordo prevê pausa na aplicação de tarifas punitivas dos dois lados, mas impacto das já aplicadas pode elevar a inflação

Com o anúncio de uma trégua que permitirá a redução das tarifas comerciais de lado a lado, os Estados Unidos e a China abriram negociações que poderão resultar num acordo entre as duas grandes potenciais nos próximos meses.

O entendimento prevê uma pausa de 90 dias na aplicação de tarifas punitivas, com redução significativa das taxas impostas por ambas as partes. As tarifas americanas sobre importações chinesas cairão de 145% para 30%, enquanto as chinesas sobre produtos americanos serão reduzidas de 125% para 10%.

O gigante asiático também suspenderá medidas não tarifárias retaliatórias, como restrições impostas à exportação de terras raras, essenciais para indústrias de tecnologia e defesa. Enquanto isso, permanecem as cobranças americanas sobre pacotes de baixo valor (caso de encomendas de comércio eletrônico).

O acordo também não aborda tarifas setoriais específicas, como os 20% justificados pelo tráfico de fentanyl e os 25% sobre aço e alumínio, que seguem em vigor.

A decisão trouxe alívio aos mercados financeiros globais, abalados por meses de escalada da guerra comercial diante dos riscos de paralisia nas cadeias de suprimento e de uma recessão.

Mas as negociações enfrentaram obstáculos significativos, refletindo diferenças estruturais. Os EUA buscam reduzir o déficit comercial de US$ 295 bilhões com a China, enquanto acusam Pequim de práticas mercantilistas, como subsídios estatais e manipulação cambial.

Entretanto, apesar de promessas, o governo americano ainda não mostrou disposição para tratar de problemas internos, como o déficit público explosivo que contribui para o aumento das importações.

Por seu turno, a China defende seu modelo econômico, que privilegia a geração de saldos comerciais crescentes na indústria, e hoje se coloca como defensora do livre comércio ante Trump, uma retórica atraente do ponto de vista geopolítico.

A queda de 60% no tráfego de contêineres da China para os EUA em abril, segundo a Flexport, havia acendido alertas sobre rupturas nas cadeias de suprimento, e o acordo trouxe alívio às empresas que suspenderam pedidos à espera de uma resolução.

No entanto o otimismo é cauteloso, pois o impacto das tarifas já aplicadas permanece e pode elevar a inflação americana em até 1,5 ponto percentual neste ano e reduzir o crescimento.

Por ora, a visão mais otimista está prevalecendo, mas as próximas semanas serão decisivas para avaliar a eficácia da trégua.

O cenário global também será influenciado pelas negociações de Trump com outros países. Cerca de 50 deles, incluindo Japão e Indonésia, já iniciaram conversas bilaterais com os EUA.

Em qualquer caso, mesmo que seja amainada a beligerância das partes, parece inevitável um amplo redesenho no comércio internacional a médio prazo.

Cracolândia pulverizada, acolhimento integrado

Folha de S. Paulo

Dispersão do tráfico deu resultados na segurança, mas degradou áreas; combate deve unir medidas sociais e terapêuticas

Completaram-se três anos desde que a Polícia Civil e a Prefeitura de São Paulo intervieram de forma mais drástica no perímetro que concentrava quase a totalidade dos dependentes de crack: a antiga praça Princesa Isabel, hoje um parque, e proximidades na região central.

As ações alteraram o panorama na área tradicional da cracolândia: não há mais notícias de pensões e hotéis baratos para o rodízio de usuários, imóveis que serviam de esconderijo para grandes quantidades de drogas nem barracas para a venda no varejo.

Ato contínuo à repressão policial, a região central enfrentou uma onda de ataques a comércios, saques, roubos, furtos e quebra-quebras, o que demandou uma presença mais ostensiva da Polícia Militar e de guardas-civis.

A consequência imediata da dispersão foi a erupção de minicracolândias, com dependentes vagando de uma rua a outra em novas e menores aglomerações.

Disperso, o chamado "fluxo", no entender das autoridades paulistas, é mais adequado tanto para políticas de segurança pública quanto para atendimento social.

De modo geral, de lá para cá, os atos de vandalismo arrefeceram, assim como as ocorrências de roubo e furto, de acordo com estatísticas do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A pulverização, contudo, criou novos focos de degradação urbana em áreas antes não afetadas, com prejuízos a pedestres, moradores e lojistas. O que não mudou, conforme apurou a Folha, é o monopólio do negócio: segue sob o controle da facção criminosa Primeiro Comando da Capital.

Também não há dados precisos sobre se a fragmentação, de fato, reduziu o total de toxicômanos e o volume de crack em circulação.

Como se vê, não há bala de prata para a questão. Investigação policial e inteligência para neutralizar as lideranças do PCC, asfixiando atacadistas, devem estar combinadas com ações integradas de acolhimento social, médico e terapêutico, incluindo todos os níveis de governo e participação ativa da sociedade.

Aliadas a campanhas de conscientização sobre riscos do uso, as medidas devem observar capacitação profissional e inserção no mercado de trabalho; cadastro de usuários e regularização de documentos; revitalização de espaços públicos e apoio a familiares.

É hora, também, de o país debater a sério a revisão de penas para usuários, com descriminalização de drogas leves —e, a exemplo de países europeus, um programa de redução de danos, sem impor a abstinência completa, com consumo ministrado e supervisionado por profissionais.

Uma conta que sobrará para a União

O Estado de S. Paulo

Governo cogita crédito extraordinário para ressarcir beneficiários do INSS por descontos indevidos. O mínimo que se espera é que investigações punam responsáveis e impeçam novos golpes

Imerso há quase três semanas na crise dos descontos irregulares do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o governo Lula da Silva já admite a possibilidade de editar crédito extraordinário para ressarcir os aposentados e pensionistas lesados pela fraude, à revelia de uma parte da equipe econômica, para quem é preciso saber exatamente quanto terá de ser devolvido antes da tomada de uma decisão.

O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, sustentou que a prioridade do Executivo é utilizar recursos das entidades que fizeram os débitos de maneira indevida para fazer a devolução do dinheiro. Mas bem se sabe que esse processo pode ser mais longo do que se espera, o que fez com que a alternativa do crédito extraordinário passasse a ser aventada para estancar a crise.

A despeito de a Operação Sem Desconto ter sido deflagrada no dia 23 de abril, somente a partir de hoje o INSS pretende comunicar 9 milhões de beneficiários sobre a associação que fez o desconto, o valor debitado e o período em que isso foi feito. Quem receber a notificação poderá fazer o pedido de devolução pelo aplicativo, mas as entidades também poderão contestar a alegação de que os aposentados e pensionistas não tinham conhecimento nem haviam autorizado os pagamentos.

Tudo o que um governo que busca a reeleição não precisa é de que um escândalo como este dure meses. Por isso, a edição de um crédito extraordinário pode ser a solução para o caso, como reconheceu a ministra do Planejamento, Simone Tebet. “Ninguém vai ficar prejudicado nessa conta, todos serão ressarcidos, (...) a única coisa que nós temos de ponderar é que o dinheiro que irá ressarcir é não só fruto da apreensão de bens, porque isso pode ser insuficiente”, disse a ministra. “Se precisar a União complementar, nós iremos complementar, mas vamos complementar com dinheiro público”, acrescentou.

De fato, o ressarcimento dos beneficiários deve ser tratado com prioridade, e antes um crédito extraordinário para encerrar o problema de uma vez do que um precatório bilionário que, corrigido pela Selic, também exigirá tratamento especial para que possa ser pago.

Pela Constituição, créditos extraordinários só podem ser utilizados para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, tais como em situações de guerra, comoção interna e calamidade pública, como foram os casos da pandemia de covid-19 e do socorro ao Rio Grande do Sul, devastado pelas enchentes do ano passado. Pelo caráter de excepcionalidade, esses recursos não são contabilizados dentro do limite de despesas do arcabouço fiscal, mas ainda assim afetam a apuração da meta fiscal.

Nos últimos anos, porém, com o aumento das restrições fiscais, as possibilidades de utilização de créditos extraordinários têm sido cada vez mais ampliadas. Em 2022, o governo Jair Bolsonaro apelou a este instrumento para bancar o reajuste do antigo Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 em pleno ano eleitoral. Em 2023, créditos extraordinários foram a solução para quitar precatórios atrasados durante a gestão Bolsonaro. No ano passado, o financiamento do combate a incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal se deu da mesma forma.

No Ministério da Fazenda, a preferência ainda é por utilizar recursos que haviam sido reservados às emendas parlamentares e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É compreensível que a equipe econômica tente evitar que mais recursos públicos sejam utilizados para pagar uma dívida que não pertence à União, mas esse remanejamento tampouco parece crível, haja vista que o espaço para recursos discricionários no Orçamento já é bastante limitado e, por isso mesmo, disputado a tapa pelo governo e pelo Congresso.

Ainda que o Executivo tenha afirmado que o esquema começou antes da posse de Lula da Silva, caberá ao governo atual dar respostas e encontrar uma solução definitiva para o problema. E, se isso passar por dinheiro público, como parece ser o caso, o que se espera é que haja uma investigação rigorosa que não só puna os responsáveis e recupere os recursos desviados, mas que feche brechas, acione controles com mais agilidade e encontre maneiras de proteger uma população tão vulnerável de golpes como este no futuro.

Alívio temporário

O Estado de S. Paulo

Suspensão de tarifas proibitivas entre EUA e China traz um respiro, mas não encerra a imprevisibilidade danosa à economia global provocada pela insensatez de Trump

Após um fim de semana de conversas em Genebra, na Suíça, EUA e China anunciaram ontem a suspensão, por 90 dias, das tarifas comerciais proibitivas que esses países têm praticado um contra o outro desde que Donald Trump deu início à sua guerra tarifária contra o mundo.

De acordo com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, as duas partes concordaram em reduzir em 115 pontos de porcentagem, temporariamente, as tarifas que impuseram uma à outra.

De um modo geral, a partir de 14 de maio, produtos chineses pagarão tarifa de 30% (abaixo do atual pico de 145%) para entrar nos EUA, enquanto as exportações norte-americanas com destino à China serão taxadas em 10%, bem abaixo do patamar de 125% imposto pelos chineses em retaliação às medidas de Trump.

Há exceções, contudo. Trump afirmou que a suspensão das tarifas mais elevadas não se aplica a automóveis, aço e alumínio chineses. O republicano também declarou que pode conversar com o líder chinês Xi Jinping ainda nesta semana e entende que as negociações entabuladas em Genebra levaram a uma “redefinição” das relações entre os dois países.

De fato, o governo dos EUA está tentando vender a trégua acertada com a China como um grande feito da atual gestão. Em comunicado, a Casa Branca afirmou que “Trump garantiu uma grande vitória para os EUA”, o que é um evidente exagero.

É verdade que os ativos norte-americanos viveram um rali ontem, registrando ganhos expressivos. Mas também é preciso separar a reação positiva, por exemplo, das bolsas – que vinham amargando perdas históricas em consequência da insensatez posta em marcha por Trump – da realidade, que segue marcada pela incerteza.

Por isso mesmo, por mais que Trump tente dar às negociações de Genebra ares de vitória épica, uma palavra muito usada ontem em círculos políticos e em Wall Street foi “capitulação” – e não dos chineses.

Pressionados pela desvalorização de ativos e pela possibilidade crescente de recessão nos EUA no final do ano, os chamados adultos na sala entraram em ação para tentar minimizar os atritos entre as duas maiores economias do mundo.

Nesse sentido, a suspensão das tarifas draconianas é, sim, positiva e traz alívio. Tarifas menores são obviamente melhores que tarifas elevadas. E disso bem sabem os britânicos, que na semana passada fecharam um acordo comercial com Trump no qual concordaram com tarifas de 10% para boa parte dos produtos do Reino Unido, tarifas que nem sequer existiam há poucos meses.

De concreto, o que se sabe é que as tarifas vieram para ficar – o secretário Bessent sinalizou que menos de 10% é “implausível”, mesmo para nações que desfrutam de relações historicamente estáveis com os EUA –, que o acordo de Genebra é apenas uma trégua e que as incertezas permanecem.

As empresas, por exemplo, que precisam de um mínimo de previsibilidade para desenhar planos de negócio e de investimento vão ignorar as constantes idas e vindas da administração Trump e entender que a era de turbulência recente acabou?

Destaque-se, ainda, que tal pergunta se aplica às grandes corporações, pois as pequenas empresas dos EUA, que dependem de importações da China, já sofrem as consequências do tarifaço e têm bem menos condições para lidar com taxas que ora valem, ora não valem.

Ademais, a grande questão que se impõe é: como levar Trump a sério? Desde que assumiu seu segundo mandato como presidente, o republicano tem se mostrado muito eficiente em pisotear aliados e dar o dito pelo não dito com velocidade assustadora.

Por mais que na negociação com a China os adultos na mesa aparentemente estejam prevalecendo, Trump segue sendo o agente desestabilizador que é. Prova disso é que acaba de assinar um decreto que imporá às farmacêuticas, num prazo de 30 dias, metas para a redução dos preços dos medicamentos nos EUA – redução que deve variar de 59% a 80%. Como essa medida afeta a China, o Reino Unido e os acordos firmados até agora, é mais um fato gerador de incerteza, como basicamente quase tudo o que Trump faz.

Uma janela para a diplomacia

O Estado de S. Paulo

Negociações entre Rússia e Ucrânia podem ser chance real de paz – ou uma tentativa de rendição disfarçada

As negociações entre Rússia e Ucrânia, marcadas para quinta-feira em Istambul, serão o primeiro encontro de alto nível desde o fracasso das tratativas de 2022. À época, os protocolos propostos pelo Kremlin exigiam a capitulação ucraniana: neutralidade permanente, veto à adesão à Otan, limitação drástica do poder militar e entrega de territórios. A Ucrânia resistiu. Três anos depois, volta à mesa com mais força, mas sob condições igualmente difíceis.

As negociações são alvissareiras, mas não devem ser romantizadas. A movimentação russa ocorre sob suspeição. Vladimir Putin recusa o cessar-fogo de 30 dias proposto pela Ucrânia e seus aliados e insiste em discutir, primeiro, as “causas profundas” do conflito – o que no vocabulário do Kremlin significa reescrever a história da guerra fria e reduzir a Ucrânia a um protetorado russo.

É a primeira armadilha: permitir que a retórica do “diálogo” disfarce um jogo de desgaste e cinismo estratégico. Putin quer que os termos da paz reconheçam conquistas obtidas pela força, validem a narrativa imperial russa e fragmentem o apoio ocidental à Ucrânia. A insistência em negociar com base nos protocolos de 2022 – um documento de rendição – reforça essa intenção.

Outro fator de inquietação é a ambivalência da Casa Branca. Donald Trump pressionou Volodmir Zelenski a aceitar a reunião, mas se recusa a exigir contrapartidas de Putin, como o cessar-fogo. Ao flertar com o desengajamento da Europa e se mostrar ansioso por um acordo rápido, mesmo que desequilibrado, na expectativa de dividendos políticos e comerciais, Trump mina a credibilidade do Ocidente e o poder de barganha de Kiev.

Assim, a negociação carrega oportunidades e riscos. À Ucrânia, cabe manter a disposição de negociar – mas sem abrir mão da autodeterminação. Um país invadido não pode ser forçado a ceder soberania em troca do fim dos bombardeios. O respeito à integridade territorial e, sobretudo, ao direito de escolher alianças deveria ser condição para uma paz legítima.

Se quisesse mostrar boa-fé, a Rússia aceitaria um cessar-fogo sem precondições assimétricas. Como discutir honestamente a paz enquanto civis morrem e mísseis cruzam o céu de Kiev? Negociar exige não só intenção, mas contenção.

Os EUA, por sua vez, precisariam abandonar a lógica transacional. A paz não pode ser comprada com concessões unilaterais. É preciso articular, junto da Europa, um marco realista, mas firme, de exigências mínimas, como a não expansão da agressão russa e a preservação da soberania ucraniana. A União Europeia tem a responsabilidade estratégica de manter coesão. A hesitação, a divisão interna e o medo do custo político da guerra não podem degradar o que resta de credibilidade da ordem liberal internacional.

A negociação em Istambul pode ser o recomeço de um caminho possível. Mas só será promissora se não repetir os erros de 2022: negociações desbalanceadas, intransigência russa, ausência de garantias reais e ausência de todos os atores relevantes à mesa. A diplomacia é sempre bem-vinda, mas, se usada como pretexto para impor a lei do mais forte, torna-se apenas outro nome para a rendição.

Fim da violência na escola demanda ação coletiva

Correio Braziliense

A redução, ou até mesmo a eliminação da violência, não é responsabilidade única do poder público. Passa pela educação de casa, lembrando o velho adágio: "costume de casa vai à praça"

A escola não é só um espaço de transferência de saberes, mas de formação das pessoas, desenvolvimento de habilidades, aprimoramento do pensamento crítico e de formação de valores sociais sustentados na cultura de paz. Todos esses requisitos têm sido jogados no lixo. Entre 2013 e 2023, o número de vítimas da violência no ambiente escolar aumentou 254%, segundo levantamento da Revista Pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

Dados do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) indicam, em 2013, o registro de 3,7 mil vítimas de violência nas escolas, número que subiu para 13,1 mil em 2023. A triste escalada atinge estudantes, professores e membros da comunidade escolar. O estudo revela que 2,2 mil casos foram de violência autoprovocada — automutilação, autopunição, planejar, tentar e praticar suicídio — durante o período pesquisado.

No Distrito Federal, a realidade é dramática. Em pouco mais de um mês, houve ao menos dois esfaqueamentos, duas brigas com alunos feridos e quatro denúncias contra estudantes das instituições da rede pública de ensino. Na semana passada, um adolescente de uma escola particular de Águas Claras foi parar na UTI depois de levar um soco na barriga deferido por um colega de sala. O jovem sofreu uma lesão no rim e segue internado. 

Os conflitos no DF não são restritos aos estudantes. Professores também estão envolvidos em atos de violência contra alunos, ao mesmo tempo em que também são vítimas, como apurou a reportagem Após ataques no DF, escolas e famílias se unem contra violência no ambiente escolar, publicada neste Correio Braziliense em 9 de maio. Em Ceilândia, uma mãe flagrou uma professora ameaçar uma aluna de 6 anos com uma garrafa de água. O ataque não se consumou porque a mãe gritou por socorro em defesa da filha, que tem transtorno do espectro autista. 

Em fevereiro, um professor com deficiência visual foi espancado por alunos do ensino médio na parada de ônibus, após aula. O motivo foi a exigência do docente para que os estudantes guardassem  os celulares durante a aula. A Secretaria de Educação DF garante que todas as ocorrências estão sendo acompanhadas de perto e a pasta tem se dedicado a ações de prevenção contra a violência nas escolas. 

Para a pedagoga e professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Catarina de Almeida Santos, especialista em gestão da escola pública, a solução da explosão de casos de violência nas escolas depende de diferentes atores, como o corpo técnico-administrativo, a gestão, os docentes, os estudantes e seus familiares e  a comunidade em que a instituição de ensino está inserida. "Se cada ator desenvolver bem o seu papel, certamente teremos menos problemas, mas, no fundo, a escola está sendo cada vez mais demandada por tarefas que não têm condições de resolver — algumas, nem são sua responsabilidade", afirma a professora.

Para a secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, é preciso unir forças entre as escolas e as famílias para enfrentar e superar os episódios de violência, dentro e fora da escola. Ela não deixa de ter razão que a redução, ou até mesmo a eliminação da violência, não é responsabilidade única do poder público. Passa pela educação de casa, lembrando o velho adágio: "Costume de casa vai à praça".

Mas, além disso, as unidades escolares precisam de investimentos que garantam-lhes condições adequadas à formação dos estudantes em todas as faixas de idade, especialmente as situadas nas periferias, que abrigam crianças e jovens de famílias com severas limitações socioeconômicas. Nessas regiões há um maior lastro de agressões e atos de violência dentro e fora das unidades de ensino. Isso indica que elas também  demandam uma atenção especial do Estado no campo da saúde, da segurança pública, da infraestrutura e de tantos outros serviços que elevem a qualidade de vida da população.

O POVO+: conteúdo de qualidade e análises de excelência

O Povo

O streaming do Grupo de Comunicação O POVO comemora cinco anos de trajetória, reunindo mais de 2.400 reportagens especiais, com temas que vão de política e economia até meio ambiente e comportamento, passando por cultura e tecnologia

Neste 13 de maio de 2025, celebram-se 5 anos da plataforma O POVO+, um conglomerado de conteúdo que congrega reportagens especiais, colunas, vídeos e séries para um leitor sempre atento e cada vez mais exigente. A junção jornalismo de qualidade e conteúdo exclusivo tem sido a tônica para aprimorar o espaço que ultrapassa o limite das notícias cotidianas e fornece ao público informações mais aprofundadas e análises bem fundamentadas, em formatos diversos que ajudam a entender a conjuntura.

O POVO+, que é o streaming do Grupo de Comunicação O POVO, comemora cinco anos de trajetória, reunindo mais de 2.400 reportagens especiais, com temas que vão de política e economia até meio ambiente e comportamento, passando por cultura e tecnologia. No acervo de colunas, contam-se mais 64 mil conteúdos, assinados por colunistas locais e nacionais que abordam, com excelência e avaliações sólidas, esportes, gastronomia, ciência, games, arte, opinião e memória.

As produções audiovisuais são outro marcante serviço. São documentários, minisséries e filmes, muitos feitos em parceria com artistas e produtoras locais. Entre os títulos, estão "Nordeste Insurgente" (que revisita a Confederação do Equador e as lutas republicanas no Nordeste), "Castello, O Ditador" (que explora a história política) e "Voo 168 - A Tragédia da Aratanha" (que reconstitui o maior acidente aéreo do Ceará). O catálogo soma 641 produções.

O Grupo de Comunicação O POVO sempre defendeu que o importante são os princípios, e não somente o suporte utilizado para distribuir a notícia. Entende também que a avalanche de informações que circula nas redes sociais não representa o fim do jornalismo profissional. Pelo contrário, torna-o mais necessário e relevante.

No O POVO , o investimento em reportagens e em conteúdos mais elaborados, com recursos audiovisuais interativos, visa levar a informação de forma mais explícita possível ao público. O destaque na reportagem chama a atenção, e o foco na análise é protagonismo para o pensamento crítico e reflexivo.

As reportagens que abarcam as complexidades da política, os vieses da cultura, as inovações tecnológicas, os desafios ambientais e as mudanças no comportamento social formam o fio condutor dessa jornada de cinco intensos anos. Todo esse trabalho é reconhecido também na forma de prêmios jornalísticos. O POVO acumula 30 premiações nacionais e regionais, reafirmando o compromisso da plataforma com a qualidade do que produz.

Esse conteúdo se soma ao trabalho exaustivo de jornalistas comprometidos com a verdade e um time bem-sucedido de colunistas que coloca à disposição do público análises e pontos de vista calcados em informações seguras e em avaliações fundamentadas.

Assim, O POVO representa o que há de mais moderno no Jornalismo local, mas nunca engessado, visto que o Jornalismo é dinâmico por essência. Como um veículo moderno e atualizado com as novas tendências, O POVO sempre avançando, como o mundo demanda. 

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