Trégua tarifária entre EUA e China deveria perdurar
O Globo
Anúncio de negociação para acordo na guerra
comercial é um alívio, mas, com Trump, tudo segue imprevisível
Trouxe alívio ao planeta o anúncio de uma trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China. A escalada tarifária iniciada por Donald Trump em fevereiro saiu de controle desde o início de abril, com retaliações em série. Quando negociadores dos dois países deram início a conversas na Suíça no sábado, os produtos chineses pagavam sobretaxa de 145% nos Estados Unidos, e os americanos de 125% na China. Mantido tal patamar, o comércio entre as duas maiores economias do mundo se tornaria inviável. Pelo que foi acertado, os dois lados suspenderão as barreiras por 90 dias enquanto tentam negociar um acordo definitivo. Nesse período, as sobretaxas cairão, respectivamente, a 30% e 10% (na prática, as tarifas serão de 40% e 25%, levando em conta os patamares anteriores à disputa). A redução é bem-vinda — e deveria perdurar.
A rapidez com que os americanos voltaram
atrás dá a exata dimensão do erro de Trump. Derrotado pela realidade, ele viu
na trégua a única chance de reduzir os danos que causara. A guerra tarifária
ameaçou o dólar, pressionou inflação e juros, aumentou o risco de
desabastecimento, minou a confiança dos consumidores e acendeu o alerta de
recessão. O estrago registrado até agora está feito. Os principais índices das
Bolsas americanas continuam abaixo do pico de fevereiro, comprometendo as
economias das aposentadorias dos americanos, cujos portfólios são repletos de
ações. A esperança é que as negociações dos próximos três meses tragam alguma
estabilidade e permitam a retomada da economia global. Foi isso que embalou os
ganhos nos mercados acionários nesta segunda-feira. Dado o estilo instável e
mercurial de Trump, contudo, nada pode ser considerado definitivo.
Os chineses saíram da negociação na Suíça com
algumas vitórias. Até o momento, não tiveram de fazer nenhuma concessão em
termos de política cambial ou promessa de reduzir seu superávit comercial com
os americanos. A China é acusada de manter o yuan artificialmente
desvalorizado, para favorecer suas exportações. As declarações agressivas de
Trump contra o câmbio chinês cessaram, pelo menos por ora. É uma incógnita
quanto tempo a calmaria durará.
Contra todas as evidências, Trump quer fazer
parecer que, desde o início, a escalada tarifária não passava de uma tática
para alcançar termos comerciais mais vantajosos. Por isso tinha pressa em
anunciar um acordo. Claro que os chineses também têm a ganhar. Uma pesquisa
mostrou em abril que as exportações caíram ao nível mais baixo desde 2022,
quando o país ainda enfrentava a pandemia. Paira o risco de deflação, e a crise
no setor imobiliário ainda não está resolvida. A retomada do comércio global é,
por tudo isso, crucial para os chineses.
É certo que o aumento nas trocas entre
chineses e americanos poderá resultar em perdas para o agronegócio brasileiro.
Mas também pode evitar que a China despeje aqui, a preços irrisórios, o que não
conseguir vender aos Estados Unidos. É nessa conjuntura que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva visita a China. Sua viagem será avaliada pela capacidade
de, diante de qualquer contexto comercial, atrair investimentos chineses e
assegurar mercados aos produtos brasileiros.
Supersalários de deputados estaduais expõem
distorções dos ‘penduricalhos’
O Globo
Pelo menos 17 assembleias legislativas pagam
acima do teto constitucional a seus representantes
De acordo com as estimativas, algo como 90%
dos juízes e procuradores recebem acima do teto constitucional estabelecido
para a remuneração no setor público — o salário de ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF), hoje em R$ 46.366,19. As distorções não se resumem, contudo, a
Judiciário e Ministério Público. Em pelo menos 17 assembleias legislativas, os
deputados estaduais também recebem remuneração média acima do teto, como
revelou reportagem do GLOBO.
O limite para o subsídio de deputado estadual
é oficialmente R$ 34,7 mil, ou 75% da remuneração de deputado federal. Mas em
nove estados (Rio Grande do Norte, Rondônia, Minas Gerais, Maranhão, Roraima,
Paraíba, Amapá, Goiás e Tocantins) o salário ultrapassa os R$ 50 mil mensais.
Em outras oito unidades federativas (Pernambuco, Sergipe, Amazonas, Mato
Grosso, Piauí, Ceará, Distrito Federal e Espírito Santo), fica entre R$ 36,7
mil e R$ 49,3 mil. A média da remuneração dos deputados dessas 17 unidades da Federação
foi de R$ 46,5 mil no primeiro trimestre. Rio Grande do Norte e Rondônia
lideram o ranking, com pagamento médio a seus deputados de R$ 99,7 mil e R$
67,8 mil, respectivamente.
E os artifícios para inflar os ganhos não
param de surgir. Ao menos oito assembleias (Minas, Maranhão, Goiás, Pernambuco,
Amazonas, Ceará, Distrito Federal e Rio de Janeiro) já aprovaram ou estão para
votar propostas de novos auxílios. A Alerj decidirá sobre um vale-alimentação
de R$ 2,9 mil por mês. Minas, em 2024, aumentou em 78% o teto do
auxílio-moradia, para R$ 8,6 mil. Em Goiás e Mato Grosso, foram aprovadas
verbas de “representação” (um terço da remuneração para os deputados goianos e
metade para os mato-grossenses). Minas e Goiás estão entre os estados mais
endividados.
Para justificar esse tipo de manobra,
repete-se o mecanismo adotado por toda a elite do funcionalismo: driblar o teto
por meio de “verbas indenizatórias”, mais conhecidas como “penduricalhos”. Ele
é defendido com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) segundo
o qual o teto se aplica apenas à parcela “remuneratória”, e não às de caráter
“indenizatório”. Mas não há unanimidade no meio jurídico. Em 2013, o Tribunal
de Justiça de São Paulo considerou inconstitucional o pagamento de auxílio-moradia.
À época, o desembargador Luiz Sérgio Fernandes entendeu que os “penduricalhos”
ferem a moralidade pública.
O dever de disciplinar os supersalários não
se limita ao Judiciário. Cabe ao Congresso, por meio de lei complementar,
definir o que é razoável em termos de verba indenizatória. O Projeto de Lei dos
Supersalários é insatisfatório por abrir dezenas de exceções que perpetuariam
os “penduricalhos”. Mas isso não exime os parlamentares de regular a questão de
modo aceitável. Não é do interesse da democracia que instituições como
Judiciário, Ministério Público e Legislativo compactuem com a captura do
Orçamento por grupos de interesse alojados na máquina pública. Mesmo que
formados por deputados eleitos pelo voto popular.
Trégua EUA-China é bom sinal, mas as
incertezas persistem
Valor Econômico
Da mesma forma como o presidente americano
foi quase do zero ao infinito tarifário em muito pouco tempo, nada impede que
ele mude de opinião novamente
A primeira negociação entre China e Estados
Unidos depois que o presidente Donald Trump declarou guerra tarifária contra o
mundo, e especialmente contra Pequim, baixou à terra a inverossímil altura em
que as taxações haviam alcançado. No fim de semana, constatou-se o óbvio: o
comércio entre as duas maiores economias do mundo cessaria após os EUA imporem
tarifas de 145% e a China, de 125%. “As tarifas altíssimas foram o equivalente
a um embargo”, disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, após reuniões
que definiram uma trégua de 90 dias nas “tarifas recíprocas”, que retrocedem a
10%, hoje válida para todos os países. O acordo não é simétrico.
A China aplicará proteção de 10% e manterá
retaliações anteriores a alguns produtos americanos. Os EUA aplicarão 30% sobre
bens importados da China - 10% mais os 20% de antes de 2 de abril, a “punição”
pela suposta falta de controle do governo chinês sobre as exportações de
fentanil para os EUA.
A trégua foi considerada pelos mercados
financeiros quase como uma definição final dos limites da guerra tarifária, de
10% para todos os países e 30% para a China. As bolsas de valores deram um
salto, o dólar subiu com uma força não vista desde a posse de Trump e o
petróleo Brent voltou a ultrapassar US$ 65 o barril. A qualquer sinal de alívio
no pesadelo tarifário imposto por Trump, os mercados comemoraram com um
otimismo que seria depois desmentido pelos fatos. Dessa vez a euforia foi
maior, porque houve entendimento direto entre os EUA e seu maior rival. Mas há
ainda enorme espaço para frustrações.
Trump, ao seu estilo, disse que Pequim queria
fazer um acordo porque foi “ferida gravemente”, tendo de “fechar fábricas” e
“enfrentar protestos”. Mas Bessent foi para as reuniões - e os chineses
concordaram, cientes disso -levando propostas que poderiam ser discutidas em um
nível bem abaixo das tarifas estratosféricas mencionadas pelo presidente.
Blefando, como é seu costume, Trump disse na véspera dos encontros que sua
expectativa era de que as tarifas pousariam em 80%. Ficaram muito abaixo disso,
e Trump logo disse que “estava zerado” o jogo com Pequim.
Da mesma forma como o presidente americano
foi quase do zero ao infinito tarifário em muito pouco tempo, nada impede que
ele mude de opinião novamente. Os EUA, além dos 30%, mantiveram a proteção de
25% para aço, alumínio e carros, de forma que se o acordo fosse finalizado
hoje, os produtos chineses pagariam uma média de 40% para ingressar no mercado
americano, segundo cálculos da consultoria Capital Economics (FT, ontem). Por
seu lado, a China manteve o aumento de taxas de importação para muitos produtos
agrícolas e outros provenientes dos EUA, definidas na retaliação aos primeiros
20% de gravame imposto antes pelos seu rival (caso do fentanil).
Esse nível de restrições mútuas,
especialmente se comparado ao que vigia quando Trump assumiu a Presidência, é
muito elevado ainda. Ele é capaz de reduzir o crescimento das duas economias,
que somam cerca de 45% do PIB mundial, e desacelerar o comércio global, além de
aumentar a inflação nos EUA e impedir que o Federal Reserve (Fed, o banco
central americano) reduza os juros, que estão ainda em nível restritivo. Além
disso, em seu primeiro mandato, Trump fez acordo com a China, exigiu que ela
comprasse mais produtos americanos e ela concordou, mas as exigências
americanas não pararam por aí, o acerto desandou e Pequim abandonou as
promessas.
A mesma coisa pode ocorrer agora, se os EUA
não estiverem negociando com boa fé. Ao anunciar o acordo ontem, Trump disse
que a China “abrirá seu mercado”, colocando uma reivindicação adicional que não
foi discutida, uma outra tática do manual de negociação do presidente. O que se
discutiu de fato foi redução do nível de restrição, transitório até que haja um
entendimento mutuamente satisfatório - ou não. O governo de Xi Jinping não
levou a sério as bravatas de Trump e exigiu diálogo sério, que culminou na trégua.
As incertezas não diminuíram muito após a
negociação, embora as comemorações do mercado financeiro aparentem dizer o
contrário. Não é possível saber o fim da guerra tarifária de Trump nem contra a
China nem contra o mundo. No dia 9 de julho termina outra trégua, a das tarifas
“recíprocas” colocadas ante 60 países que, para o governo dos EUA, mais
discriminam os produtos americanos, que vão de 10% a 50%, especialmente pesadas
sobre os países asiáticos. Apesar da retórica, o governo Trump só produziu um acordo
até agora, com o amigo Reino Unido, e não há tempo hábil para conclusão de
muitos outros. O terceiro maior parceiro comercial dos EUA, a União Europeia,
por exemplo, tem uma lista pronta de retaliação à espera da decisão americana.
O Brasil já vende mais soja para a China
desde que começou a guerra tarifária e Pequim manteve punição aos produtos
agrícolas dos EUA. A possibilidade de ganhar competitividade no mercado
americano depende do destino das tarifas “recíprocas”, hoje niveladas em 10%.
Ainda não há previsibilidade suficiente, e mesmo um início de entendimento
promissor entre EUA e China não permite muito otimismo quanto ao futuro.
Trégua EUA-China traz alívio, mas restam
incertezas
Folha de S. Paulo
Acordo prevê pausa na aplicação de tarifas
punitivas dos dois lados, mas impacto das já aplicadas pode elevar a inflação
Com
o anúncio de uma trégua que permitirá a redução das tarifas comerciais
de lado a lado, os Estados
Unidos e a China abriram
negociações que poderão resultar num acordo entre as duas grandes potenciais
nos próximos meses.
O entendimento prevê uma pausa de 90 dias na
aplicação de tarifas punitivas, com redução significativa das taxas impostas
por ambas as partes. As tarifas americanas sobre importações chinesas cairão de
145% para 30%, enquanto as chinesas sobre produtos americanos serão reduzidas
de 125% para 10%.
O gigante asiático também suspenderá medidas
não tarifárias retaliatórias, como restrições impostas à exportação de terras
raras, essenciais para indústrias de tecnologia e defesa. Enquanto isso,
permanecem as cobranças americanas sobre pacotes de baixo valor (caso de
encomendas de comércio eletrônico).
O acordo também não aborda tarifas setoriais
específicas, como os 20% justificados pelo tráfico de fentanyl e os 25% sobre
aço e alumínio, que seguem em vigor.
A decisão trouxe alívio aos mercados
financeiros globais, abalados por meses de escalada da guerra comercial diante
dos riscos de paralisia nas cadeias de suprimento e de uma recessão.
Mas as negociações enfrentaram obstáculos
significativos, refletindo diferenças estruturais. Os EUA buscam reduzir o
déficit comercial de US$ 295 bilhões com a China, enquanto acusam Pequim de
práticas mercantilistas, como subsídios estatais e manipulação cambial.
Entretanto, apesar de promessas, o governo
americano ainda não mostrou disposição para tratar de problemas internos, como
o déficit público explosivo que contribui para o aumento das importações.
Por seu turno, a China defende seu modelo
econômico, que privilegia a geração de saldos comerciais crescentes na
indústria, e hoje se coloca como defensora do livre comércio ante Trump, uma
retórica atraente do ponto de vista geopolítico.
A queda de 60% no tráfego de contêineres da
China para os EUA em abril, segundo a Flexport, havia acendido alertas sobre
rupturas nas cadeias de suprimento, e o acordo trouxe alívio às empresas que
suspenderam pedidos à espera de uma resolução.
No entanto o otimismo é cauteloso, pois o
impacto das tarifas já aplicadas permanece e pode elevar a inflação americana
em até 1,5 ponto percentual neste ano e reduzir o crescimento.
Por ora, a visão mais otimista está
prevalecendo, mas as próximas semanas serão decisivas para avaliar a eficácia
da trégua.
O cenário global também será influenciado
pelas negociações de Trump com outros países. Cerca de 50 deles, incluindo
Japão e Indonésia, já iniciaram conversas bilaterais com os EUA.
Em qualquer caso, mesmo que seja amainada a
beligerância das partes, parece inevitável um amplo redesenho no comércio
internacional a médio prazo.
Cracolândia pulverizada, acolhimento
integrado
Folha de S. Paulo
Dispersão do tráfico deu resultados na
segurança, mas degradou áreas; combate deve unir medidas sociais e terapêuticas
Completaram-se
três anos desde que a Polícia Civil e a Prefeitura de São Paulo
intervieram de forma mais drástica no perímetro que concentrava quase a
totalidade dos dependentes de crack: a antiga praça Princesa Isabel, hoje um
parque, e proximidades na região central.
As ações alteraram o panorama na área
tradicional da cracolândia: não há mais notícias de pensões e hotéis baratos
para o rodízio de usuários, imóveis que serviam de esconderijo para grandes
quantidades de drogas nem barracas para a venda no varejo.
Ato contínuo à repressão policial, a região
central enfrentou uma onda de ataques a comércios, saques, roubos, furtos e
quebra-quebras, o que demandou uma presença mais ostensiva da Polícia Militar e
de guardas-civis.
A consequência imediata da dispersão foi a
erupção de minicracolândias, com dependentes vagando de uma rua a outra em
novas e menores aglomerações.
Disperso, o chamado "fluxo", no
entender das autoridades paulistas, é mais adequado tanto para políticas de
segurança pública quanto para atendimento social.
De modo geral, de lá para cá, os atos de
vandalismo arrefeceram, assim como as ocorrências de roubo e furto, de acordo
com estatísticas do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A pulverização, contudo, criou novos focos de
degradação urbana em áreas antes não afetadas, com prejuízos a pedestres,
moradores e lojistas. O que não mudou, conforme apurou a Folha, é o
monopólio do negócio: segue sob o controle da facção criminosa Primeiro Comando
da Capital.
Também não há dados precisos sobre se a
fragmentação, de fato, reduziu o total de toxicômanos e o volume de crack em
circulação.
Como se vê, não há bala de prata para a
questão. Investigação policial e inteligência para neutralizar as lideranças do
PCC, asfixiando atacadistas, devem estar combinadas com ações integradas de
acolhimento social, médico e terapêutico, incluindo todos os níveis de governo
e participação ativa da sociedade.
Aliadas a campanhas de conscientização sobre
riscos do uso, as medidas devem observar capacitação profissional e inserção no
mercado de trabalho; cadastro de usuários e regularização de documentos;
revitalização de espaços públicos e apoio a familiares.
É hora, também, de o país debater a sério a revisão de penas para usuários, com descriminalização de drogas leves —e, a exemplo de países europeus, um programa de redução de danos, sem impor a abstinência completa, com consumo ministrado e supervisionado por profissionais.
Uma conta que sobrará para a União
O Estado de S. Paulo
Governo cogita crédito extraordinário para
ressarcir beneficiários do INSS por descontos indevidos. O mínimo que se espera
é que investigações punam responsáveis e impeçam novos golpes
Imerso há quase três semanas na crise dos
descontos irregulares do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o governo
Lula da Silva já admite a possibilidade de editar crédito extraordinário para
ressarcir os aposentados e pensionistas lesados pela fraude, à revelia de uma
parte da equipe econômica, para quem é preciso saber exatamente quanto terá de
ser devolvido antes da tomada de uma decisão.
O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União
(AGU), Jorge Messias, sustentou que a prioridade do Executivo é utilizar
recursos das entidades que fizeram os débitos de maneira indevida para fazer a
devolução do dinheiro. Mas bem se sabe que esse processo pode ser mais longo do
que se espera, o que fez com que a alternativa do crédito extraordinário
passasse a ser aventada para estancar a crise.
A despeito de a Operação Sem Desconto ter
sido deflagrada no dia 23 de abril, somente a partir de hoje o INSS pretende
comunicar 9 milhões de beneficiários sobre a associação que fez o desconto, o
valor debitado e o período em que isso foi feito. Quem receber a notificação
poderá fazer o pedido de devolução pelo aplicativo, mas as entidades também
poderão contestar a alegação de que os aposentados e pensionistas não tinham
conhecimento nem haviam autorizado os pagamentos.
Tudo o que um governo que busca a reeleição
não precisa é de que um escândalo como este dure meses. Por isso, a edição de
um crédito extraordinário pode ser a solução para o caso, como reconheceu a
ministra do Planejamento, Simone Tebet. “Ninguém vai ficar prejudicado nessa
conta, todos serão ressarcidos, (...) a única coisa que nós temos de ponderar é
que o dinheiro que irá ressarcir é não só fruto da apreensão de bens, porque
isso pode ser insuficiente”, disse a ministra. “Se precisar a União complementar,
nós iremos complementar, mas vamos complementar com dinheiro público”,
acrescentou.
De fato, o ressarcimento dos beneficiários
deve ser tratado com prioridade, e antes um crédito extraordinário para
encerrar o problema de uma vez do que um precatório bilionário que, corrigido
pela Selic, também exigirá tratamento especial para que possa ser pago.
Pela Constituição, créditos extraordinários
só podem ser utilizados para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, tais
como em situações de guerra, comoção interna e calamidade pública, como foram
os casos da pandemia de covid-19 e do socorro ao Rio Grande do Sul, devastado
pelas enchentes do ano passado. Pelo caráter de excepcionalidade, esses
recursos não são contabilizados dentro do limite de despesas do arcabouço
fiscal, mas ainda assim afetam a apuração da meta fiscal.
Nos últimos anos, porém, com o aumento das
restrições fiscais, as possibilidades de utilização de créditos extraordinários
têm sido cada vez mais ampliadas. Em 2022, o governo Jair Bolsonaro apelou a
este instrumento para bancar o reajuste do antigo Auxílio Brasil de R$ 400 para
R$ 600 em pleno ano eleitoral. Em 2023, créditos extraordinários foram a
solução para quitar precatórios atrasados durante a gestão Bolsonaro. No ano
passado, o financiamento do combate a incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal
se deu da mesma forma.
No Ministério da Fazenda, a preferência ainda
é por utilizar recursos que haviam sido reservados às emendas parlamentares e
ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É compreensível que a equipe
econômica tente evitar que mais recursos públicos sejam utilizados para pagar
uma dívida que não pertence à União, mas esse remanejamento tampouco parece
crível, haja vista que o espaço para recursos discricionários no Orçamento já é
bastante limitado e, por isso mesmo, disputado a tapa pelo governo e pelo Congresso.
Ainda que o Executivo tenha afirmado que o
esquema começou antes da posse de Lula da Silva, caberá ao governo atual dar
respostas e encontrar uma solução definitiva para o problema. E, se isso passar
por dinheiro público, como parece ser o caso, o que se espera é que haja uma
investigação rigorosa que não só puna os responsáveis e recupere os recursos
desviados, mas que feche brechas, acione controles com mais agilidade e
encontre maneiras de proteger uma população tão vulnerável de golpes como este
no futuro.
Alívio temporário
O Estado de S. Paulo
Suspensão de tarifas proibitivas entre EUA e
China traz um respiro, mas não encerra a imprevisibilidade danosa à economia
global provocada pela insensatez de Trump
Após um fim de semana de conversas em
Genebra, na Suíça, EUA e China anunciaram ontem a suspensão, por 90 dias, das
tarifas comerciais proibitivas que esses países têm praticado um contra o outro
desde que Donald Trump deu início à sua guerra tarifária contra o mundo.
De acordo com o secretário do Tesouro
norte-americano, Scott Bessent, as duas partes concordaram em reduzir em 115
pontos de porcentagem, temporariamente, as tarifas que impuseram uma à outra.
De um modo geral, a partir de 14 de maio,
produtos chineses pagarão tarifa de 30% (abaixo do atual pico de 145%) para
entrar nos EUA, enquanto as exportações norte-americanas com destino à China
serão taxadas em 10%, bem abaixo do patamar de 125% imposto pelos chineses em
retaliação às medidas de Trump.
Há exceções, contudo. Trump afirmou que a
suspensão das tarifas mais elevadas não se aplica a automóveis, aço e alumínio
chineses. O republicano também declarou que pode conversar com o líder chinês
Xi Jinping ainda nesta semana e entende que as negociações entabuladas em
Genebra levaram a uma “redefinição” das relações entre os dois países.
De fato, o governo dos EUA está tentando
vender a trégua acertada com a China como um grande feito da atual gestão. Em
comunicado, a Casa Branca afirmou que “Trump garantiu uma grande vitória para
os EUA”, o que é um evidente exagero.
É verdade que os ativos norte-americanos
viveram um rali ontem, registrando ganhos expressivos. Mas também é preciso
separar a reação positiva, por exemplo, das bolsas – que vinham amargando
perdas históricas em consequência da insensatez posta em marcha por Trump – da
realidade, que segue marcada pela incerteza.
Por isso mesmo, por mais que Trump tente dar
às negociações de Genebra ares de vitória épica, uma palavra muito usada ontem
em círculos políticos e em Wall Street foi “capitulação” – e não dos chineses.
Pressionados pela desvalorização de ativos e
pela possibilidade crescente de recessão nos EUA no final do ano, os chamados
adultos na sala entraram em ação para tentar minimizar os atritos entre as duas
maiores economias do mundo.
Nesse sentido, a suspensão das tarifas
draconianas é, sim, positiva e traz alívio. Tarifas menores são obviamente
melhores que tarifas elevadas. E disso bem sabem os britânicos, que na semana
passada fecharam um acordo comercial com Trump no qual concordaram com tarifas
de 10% para boa parte dos produtos do Reino Unido, tarifas que nem sequer
existiam há poucos meses.
De concreto, o que se sabe é que as tarifas
vieram para ficar – o secretário Bessent sinalizou que menos de 10% é
“implausível”, mesmo para nações que desfrutam de relações historicamente
estáveis com os EUA –, que o acordo de Genebra é apenas uma trégua e que as
incertezas permanecem.
As empresas, por exemplo, que precisam de um
mínimo de previsibilidade para desenhar planos de negócio e de investimento vão
ignorar as constantes idas e vindas da administração Trump e entender que a era
de turbulência recente acabou?
Destaque-se, ainda, que tal pergunta se
aplica às grandes corporações, pois as pequenas empresas dos EUA, que dependem
de importações da China, já sofrem as consequências do tarifaço e têm bem menos
condições para lidar com taxas que ora valem, ora não valem.
Ademais, a grande questão que se impõe é:
como levar Trump a sério? Desde que assumiu seu segundo mandato como
presidente, o republicano tem se mostrado muito eficiente em pisotear aliados e
dar o dito pelo não dito com velocidade assustadora.
Por mais que na negociação com a China os
adultos na mesa aparentemente estejam prevalecendo, Trump segue sendo o agente
desestabilizador que é. Prova disso é que acaba de assinar um decreto que
imporá às farmacêuticas, num prazo de 30 dias, metas para a redução dos preços
dos medicamentos nos EUA – redução que deve variar de 59% a 80%. Como essa
medida afeta a China, o Reino Unido e os acordos firmados até agora, é mais um
fato gerador de incerteza, como basicamente quase tudo o que Trump faz.
Uma janela para a diplomacia
O Estado de S. Paulo
Negociações entre Rússia e Ucrânia podem ser
chance real de paz – ou uma tentativa de rendição disfarçada
As negociações entre Rússia e Ucrânia,
marcadas para quinta-feira em Istambul, serão o primeiro encontro de alto nível
desde o fracasso das tratativas de 2022. À época, os protocolos propostos pelo
Kremlin exigiam a capitulação ucraniana: neutralidade permanente, veto à adesão
à Otan, limitação drástica do poder militar e entrega de territórios. A Ucrânia
resistiu. Três anos depois, volta à mesa com mais força, mas sob condições
igualmente difíceis.
As negociações são alvissareiras, mas não
devem ser romantizadas. A movimentação russa ocorre sob suspeição. Vladimir
Putin recusa o cessar-fogo de 30 dias proposto pela Ucrânia e seus aliados e
insiste em discutir, primeiro, as “causas profundas” do conflito – o que no
vocabulário do Kremlin significa reescrever a história da guerra fria e reduzir
a Ucrânia a um protetorado russo.
É a primeira armadilha: permitir que a
retórica do “diálogo” disfarce um jogo de desgaste e cinismo estratégico. Putin
quer que os termos da paz reconheçam conquistas obtidas pela força, validem a
narrativa imperial russa e fragmentem o apoio ocidental à Ucrânia. A
insistência em negociar com base nos protocolos de 2022 – um documento de
rendição – reforça essa intenção.
Outro fator de inquietação é a ambivalência
da Casa Branca. Donald Trump pressionou Volodmir Zelenski a aceitar a reunião,
mas se recusa a exigir contrapartidas de Putin, como o cessar-fogo. Ao flertar
com o desengajamento da Europa e se mostrar ansioso por um acordo rápido, mesmo
que desequilibrado, na expectativa de dividendos políticos e comerciais, Trump
mina a credibilidade do Ocidente e o poder de barganha de Kiev.
Assim, a negociação carrega oportunidades e
riscos. À Ucrânia, cabe manter a disposição de negociar – mas sem abrir mão da
autodeterminação. Um país invadido não pode ser forçado a ceder soberania em
troca do fim dos bombardeios. O respeito à integridade territorial e,
sobretudo, ao direito de escolher alianças deveria ser condição para uma paz
legítima.
Se quisesse mostrar boa-fé, a Rússia
aceitaria um cessar-fogo sem precondições assimétricas. Como discutir
honestamente a paz enquanto civis morrem e mísseis cruzam o céu de Kiev?
Negociar exige não só intenção, mas contenção.
Os EUA, por sua vez, precisariam abandonar a
lógica transacional. A paz não pode ser comprada com concessões unilaterais. É
preciso articular, junto da Europa, um marco realista, mas firme, de exigências
mínimas, como a não expansão da agressão russa e a preservação da soberania
ucraniana. A União Europeia tem a responsabilidade estratégica de manter
coesão. A hesitação, a divisão interna e o medo do custo político da guerra não
podem degradar o que resta de credibilidade da ordem liberal internacional.
A negociação em Istambul pode ser o recomeço de um caminho possível. Mas só será promissora se não repetir os erros de 2022: negociações desbalanceadas, intransigência russa, ausência de garantias reais e ausência de todos os atores relevantes à mesa. A diplomacia é sempre bem-vinda, mas, se usada como pretexto para impor a lei do mais forte, torna-se apenas outro nome para a rendição.
Fim da violência na escola demanda ação
coletiva
Correio Braziliense
A redução, ou até mesmo a eliminação da
violência, não é responsabilidade única do poder público. Passa pela educação
de casa, lembrando o velho adágio: "costume de casa vai à praça"
A escola não é só um espaço de transferência
de saberes, mas de formação das pessoas, desenvolvimento de habilidades,
aprimoramento do pensamento crítico e de formação de valores sociais
sustentados na cultura de paz. Todos esses requisitos têm sido jogados no lixo.
Entre 2013 e 2023, o número de vítimas da violência no ambiente escolar
aumentou 254%, segundo levantamento da Revista Pesquisa da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Dados do Ministério de Direitos Humanos e
Cidadania (MDHC) indicam, em 2013, o registro de 3,7 mil vítimas de violência
nas escolas, número que subiu para 13,1 mil em 2023. A triste escalada atinge
estudantes, professores e membros da comunidade escolar. O estudo revela que
2,2 mil casos foram de violência autoprovocada — automutilação, autopunição,
planejar, tentar e praticar suicídio — durante o período pesquisado.
No Distrito Federal, a realidade é dramática.
Em pouco mais de um mês, houve ao menos dois esfaqueamentos, duas brigas com
alunos feridos e quatro denúncias contra estudantes das instituições da rede
pública de ensino. Na semana passada, um adolescente de uma escola particular
de Águas Claras foi parar na UTI depois de levar um soco na barriga deferido
por um colega de sala. O jovem sofreu uma lesão no rim e segue internado.
Os conflitos no DF não são restritos aos
estudantes. Professores também estão envolvidos em atos de violência contra
alunos, ao mesmo tempo em que também são vítimas, como apurou a reportagem Após
ataques no DF, escolas e famílias se unem contra violência no ambiente escolar,
publicada neste Correio Braziliense em 9 de maio. Em Ceilândia, uma mãe flagrou
uma professora ameaçar uma aluna de 6 anos com uma garrafa de água. O ataque
não se consumou porque a mãe gritou por socorro em defesa da filha, que tem transtorno
do espectro autista.
Em fevereiro, um professor com deficiência
visual foi espancado por alunos do ensino médio na parada de ônibus, após aula.
O motivo foi a exigência do docente para que os estudantes guardassem os
celulares durante a aula. A Secretaria de Educação DF garante que todas as
ocorrências estão sendo acompanhadas de perto e a pasta tem se dedicado a ações
de prevenção contra a violência nas escolas.
Para a pedagoga e professora da
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Catarina de Almeida
Santos, especialista em gestão da escola pública, a solução da explosão de
casos de violência nas escolas depende de diferentes atores, como o corpo
técnico-administrativo, a gestão, os docentes, os estudantes e seus familiares
e a comunidade em que a instituição de ensino está inserida. "Se
cada ator desenvolver bem o seu papel, certamente teremos menos problemas, mas,
no fundo, a escola está sendo cada vez mais demandada por tarefas que não têm
condições de resolver — algumas, nem são sua responsabilidade", afirma a
professora.
Para a secretária de Educação do DF, Hélvia
Paranaguá, é preciso unir forças entre as escolas e as famílias para enfrentar
e superar os episódios de violência, dentro e fora da escola. Ela não deixa de
ter razão que a redução, ou até mesmo a eliminação da violência, não é
responsabilidade única do poder público. Passa pela educação de casa, lembrando
o velho adágio: "Costume de casa vai à praça".
Mas, além disso, as unidades escolares precisam de investimentos que garantam-lhes condições adequadas à formação dos estudantes em todas as faixas de idade, especialmente as situadas nas periferias, que abrigam crianças e jovens de famílias com severas limitações socioeconômicas. Nessas regiões há um maior lastro de agressões e atos de violência dentro e fora das unidades de ensino. Isso indica que elas também demandam uma atenção especial do Estado no campo da saúde, da segurança pública, da infraestrutura e de tantos outros serviços que elevem a qualidade de vida da população.
O POVO+: conteúdo de qualidade e análises de
excelência
O Povo
O streaming do Grupo de Comunicação O POVO
comemora cinco anos de trajetória, reunindo mais de 2.400 reportagens
especiais, com temas que vão de política e economia até meio ambiente e
comportamento, passando por cultura e tecnologia
Neste 13 de maio de 2025, celebram-se 5 anos
da plataforma O POVO+, um conglomerado de conteúdo que congrega reportagens
especiais, colunas, vídeos e séries para um leitor sempre atento e cada vez
mais exigente. A junção jornalismo de qualidade e conteúdo exclusivo tem
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fundamentadas, em formatos diversos que ajudam a entender a conjuntura.
O POVO+, que é o streaming do Grupo
de Comunicação O POVO, comemora cinco anos de trajetória, reunindo mais de
2.400 reportagens especiais, com temas que vão de política e economia até meio
ambiente e comportamento, passando por cultura e tecnologia. No acervo de
colunas, contam-se mais 64 mil conteúdos, assinados por colunistas locais e
nacionais que abordam, com excelência e avaliações sólidas, esportes,
gastronomia, ciência, games, arte, opinião e memória.
As produções audiovisuais são outro marcante
serviço. São documentários, minisséries e filmes, muitos feitos em parceria com
artistas e produtoras locais. Entre os títulos, estão "Nordeste
Insurgente" (que revisita a Confederação do Equador e as lutas
republicanas no Nordeste), "Castello, O Ditador" (que explora a
história política) e "Voo 168 - A Tragédia da Aratanha" (que
reconstitui o maior acidente aéreo do Ceará). O catálogo soma 641
produções.
O Grupo de Comunicação O POVO sempre defendeu
que o importante são os princípios, e não somente o suporte utilizado para
distribuir a notícia. Entende também que a avalanche de informações que
circula nas redes sociais não representa o fim do jornalismo profissional. Pelo
contrário, torna-o mais necessário e relevante.
No O POVO , o investimento em reportagens e
em conteúdos mais elaborados, com recursos audiovisuais interativos, visa levar
a informação de forma mais explícita possível ao público. O destaque na
reportagem chama a atenção, e o foco na análise é protagonismo para o
pensamento crítico e reflexivo.
As reportagens que abarcam as complexidades
da política, os vieses da cultura, as inovações tecnológicas, os desafios
ambientais e as mudanças no comportamento social formam o fio condutor dessa
jornada de cinco intensos anos. Todo esse trabalho é reconhecido também na
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