Com efeito, o quadro nos parece um pouco mais complexo. O fato é que o tipo de capitalismo trilhado por Putin e Xi Jinping é de base autocrática e ultranacionalista, fazendo recordar as opções criminosas dos nazistas (com o perdão do pleonasmo) nos anos 30 na Alemanha. Com um agravante: também na Europa Ocidental de hoje cresce assustadoramente a extrema-direita, com nove partidos comandando ou integrando governos na região.
Na América Latina, com as práticas autoritárias em vigor na Argentina de Milei e em El Salvador de Bekele, e a própria consolidação da extrema-direita e do populismo no Brasil, a situação é igualmente muito preocupante. Até porque, os fascistas ameaçam levantar novamente a cabeça no Chile e no Equador.
E a eleição de Donald Trump é quase um coroamento desse desmantelamento da ordem liberal no mundo. Alguns governos tendem a ser mais expressões de uma escória humana do que qualquer outra coisa. Não por acaso, a ascensão de Adolf Hitler significou a tomada de poder por um grupo de delinquentes - afinal, era muito mais interessante se apoderar do banco central de um determinado país do que assaltar um banco meio ao acaso.
Surgia assim o capital-bandido, esse mesmo que se apresenta controlando cassinos, tráfico de armas e de drogas, investindo na prostituição e em tecnologias que buscam se apoderar de corações e mentes. Uma nova classe dominante vem se formando no mundo, com pretensões de ser uma aristocracia de novo tipo. Essa tendência parte dos Estados Unidos e da Rússia, países não por acaso aliados. Sai do palco a mais-valia e entra o código penal.
E o que é pior: hoje não temos mais a União Soviética como contraponto. Nunca é demais lembrar que a aliança dos comunistas com os liberais derrotou o fascismo, conforme a estratégia política montada pelo revolucionário búlgaro Giorgi Dimitrov, então à frente da Internacional Comunista. Apesar de suas diferenças, liberais e comunistas, como destacava o historiador Eric Hobsbawm, convergiam no tocante à defesa do patrimônio civilizatório. E o embate da Civilização contra a Barbárie voltou à ordem do dia. O enfraquecimento da democracia liberal é o caminho por excelência para o fortalecimento do fascismo mundialmente.
Um quadro, como podemos ver, reunindo elementos tanto da conjuntura que abriu a via para a Guerra de 14-18 quanto para a de 39-45. E não só: com um mundo armado até os dentes, com um arsenal atômico em possessão de governos aventureiros de países localizados em diversos continentes. Decididamente, a Humanidade corre perigo.
Desejaria estar enganado, mas penso que, no
fundo, romper com o Ocidente - que não se resume às práticas colonialistas ou
imperialistas, como ditadores querem nos fazer crer - é o melhor caminho para o
fascismo e a guerra.
Um Ocidente, bem entendido, que não significa
tanto um ponto geográfico, mas uma confluência de valores da Civilização.
Mais do que nunca, vamos precisar da união de
todos os democratas.
*Historiador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário