Folha de S. Paulo
Americanos perderam 169 milhões de aves por
causa do H5N1; aqui, vigilância é muito melhor
Em 2020, misturas genéticas de um vírus da
influenza aviária deram em um tipo perigoso, "altamente patogênico",
de H5N1, reconhecido de início em gansos na China, em 1996.
Em maio de 2021, descobriram-se raposas infectadas em um centro de reabilitação
animal na Holanda. Em janeiro de 2022, soube-se de aves silvestres infectadas
nos Estados
Unidos e de leões-marinhos no Peru, que morriam às centenas. Em
fevereiro, a doença apareceu em uma criação americana de perus, o começo do
desastre comercial das granjas por lá.
A cronologia do espalhamento do H5N1 lembra cenas iniciais de filmes-catástrofe do clichê. Vê-se a raposinha na cena campestre. Depois, bichos começam a morrer no mato ou nas praias. Corte então para o noticiário de TV que mostra o descarte de milhares de frangos sacrificados. A seguir, aparecem cientistas que haviam avisado as autoridades do problema, sem sucesso.
Não é provável que alguém vá fazer o filme do
grande massacre de galinhas, embora o H5N1 contamine também humanos e, em algum
dia, por um azar da recombinação genética em um mundo globalizado, possa ser
transmissível entre pessoas, como já aconteceu com outras variantes, dando em
epidemias mortíferas de gripe.
Desde 2024, 70 pessoas foram infectadas com
H5N1 nos Estados Unidos, segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC), doenças
na maioria leves, com uma morte. Na maior parte, 41, foram contaminadas na lida
com vacas leiteiras.
Sim, 1.063 rebanhos foram infectados até a
semana passada, começando em 2024. Gatos, gambás, guaxinins e, pelo mundo, uns
200 tipos de mamíferos pegaram o vírus. Os cientistas não estão apavorados com
os riscos, mas "monitoram" a situação. NÃO HÁ RISCO NO CONSUMO DE
AVES E OVOS.
O problema até agora é econômico, em especial
nos EUA. Segundo o departamento (ministério) da Agricultura deles,
até a semana
passada mais de 169 milhões de aves haviam sido sacrificadas ou mortas por
causa de 1.700 surtos de H5N1, na maioria frangos, mas também perus.
Os EUA costumam ter um rebanho de 380 milhões
de galinhas poedeiras e abatem 9,4 bilhões de frangos por ano (no Brasil, são
uns 270 milhões de poedeiras e uns 6,5 bilhões de abates).
Cientistas dizem que os EUA são propensos ao
espalhamento natural desse tipo de vírus, por causa do padrão mundial de
migração de aves. Patos, gansos, cisnes, gaivotas e outras aves marinhas ou
migratórias carregam também o H5N1 ou são seus hospedeiros naturais. Se essas
aves ou suas contaminações entram em contato com aves de criação, o vírus pode
se propagar. O comércio local e internacional de aves vivas, criações ruins ou
irregulares e também o espalhamento de suas sujeiras faz o resto do serviço.
Em maio de 2023, o H5N1 foi detectado em aves
silvestres no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Decidiu-se uma emergência de
180 dias. Na semana passada, suspeitou-se da doença em uma criação gaúcha,
fizeram-se os testes e o problema foi logo divulgado.
Quanto a doenças, o Brasil segue o protocolo
e tem um sistema de vigilância bom, profissional e transparente. Nos EUA, houve
imenso fracasso da vigilância.
O risco econômico fica para outra coluna.
Aqui, a gente lembra de como a humanidade ficou mais propensa a
"criar" vírus e de como se presta pouca atenção a isso até que
apareça um bicho mutante e mortífero que uma ou duas décadas antes parecia restrito
a animais do mato.
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