O Globo
Lula tem problemas a enfrentar, desde a idade avançada até a possibilidade real de perder a eleição. A impopularidade de seu governo coloca mais essa dúvida a resolver antes da decisão final
À medida que se aproxima a eleição
presidencial do ano que vem, os dois lados que concentram as preferências do
eleitorado não têm um candidato definido, por razões diversas. A direita tem
seu maior líder, o ex-presidente Jair Bolsonaro, lutando para viabilizar uma
candidatura já impugnada pela Justiça Eleitoral. A esquerda, no poder,
mantém-se dependente do presidente Lula, sem uma alternativa viável que permita
a ele decidir se vai para a reeleição, ou se pode descansar aos 81 anos, idade
que terá se iniciar seu quarto mandato em 2027.
Lula tem problemas a enfrentar, desde a idade avançada até a possibilidade real de perder a eleição. A impopularidade de seu governo coloca mais essa dúvida a resolver antes da decisão final. A obstinação de Bolsonaro em colocar-se como candidato viável, não abrindo espaço para a direita se organizar diante de um adversário fragilizado no momento facilita o governo, porque divide a oposição, que tem pelo menos quatro governadores em condições de disputar, embora apenas o de São Paulo, Tarcísio de Freitas, seja uma figura nacional capaz de vencer a disputa.
A centro-direita não tem solução melhor, pois
unificaria os polos oposicionistas, mas a dificuldade de esperar a
oficialização da inelegibilidade de Bolsonaro para então decidir abre espaço
para alternativas, como o governador de Goiás Ronaldo Caiado, que se
candidatará caso Tarcísio não venha, ou mesmo o ex-presidente Michel Temer, que
nos últimos dias tem feito movimentos considerados “oportunistas” pelos
bolsonaristas.
Um entendimento já previamente feito entre
governadores do centro-sul só une a oposição em torno de Tarcísio, não de
Temer. Há quem lembre da campanha presidencial de 2018, quando todo o Centrão
se agregou em torno da candidatura do Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente de
Lula. Bolsonaro teria dito, diante de assessores preocupados com a força do
grupo que se formava e com o seu dilatado tempo de televisão:
“Deixa estar. É bom que se juntem. Bastará um
tiro só”. Alckmin não chegou a 5% dos votos no primeiro turno. Temer, entre
outras razões, não terá apoio dessa direita bolsonarista por ter sido
responsável pela nomeação do ministro Alexandre de Moraes para o Supremo
Tribunal Federal (STF).
Discute-se aqui a questão do timing ideal
para tomada de decisões, que não coincide para Bolsonaro e Tarcísio. Bolsonaro
deseja levar a sua candidatura até o prazo limite. Já Tarcísio precisa ter seu
futuro na política encaminhado o mais tardar no início de 2026. Se for
candidato à presidência, tem que se desincompatibilizar até abril. Caso
contrário, pode continuar no governo.
O prazo de Bolsonaro vai até um mês antes da
eleição, quando um partido pode trocar de candidato para concorrer. Foi esse o
limite de Lula, que indicou Haddad seu sucessor em 11 de setembro de 2022. A
diferença hoje é que Lula estava preso há 158 dias, e não pôde fazer campanha
para Haddad, mas Bolsonaro pode ainda estar sob julgamento. Por isso tenta
adiar ao máximo seu processo no Supremo. Provavelmente, não vai conseguir ficar
solto até às vésperas da eleição.
A mesma solução está sendo estudada pelo
bolsonarismo, a chapa Bolsonaro-Tarcísio para a Presidência da República. Há,
porém, variáveis que são impossíveis de se controlar. Bolsonaro preferiria
ganhar com Tarcísio, ou com um parente seu na chapa? A indicação de Michelle,
sua mulher, ou Eduardo, seu filho, parece mais provável desse ponto de vista.
Outra variável: Bolsonaro quer mesmo ser substituído por outro, ou prefere
ficar de fora, vitimizado, para retornar em 2030? Tarcísio, por sua vez,
prefere entrar nessa bola dividida agora ou tentar uma reeleição quase certa em
São Paulo, para estar em condições de disputar a presidência em 2030? Até lá,
Bolsonaro terá minguado na cadeia, ou prisão domiciliar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário