sábado, 10 de maio de 2025

Planeta armado, estômagos vazios - Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

O custo econômico da violência chegou a US$ 19,1 tri em 2024, equivalente a 13,5% do PIB mundial

Em seu primeiro pronunciamento, o papa Leão XIV disse: “Nos ajudem a construir pontes vocês também, com diálogos, com encontro, para sermos um único povo, sempre em paz”. Palavras sábias e oportunas. O Institute for Economics & Peace (IEP) publicou o Global Peace Index (GPI) 2025 e mostra que houve uma redução generalizada dos níveis de paz global.

O GPI é uma medida que avalia o nível de paz em 163 países e territórios, considerando fatores como conflitos internos e externos, segurança social e militarização. Em 2024, o GPI destacou que a diferença entre os países mais e menos pacíficos atingiu seu maior nível em 16 anos – os 25 países tiveram queda de 7,5% no índice no período.

Essa situação traz impactos econômicos efetivos. O custo econômico global da violência chegou a cerca de US$ 19,1 trilhões em 2024, equivalente a aproximadamente 13,5% do PIB mundial. Em termos per capita, trata-se de uma perda de US$ 2.380 por habitante – alta impulsionada pelo crescimento de 20% nas perdas do PIB devido a conflitos.

Além desse custo direto, as guerras trazem outros impactos econômicos devastadores, como os deslocamentos de populações, destruição de infraestrutura e desestabilização de mercados, fatores que afetam a produção e distribuição de alimentos. Como consequência, cresce a vulnerabilidade alimentar. Numa comparação objetiva, somente os gastos militares globais em 2024 somaram US$ 2,71 trilhões, enquanto que, segundo estimativas do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP), seriam necessários cerca de US$ 40 bilhões por ano para acabar com a fome no mundo até 2030. Ou seja, apenas 1,5% dos gastos militares globais anuais seriam suficientes para erradicar a fome mundial.

A disparidade entre os recursos destinados à guerra e os necessários para acabar com a fome evidencia uma escolha de prioridades. Redirecionar uma fração dos gastos militares para programas de segurança alimentar poderia salvar milhões de vidas e promover a estabilidade global. Mas, por que a humanidade não aprende com a História e evita esse nível de violência e extermina a fome?

Acho que todos sabemos as respostas a essa questão. O fato é que, com toda a evolução da humanidade, ainda lidamos com questões profundas que vão ao coração das contradições humanas. E continuamos repetindo nossos erros. Interesses econômicos e políticos, corrupção e outras falhas não podem prevalecer. Mas, ainda temos que lidar com a nossa própria natureza e que Mahatma Gandhi traduziu muito bem ao dizer: “Há o suficiente no mundo para a necessidade de todos, mas não para a ganância de todos”.

 

Nenhum comentário: