segunda-feira, 14 de julho de 2025

Trump e o Brasil - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

O País não pode se curvar a tais mandamentos, seja por dignidade nacional, seja por suas próprias instituições

Agem os Estados politicamente em relação aos outros países, defendendo seus interesses econômicos, seus privilégios e suas posições geopolíticas, seja por meios diplomáticos, seja pela força militar. Não há anjos nesse meio, mas utilizando uma fórmula de Maquiavel, são centauros, metade homens, metade bestas, isto é, entidades racionais e selvagens, fazendo uso da força quando melhor lhes aprouver. Devem, portanto, medir suas palavras – que são modos da ação –, pois delas produzem consequências que podem ou não ser desejáveis. Seguem preceitos de ação que lhes assegurem posições estratégicas, que lhes parecem como defensáveis. Discursos mal colocados e narrativas ideológicas certamente suscitarão reações, frente às quais cada Estado deverá saber como agir. Se não o souber, será refém de suas impropriedades.

Lula é um exemplo disso. Após meses atacando Trump, chamando-o de representante da extrema direita, não estabeleceu nenhum elo com ele, passando a ser desconsiderado diplomaticamente. Ficou apenas em sua fantasia de ser um dos homens mais importantes do mundo, um “estadista”, seja lá o que isso signifique no contexto atual. Nesse meio tempo, Milei fortaleceu os seus laços com os americanos, negociando um acordo de livre comércio, enquanto o Brasil recebe uma tarifa de 50% em suas exportações, um “privilégio” internacional. Como se não bastasse, deu-se ao luxo, na reunião do Brics, por ele presidida, de dar vazão às suas posições antiamericanas, antiocidentais, irmanando-se com autocratas e ditadores, em suas posições “antiimperialistas” e, insista-se, antidemocráticas.

Chegaram eles, com todo o beneplácito da diplomacia lulista, dita neutra e multilateral, quando é, na verdade, parcial e facciosa, a condenar a Ucrânia, por bombardear instalações militares na Rússia. É de estarrecer! Silêncio total sobre a invasão russa, sequestro de crianças – Putin já tendo sido condenado por isso –, o bombardeio de instalações civis e assim por diante. A Rússia rompeu com todo o ordenamento mundial do pósguerra. Defenderam o Irã por ter sido bombardeado, porém nada disseram sobre seus ataques diretos, inclusive a um hospital, e indiretos a Israel por meio de seus satélites, prometendo varrer esse país do mapa.

Aliás, Lula e seus assessores mais diretos, escancaram seu antissemitismo, tornando-se, por assim dizer, uma espécie de obsessão. Não há apresentação sua em que não se manifeste contra o Estado judeu. Poder-se-ia dizer que se trata de um caso psicanalítico ou psiquiátrico. Sua defesa constante e intransigente de Cuba é outro caso seu exemplar. Logo, o que podia esperar da reação de Trump, que não se caracteriza pela moderação e negociação? Que lhe enviasse beijinhos e flores? Cutucou o leão com vara curta! Colocou suas posições ideológicas acima dos interesses nacionais. O Brasil é relegado a uma posição secundária.

Dito isso, aposição de T rum pé claramente intervencionista, mostrando uma diplomacia que parece desconhecera noção delimites. Tudoévist os obopr isma doque é melhor para ele e os EUA. Invadiu, isto sim, a soberania nacional, tentando intervir diretamente nos assuntos internos do Brasil. Algo evidentemente inaceitável. O País não podes e curva ratais mandamentos, seja por dignidade nacional, seja por suas próprias instituições. Um presidente americano, qualquer que seja, não pode imiscuir-se no Judiciário de um outro país. O expresidente Jair Bolsonaro já tornou-se inelegível, segundo julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, eé réu diante do Supremo Tribunal Federal, cujo processo está em curso a propósito de sua tentativa de golpe de Estado. Gostese ou não, é desta maneira que se faz um processo judicial, com suas próprias fases de defesa em seu percurso. Imagine-se o presidente brasileiro intervindo em uma decisão da Suprema Corte Americana. Seria hilário, tal como a posição da atual diplomacia presidencial americana.

O ex-presidente Bolsonaro e seu filho Eduardo, que está nos EUA, autointitulado “exilado político”, em uma posição, a bem dizer, cômica, conseguiram prestar um grande desserviço ao Brasil. Empresas brasileiras estão sendo prejudicadas pela tarifaço americano, muitas das quais talvez tenham apoiado os bolsonaristas. Literalmente, não têm nada a ver com isso. Agiram eles exclusivamente em proveito próprio, com o intuito de fortalecer suas pretensões eleitorais de 2026. Tampouco são diferentes dos lulopetistas, colocando seus interesses acima dos do Brasil. Contribuíram a causar um imenso dano ao País, paradoxalmente dizendo que o estão beneficiando. O único benefício é o seu, estritamente falando.

A cena internacional tornou-se um cenário em que o País não defende mais os seus interesses e posições próprios, mas veio a ser um campo de batalha de disputas eleitorais e ideológicas propriamente internas. O que o Brasil tem a ganhar com isso?

 

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