Folha de S. Paulo
Faltando mais de um ano para a eleição,
ninguém deveria se arriscar a vaticinar seu desfecho
Nas últimas semanas, tornou-se comum
encontrar articulistas anunciando o fim da era Lula (PT).
Matérias sobre desempenho
do governo na aprovação de sua agenda legislativa e sobre as disputas
em torno do Orçamento da União corroboraram essa leitura, sugerindo que a
carreira eleitoral do presidente estava próxima do fim, que Lula não teria
chances de reeleição e, por isso, já seria tratado com certa desconsideração na
corte política de Brasília. Chegou-se a dizer que o café do presidente já era
servido frio.
Não sei se é ansiedade ou se, nesses casos, fala mais alto a simples aversão ao governo, mas a experiência e a prudência indicam que, faltando mais de um ano para a eleição presidencial, ninguém deveria se arriscar a vaticinar seu desfecho.
Em outubro de 2017, o então ex-presidente
Lula —já condenado, mas ainda não preso— aparecia nas pesquisas
do Datafolha com o dobro das intenções de votos de Jair
Bolsonaro (PL).
Em cenários sem Lula, Marina Silva (Rede) figurava à frente de Bolsonaro. Todos
nós sabemos que o resultado foi bastante diferente.
O mesmo vale para o ciclo eleitoral de 2014.
Em 2013, muitos também sentenciaram o fim de Dilma Rousseff (PT), por ocasião
das manifestações
de junho daquele ano. Ainda assim, a ex-presidente venceu Aécio Neves
(PSDB) no segundo turno de 2014.
Nunca se sabe se eclodirá uma guerra ou se um
desastre climático acometerá o país, se o governo acertará
o tom na comunicação de sua agenda ou se o presidente dos Estados
Unidos escolherá
o país como alvo, ajudando a melhorar a popularidade e a avaliação positiva
do governo e do presidente —como aconteceu no Canadá recentemente.
É justamente por conta das incertezas do
cenário político e econômico nacional e internacional, e da existência de
práticas eleitorais legítimas e justas, que não oferecem vantagens
desproporcionais a nenhum candidato, que arriscar previsões sobre o desfecho do
governo e as chances do ocupante da cadeira presidencial com tanta antecedência
é uma aposta de alto risco.
Pouco mudou nas últimas duas semanas na
relação entre o presidente e o Congresso. Os pontos de conflito seguem
presentes, mas o discurso de que o governo está nocauteado praticamente
desapareceu.
Agora, o noticiário se concentra na
bem-sucedida estratégia de comunicação do governo, tanto no caso do IOF quanto
na defesa da soberania nacional e na responsabilização
da família Bolsonaro pelo aumento da alíquota de exportações
brasileiras anunciado pelo governo Trump.
Lula tem chances em 2026? Sim. Analisando
retrospectivamente, todos os presidentes que disputaram a reeleição se
apresentaram como candidatos competitivos. Lula vencerá a eleição? É cedo para
dizer. Ainda não sabemos nem quem serão seus adversários. E, muitas vezes, o
resultado não depende apenas do desempenho do candidato, mas também da
performance dos oponentes.
No tempo da política, ainda é muito cedo para
servir café frio ao presidente. Como mostram eleições passadas,
muitos acontecimentos com potencial de interferir no jogo eleitoral ainda estão
por vir até 2026. Por ora, o mais sensato é não sentenciar o fim do governo ou
das chances de sucesso eleitoral do presidente.
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