Victoria Abel / O Globo
Entre os desafios do político é apresentar-se
como opção viável ao posto, sem macular a fidelidade ao ex-presidente
O Republicanos tem
dobrado a aposta em Tarcísio
de Freitas como candidato à Presidência em 2026, depois que pesquisas
internas mostraram o potencial do governador de São Paulo para enfrentar Luiz
Inácio Lula da Silva. Para chegar à corrida, porém, Tarcísio precisa enfrentar
barreiras impostas por aliados e pelo próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
Preocupado em evitar fissuras com seu padrinho político, o gestor tem dito
publicamente que irá disputar a reeleição.
A primeira das dificuldades de Tarcísio é apresentar-se como opção viável sem macular a imagem de político fiel a Jair Bolsonaro. Por enquanto, a ordem é continuar a sinalizar para a disputa local e evitar o assédio de figuras do Centrão que o veem como a melhor alternativa para o Palácio do Planalto.
Aliados defendem que Tarcísio não ceda à
insistência de Valdemar Costa Neto e parlamentares do PL em levá-lo para o
partido de oposição. A avaliação é que, onde está, o ex-ministro da
Infraestrutura tem mais condições de agregar apoio ao centro.
‘Jogar parado’
Um cacique do Centrão próximo ao governador
afirma que a tendência é Tarcísio “jogar parado”, à espera de uma definição de
Bolsonaro. A estratégia é não deixar transparecer o desejo de ocupar a
Presidência já em 2027 para não irritar o ex-presidente. O temor é que
Bolsonaro articule sua tropa nas redes contra o governador e imploda as chances
de a direita ter um candidato mais moderado.
Na última semana, lideranças de partidos de
centro consideraram a divulgação de um vídeo por Bolsonaro como um recado
velado a Tarcísio, como revelou a coluna Bela Megale, do GLOBO. A gravação
enviada pelo ex-presidente para sua lista de transmissão no Whatsapp traz um
trecho do programa Pânico, da Jovem Pan, em que o apresentador Emílio Surita
diz: “Só tem um cara que pode ganhar do Lula, chama Jair Bolsonaro”.
Réu em processo pela tentativa de golpe de
Estado, Bolsonaro já está inelegível em decorrência da condenação, pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder e ataque às urnas
eletrônicas. A expectativa do ex-presidente é reverter sua inelegibilidade com
a ascensão do ministro Nunes Marques à presidência do TSE em agosto de 2026. O
magistrado foi indicado ao Supremo Tribunal Federal por Bolsonaro. Integrantes
do Judiciário, no entanto, veem pouca chance de o ex-presidente recuperar o
direito de concorrer antes de 2030.
O governador de São Paulo precisa decidir até
abril se será candidato à Presidência ou à reeleição. Se escolher a primeira
opção, Tarcísio tem que deixar o cargo de governador.
Enquanto espera a decisão de Bolsonaro,
Tarcísio se equilibra entre continuar a agradar a ala mais radical da direita
bolsonarista, e criar mais pontes com o centro. O governador tem comparecido a
manifestações pró-anistia, por exemplo, mas, ao mesmo tempo, se reúne com
empresários e com o mercado financeiro quando, em encontros privados, adota
discurso moderado.
Publicamente, o governador nega a intenção de
disputar a Presidência. Em declaração na semana passada ao Valor, em Nova York,
ele sinalizou que irá concorrer à reeleição.
— Eu vou ficar em São Paulo — disse ele.
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