O Estado de S. Paulo
Stalin, ao aliar-se a Hitler, tinha, ademais, como objetivo aproveitar-se da situação da guerra, concretizando uma política anticapitalista e antidemocrática
Quanto mais o presidente Lula viaja, piores ficam a reputação internacional do Brasil e a sua própria imagem. A foto de Lula, na Rússia, com seus aliados autocratas e ditadores, apenas reforça seu pouco comprometimento com a democracia, além de ficar de fora do jogo geopolítico mundial, apesar de pretender o contrário. Alinhar-se com Putin, desprezando a Ucrânia, inclusive, nada dizendo a respeito de bombardeios de civis, alvejando mulheres, idosos e crianças, trai o humanitarismo que diz defender. Bolsonaro não foi reeleito por falar demais. Lula segue pelo mesmo caminho.
O evento comemorativo da vitória contra os
nazistas, tão celebrado por Putin e outros líderes russos e comunistas no
passado, segundo os quais a Rússia foi sempre um bastião da luta contra os
nazistas, está baseado numa mentira histórica. Stalin, antes de guerrear contra
Hitler, foi um caloroso parceiro e “amigo” dele. Chegaram a comungar das mesmas
ideias. Um dos episódios mais marcantes do comunismo é o Pacto
Ribbentrop-Molotov (1939-1941), em que posições ideológicas tomadas como
inabaláveis, dogmáticas, são abandonadas em proveito de outros interesses
geopolíticos. O comunismo contrai noivado com o nazismo e brindam à nova união.
Foi tão traumática a reviravolta para os comunistas ocidentais que esse
episódio foi, posteriormente, objeto de tentativas reiteradas de apagamento.
A partir da Segunda Guerra Mundial, a
esquerda, naquele então capitaneada pelo Partido Comunista da União Soviética,
empreendeu mais uma reviravolta, de deixar tonto qualquer mortal com uso do bom
senso. Passou a vender a imagem de sua luta indefectível contra o nazismo.
Contribuiu também para isso o fato de, após 1941, ter se aliado às democracias
capitalistas no combate ao nazismo, de amigo tornado inimigo. Tinha sido,
porém, um aliado. Feitos memoráveis da guerra, como a Batalha de Stalingrado,
foram elevados à posição de símbolos de sua luta contra o Terceiro Reich, numa
tentativa evidente de tergiversação histórica.
O pacto durou quase dois anos, mais
precisamente 22 meses, o equivalente a um terço de todo o período de guerra.
Começou com os representantes dos dois ditadores saudando a nova parceria que
então se estabelecia, com uso ilimitado de vodca. Em 23 deagosto de 1939,
Stalin chegou a fazer um brinde à saúde de Hitler, porém em 22 de junho de 1941
a parceria foi encerrada, não por iniciativa do ditador russo, mas pelo ataque
traiçoeiro de Hitler. Stalin foi o amigo traído, tendo tido, inclusive, dificuldades
de reconhecer que a invasão já pudesse ter começado.
Numa ode à perversão, uma de suas
consequências no panorama mundial, geopolítico, foi ser a Polônia literalmente
esquartejada por comunistas e nazistas, com seu território sendo ocupado e
dividido entre os Estados agressores. Os Países Bálticos, por sua vez, foram
entregues aos soviéticos, sem que esses tivessem de fazer sequer uma operação
militar para conquistá-los. Foi a generosidade dos nazistas, muito bem acolhida
pelos soviéticos. Stalin, por seu lado, entregou a Hitler os comunistas alemães
que já não serviam aos seus interesses, numa operação conjunta entre a Gestapo
e a NKVD. A solidariedade comunista foi por terra, irrigada a sangue.
Hitler pode, então, dedicarse à sua caça aos
comunistas (social-democratas), aos judeus, homossexuais e, agora, aos
poloneses, visto que esses eram “eslavos”, inferiores aos alemães. Deportações
e assassinatos vieram a fazer parte desse esquartejamento. Data igualmente
desse período o Massacre de Katyn, quando 22 mil oficiais do Exército e
funcionários poloneses foram mortos pelos soviéticos. Hitler e Stalin, por
comum acordo, estavam com as mãos livres.
Stalin, ao aliar-se a Hitler, tinha, ademais,
como objetivo aproveitar-se da situação da guerra, concretizando uma política
anticapitalista e antidemocrática. Seria, para ele, uma forma de precipitar o
colapso do capitalismo que tardava, guardando assim ideologicamente as
aparências, seriamente comprometidas. E escolheu como parceiro de jornada
Hitler, cujo regime, então, nem sequer era considerado como “capitalista”.
Seria o “amigo”, o parceiro, quase o camarada, na guerra contra o capitalismo.
Nessa curiosa interpretação stalinista, a Alemanha tornar-se-ia a parceira
não-capitalista no combate ao capitalismo. Stalin teria tomado a sério o nome
mesmo do Partido Nazista: nacional-socialista. O ditador russo reconhecer-se-ia
no termo nacional (ele foi um fervoroso defensor do nacionalismo) e no
comunismo. Estavam unidos no mesmo combate contra as “democracias
capitalistas”.
E agora, em nova mentira, na verdade uma
perversão, Putin, em sua guerra contra a Ucrânia, declara estar levando a cabo
a “desnazificação” daquele país. Como assim? Pretender anexar a Ucrânia
mediante o emprego arbitrário da violência significa livrar aquele país dos
“nazistas”? Estará ele pretendendo repetir a mesma mentira comunista com uma
nova roupagem? São esses os amigos de Lula?
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