segunda-feira, 19 de maio de 2025

O Copom vai continuar subindo a taxa Selic? - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Existe a possibilidade de uma nova alta de juros em junho porque foi exatamente isso o que o Comitê disse na ata e no comunicado da sua reunião

Sim, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pode continuar subindo a meta da taxa Selic, que atualmente se encontra em já elevados 14,75% ao ano. Mas essa é uma possibilidade, não uma certeza. E, cada vez mais, os ajustes de curto prazo vão ficando menos importantes - e o que vai contar é o sangue frio para manter os juros apertados pelo tempo necessário para colocar a inflação na meta.

Existe a possibilidade de uma nova alta de juros em junho porque foi exatamente isso o que o Comitê disse na ata e no comunicado da sua reunião. Na leitura de parte dos analistas econômicos, a ata foi mais suave que o comunicado e, portanto, o Copom deu pistas de que a Selic não sobe mais.

Não é bem assim. A ata reproduz todas as palavras do comunicado que indicam como serão os seus passos futuros. Isso significa que, por mais que o Copom possa ter incluído mais cores sobre as discussões entre os seus membros, a mensagem continua a mesma.

No comunicado, o Copom deixou em aberto o seu próximo passo para a taxa Selic, o que significa que pode fazer o que achar mais adequado na reunião de junho. Entre as opções que estão na mesa está um novo aumento de juros. De quanto? Menor do que a alta de 0,5 ponto feita em maio. O BC faz essa indicação quando diz que vai agir com “mais cautela”.

A parada no ciclo de aperto também é possível. O Copom excluiu do seu comunicado de maio um trecho, que estava na versão anterior, que falava de “ciclo de aperto monetário em curso”. Ou seja: não há mais a certeza de que estamos em um ciclo de alta e, portanto, a Selic pode ficar parada.

A ata do Copom desenvolveu melhor uma outra mensagem do comunicado, que dizia que a política monetária se manterá “vigilante”. O BC sempre se mantém vigilante no final de um ciclo, até pela obrigação de reagir a surpresas que possam atrapalhar a trajetória de queda da inflação para a meta.

Por enquanto, segundo a ata do Copom, o cenário está se desenrolando da forma esperada na transmissão da política monetária. “O Comitê analisou os diversos canais de política monetária e avalia que a política monetária restritiva já tem tido impactos no mercado de crédito, nas sondagens empresariais, no mercado de câmbio, nos balanços das empresas, assim como na moderação de alguns indicadores de atividade e de mercado de trabalho.”

Alguns analistas econômicos entenderam esse trecho da ata como uma mensagem suave, que poderia indicar a intenção de não subir o juro em junho e até mesmo de iniciar um ciclo de corte mais cedo.

Mas, para que isso aconteça, a transmissão deveria estar mais forte do que o esperado, ou seja, com surpresas. A ata do Copom diz logo em seguida que, atualmente, esse não é o caso: “tais impactos são esperados e requeridos para a convergência da inflação à meta”.

É bom notar, além disso, que já no comunicado o Copom usou a palavra “vigilante” com mais força do que nas vezes passadas. Disse logo em seguida que “a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante”.

Nas discussões entre os seus membros, que também estão na ata, o Copom fala mais sobre a calibragem de política monetária - e expressou suas dúvidas sobre se o aperto nos juros vai continuar a se transmitir ou se vai ser obstruído por alguma força que possa dificultar os seus canais de transmissão. O Copom não entrou em detalhes, mas, possivelmente, está se referindo a alguma ação do governo na política fiscal ou de crédito.

O Copom vincula diretamente o grau de aperto que vai buscar - e que não sabe se está completo - com essa possível obstrução. “Ressaltou-se, novamente, que a construção da confiança necessária para definir o patamar apropriado de restrição monetária ao longo do tempo passa por assegurar que os canais de política monetária estejam desobstruídos e sem elementos mitigadores para sua ação”, diz o Copom. “Para o cumprimento de seu mandato e convergência da inflação à meta com menores custos, a política monetária deve ser capaz de atuar sem impedimentos em todos os canais.”

Desde janeiro, pelo menos, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e outros integrantes do colegiado vêm dizendo como pretendem reagir a uma eventual expansão fiscal pelo governo Lula para impedir que a economia esfrie um pouco, a fim de trazer a inflação - hoje em 5,53% - para a meta, de 3%.

O argumento é que participantes do mercado financeiro aumentaram suas projeções de inflação porque acham que o BC vai adotar mais políticas expansionistas. Galípolo tem dito que, nessas situações, o BC não deveria subir mais os juros preventivamente, já que o risco pode não se concretizar. Mas sua promessa é reagir conforme as medidas forem surgindo.

Foi o caso do crédito consignado a trabalhadores do setor privado. Por enquanto, nas contas do BC, o cenário é de que os trabalhadores troquem dívidas caras por mais baratas, o que leva a uma economia no pagamento de juros.

Tudo isso coloca um viés de alta na taxa de juros, onde o mercado vê apenas de baixa. Isso segura as taxas de mercado e ajuda no que é, hoje, a mensagem mais importante: o “cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado”.

 

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