Valor Econômico
Existe a possibilidade de uma nova alta de
juros em junho porque foi exatamente isso o que o Comitê disse na ata e no
comunicado da sua reunião
Sim, o Comitê de Política Monetária (Copom)
do Banco Central pode continuar subindo a meta da taxa Selic, que atualmente se
encontra em já elevados 14,75% ao ano. Mas essa é uma possibilidade, não uma
certeza. E, cada vez mais, os ajustes de curto prazo vão ficando menos
importantes - e o que vai contar é o sangue frio para manter os juros apertados
pelo tempo necessário para colocar a inflação na meta.
Existe a possibilidade de uma nova alta de juros em junho porque foi exatamente isso o que o Comitê disse na ata e no comunicado da sua reunião. Na leitura de parte dos analistas econômicos, a ata foi mais suave que o comunicado e, portanto, o Copom deu pistas de que a Selic não sobe mais.
Não é bem assim. A ata reproduz todas as
palavras do comunicado que indicam como serão os seus passos futuros. Isso
significa que, por mais que o Copom possa ter incluído mais cores sobre as
discussões entre os seus membros, a mensagem continua a mesma.
No comunicado, o Copom deixou em aberto o seu
próximo passo para a taxa Selic, o que significa que pode fazer o que achar
mais adequado na reunião de junho. Entre as opções que estão na mesa está um
novo aumento de juros. De quanto? Menor do que a alta de 0,5 ponto feita em
maio. O BC faz essa indicação quando diz que vai agir com “mais cautela”.
A parada no ciclo de aperto também é
possível. O Copom excluiu do seu comunicado de maio um trecho, que estava na
versão anterior, que falava de “ciclo de aperto monetário em curso”. Ou seja:
não há mais a certeza de que estamos em um ciclo de alta e, portanto, a Selic
pode ficar parada.
A ata do Copom desenvolveu melhor uma outra
mensagem do comunicado, que dizia que a política monetária se manterá
“vigilante”. O BC sempre se mantém vigilante no final de um ciclo, até pela
obrigação de reagir a surpresas que possam atrapalhar a trajetória de queda da
inflação para a meta.
Por enquanto, segundo a ata do Copom, o
cenário está se desenrolando da forma esperada na transmissão da política
monetária. “O Comitê analisou os diversos canais de política monetária e avalia
que a política monetária restritiva já tem tido impactos no mercado de crédito,
nas sondagens empresariais, no mercado de câmbio, nos balanços das empresas,
assim como na moderação de alguns indicadores de atividade e de mercado de
trabalho.”
Alguns analistas econômicos entenderam esse
trecho da ata como uma mensagem suave, que poderia indicar a intenção de não
subir o juro em junho e até mesmo de iniciar um ciclo de corte mais cedo.
Mas, para que isso aconteça, a transmissão
deveria estar mais forte do que o esperado, ou seja, com surpresas. A ata do
Copom diz logo em seguida que, atualmente, esse não é o caso: “tais impactos
são esperados e requeridos para a convergência da inflação à meta”.
É bom notar, além disso, que já no comunicado
o Copom usou a palavra “vigilante” com mais força do que nas vezes passadas.
Disse logo em seguida que “a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá
guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante”.
Nas discussões entre os seus membros, que
também estão na ata, o Copom fala mais sobre a calibragem de política monetária
- e expressou suas dúvidas sobre se o aperto nos juros vai continuar a se
transmitir ou se vai ser obstruído por alguma força que possa dificultar os
seus canais de transmissão. O Copom não entrou em detalhes, mas, possivelmente,
está se referindo a alguma ação do governo na política fiscal ou de crédito.
O Copom vincula diretamente o grau de aperto
que vai buscar - e que não sabe se está completo - com essa possível obstrução.
“Ressaltou-se, novamente, que a construção da confiança necessária para definir
o patamar apropriado de restrição monetária ao longo do tempo passa por
assegurar que os canais de política monetária estejam desobstruídos e sem
elementos mitigadores para sua ação”, diz o Copom. “Para o cumprimento de seu
mandato e convergência da inflação à meta com menores custos, a política monetária
deve ser capaz de atuar sem impedimentos em todos os canais.”
Desde janeiro, pelo menos, o presidente do
Banco Central, Gabriel Galípolo, e outros integrantes do colegiado vêm dizendo
como pretendem reagir a uma eventual expansão fiscal pelo governo Lula para
impedir que a economia esfrie um pouco, a fim de trazer a inflação - hoje em
5,53% - para a meta, de 3%.
O argumento é que participantes do mercado
financeiro aumentaram suas projeções de inflação porque acham que o BC vai
adotar mais políticas expansionistas. Galípolo tem dito que, nessas situações,
o BC não deveria subir mais os juros preventivamente, já que o risco pode não
se concretizar. Mas sua promessa é reagir conforme as medidas forem surgindo.
Foi o caso do crédito consignado a
trabalhadores do setor privado. Por enquanto, nas contas do BC, o cenário é de
que os trabalhadores troquem dívidas caras por mais baratas, o que leva a uma
economia no pagamento de juros.
Tudo isso coloca um viés de alta na taxa de
juros, onde o mercado vê apenas de baixa. Isso segura as taxas de mercado e
ajuda no que é, hoje, a mensagem mais importante: o “cenário prescreve uma
política monetária em patamar significativamente contracionista por período
prolongado”.
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