O Estado de S. Paulo
Quem conseguir se apresentar como a melhor alternativa ao atual governo terá mais chances em 2026
O ex-presidente Michel Temer recentemente
verbalizou um clichê político que poucos se arriscam a refutar. Trata-se da
afirmação de que qualquer candidato da direita ou centro-direita precisa estar
em paz com Jair Bolsonaro para ter viabilidade eleitoral. Essa é uma ideia que
o próprio Bolsonaro faz questão de repetir sempre que pode, até porque é o que
lhe sobra sem o direito de disputar eleições.
Temer recorreu a esse falso truísmo depois da reação à notícia de que ele havia iniciado conversas com governadores com ambições presidenciais sem a participação de Bolsonaro. O governador Tarcísio de Freitas, um dos que foram contatados por Temer, soltou um enfático “não” quando perguntado se existe direita sem Bolsonaro. Mas isso está longe de ser uma verdade incontestável.
Ninguém parece disposto a colocá-la à prova.
Quais são os fatos concretos a esse respeito? Ricardo Nunes, por exemplo,
elegeu-se em São Paulo por causa do apoio envergonhado de Bolsonaro ou apesar
disso? Considerando-se a alta rejeição de seus dois principais adversários, é
bastante provável que a segunda opção seja a correta. Marqueteiros munidos de
pesquisas diversas também reforçam a tese de que Bolsonaro é indispensável para
enfrentar Lula. Mas esses profissionais não são infalíveis, como demonstra o
baile que um deles está tomando na tentativa de salvar a imagem do governo
petista.
Falta coragem para lançar uma pré-candidatura
presidencial independente, de centro, que recuse subserviência a Bolsonaro. Até
porque a vinculação com o ex-presidente torna difícil para qualquer um se
identificar como moderado. Bolsonaro no poder representou uma ameaça real à
democracia – e isso desde muito antes dos fatos de 2022 que estão sob análise
do STF. Uma candidatura verdadeiramente moderada, digna de uma direita
democrática, precisaria se colocar claramente contra o autoritarismo de
Bolsonaro.
Quanto à preocupação de que isso levaria à
perda do eleitorado mais fiel do bolsonarismo, algo como 20% do total, vale
lembrar que, antes de mais nada, é preciso chegar ao segundo turno, o que pode
ser alcançado com um terço dos votos se houver uma disputa pulverizada. Além
disso, se em 2022 a eleição foi definida pelo voto de aversão a Bolsonaro, em
2026 o mote será o rechaço a Lula. Quem conseguir se apresentar como a melhor
alternativa ao atual governo terá mais chances. Não é preciso carregar o fardo
da rejeição a Bolsonaro para isso. •
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