sábado, 8 de agosto de 2015

Opinião do dia – Roberto Freire

Diante do quadro de ingovernabilidade instalada, aumentam as chances de abertura do processo de impedimento de Dilma Rousseff pelo Congresso Nacional. Os brasileiros não suportam mais três anos e meio de corrupção, inflação, desemprego e recessão econômica. Não será fácil, mas o Brasil tem todas as condições de se reerguer com um novo governo que resgate a confiança no país e aponte outros rumos. Merecemos, afinal, muito mais do que uma República de pixulecos.
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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS, em artigo, ‘Ingovernabilidade instalada’, no Blog de Noblat / O Globo, Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2015.

Isolada, Dilma sofre pressão para reduzir espaço do PT

Pressão aliada contra o PT

• ‘Ninguém vai tirar legitimidade que o voto me deu’, diz Dilma; base quer reduzir ministérios do partido

Aliados pedem diminuição do número de petistas no Ministério, um dia após panelaço de protesto contra o governo e o partido

Isolada, sem apoio parlamentar, a presidente Dilma Rousseff enfrenta agora a pressão dos partidos aliados para realizar uma reforma que reduza o espaço do PT no Ministério. Ao fim da mais conturbada semana de seu segundo mandato, Dilma reagiu. Em discurso enfático, na entrega de casas populares em Boa Vista (RR), disse que aguenta ameaças: “Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu.” Já os petistas traçaram um quadro de desalento, em reunião com o ministro Ricardo Berzoini ( Comunicações). “Estamos no fio da navalha”, disse um parlamentar do partido. O vice-presidente Michel Temer, que defendera união para sair da crise, pediu para deixar a coordenação política do governo, após críticas de petistas. Dilma, porém, não aceitou. O vice conversou com empresários ontem.

Catarina Alencastro, Fernanda Krakovics e Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA- Um dia após o panelaço contra seu governo, e cada vez mais pressionada pela base aliada, que agora tenta reduzir o espaço do PT no Ministério, a presidente Dilma Rousseff fez ontem, em Roraima, um enfático discurso destacando que o que lhe dá legitimidade para governar é o voto popular. Acompanhada apenas pelo ministro Gilberto Kassab (Cidades) — já que outros ministros estavam em São Paulo em ato de solidariedade ao ex-presidente Lula —, Dilma afirmou que é uma pessoa que “aguenta ameaças”, e que uma democracia “respeita a eleição direta pelo voto popular”.

— Podem ter certeza que, além de respeitar, eu honrarei o voto que me deram. A primeira característica de quem honra o voto que lhe deram é saber que é ele a fonte da minha legitimidade, e ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu — disse a presidente.

Para uma plateia formada, em sua maioria, por beneficiários do Minha Casa Minha Vida, afirmou:
— Sou uma pessoa que aguento pressão. Sou uma pessoa que aguento ameaça. Aliás, eu sobrevivi a grandes ameaças à minha própria vida. Acho que o Brasil hoje é muito diferente daquele Brasil que eu tive de enfrentar as mais terríveis dificuldades. Porque este país é uma democracia, e uma democracia respeita, sobretudo, a eleição direta pelo voto popular.

“O PT tem cargos demais”
A base aliada no Congresso, no entanto, quer que a reforma ministerial, que já vem sendo debatida abertamente, comece por um esvaziamento do PT. Representantes de partidos aliados rebelados em relação ao Palácio do Planalto estão defendendo que a legenda seja sacrificado na composição do governo, como forma de começar a reestruturação da base no Congresso para amenizar a crise política. Segundo os líderes, o PT ocupa no governo um espaço muito superior à sua força política no Congresso.

— Precisa haver um desaparelhamento do Estado. O PT tem cargos demais, e isso pesa muito na máquina pública. As crises às vezes servem para superar vícios que, na bonança, não se verificam — disse o líder do PR, deputado Maurício Quintella (AL).

— O governo foi montado quase de forma hegemônica para o PT. Essa correlação não se sustenta mais. Isso foi falado claramente na reunião dos líderes da base com o vice-presidente Michel Temer — afirmou ao GLOBO um deputado de partido aliado.

Na reunião de quarta-feira entre Michel Temer e os líderes da base, a questão foi levantada. Segundo relatos, houve uma concordância quase generalizada com a avaliação de que o PT precisa ter menos ministérios. Exceto por parte dos líderes do governo e do PT, José Guimarães (PT-CE) e Sibá Machado (AC), respectivamente, que se mantiveram em silêncio sobre essa discussão. Temer teria se comprometido a levar o assunto para Dilma e também fazer o relato na próxima reunião de coordenação política do governo.

Diante do acirramento da crise política, Dilma vai interromper o Dia dos Pais de seus ministros mais cedo, e os receberá no Palácio da Alvorada para uma conversa sobre o duro momento que seu governo enfrenta. Michel Temer e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Eliseu Padilha (Aviação Civil), Jaques Wagner (Defesa), Ricardo Berzoini, (Comunicações) e Edinho Silva (Comunicação Social) devem participar.

Tentativa de diálogo com movimentos sociais
Além dos desdobramentos do esfacelamento da base aliada na Câmara, Dilma também quer conversar com seus auxiliares sobre um plano de reação. A partir da próxima semana, ela promoverá rodadas de diálogo com empresários e com movimentos sociais. Esses eventos serão casados com agendas positivas, como a de ontem. Na segunda, Dilma vai ao Maranhão entregar mais casas do Minha Casa Minha Vida. Na sexta, ela vai para a Bahia entregar mais casas e encontrar representantes de movimentos sociais.

Na quinta-feira, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) afirmou em entrevista às agências Reuters e Bloomberg que Dilma terminará seu mandato:

— É obvio e ululante (que Dilma terminará o mandato). Não vejo razão e nem benefício para o impeachment.

Atônito, o Planalto tenta definir um plano para sair da crise mas, por enquanto, só bateu o martelo em torno de medidas pontuais. O diagnóstico, pelo menos, já está fechado, eé o de que o governo Dilma está “no fio da navalha”.

— Há compreensão de que nós estamos no fio da navalha, por não ter mais o que fazer para manter o mandato da presidente Dilma. Ou se toma algumas medidas de forma mais efetiva, e mesmo assim sem saber se terá o impacto esperado, ou não se faz nada e se espera pelo que virá — disse um deputado do PT após reunião, na noite de anteontem, com o ministro Ricardo Berzoini (Comunicações).

Enquanto isso, no encerramento de uma semana que começou com a prisão de um símbolo do partido, o ex-ministro José Dirceu, e acabou marcada pelo panelaço e pelos adversários aumentando os debates sobre forma de lhe tirar do poder, Dilma se refugiou entre os beneficiários do Minha Casa Minha Vida, e foi aplaudida em vários momentos de seu discurso.

Ela afirmou que vai se esforçar para garantir a estabilidade política. Sem entrar em detalhes, disse que trabalhará “incansavelmente” por isso. Dilma dedicou parte de seu discurso para falar sobre o atual cenário econômico do país. Ao reconhecer que o Brasil passa por “dificuldades”, destacou que o país é “muito mais robusto” do que em anos anteriores e citou reservas cambiais que ultrapassam os US$ 300 bilhões:

— É fato que o Brasil passa por dificuldades, mas é fato também que nós somos hoje um país muito mais robusto e muito mais forte.

Dilma diz que ‘ninguém vai tirar legitimidade do voto’

'Voto é a fonte da minha legitimidade e ninguém vai tirar essa legitimidade', diz Dilma

Lisandra Paraguassu - O Estado de S. Paulo

• Lembrando que já viveu e sofreu na época da ditadura, presidente disse que o Brasil hoje é uma democracia que respeita a eleição direta pelo voto popular

BOA VISTA e SÃO PAULO - Ao fim de uma semana em que o Palácio do Planalto só colheu más notícias, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a plateia simpática que a esperava em mais uma cerimônia do programa Minha Casa Minha Vida para defender seu governo, seu mandato e pedir ao Congresso respeito à democracia. Em seu discurso mais duro desde que passou a ser acossada com a possibilidade do impeachment, Dilma afirmou: “Ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu”.

“Este País é uma democracia. E uma democracia respeita, sobretudo, a eleição direta pelo voto popular. Eu respeito a democracia do meu País. Eu sei o que é viver numa ditadura. Por isso, eu respeito a democracia e o voto. Podem ter certeza de que, além de respeitar, eu honrarei o voto que me deram”, afirmou Dilma em Boa Vista (RR). “A primeira característica de quem honra o voto que lhe deram é saber que é ele a fonte da minha legitimidade, e ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu”, disse a presidente.

Anteontem, em Brasília, os líderes do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), defenderam o impeachment de Dilma e do vice Michel Temer para a convocação de novas eleições. Na Câmara, o plenário deu início à manobra para limpar a pauta e votar as contas da gestão da petista, o que, no limite, pode levar à cassação de Dilma.

Em um recado claro ao Congresso e à oposição, Dilma cobrou compromisso com a estabilidade política e respeito à democracia. “Nós temos de nos dedicar à estabilidade institucional, econômica, política e social do País. Eu sei que tem brasileiros que estão sofrendo. Por isso é que eu me comprometo a trabalhar diuturnamente. Isso é minha obrigação, é meu dever. Mas, além disso, eu me comprometo também a contribuir e a me esforçar pela estabilidade”, disse. “O País tem uma democracia. Nós devemos respeito entre os Poderes. Eu me disponho a trabalhar também incansavelmente para assegurar a estabilidade política do nosso País. Eu me dedicarei com grande empenho a isso nos próximos meses e anos do meu mandato”. Dilma voltou a dizer que “aguenta pressão” e ameaças, e reconheceu mais uma vez as dificuldades econômicas, mas defendeu que hoje o Brasil é “muito mais forte e mais robusto”.

Tempos difíceis. Desde o início da crise política, a semana que termina hoje concentrou grande dose de problemas para a presidente. O governo perdeu mais uma votação na Câmara, a que elevou os salários de advogados da União e delegados da Polícia Federal, a um custo de RS$ 2,4 bilhões a mais por ano.

Para além do desastre financeiro, o resultado da votação mostrou que o governo perdeu completamente a base de apoio no Congresso e até petistas desertaram. Na véspera da votação, o vice Michel Temer e o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, reuniram os líderes da base na Câmara em um encontro que foi definido depois como um “desastre completo”, com discussões e acusações que, em vez de resolver os problemas, foram apenas o prenúncio do que estava por vir no Congresso. Dois partidos, PTB e PDT, anunciaram que sairiam da base.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), reuniu-se com parlamentares da oposição e conversou sobre cenários para um possível impeachment de Dilma. Anteontem, durante programa do horário partidário do PT na televisão, a cúpula petista pediu união para o País sair da crise – mais uma vez um panelaço foi a resposta. Para o dia 16, diversos protestos estão convocados contra o governo. Até lá, Dilma deve incrementar a estratégia de defender seu mandato e afastar o impeachment.

Em casa. Nesta sexta, em Boa Vista, a presidente pode relembrar a popularidade perdida. Com uma plateia formada majoritariamente por beneficiários do Minha Casa Minha Vida e funcionários do governo do Estado (PP) e da prefeitura (PMDB), Dilma foi bastante aplaudida, algumas vezes de pé, e pôde ouvir de novo os cantos de “Olê, Olê, Olá, Dilma, Dilma”, abandonados desde a campanha de 2014.

Um grupo de grevistas do INSS tentou chegar ao evento, mas foi barrado pela segurança a cerca de um quilômetro do palco onde Dilma estava. Nas próximas semanas, a presidente vai ampliar o roteiro de viagens. Na segunda-feira, vai a São Luís (MA) e na sexta, a Juazeiro (BA), também para entrega de casas. Em seguida, deve entrar também na agenda o Ceará. Para o Planalto, a agenda de viagens é a única forma de recuperar alguma popularidade e o governo precisa lembrar a população de boas coisas que foram feitas.

Ninguém tira a legitimidade do meu voto, afirma Dilma

• Em meio à grave crise política, presidente pediu respeito entre os Poderes

• Um dia após ser alvo de panelaço, petista foi a ato em Boa Vista (RR) e disse que aguenta pressões e ameaças

Venceslau Borlina Filho – Folha de S. Paulo

BOA VISTA (RR) - Em meio à pior crise política desde que assumiu o poder, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (7), durante evento público em Boa Vista (RR), que aguenta pressões e ameaças e que ninguém vai tirar a legitimidade dos votos que recebeu.

"Eu respeito a democracia e o voto, e podem ter certeza que, além de respeitar, eu honrarei o voto que me deram. A primeira característica de quem honra o voto é saber que é ele a fonte da minha legitimidade, e ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu", afirmou.

Na véspera, a petista fora alvo de panelaços ao aparecer na propaganda do PT veiculada em cadeia nacional de rádio e televisão. No mesmo dia, pesquisa Datafolha mostrou que ela é a presidente mais impopular desde o início da avaliação do instituto, em 1990. Apenas 8% dos entrevistados aprovam o seu governo.

Na última semana, Dilma sofreu derrotas no Congresso e viu aliados como o PDT e o PTB se afastarem. O desgaste prolongado do governo alimentou especulações sobre o futuro de Dilma no cargo.

No evento desta sexta em Boa Vista, onde participou da entrega de 747 moradias do programa Minha Casa, Minha Vida, ela procurou fazer uma defesa do governo e tratou abertamente da crise.

"Nós temos de nos dedicar à estabilidade institucional, econômica, política e social do país. Eu sei que tem brasileiros que estão sofrendo, por isso é que eu me comprometo a trabalhar diuturna e noturnamente", afirmou.

Estabilidade
Dilma pediu respeito dos outros dois Poderes, o Legislativo e o Judiciário, e disse trabalhar para garantir a estabilidade do sistema político.

"O país tem uma democracia, por isso, nós devemos respeito entre os Poderes. Entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. E eu me disponho a trabalhar também incansavelmente para assegurar a estabilidade política do nosso país. Quero dizer a vocês que me dedicarei com grande empenho a isso nos próximos meses e anos do meu mandato", disse.

A presidente chegou de avião à base aérea e seguiu de helicóptero para o local do evento, na periferia de Boa Vista, sem passar perto de um protesto de servidores do INSS, em greve há um mês.

Seguindo recomendação que recebeu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a estimulou a ir às ruas desde o início da crise, Dilma se deixou fotografar com os presentes e distribuiu abraços aos que se aproximavam.

No discurso, a presidente voltou a fazer referências a seu passado de perseguida política durante a ditadura militar, menção recorrente nestes tempos de crise.

"Sobrevivi a grandes ameaças à minha própria vida. O Brasil hoje é muito diferente daquele Brasil que tive de enfrentar. É uma democracia que respeita a eleição direta pelo voto popular", afirmou.

'Não quebramos'
Ela reconheceu que o país passa por turbulências também na área econômica, mas disse que o país tem condições de superar adversidades.

"Somos mais robustos, mais fortes. Pensem nas famílias de vocês. Antes, com qualquer problema, tendia a ter dificuldade para pagar contas externas. [O país] Não tinha dólar. Hoje, temos mais de US$ 300 bilhões de reservas. Não quebramos. [O Brasil] Pode passar por dificuldade, mas se tem recursos e não quebra."

Neste domingo (9), Dilma reunirá o núcleo mais próximo de seu governo para discutir alternativas à crise.

Dilma convoca senadores para defender pauta de governabilidade

Ricardo Brito e Adriana Fernandes - O Estado de S. Paulo

• No encontro, que será realizado na próxima segunda no Palácio do Alvorada, a petista pretende pedir o apoio deles na retomada de ações para reverter as crises política e econômica

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff decidiu convocar senadores e líderes da base aliada do Senado para um jantar na segunda-feira, 10, a fim de defender o papel da Casa na construção de uma agenda de governabilidade. No encontro, que será realizado no Palácio do Alvorada, a petista pretende pedir o apoio deles na retomada de ações para reverter as crises política e econômica.

Desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompeu com o Palácio do Planalto há três semanas, após ser acusado por um delator de receber US$ 5 milhões em propina, o Palácio do Planalto já havia definido que precisava intensificar as ações com os senadores, em especial com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Foi definido se reforçar a posição do Senado após a derrota esta semana na Câmara da proposta que vincula reajuste de servidores da AGU ao dos ministros do STF. O foco imediato do governo é construir uma saída com o próprio Renan para votar o projeto que acaba com a política de desoneração da folha de pagamento. A proposta, que tem tido resistências do PMDB, é o primeiro item da pauta do Senado na terça-feira, 11.

Dilma reuniu-se com Renan na quinta-feira, 6, para lhe pedir apoio para barrar a aprovação, no Senado, de propostas que tenham impacto para os cofres públicos, as chamadas "pautas-bomba". O peemedebista, por seu lado, cobra do governo uma agenda do chamado para superar o ajuste fiscal, o qual classificou de "tacanho". "Renan já está desempenhando o papel de fiador da governabilidade", afirmou um aliado de Dilma.

O presidente da Comissão do Pacto Federativo do Senado, o petista Walter Pinheiro (BA), espera que o jantar com Dilma permita o avanço de projetos para a confiança na economia do País. "Não é pauta da Lava Jato, do TCU, de partido nem para salvar a pele de ninguém", disse. "Quero saída para o Brasil", completou.

Pós-ajuste. O governo destacou os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, para construir com os senadores um pacote de pós-ajuste. Levy almoçou na terça-feira, 4, com Renan e parlamentares e ficou de apresentar na próxima semana uma agenda econômica baseada em quatro eixos: uma proposta fiscal, um marco para a infraestrutura, um ambiente de facilitação dos negócios e ações na área social.

Em outra investida, Nelson Barbosa também atua para contribuir com a agenda. Ele se reuniu nesta sexta-feira, 7, com o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), para discutir iniciativas a serem discutidas nos próximos dias ao Congresso, como a proposta que permite a regularização de ativos de brasileiros não declarados no exterior. Técnicos da área econômica passaram esta sexta em reunião com assessores da liderança do governo tentando fechar um texto para ser apresentado para votação em plenário na terça-feira, 11.

Antes do jantar com Dilma e senadores, o ministro do Planejamento terá uma reunião com o presidente do Senado na manhã da segunda-feira para tratar das pautas que compõem o ajuste fiscal, além de outras medidas da agenda do crescimento que serão enviadas. Barbosa discutirá ainda a projeto de lei que altera a meta de superávit primário deste ano e a proposta de lei orçamentária de 2016, que será enviada no final do mês ao Congresso.

A área econômica do governo se movimenta para garantir medidas pós-ajustes com o objetivo de garantir a retomada do crescimento mais rapidamente. Joaquim Levy tem insistido no discurso de que as duas agendas já estão em curso. Ele está com a proposta praticamente pronta de reforma do PIS e Cofins e que enviá-la ao Congresso ainda em agosto. Levy também intensificou as conversas com os governadores para as negociações do ICMS.

Temer oferece deixar articulação política, mas presidente rejeita

• Na avaliação de ministros, apelo público do vice para reunificar o país 'passou do ponto'

• Peemedebista quis afastar a ideia de que tenta se 'credenciar' para a vaga de Dilma, de acordo com aliados

Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), colocou na quinta (6) o cargo de coordenador político do governo à disposição de Dilma Rousseff. A presidente, no entanto, rechaçou a oferta. "Michel, você fica'', disse ela, segundo assessores do governo.

A ação de Temer ocorreu após a avaliação por ministros de Dilma de que o vice havia "passado do ponto" em seu apelo público, feito na quarta (5), por um esforço contra a crise política.

O vice levou o assunto a Dilma durante encontro na quinta, em Brasília. Ele disse à presidente que não queria causar transtornos para o governo e que, se estivesse atrapalhando, poderia deixar a articulação política, que assumiu desde março.

A presidente ouviu, mas recusou a oferta do peemedebista, além de reiterar sua importância para o governo.

Em sua conta no Twitter, Temer confirmou que segue na articulação política do governo, mas não fez menção à conversa com Dilma.

Segundo aliados do vice, o objetivo de Temer foi afastar a ideia de que trabalha para se "credenciar" para a vaga de Dilma, como avaliam petistas.

Um dia antes do encontro com a presidente, Temer admitiu a gravidade da crise publicamente e disse que o país precisa de "alguém [que] tenha a capacidade de reunificar a todos".

Antes da declaração, ele havia telefonado à presidente. Na conversa, o vice relatou preocupação após conversa com líderes da base aliada e disse que iria pedir "união de todos". Dilma assentiu, mas ministros não foram consultados e ficaram surpresos com a fala.

Dilma delegou a Temer o comando das negociações políticas com o Legislativo e não tem pretensão de tirá-lo do cargo. É o vice quem dialoga com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu com o governo, sobre a pauta da Casa.

Apesar dos esforços para neutralizar a pauta de Cunha e unir a base, o que incluiu um jantar oferecido pela presidente na segunda (3), o fim do recesso parlamentar trouxe um cenário sombrio para o governo.

Negociação
Na reunião da quinta, Temer reiterou a Dilma que seu objetivo era o de transferir responsabilidade da crise para o Congresso. O comando do PMDB e os demais líderes aliados já avisaram o governo que as bancadas estão incontroláveis na Câmara.

A aposta, por isso, deverá ser numa aproximação com o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), que esteve com Dilma na quinta.

Ele e Cunha culpam o governo pelo fato de o Ministério Público Federal investigá-los na Operação Lava Jato.

Empresários estão céticos sobre retomada de diálogo

Mônica Scaramuzzo, Cleide Silva, Adriana Fernandes e Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

Os empresários brasileiros estão apreensivos com a crise política e econômica que se agrava a cada dia e estão reticentes em relação a uma possível reaproximação da presidente Dilma Rousseff, que busca, novamente, retomar o diálogo com a nata do empresariado do País para criar uma agenda positiva.

"Todo mundo quer que o País vá bem. É nessa direção que os empresários discutem uma saída para conter a crise, mas há pouco diálogo (com o governo)", afirmou ao Estado um dos principais empresários da área de infraestrutura. Outro empresário de peso, que já esteve mais próximo do governo, também é reticente em relação a uma nova rodada de conversa com a indústria. "Por enquanto, não houve convite."

O governo está em busca de uma agenda positiva para poder apresentar e reanimar a economia. Na quarta-feira, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), responsável pela articulação política do Palácio do Planalto, fez uma declaração à imprensa convocando o Congresso a "reunificar o País".

Ontem, as Federações das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Rio de Janeiro (Firjan) divulgaram nota conjunta em defesa da posição expressada por Temer, na qual reafirmam que o momento econômico e político brasileiro "é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil".

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que o País caminha para o caos, se não houver entendimento entre o Congresso e o governo. Segundo ele, a publicação nos jornais de nota paga pelas duas federações "em prol da governabilidade do País" foi uma reação natural frente à manifestação de dois dias atrás do vice-presidente de pedir a busca do entendimento.

"Quando o vice-presidente Michel Temer fala da necessidade de equilíbrio e serenidade, é por essa razão que apoiamos", disse. Skaf disse que não se pode permitir um "tsunami" que comprometa o emprego de milhares de trabalhadores e o patrimônio das empresas brasileiras que levou séculos para ser construído. Para ele, está faltando a preocupação com a solução dos problemas. "Temos que buscar soluções. E essas só vêm com as pessoas que se entendem", disse.

O presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, afirmou ontem que a responsabilidade em buscar saída para a crise é "da situação e da oposição". "Políticos da situação e da oposição foram eleitos para promover o Brasil, e hoje a discussão coloca o Brasil em um nível muito menor do que deveria. O Brasil é maior do que essa disputa eleitoreira, partidária", avaliou. "É hora de ter uma dose de estadista. Não me refiro à presidente Dilma Rousseff em particular, me refiro aos políticos de maneira geral."

Manifestação. Na quarta-feira, a partir das 8h, a Associação Comercial e Industrial de Santo André (Acisa), o Ciesp/Santo André e a OAB realizarão um ato em defesa dos empregos da indústria no ABC e pela retomada do desenvolvimento econômico regional. O movimento foi batizado de "Reage ABC".

Base aliada quer 'começar do zero'

• Na avaliação de alguns líderes de partidos que apoiam o governo Dilma Rousseff, está faltando comando para unificar a tropa

Por Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - Na semana em que a Câmara retomou seus trabalhos e a base aliada deu mostras de que unidade é apenas uma palavra perdida pelo salão verde. Líderes de partidos que, formalmente, ainda declaram apoio à presidente Dilma Rousseff avaliam que a situação está cada dia mais difícil e que nem mesmo a utilização de truques antigos, como liberação de cargos ou emendas, pode surtir algum efeito entre os liderados. A frase que tem sido repetida por vários deles é a mesma: começar do zero. O que significaria, na opinião deles, uma reforma ministerial, com enxugamento de pastas, por exemplo.

Para uma liderança, a distribuição de cargos, atualmente, significa apenas dar emprego a um aliado, uma vez que o governo não tem recursos para beneficiar as bases eleitorais. Outro líder de partido tem a mesma visão:

– Os ministérios são empresas em concordata, sem capacidade nenhuma de investimento.

Na avaliação de alguns desses líderes, está faltando comando para unificar a tropa. Eles elogiam a atuação do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), mas o veem como um pregador no meio do deserto, em que as palavras se perdem no vazio.

– Isso aqui está parecendo cavalo sem rédeas – resume um dos líderes da base.

– No plenário, é difícil conter o estouro da boiada – complementa.

Ele conta que, na quarta-feira, o PSDB e o DEM, além de outras lideranças, haviam se posicionado contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que vincula o salário da Advocacia-Geral da União (AGU), da carreira de delegado da Polícia Federal, da Polícia Civil e procuradores a 90,25% do subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A oposição queria a retirada de pauta do tema, mas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecedor do regimento interno, disse que isso só seria possível se houvesse verificação de presença. Como ninguém aceitou fazer o pedido e enfrentar a fúria das galerias, a PEC foi à votação e até mesmo o PT se viu obrigado a votar favoravelmente.

O líder avalia que o governo tem sido derrotado porque não consegue impor sua pauta, uma vez que perdeu a força na Câmara.

– O que derrota governo é a pauta da Casa. Todas as derrotas do governo foram pela pauta.

O líder do PR, Maurício Quintela Lessa (AL), jura que sua legenda continua fiel ao Palácio do Planalto, embora tenha se reunido com Cunha e a oposição na segunda-feira, depois de sair de um jantar com Dilma. No encontro com o presidente da Câmara, entre vários assuntos, ficou decidido que o PT ficaria fora dos comandos das CPIs que seriam instaladas na Casa. Mas Lessa nega que a reunião tenha tido esse propósito.

– É comum, depois das sessões, líderes irem na Casa do presidente da Câmara para conversar. Não tratamos de tirar o PT do comando das CPIs. Apenas expressei o desejo da minha bancada de ter uma participação maior nas comissões.

Lessa afirmou que antes do recesso conversou com Guimarães e teria dito que era importante manter um rodízio nos comandos das CPIs, assim como na relatoria de Medidas Provisórias, por exemplo. Além disso, garante, esse mesmo desejo foi expressado ao vice-presidente Michel Temer. Os dois, nas palavras de Lessa, concordaram com o pleito.

– Com o PT na relatoria da CPI, a investigação não se legitima – disse ele.

O líder do PP, Eduardo da Fonte (PE), que também estava na reunião com Cunha, afirmou que continua apoiando o governo.

– Temos responsabilidade com o país. A bancada está disposta a apoiar o governo e o Brasil – disse.

Eduardo da Fonte também negou que tenha tramado para deixar o PT de fora dos comandos da CPI.

PT sonda Lula para Ministério de Dilma

Ricardo Galhardo e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

• Partido quer ver o ex-presidente em um cargo na Esplanada, mas ele diz preferir se dedicar a reerguer a legenda e a defender o governo pelo País

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Nos últimos dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi sondado por líderes petistas e representantes do governo sobre a possibilidade de ocupar uma vaga no Ministério da presidente Dilma Rousseff. Até agora, no entanto, ele tem se mostrado refratário à ideia, dizendo que prefere passar os próximos meses viajando pelo Brasil para fazer a “defesa da democracia” e de uma agenda nacional de educação.

Segundo aliados, o caminho natural de Lula seria o Ministério das Relações Exteriores. Integrantes do governo, no entanto, também citam as pastas da Defesa e da Casa Civil entre as possibilidades.

Pelo menos dois ministros do governo Dilma, além de parlamentares e dirigentes petistas, sondaram Lula nos últimos dias. O titular da Defesa, Jaques Wagner, foi um dos que conversaram ontem com o ex-presidente sobre o assunto.

A pressão mais forte vem de setores do PT, em especial a bancada do partido na Câmara, que vê em Lula um reforço de peso na articulação política do governo. Para tentar convencê-lo, argumentam que no Ministério o petista passaria a ter direito à prerrogativa de foro na Justiça e sairia do raio de ação da Operação Lava Jato.

Embora os integrantes da força-tarefa afirmem que o ex-presidente não é nem sequer investigado, aliados avaliam que Lula é o alvo real da operação e deve se proteger.

Pessoas próximas ao petista dizem que ocupar uma pasta “é a última coisa que ele quer neste momento” e ressaltam que até agora Dilma não manifestou abertamente o desejo de tê-lo no Ministério.

Pessoas contrárias à ideia alegam que uma nomeação de Lula decretaria o fim do governo Dilma, já que o ex-presidente é quem exerceria o poder.

Abraço. nesta sexta, cerca de 400 pessoas foram até a sede do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, para um ato em solidariedade ao ex-presidente. Na semana passada, o local foi alvo de uma bomba caseira. O caso foi tratado pelo PT como um “ataque político”.
Entre os participantes estavam os ministros da Comunicação Social, Edinho Silva, da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e Jaques Wagner, além de dirigentes petistas, sindicalistas, lideranças de movimentos sociais, ex-colaboradores, parentes e admiradores em geral.

Em clima de festa, eles entoaram gritos como “pode tremer, aqui é a infantaria do PT” e deram um abraço simbólico no instituto. “A oposição irresponsável tem alimentado estes grupos fascistoides”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Enquanto o ato ainda ocorria, Lula fez duas reuniões políticas. Uma com Wagner, o preferido de Lula para ocupar a Casa Civil numa possível reforma ministerial, e outra com Edinho e Mercadante, que deixou o local irritado e evitando a imprensa.

Líderes petistas se mostraram refratários à possibilidade de o partido perder espaço no governo para o PMDB. “O PT já tem muito pouco espaço no Ministério”, disse o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. / Colaborou Ana Fernandes

Empresários lamentam piora da crise política

• Para eles, governo devia envolvê-los na busca por solução para reverter também dificuldades na economia

Por Ana Paula Ribeiro e Lino Rodrigues – O Globo

SÃO PAULO - A possibilidade de o governo buscar apoio na elite empresarial do país para tentar amenizar a crise não deverá ser uma tarefa fácil. A falta de sinais de uma retomada econômica e a piora do cenário político têm incomodado boa parte dos empresários que Dilma pode vir a reunir para influenciar o Congresso a não aprovar medidas que aumentem os gastos públicos. Carlos Pastoriza, da Abimaq, associação que reúne fabricantes de máquinas e equipamentos, um dos setores mais afetados pela crise, considera importante o governo envolver o empresariado na discussão do atual momento. Para ele, 90% dessa crise foi fabricada pelos políticos.

—Toda essa confusão política criou incertezas. Isso é muito ruim, mas o país tem condições de sair da crise e reverter esse processo, que é mais político do que econômico — diz Pastoriza, que conversou no início da semana com o vice Michel Temer (PMDB-SP) sobre a possibilidade dos partidos costurarem uma espécie de trégua que transmita tranquilidade ao país.

Pastoriza defende ainda um pacto com os setores da economia real (indústria, comércio, bancos) para que trabalhem por uma retomada dos investimentos e do crédito pelos bancos. Para isso, diz que é fundamental ter tranquilidade política.

— Reunião com os empresários só será válida se tiver efeito sobre a classe política — diz Pastoriza, lembrando que encontrar uma solução política é papel de Dilma e dos partidos que dão sustentação ao seu governo, principalmente o PT: — Feito isso, aí sim dá pra se pensar em um pacto para a economia voltar a crescer.

Marcelo Castelli, que preside a Fibria — uma das maiores produtoras de celulose do mundo —, também identifica na política a origem das dificuldades na economia. E acredita que o “quanto pior, melhor” não irá ajudar o país:

— Não vamos sair dessa conjuntura sem trabalhar problemas estruturais. Empresas precisam ser protagonistas nesse diálogo, assim como o governo e o cidadão.

Procurados, empresários como Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração da BRF, e Joeslei Batista, da JBS, informaram que não foram convidados para uma possível reunião com Dilma.

FH ainda pode dialogar com o governo, diz interlocutor

• Tucanos ficaram irritados com o tom do programa petista, que ironizou os panelaços e ainda atribuiu à oposição parcela de culpa pela crise política

Por Thiago Herdy - O Globo

SÃO PAULO - O programa do PT exibido na quinta-feira dificultou a possibilidade de diálogo em busca por soluções para a crise política entre o ex-presidente Fernando Henrique e representantes do governo, na avaliação de interlocutores do tucano.

Tucanos ficaram irritados com o tom do programa, que ironizou os panelaços e ainda atribuiu à oposição parcela de culpa pela crise política no Congresso. Ao mesmo tempo, as pontes não estariam totalmente inviabilizadas e os interlocutores não descartam uma conversa, desde que ocorra em agenda pública.

— Ele se mostra interessado em contribuir com a busca de uma solução, tornou-se quase um árbitro da nação. Todos querem falar com ele, pedem ajuda a ele, inclusive gente do governo — disse uma pessoa próxima ao ex-presidente.

— Fernando Henrique se coloca nesse lugar, mas não é ele quem vai tomar essa atitude. Conversa escondida, com o governo, ele não aceita de jeito nenhum — completou.

No PSDB, a hipótese de impeachment é insuflada nos bastidores pelo senador Aécio Neves e, publicamente, por parlamentares ligados a ele. O grupo do tucano vê Aécio como liderança natural da oposição em caso de impedimento da presidente e eventual convocação de novas eleições. O senador paulista José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mantêm postura mais cautelosa, deixando o partido internamente dividido. Nesse contexto, o posicionamento de FH ganha ainda mais importância, se decidir adotar um papel de conciliador interno.

Para os interlocutores de FH, a abertura de diálogo com o governo não inviabiliza a hipótese de o ex-presidente vir a apoiar o impeachment. No inicio do ano, FH se disse contra a medida, por considerar que não havia caracterização de condições prescritas nas leis para se falar sobre o tema.

Eleição só é antecipada com saída de petista e vice

• Lei prevê novo pleito em caso de renúncia, impeachment ou cassação

• Hipótese de realização de uma nova eleição foi defendida por setores da oposição na quinta-feira (6)

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A realização de eleições presidenciais no Brasil antes de outubro de 2018 só é possível caso Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB), presidente e vice, deixem os cargos antes dessa data.

Isso pode se dar de três formas institucionais: renúncia, cassação e impeachment. Esse último processo ocorre separadamente e, no caso de Temer, é bastante improvável –teria de se caracterizar um crime de responsabilidade cometido por ele a partir da data em que eventualmente assumisse o comando da nação.

Não existe na atual lei possibilidade de o Congresso antecipar o pleito fora dessas hipóteses. A ideia de antecipação foi defendida por setores da oposição na quinta (6).

No caso de renúncia de Dilma, Temer assume o mandato até o final de 2018. Se ambos renunciarem, o governo fica com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que precisa realizar novas eleições em até 90 dias.

Já na hipótese de cassação da chapa Dilma-Temer, como o PSDB pediu ao Tribunal Superior Eleitoral, o desfecho será decidido pela corte. Há duas possibilidades: empossar na Presidência o segundo colocado nas eleições, Aécio Neves (PSDB) – mais improvável–, ou transferir o comando da nação para Cunha, com novas eleições em até 90 dias.

Já um impeachment de Dilma –não é possível haver impedimento simultâneo da presidente e do vice– levaria Temer a assumir o poder. Só haveria eleições antes de 2018 caso o novo presidente deixasse o cargo antes. Se essa vacância ocorrer até o final de 2016, as eleições são diretas. A partir de 2017, a eleição seria realizada pelo Congresso.

Lula pede que presidente faça reforma ministerial

Marina Dias, Natuza Nery e Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Em reunião com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social) nesta sexta (7), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que sua sucessora, Dilma Rousseff, viaje pelo país e promova uma reforma ministerial para combater a crise.

Após Mercadante e Edinho ponderarem que viajar mais pelo Brasil não é suficiente para que Dilma se recupere, Lula rebateu: "Dilma precisa sair dali". Para o ex-presidente, a medida não é suficiente, mas é fundamental para arrefecer a crise política.

A reunião foi no Instituto Lula, em São Paulo, depois que cerca de 400 simpatizantes petistas e militantes de movimentos sociais protestaram contra "o ódio e a intolerância" e deram um abraço simbólico no edifício.

Alvo de uma bomba caseira na quinta (30), o local é onde Lula costuma despachar quando vai à cidade.

Lula chegou acompanhado do presidente do PT, Rui Falcão, da ex-primeira-dama Marisa Letícia, e do presidente de seu instituto, Paulo Okamotto. Ele foi recebido sob comoção, aos gritos de: "Lula, guerreiro do povo brasileiro" e "Olê, olê, olá, Lula, Lula".

O ex-presidente defendeu que uma eventual reforma ministerial aloque políticos mais representativos dos partidos, com força política para influenciar suas bancadas no Congresso.

Merval Pereira - Sem saída fácil

- O Globo

A partir da premissa de que 2015 ficará marcado pelo colapso de um ciclo econômico e político, o economista Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, traçou três cenários para o 2º governo Dilma - Colapso, UTI e Recuperação. Todos, rigorosamente, apontam para conjunturas difíceis, sendo que o cenário de colapso, do qual trataremos amanhã, é o mais provável.

Para a Macroplan, há razões de sobra para o pessimismo no curto prazo: o quadro econômico recessivo ainda não surtiu todos os seus efeitos, o ajuste fiscal está “desidratando”, e a situação política tende a ir ladeira abaixo. A perda do grau de investimento do Brasil ainda este ano é dada como praticamente certa. Boa parte dos investimentos estruturadores está comprometida com o escândalo envolvendo empreiteiras na operação Lava-Jato. “E esse foi apenas mais um baque para um país que já vinha investindo muito pouco nos últimos anos”, complementa Porto.

Não deixa de ser surpreendente a intensidade e a velocidade do desgaste do segundo mandato de Dilma Roussef, comenta Claudio Porto. Para ele, este fenômeno decorre da conjugação de três forças que operam na mesma direção - as duas primeiras de caráter objetivo: (1) a degradação da situação econômica - com piora generalizada dos principais indicadores econômicos - produção, emprego, renda, inflação, investimento; (2) a evolução da operação "lava jato", que mudou de patamar e de capacidade de impacto ao começar a prender e punir grandes empresários e avançar no indiciamento de políticos poderosos (até agora quase 500 pessoas e empresas foram investigadas e 120 prisões preventivas ou temporárias ocorreram - das quais 35 pessoas ainda permanecem na cadeia); e (3) a perda de confiança, agindo como "fio condutor" do atual cenário de crise enfrentado pelo governo.

A deterioração das expectativas dos agentes econômicos e da sociedade está refletida no Índice de Confiança do Consumidor que teve queda de 44,6%, entre janeiro e julho de 2015 - e a confiança do empresário industrial que tem trajetória de queda constante, chegou a 27,6 (o índice varia de 0 a 100).

O cenário batizado de “UTI” configura uma agonia prolongada da economia e do governo - lembrando o período Sarney – e tem alguma probabilidade de ocorrer: aponta para altos e baixos no ajuste fiscal; crescimento econômico entre -2% (2015) e + 2% (2018) e expectativas de inflação sempre em torno de 6,5% ao ano a partir de 2017, com estagnação do emprego e renda.

Neste cenário a impopularidade da presidente fica mantida em patamares altos e também mantém-se em baixa a confiança no governo e no seu partido, com consequente fragmentação da base de sustentação parlamentar, que opera na base do “toma lá dá cá”.

A operação “Lava-jato” tem efeitos amplos, mas não chega a atingir a pessoa da presidente. Este seria o pior cenário para o País, do ponto de vista econômico e social, pois significará a consumação de outra “década perdida”.

Outro cenário antecipa uma ‘recuperação progressiva do Governo Dilma’ na economia e na política que, na melhor das hipóteses, somente ocorrerá a partir de meados de 2016, com declínio da inflação, recuperação parcial do emprego e renda (a partir de 2017) e da popularidade da presidente que, no entanto, dificilmente chegará a níveis parecidos aos do primeiro mandato.

A operação “Lava-jato” neste cenário tem efeitos limitados e diluídos no tempo. Este, contudo, é hoje o cenário mais improvável na avaliação dos especialistas da Macroplan. (Amanhã, o colapso)

Igor Gielow - Dilma e a entropia

- Folha de S. Paulo

Uma das características em casos terminais é a legítima recusa do paciente em aceitar o oblívio iminente. É isso o que PT e o governo Dilma estão a fazer, como o programa de TV deles demonstrou.

Parece ínfima a chance de qualquer plano ter efeito além do prolongamento da crise, ao estilo Collor e seu "ministério ético" de 1992. Por isso, o que há hoje é uma série de cenários excluindo Dilma do jogo.

Não é golpe: atingimos o ponto em que a entropia impera. Conceito da termodinâmica, ela designa forças destruidoras dentro de um sistema de trocas de energia. Invariavelmente, segundo a teoria, num dado momento tudo é implodido por ela.

O governo hoje é um cadáver insepulto na Esplanada, e ninguém sabe bem o que fazer com o corpo. A Câmara está perdida, e o Senado é inconfiável. A economia está de joelhos e todos só temem o que mais sairá da Operação Lava Jato.

Normalmente, uma oposição forte surgiria como alternativa de poder, de aglutinação. Isso inexiste, até porque cada um quer uma coisa: Aécio torce por uma improvável nova eleição, Alckmin reza pela manutenção do cadáver em praça pública e Serra, pelo impeachment e por Michel Temer o transformar no que FHC foi para Itamar Franco. Tudo frágil.

O PMDB, fiel da balança em qualquer cenário, também está dividido, ainda que seus atores trabalhem mais em conjunto do que a vã filosofia afere. Temer e Eduardo Paes podem sonhar com horizontes. O vice está no fio da navalha, fiador da democracia ao mesmo tempo em que não pode parecer traidor; Eduardo Cunha lidera uma Casa inflamada, e Renan Calheiros sorri para os apelos infrutíferos de Dilma.

O desfecho é uma incógnita, como mostram os boatos (renúncia pronta, Lula ministro, Temer fora etc.) da sexta (7). Certezas: todo mundo está à mercê da Lava Jato, e o governo acabou sem começar. O resto fica por conta da potência da entropia.

Alberto Carlos Almeida - Agosto, que seja sem rima

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Desde criança somos acostumados a construir uma determinada percepção dos meses do ano, em conexão com datas específicas e estações. Assim, no Hemisfério Sul os meses quentes de verão são dezembro, janeiro e fevereiro. Janeiro é mês de férias e fevereiro tem Carnaval. Maio é o mês das mães e das noivas. Junho tem festa junina. O frio de julho faz parte da vida dos brasileiros do Sul e Sudeste, e no litoral do Nordeste é o mês das chuvas. Em julho vêm as férias de inverno - mais curtas que as de verão, utilizadas pelos mais aquinhoados para aproveitar o verão do Hemisfério Norte, e pela classe média para curtir o frio de alguma região serrana no Brasil.

Fevereiro e agosto são os meses de retorno à vida normal, pós-férias, quando a maioria dos pais acompanha a volta dos filhos à escola e retomam sua rotina. Mas ninguém concebe fevereiro e agosto como meses equivalentes, embora sejam os meses da volta do recesso parlamentar. É impossível considerar fevereiro e agosto semelhantes simplesmente porque marcam o fim das férias escolares. Fevereiro é o mês mais quente do ano, é o alto verão. Tem Carnaval. Além disso, o ano está apenas começando. Em fevereiro, as esperanças e ilusões que temos com relação ao que pode acontecer de bom no ano são muitas.


Agosto é bem diferente. Não há festividades, nem Natal, nem Carnaval, nem dia da mentira, nem Dia da Pátria, nem Dia das Mães. Há o Dia dos Pais, quase como um prêmio de consolação para um mês, cujo nome rima com desgosto. Daí o dito popular de que é o mês do desgosto.

Do ponto de vista do governo, fevereiro foi um mês de muito desgosto. Foi quando Eduardo Cunha (PMDB-RJ) derrotou Arlindo Chinaglia (PT-SP) e foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. Já naquele mês, Cunha passou a liderar uma agenda de votação contrária aos interesses do governo. A proposta de emenda à Constituição nº 475, a chamada PEC da bengala, retirou das mãos da presidente Dilma a prerrogativa de indicar nada mais nada menos do que cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Caso o presidente da Câmara fosse alguém que apoiasse o governo dificilmente uma medida dessa natureza teria entrado na agenda legislativa. Cunha, já em fevereiro, decidiu mostrar que iria limitar os poderes de Dilma.

Aliás, a PEC da bengala foi a pior derrota que o governo sofreu no primeiro semestre. No segundo turno da votação da emenda, foram 333 os votos contrários aos interesses do governo, 144 a favor e 11 abstenções. Note-se que 333 votos equivalem a 65% dos 513 deputados, 1% a menos do que dois terços. Isso indica como seria difícil obter a maioria necessária para dar início a um processo de impeachment.

Poucos chamam atenção para o fato de que o governo foi capaz de, no primeiro semestre, aprovar várias medidas de corte de gastos, o tão necessário ajuste fiscal. Não existe medida mais difícil para os governos, sejam governos petistas no Brasil, governos europeus ou mesmo americanos, do que aprovar redução de gastos. Aprovar um ajuste fiscal é um dos mais difíceis testes de maioria parlamentar para qualquer governo que seja, e o governo Dilma passou nesse teste. Poucos os analistas sublinham esse feito. A grande maioria afirma que o ajuste aprovado foi muito modificado. Pode-se ficar horas e dias discutindo o que significa ser muito ou pouco modificado.

O fato é que iniciativas legislativas do Poder Executivo - todas, e não apenas medidas de redução de gastos - tendem a ser modificadas na Câmara e no Senado. Isso aconteceu agora, assim como nos governos Lula e Fernando Henrique. Deputados e senadores representam o povo e por isso sua voz se faz valer no processo legislativo e decisório. Trata-se de uma obviedade esquecida toda vez que se critica o governo ou quando o Palácio do Planalto não consegue evitar modificações em projetos de lei e medidas provisórias enviadas para o Poder Legislativo.

Em que pese a capacidade do governo de aprovar as medidas de redução de gastos, o primeiro semestre foi de aguda crise política. O desgosto governamental com a eleição de Eduardo Cunha continuou com as manifestações de 15 de março. A redução da atividade econômica e o noticiário com escândalos de corrupção levaram a uma queda acentuada da popularidade do governo. Um governo menos popular resulta em parlamentares menos colaborativos.

São muitos os ingredientes da crise e um deles está fora do controle dos políticos. Aliás, cabe aqui um parêntesis: os políticos, em geral, acreditam que controlam muito mais do que realmente controlam. A atuação da polícia, do Ministério Público (MP) e do Judiciário está totalmente fora do controle dos políticos, ou quase isso. Cunha está sendo investigado. O presidente da Câmara se queixa publicamente do governo, em cuja alçada, a seu ver, estaria conter investigações ou processos judiciais. Por outro lado, o escândalo do mensalão, que eclodiu em 2005, foi investigado durante o governo Lula e teve seu desfecho no governo Dilma. É evidente que o governo do PT teria feito isso em relação ao mensalão, se pudesse controlar processos dessa natureza. E, diga-se de passagem, estaria fazendo agora em relação à operação Lava-Jato.

Cabe indagar o que o governo pode fazer para deter uma investigação. É difícil imaginar uma reunião solicitada pelo ministro da Justiça ao superintendente da Polícia Federal, na qual o ministro pediria que não se investigasse ou coletasse provas. Depois dessa reunião, o chefe maior da polícia teria que passar a solicitação adiante, e adiante, e adiante, de tal maneira que os agentes federais encarregados do trabalho final de investigação se abstivessem de fazê-lo. Esse comando não poderia vazar, sob pena de se tornar (mais) um imenso escândalo. Além disso, seria preciso combinar com outras polícias e com o Ministério Público, para que se comportassem da mesma maneira. Em suma, uma cadeia de comandos tão improvável quanto absurda.

O grande fator de desgosto para o governo é não ter um presidente da Câmara que o apoie - isso, desde 1º de fevereiro de 2015. Mas este presidente vem sendo investigado e, ao que tudo indica, em agosto será denunciado junto ao STF. O STF poderá recusar ou aceitar a denúncia. Caso aceite, Cunha se tornará réu. Caso isso ocorra, será muito grande a pressão política sobre ele, para que se afaste da presidência da Câmara. Não será nada bom para seus pares terem um presidente formalmente acusado. Adicione-se o eventual noticiário. Não se sabe exatamente quais as acusações e provas que as fundamentam. O que sabemos é que as investigações vêm sendo bem criteriosas e têm levantado sólidas evidências de crimes.

Por outro lado, há vários pedidos de impeachment na mesa da Câmara dos Deputados, que podem ou não vir a ser apreciados - decisão da alçada exclusiva Cunha. Em breve, o Tribunal de Contas da União (TCU) deverá se pronunciar oficialmente sobre as contas do último ano do primeiro mandato do governo Dilma. Caso as rejeite, há quem acredite que a decisão servirá de justificativa para dar início ao pedido de impeachment de Dilma.

O presidente da Câmara tem perfil de lutador, de alguém que, quando apanha, dá o troco. Nos dias que antecederam o recesso parlamentar, em função das denúncias vazadas na imprensa, ele rompeu com o governo. Além disso, já criticou publicamente tanto o juiz Sérgio Moro quanto o Ministério Público. Tudo indica que em breve a CPI do BNDES iniciará seus trabalhos. Se isso ocorrer, terá sido uma resposta de Cunha ao que ele considera perseguição do governo. Ele vem dando sinais claros de que é capaz não apenas de aceitar, mas de ser ele mesmo o motor de uma escalada de conflitos do Congresso com o governo.

Todo conflito é desgastante, ainda mais quando é público, contínuo, crescente e envolve o governo. Há muitos indícios de que agosto será um mês de conflitos crescentes entre Cunha e o governo. Conflitos crescentes são insustentáveis no longo prazo. A tendência é que diminuam em algum momento, em função de um desfecho qualquer.

Ainda que a eventual denúncia contra Cunha nada tenha a ver com ações do Poder Executivo, o resultado de conflitos crescentes pode ser o enfraquecimento político do presidente da Câmara em função do que será divulgado pela imprensa quando a denúncia contra ele for formalizada. Tal enfraquecimento poderá resultar no afastamento de Cunha de suas funções. Há uma segunda possibilidade, a de que Cunha vença a queda de braço e coloque em votação, com sucesso, a abertura do processo de impeachment de Dilma. A probabilidade de que isso ocorra, no momento, é baixa. Uma terceira possibilidade é que os conflitos retornem aos mesmos níveis do semestre passado. Nesse caso, Cunha permaneceria forte e em seu cargo, mas abandonaria a atual posição política de oposição radical ao governo.

Eleitores, trabalhadores, empresários, habitantes de São Paulo, nordestinos, aqueles que votaram em Dilma em 2014, os que votaram em Aécio, os eleitores de Marina, a sociedade de um modo geral nada têm a ver com a atual escalada de conflitos. Todos perdemos, e muito. O que queremos é uma redução dos conflitos da forma menos traumática possível. Esperamos que nossos líderes sejam capazes de viabilizar - para nosso gosto, em agosto - uma saída dessa natureza.

Veja no infográfico que o voto "sim" significa votar contra os interesses do governo e "não" significa estar a favor.
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Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de “A Cabeça do Brasileiro” e “O Dedo na Ferida: Menos Imposto. Mais Consumo”


Cristovam Buarque - Depois da Lava-Jato

- O Globo

• Verdadeira e completa operação deve ser feita por eleitores

O Brasil começou a ficar mais limpo depois que juízes, procuradores e policiais federais conseguiram prender políticos poderosos e empresários ricos. Espera-se que este trabalho continue desvendando tudo de todos, e que a Justiça faça sua parte, sem cair outra vez nos truques que terminam zerando o trabalho de pessoas como o juiz Moro, o procurador Janot e todos aqueles que os ajudam.

A operação Lava-Jato fará o Brasil mais limpo, mas não bastará para construir o país que desejamos, porque nossos problemas vão além da corrupção no comportamento dos políticos e empresários: eles são criados, sobretudo, pela corrupção nas prioridades das políticas que definem como os recursos públicos são usados e para onde levam nosso país.

Além da corrupção que a Lava-Jato está tornando visível, temos uma imensa rede de corrupção invisível: o analfabetismo e a baixa qualidade da educação, que rouba o futuro das crianças e do Brasil; o sistema precário de saúde, que rouba a vida e impõe sofrimento a milhões de pessoas; o ineficiente sistema de transporte público, que impede a mobilidade eficiente e rouba pedaços da vida de milhões de trabalhadores em seus deslocamentos diários; a violência urbana que faz com que nossas ruas matem e assustem mais do que as ruas de países em guerra; um sistema de gestão pública que rouba o valor da moeda, e impede o bom funcionamento e crescimento de nossa economia.

Podemos receber um país limpo da corrupção dos políticos e, mesmo assim, não construirmos o Brasil sem corrupção nas prioridades. Não basta colocar os corruptos na cadeia, é preciso também colocar na vida pública pessoas decentes, no comportamento e nas prioridades, capazes de fazer leis que impeçam a corrupção e que não apenas limpem, mas higienizem eticamente o país e para isso façam uma revolução educacional no Brasil. Terminada a Lava-Jato, será preciso que os políticos comecem a consertar as brechas pelas quais o futuro do Brasil é roubado todos os dias. Para alcançar esse objetivo, teremos de fazer um concerto das forças nacionais para dar sustentação a um novo projeto nacional.

A corrupção desvendada pela Lava-Jato é um serviço ao país que nos deixa em dívida histórica com aqueles que a estão fazendo, mas o trabalho de construir o Brasil que precisamos, queremos e podemos não é uma tarefa dos juízes, procuradores e policiais; é responsabilidade dos políticos. Neste momento, porém, não parecemos estar à altura deste desafio, seja por falta de preocupação com o país, seja por omissão ou incompetência para liderar o Brasil em uma nova direção.

Por isso, a verdadeira e completa Lava-Jato deve ser feita pelos eleitores nas futuras eleições. Por que os juízes, procuradores e policiais podem colocar políticos na cadeia, mas são os eleitores que podem colocá-los nas cadeiras de parlamentares.
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Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Vácuo de legitimidade – Editorial / Folha de S. Paulo

• Impera o caos em Brasília, com Dilma e o PT a persistir nos erros, o Congresso em tumulto e tucanos a acreditar na miragem de nova eleição

Quando a autoridade de um presidente se esvai de maneira vertiginosa, como nestes dias com Dilma Rousseff (PT), do espaço vazio emerge toda sorte de oportunismo.

Em meio à confusão, torna-se mais difícil discutir serenamente soluções razoáveis e eficazes para a crise política galopante. Tal debate fica mais complicado quando alguns atores buscam atalhos para o desenlace, demonstrando pouco apreço pelos ritmos desenvolvidos na normalidade democrática.

A causa principal dos problemas, é bom que se diga, se encontra no próprio Palácio do Planalto.

Dilma segue alheia à deterioração da situação política e econômica e não se mostra disposta a reconhecer os inúmeros erros de seu primeiro mandato. Aos olhos de seus opositores e até de alguns aliados, perdeu a capacidade de comandar o país.

A petista, naturalmente, discorda dessa avaliação. Aferrando-se à mitologia heroica que insiste em evocar para destacar sua resiliência, afirmou: "Ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu". No Brasil de hoje, continuou, preza-se o respeito à "eleição direta pelo voto popular".

A hipótese da renúncia, deixa claro a presidente, não está nos seus planos. Não pretende deixar o Planalto nem se sente incapaz de recompor seu apoio político.

A Constituição, de outro lado, permite o afastamento forçado, mas sabiamente não oferece facilidades para apear um presidente. Admite o impeachment, mas a dolorosa terapia pressupõe comprovação de crime de responsabilidade, uma perspectiva incerta.

Mesmo que o Tribunal de Contas da União conclua pela rejeição das contas de Dilma, não será automático passar disso ao impedimento presidencial. O processo será longo, e antes político que jurídico.

A própria oposição não se põe de acordo sobre essa via. No PSDB, por exemplo, dado que o impeachment levaria à posse do vice Michel Temer (PMDB), uma facção passou a patrocinar a hoje inoportuna ideia de nova eleição –na qual seu candidato derrotado, Aécio Neves, despontaria em vantagem.

Para que a proposta seja levada a sério, é preciso antes que o Tribunal Superior Eleitoral encontre bons motivos para determinar a impugnação da chapa Dilma-Temer por delito no pleito de 2014.

Embora esteja em curso investigação por abuso de poder econômico suscitada pelo PSDB, mesmo no caso de condenação o processo se prolongaria com recursos ao Supremo Tribunal Federal.

Há visões divergentes entre tucanos sobre como abreviar o mandato de Dilma Rousseff, por certo. Fica evidente, porém, que uma ala barulhenta do partido pensa que pode subordinar os meios jurídicos a seus fins eleitorais, vergando as regras da democracia para encurtar o caminho até o poder.

As agruras do PT ao som de panelaços – Editorial / O Globo

• Um programa sem referência à corrupção, tema central do partido, fraco na argumentação e irônico, artifício da arrogância, evidencia a falta de rumo do partido

Nem o militar mais furioso da ditadura de 64 fez tanto mal à esquerda quanto o PT, na sua vertente lulopetista. Por um desses paradoxos, o mesmo partido que se mantém no poder por 13 anos consecutivos, índice para o Guiness da República brasileira, é que, por sólidos motivos, desmonta o ideário de um projeto de poder estatista, para o “bem do povo", e na democracia. Um sonho da esquerda mais civilizada, na Era pós-soviética.

Ainda é cedo para se conhecer toda a crônica dessa trajetória do apogeu à crise, mas é possível mapear pontos cardeais da debacle. Como acontece na História, a inflexão da curva para baixo é acompanhada de arrogância e incapacidade de entender a realidade. No caso, devido a cacoetes ideológicos. Lula e PT foram hábeis e sensíveis ao adotar a terapia econômica indicada, “neoliberal”, para combater o surto de inflação deflagrado em 2002, na campanha presidencial, e provocado pelo temor dos mercados diante da própria ascensão de Lula e PT.

Tiveram, ainda, sorte de surfar a mais vigorosa onda de crescimento mundial sincronizado do pós-Guerra, puxada pela expansão americana com inflação baixa e conversão da China a leis de mercado (mas não à democracia). Porém, foi mais forte a ideologia, e Lula, a partir do segundo mandato, pendeu para o capitalismo de Estado, velho projeto da esquerda verde e amarela e dos militares nacionalistas desde o tenentismo, tendo ao lado a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que, eleita, radicalizaria o modelo batizando-o de “novo marco macroeconômico". Os resultados estão aí, e não adianta culpar o mundo, pois os Estados Unidos se recuperam e até mesmo países europeus como Irlanda, Espanha e Portugal voltam a dar sinal de vida.

Na vertente política da crise do PT, destacam-se o mensalão e o petrolão, um mesmo esquema de desvio de dinheiro público via estatais, a Lava-Jato começa a deixar claro, para financiar o projeto de poder do lulopetismo e satélites à direita e à esquerda. Por si só uma excrescência. Mas evidências de que o dinheiro do projeto lulopetismo, a “causa”, também financiou o alto padrão de vida de pelo menos um líder importante, José Dirceu, têm sido um golpe bastante forte no partido.

Sobre o assunto, nenhuma palavra no programa do PT de quinta-feira. O silêncio foi retumbante. Em vez disso, argumentos fracos, como propor medir quem erra menos, PT ou a oposição, e ironias com os panelaços — isso no momento em que vários ecoavam em muitas cidades importantes. Não é aconselhável partir para a ironia, irmã da arrogância, quando o principal nome do partido no poder, Dilma Rousseff, ostenta os mais baixos índices de popularidade de um presidente brasileiro.

É difícil o dever de casa do PT, mas o partido precisa fazê-lo. E ele começa pela necessidade de apoiar o próprio governo, pois a sua ruína jogará o partido de volta a seus grotões: sindicatos e movimentos sociais. Sem perspectiva de volta.

Circunstância e essência – Editorial / O Estado de S. Paulo

Se alguém ainda as tinha, o programa político do PT levado ao ar na noite de quinta-feira acabou com quaisquer dúvidas: o governo debate-se em agonia e seu partido perdeu completamente a noção de realidade. A impressão que fica é a de que, perdido por perdido, truco. E foi ao ar uma reedição caprichada das peças de ficção marqueteira sem nenhum compromisso com a verdade que levaram Dilma Rousseff à vitória nas urnas de outubro.

Permitiram-se ainda os desmoralizados e ressentidos salvadores da Pátria uma manifestação de indecoroso desrespeito à maciça maioria dos brasileiros que desaprovam o desempenho da presidente da República, com uma tentativa torpe de ridicularizar os panelaços eleitos por um segmento dessa maioria – a classe média – como meio de demonstrar insatisfação com a situação do País.

É inacreditável que, no fundo do poço de uma impopularidade inédita na história recente da República, Lula, Dilma e o PT tenham a desfaçatez de minimizar os estragos de uma crise pela qual são os principais responsáveis e que atinge, principalmente, aqueles de quem dizem ser defensores exclusivos: os brasileiros pobres, cujo escasso bem-estar se deve – é o que dizem esses populistas irresponsáveis – unicamente à concessão de um governo generoso, alimentado por fontes inesgotáveis de recursos.

É inacreditável que, para o PT, “não acertar em cheio” seja sinônimo dos graves erros que precipitaram a atual crise econômica e que os brasileiros devem se consolar, como afirmou Lula, com o fato de que “nosso pior momento ainda é melhor para o trabalhador do que o pior momento dos governos passados”.

É inacreditável que Dilma ainda se iluda com a possibilidade de retomar o controle do governo com reforma ministerial, quando sabe muito bem que ampliar o “toma lá” não é garantia nenhuma do “dá cá”, porque o Planalto está à mercê do controle que o deputado Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros exercem sobre a “base de apoio” no Congresso.

É inacreditável que a oposição, especialmente o PSDB, excitada com a possibilidade de Dilma ser mandada para casa mais cedo do que se imaginava, e apreensiva com a aparente disposição de Michel Temer de se viabilizar como a solução para a sucessão, passe a digladiar-se internamente, cada cacique tentando fazer prevalecer a solução que melhor atenda a suas ambições.

É inacreditável que Michel Temer – menos por ele próprio e mais pelo que representa, ou seja, o consórcio de aproveitadores do poder denominado PMDB – possa vir a compor um governo com os correligionários que se têm notabilizado no protagonismo político da atual crise.
É inacreditável – se não pelo fato de que existe, mas pela extensão que se revela – que as investigações do escândalo da Petrobrás estejam hoje mostrando ao País que o partido que nasceu com o compromisso de lutar contra “tudo isso que está aí” e impor rigorosos padrões éticos e morais à gestão da coisa pública seja o principal responsável e beneficiário do assalto generalizado ao dinheiro que falta para aprofundar conquistas sociais.

Tudo isso seria, de fato, inacreditável se não fosse a situação real e concreta que deprime diariamente o ânimo dos brasileiros honestos. O enorme repertório de mazelas e contradições que compõem o quadro triste de uma crise que não tem saída previsível é a versão eventual – porque em outras circunstâncias poderia ser diferente – do País que nós, brasileiros, criamos e sustentamos. É preciso não ceder ao ufanismo patriótico de que somos os tais, apenas o que está aí não nos representa. Como não? Este governo foi democraticamente eleito. É óbvio que foi um erro e hoje 7 em cada 10 brasileiros estão convencidos disso. Mas não será um conchavo político, qualquer que seja a forma de que venha a se revestir, que resolverá a crise.

Por paradoxal que possa parecer, a mesma Constituição que garante estabilidade institucional para a realização de eleições livres e a apuração de crimes praticados por protagonistas da vida nacional dificulta e constrange outros aspectos da vida política e administrativa do País. Essa contradição é parte fundamental – mas não única – da crise brasileira, que só será debelada de vez se for erradicada da vida nacional.

Miriam Leitão - Crescimento zero

- O Globo

O governo Dilma pode ter crescimento zero ao longo do segundo mandato. A recessão deste ano será seguida de uma pequena melhora no ano que vem, mas com o PIB entre o levemente negativo e o positivo. Nos dois anos seguintes, as previsões são de crescimento baixo. Na média, teremos um longo período de estagnação. Já a inflação, que se aproxima de 10%, deve cair no ano que vem, na previsão dos economistas.

Quando falam sobre os próximos meses, os economistas apontam alta de desemprego, inflação, aumento de inadimplência, baixa confiança e retração dos investimentos. Mas há um certo consenso de que a inflação cairá em 2016 e que o rigor da recessão diminui no ano que vem.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, é um dos que calculam que o país terá crescimento médio zero no segundo mandato. Para este ano, ele estima uma recessão de 2,1%, seguida de uma nova queda de 0,6% no ano que vem. Em 2017, alta de 1,4%, com aumento de 1,7% em 2018. Tudo calculado, uma média de 0,1% de crescimento anual entre 2015 e 2018.

— Como no ano passado já não houve crescimento, o país ficará praticamente cinco anos sem crescer. A boa notícia é que esse longo período de baixa atividade vai ajudar o Banco Central no controle da inflação — disse Sérgio Vale.

Ontem, o IBGE divulgou o dado que já era esperado, mas que, de qualquer maneira, impressiona: a inflação chegou a 9,56%. Sérgio Vale acha que ela deve fechar assim, encostada em 10%, este ano, mas cairá para perto de 6% no ano que vem. Essa descompressão nos preços também está na conta do economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, que estima o IPCA no centro da meta de 4,5%, e de Armando Castelar, do Ibre/FGV, que calcula entre 5,5% e 6%. Ou seja, os três economistas acreditam que a inflação terá um cenário mais benigno a partir do ano que vem.

— Em 2016, sai da conta o choque dos administrados, com um aumento menor da energia elétrica. Temos projeção de metade do ano com bandeira vermelha e a outra metade de bandeira amarela. Além disso, os serviços podem cair para algo na casa de 7% — disse Roberto Padovani.

A queda da inflação de serviços será consequência da piora do mercado de trabalho. A estimativa de Sérgio Vale é de que o fechamento de vagas formais medido pelo Caged vai aumentar de 590 mil, em 12 meses até junho, para próximo de 1 milhão, entre janeiro e dezembro. Pela Pnad, a taxa de desemprego pode chegar a 10%.

— Não acredito em inflação na meta no ano que vem, entre outros motivos, porque o salário mínimo terá um reajuste de 10%. A meta de 4,5% deve ficar para 2017. De qualquer forma, em dois anos, podemos ter um horizonte muito mais favorável para os preços, e isso vai ajudar na recuperação da confiança dos empresários e da economia como um todo — disse Vale.

A perda do grau de investimento é uma grande preocupação dos três economistas. Se acontecer, a recuperação será mais lenta, explica Armando Castelar. Ele diz que isso fará o dólar subir mais, pressionando a inflação, e obrigará o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo. Por isso, o esforço fiscal e o ajuste das contas públicas continuam sendo fundamentais.

— Pelo meu cenário, o BC começa a pensar em reduzir os juros no primeiro trimestre de 2016, quando saírem da conta em 12 meses os índices de inflação do início deste ano. Se o dólar subir mais e pressionar os preços, o BC não reduzirá os juros e isso atrasará a recuperação para 2017 — disse Castelar.

O economista também explica que parte da dívida pública interna é financiada por investidores estrangeiros. Sem o grau de investimento, eles vão vender papéis do governo brasileiro, encarecendo o custo da dívida e desordenando ainda mais as contas públicas.

Padovani acredita que a recuperação do crescimento vai começar pelo comércio internacional, antes dos investimentos. Primeiro, haverá retração nas importações, para só depois subir as exportações. Por ora, as duas coisas estão caindo, mas ele acha que, com o tempo, as vendas externas vão crescer. De qualquer forma, o país já voltou a ter superávit comercial, de US$ 4,6 bilhões de janeiro a julho deste ano. Castelar também diz que haverá ganhos com substituição de importação, e isso vai beneficiar a indústria.

Mesmo em cenários desfavoráveis, é possível tomar medidas que levem a um novo ciclo de crescimento.

Celso Ming - Lavagem da louça

- O Estado de S. Paulo

• A inflação em 12 meses atinge agora o seu nível mais alto desde novembro de 2003, chega a 9,56%; Ainda neste ano, esse indicador deverá seguir em alta

Os números sobre a evolução do IPCA divulgados nessa sexta-feira pelo IBGE dizem algumas coisas e escondem outras.

O que mais dizem é que a inflação em 12 meses atinge agora o seu nível mais alto desde novembro de 2003, chega a 9,56%. Ainda neste ano, esse indicador deverá seguir em alta.
Há alguns meses, estava muito concentrada na esticada dos preços administrados. A política passou a ser realinhar os preços, cujos reajustes foram deliberadamente atrasados no ano passado com o objetivo de facilitar a reeleição da presidente Dilma. A inflação mensal, no entanto, seguia muito espalhada na economia.

Agora, a concentração no segmento dos administrados já é bem menor, mas a alta de preços continua fortemente generalizada. O índice de difusão, que mede o número de itens da cesta de consumo que apresentaram avanço de preços, continua bastante alto. Foi de 68,8% em junho e de 66,3% em julho.

O que mais não dizem os novos números é que, se não acontecer uma catástrofe fiscal - e não é provável que aconteça -, a inflação calculada entre um mês e outro tende agora a enfraquecer. E há razões para isso.

O salário corroído pela própria inflação, o desemprego avançando, os juros na lua, o crédito bem mais fraco e a disseminação de um astral sufocante por toda a economia vêm derrubando o consumo, e este se tornou fator decisivo no controle de preços. O vendedor que insistir em puxar demais os preços para cima corre agora mais risco de ver encalhada sua mercadoria.

Do ponto de vista da meta de inflação (4,5% ao final de dezembro), este ano está perdido. A penalidade para a autoridade monetária pelo descumprimento tal como prevista em lei é apenas protocolar.

O presidente do Banco Central fica encarregado de enviar uma carta ao ministro da Fazenda expondo as razões pelas quais deixou que a meta estourasse para além da margem de escape permitida. Mas ficam mais evidentes os prejuízos para a credibilidade do Banco Central, que prometeu uma coisa e entregou outra.

Mas, convenhamos, esses prejuízos também são relativos, porque, desde dezembro do ano passado, o único compromisso reafirmado pelo Banco Central é reconduzir a inflação ao centro da meta em dezembro de 2016. Para isso, será preciso não deixar que se acumule louça suja em cima da pia que contamine as estatísticas do ano que vem.

É por isso que o governo descarregará nos próximos meses todo o atraso dos preços administrados que ainda persista: tarifas de energia elétrica, pedágios e impostos. No momento, não há reajustes pendentes na área de combustíveis.

Mas há o efeito câmbio. Até a semana passada, o Banco Central seguiu comprando US$ 4 bilhões por mês no câmbio interno, política indicativa de que prevalecia a determinação de levar a cotação da moeda estrangeira à altura dos R$ 3,50 por dólar. Essa intervenção parou agora.

Isso significa que o impacto da alta do dólar sobre a inflação (por meio do impacto sobre os importados) agora é residual. Mas ainda é preciso ver se a crise política não vai atuar como puxadora das cotações e, portanto, como fator de inflação.