sábado, 8 de agosto de 2015

Temer oferece deixar articulação política, mas presidente rejeita

• Na avaliação de ministros, apelo público do vice para reunificar o país 'passou do ponto'

• Peemedebista quis afastar a ideia de que tenta se 'credenciar' para a vaga de Dilma, de acordo com aliados

Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), colocou na quinta (6) o cargo de coordenador político do governo à disposição de Dilma Rousseff. A presidente, no entanto, rechaçou a oferta. "Michel, você fica'', disse ela, segundo assessores do governo.

A ação de Temer ocorreu após a avaliação por ministros de Dilma de que o vice havia "passado do ponto" em seu apelo público, feito na quarta (5), por um esforço contra a crise política.

O vice levou o assunto a Dilma durante encontro na quinta, em Brasília. Ele disse à presidente que não queria causar transtornos para o governo e que, se estivesse atrapalhando, poderia deixar a articulação política, que assumiu desde março.

A presidente ouviu, mas recusou a oferta do peemedebista, além de reiterar sua importância para o governo.

Em sua conta no Twitter, Temer confirmou que segue na articulação política do governo, mas não fez menção à conversa com Dilma.

Segundo aliados do vice, o objetivo de Temer foi afastar a ideia de que trabalha para se "credenciar" para a vaga de Dilma, como avaliam petistas.

Um dia antes do encontro com a presidente, Temer admitiu a gravidade da crise publicamente e disse que o país precisa de "alguém [que] tenha a capacidade de reunificar a todos".

Antes da declaração, ele havia telefonado à presidente. Na conversa, o vice relatou preocupação após conversa com líderes da base aliada e disse que iria pedir "união de todos". Dilma assentiu, mas ministros não foram consultados e ficaram surpresos com a fala.

Dilma delegou a Temer o comando das negociações políticas com o Legislativo e não tem pretensão de tirá-lo do cargo. É o vice quem dialoga com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu com o governo, sobre a pauta da Casa.

Apesar dos esforços para neutralizar a pauta de Cunha e unir a base, o que incluiu um jantar oferecido pela presidente na segunda (3), o fim do recesso parlamentar trouxe um cenário sombrio para o governo.

Negociação
Na reunião da quinta, Temer reiterou a Dilma que seu objetivo era o de transferir responsabilidade da crise para o Congresso. O comando do PMDB e os demais líderes aliados já avisaram o governo que as bancadas estão incontroláveis na Câmara.

A aposta, por isso, deverá ser numa aproximação com o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), que esteve com Dilma na quinta.

Ele e Cunha culpam o governo pelo fato de o Ministério Público Federal investigá-los na Operação Lava Jato.

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